• Nenhum resultado encontrado

Ação pública no Estado de São Paulo para o desenvolvimento da pecuária bovina no período de 1909,

Brasil, e o efeito das exportações sobre as políticas estaduais voltadas para a pecuária até 1938

O Governo Federal criou em 1909, em Nova Odessa, a Fazenda de Seleção do Gado Nacional, especializada na seleção das raças nacionais Caracu e Mocho Nacional, o que

também viria a fortalecer a pesquisa zootécnica em São Paulo (MORETI & FONSECA, 2005).

Em 1913, entrou em funcionamento o primeiro frigorífico do Brasil, instalado em São Paulo, o qual serviria de estímulo para a formulação de políticas voltadas para o desenvolvimento da pecuária por parte do governo do Estado, o qual, no ano seguinte, advertiu que a pecuária paulista possuía elementos que, em breve, a tornaria a base da economia do estado juntamente com o café. Para tal previsão, ele considerou as extensas criações de gado existentes nos estados vizinhos, nas regiões fronteiriças a São Paulo, instaladas em amplas pastagens naturais e artificiais, assim como, a presença do Porto de Santos capaz de escoar a produção para a Europa, onde a oferta de carne estava em baixa. Assim, a partir de uma reunião realizada com criadores paulistas para discutir propostas para o desenvolvimento da pecuária, ficou definido que o importante era atrair a pecuária dos estados criadores para São Paulo e que para tanto, o estado daria continuidade na melhoria das estradas de ferro e rodoviárias, ligando as zonas criatórias, às de invernagem, e delas aos centros de consumo e ao Porto de Santos (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1914, 1915).

São Paulo possuía o sexto maior rebanho do país, com um contingente de 2.441.989 cabeças de gado e fazia divisa com os estados que possuíam o segundo, terceiro e quarto maiores rebanhos, sendo eles, respectivamente, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso (Tabela 2.2.1).

Com o deflagrar da Primeira Guerra Mundial, as exportações de carne frigorificada de São Paulo foram iniciadas em 1914, alcançando 1:100$000 com 1.415 quilos (Tabela 2.2.2) e o Governo de São Paulo afirmava que o aumento da demanda pela carne nos países envolvidos na Primeira Guerra Mundial, era uma oportunidade que deveria ser aproveitada para desenvolver, como importante fonte econômica, a pecuária que até então estava pouco explorada. Segundo o Governo, as primeiras exportações de carne de São Paulo eram um sinal do que iria acontecer com a pecuária paulista, e que mesmo a produção estadual sendo ainda insuficiente para atender o próprio mercado paulista, a organização zootécnica estadual daria ao estado a condição de elo intermediário na transformação dos produtos da pecuária. A intenção era que São Paulo atuasse no melhoramento dos animais dos estados criadores, para alcançarem níveis melhores quando comparados aos exportados por outros países, de modo a terem o peso e a qualidade exigidos pelos importadores. “A São Paulo cabe formar o tipo do puro sangue, que terá de regenerar o gado indígena dos três

grandes estados criadores, que lhe são limítrofes” (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1915, p. 674); (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1915, 1916).

Tabela 2.2.1: Brasil, regiões e estados - Efetivo do rebanho bovino, número de cabeças (1920)

Estados, Regiões e Brasil 1920

Acre 15.178 Amazonas 238.449 Pará 615.482 Norte 869.109 Alagoas 388.371 Bahia 2.698.106 Ceará 580.028 Maranhão 834.596 Paraíba 444.928 Pernambuco 745.217 Piauí 1.044.734

Rio Grande do Norte 318.274

Sergipe 311.239 Nordeste 7.365.493 Espírito Santo 161.160 Minas Gerais 7.333.104 Rio de Janeiro 581.203 São Paulo 2.441.989 Distrito Federal 23.367 Sudeste 10.540.823 Paraná 539.765

Rio Grande do Sul 8.489.496

Santa Catarina 614.202 Sul 9.643.463 Goiás 3.020.769 Mato Grosso 2.831.667 Centro-Oeste 5.852.436 Brasil 34.271.324

Fonte: Brasil (1923, p. 59) – Recenseamento do Brazil.

Para a criação do puro sangue nacional, indispensável, porém, será a iniciativa do Governo da União, que deverá contar com a nossa eficaz colaboração. Ao Estado competirá propagar tão patriótica cruzada, por meio das estações de monta auspiciosamente iniciadas, e que precisam ser multiplicadas. Aos criadores, e, sobretudo, aos agricultores, em geral, incumbirá a aquisição de reprodutoras de puro sangue, que deverão ser enviadas às referidas estações, para fecundação. Será isso realizado, desde que a União tome o encargo de facilitar a importação dos exemplares de puro sangue que se tornem necessários.

[...] Produzir o puro sangue, melhorar as nossas pastagens, deve ser, presentemente, o nosso principal objetivo, sem prejuízo da seleção do gado nacional e das

experiências de cruzamento. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1915, p. 675).

Assim o Governo seguia promovendo palestras pelo interior do estado, de modo a fomentar a atividade pecuária, e criando estações de monta para o melhoramento genético do gado em Faxina, Santo Antônio da Boa Vista, Mogi Mirim e Pirassununga, além das regionais, que seriam mantidas pelos municípios, em São Carlos e Itapetininga. Os experimentos em Nova Odessa estavam bem avançados na composição de massas musculares e na melhoria da precocidade das raças Caracu e da Mocha ou Mocho Nacional (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1915).

Tabela 2.2.2: São Paulo - Exportações internacionais de carne, volume (toneladas) e valor (contos de réis) (1914 a 1924, 1926 a 1929)

Ano Carne congelada e resfriada Carne conservada Total exportado

Volume Valor Volume Valor Volume Valor

1914 1,4 1,1 0 0 1,4 1,1 1915 7.946 5.739 93 132 8.040 5.871 1916 18.688 15.716 362 612 19.051 16.329 1917 29.134 26.388 1.097 1.738 30.231 28.126 1918 32.654 32.754 2.791 5.222 35.446 37.977 1919 32.033 35.606 2.877 6.683 34.911 42.290 1920 32.710 36.532 570 1.425 33.280 37.957 1921 24.673 29.943 734 1.306 25.407 31.249 1922 17.816 19.046 - - 17.816 19.046 1923 45.837 56.099 - - 45.837 56.099 1924 41.026 47.298 - - 41.026 47.298 1926 5.526 7.360 - - 5.526 7.360 1927 26.129 31.745 286 993 26.415 32.739 1928 29.515 49.499 424 1.547 29.940 51.046 1929 43.683 65.838 230 764 43.914 66.603

Fonte: Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros, diferentes números: 1914 até 1920, (1916, 1921, p. 85); para 1921 (1922, p. 92); para 1922 e 1923 (1924, p. 22); para 1926 e 1927 (1927, p. 85; 1928, p. 69, 331; 1929, p. 39); para 1928 e 1929 (1930, p. 25).

Em 1915, ano em que entrou em operação o segundo frigorífico de São Paulo e do Brasil, o Continental Products Company, de Osasco, as exportações de carne frigorificada de São Paulo alcançaram 5.739:112$000 (Tabela 2.2.2). No mesmo ano, foram distribuídas 26.000 doses de vacina contra o carbúnculo sintomático e, como não houve importação de reprodutores por iniciativa particular, o estado a fez com o intuito de aclimatá-los e vendê-los aos produtores cumprindo assim, segundo o Governo, o objetivo buscado há anos, de fazer o

puro sangue crioulo e melhorar o gado indígena. De acordo com o Governo, logo o gado teria condições de equiparar-se ao internacional, sendo para tanto necessária a instalação da indústria do sal para alimentação animal e o desenvolvimento de pesquisas em bromatologia de pastos e forragens na Escola Superior de Agricultura “Luís de Queiroz”. Tal era a determinação governamental em estimular a cadeia da carne, que no final de 1915, a carne exportada pelos frigoríficos instalados ou que viessem a se instalar no estado, ficaria livre de taxas de exportação por dez anos (SÃO PAULO, 1915; RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1916).

Em 1916, a exportação de carnes resfriadas de São Paulo para outros estados e internacionais, alcançou 17.216:248$800, ficando, em valores, atrás do café, feijão e tecidos de algodão, sendo que, em 1917, elas totalizaram 29.660:185$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1917, 1918, 1919).

Em 1918, o Instituto Agronômico dava continuidade aos experimentos voltados para o desenvolvimento de culturas utilizadas na alimentação animal e foi criada a Fazenda Pastoril de Itapetininga, especializada na criação de gado puro sangue e no aperfeiçoamento de raças destinadas à produção de carne, com um plantel de gado Hereford e Durhan, sendo que o Red-Polled estava sendo estudado em uma fazenda específica em Amparo.15 No mesmo ano, passaram pelo Posto Zootécnico Central, a fim de aclimatação e aplicação de vacinas, 793 animais importados, sendo a grande maioria bovinos. Em Botucatu, foi instalado o Posto Zootécnico Regional para estabelecer reprodutores para a melhoria do gado da região e foi criado o registro dos criadores, constando 161 proprietários inscritos, os quais entre outros animais, possuíam 94.833 bovinos.16 Também foi criado o Instituto de Veterinária, o qual deveria preparar vacinas e soros para combater as doenças que afetavam a pecuária e desenvolver a vacina contra a febre aftosa.17 Neste mesmo ano, entra em operação o terceiro frigorífico de São Paulo, a Companhia Frigorífica de Santos, os três frigoríficos atingiram um valor total de produção de 56.174:510$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1919; 1921, p. 85).

15

O Instituto Agronômico de Campinas foi fundado por Dom Pedro II em 1887 e transferido ao Governo de São Paulo, em 1892.

16

Decreto n. 2.975, de 30 de outubro de 1918 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1919).

17

Lei n. 1.597, de 31 de dezembro de 1917 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1918).

Em 1919, ficaram prontos e foram divulgados os dados do primeiro levantamento estatístico agrícola e zootécnico de São Paulo, o qual constatou a existência de 3.108.205 bovinos no estado (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1920). Também foi criado o Serviço de Polícia Sanitária Animal (MARTINS, 1991)18 e entrou em funcionamento o Frigorífico Armour. Os outros três abateram neste ano, 238.664 bovinos (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1921) (Tabela 2.2.3).

Tabela 2.2.3: São Paulo - Número e espécie de animais abatidos pelos frigoríficos, 1919 a 1921, 1924 a 1929

Ano Bovinos Suínos Ovinos Caprinos Total

1919 238.664 65.182 2.253 - 306.099 1920 208.303 76.927 2.598 - 287.828 1921 148.377 52.879 1.923 351 203.530 1924 302.400 104.093 813 - 407.306 1925 288.188 58.174 1.290 787 348.439 1926 221.528 67.370 1.301 453 290.652 1927 376.430 96.011 1.500 690 474.631 1928 470.016 145.933 6.044 3.675 625.668 1929 537.716 129.523 4.864 4.345 676.448

Fonte: Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros (1921, p. 84, 1922, 1925, 1926, 1927, 1928, 1929, p. 32; 1930, p. 21).

Em 1920, os mercados mais importantes das carnes congeladas paulistas, eram a Itália, Grã-Bretanha, Egito e França e para as do tipo conserva, Bélgica e Grã-Bretanha. Em função do surto de peste bovina ocorrido nesse mesmo ano, as carnes em conserva perderam um importante mercado, os Estados Unidos, e a trajetória de crescimento de exportação desse produto foi interrompida (Tabela 2.2.2). O estado indenizou os 1.454 bovinos abatidos, sendo 191 doentes e 1.263 considerados casos suspeitos, pagando 80$000 por boi carreiro e 200$000 por bovino de raça. Também foram distribuídas pela Secretaria de Agricultura, 194.580 doses de vacinas contra pneumoenterite e carbúnculo, e 11.603 doses contra batedeira (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1921).

Para o Governo de São Paulo, a Primeira Guerra Mundial gerou efeitos muito positivos sobre o desenvolvimento da pecuária paulista, tendo como força motriz os três frigoríficos instalados no estado (Barretos, Osasco e Santos), os quais somavam o capital

18

empregado de 24.000 contos, sendo o de Barretos com dez mil contos, empregando 350 funcionários; o de Osasco, com 12 mil contos, com 700 funcionários; e o de Santos, com 2 mil contos e 147 funcionários. Fornecedores de carne para os países em conflito, criaram condições para que as indústrias de subprodutos do abate, como fábrica de solas, pentes, botões, calçados e outras, ganhassem importância econômica no estado, mas após o final do conflito, a conjunção da queda da demanda e da volta à produção pelos países antes envolvidos na guerra, provocaram a queda dos preços da carne e a redução das exportações. Também, o reestabelecimento dos transportes marítimos e as facilidades proporcionadas pelos comerciantes dos Estados Unidos, estimularam o aumento das importações brasileiras, escoando a reserva de ouro interna e provocando a desvalorização da moeda nacional. Essa inflação elevou os preços internos, incluindo o da terra, sendo que a pecuária foi a primeira atividade econômica de São Paulo a sentir o problema, a partir de julho de 1920. Os boiadeiros de Barretos alegaram ao Governo do Estado, que estavam à beira da falência, vendendo o gado a qualquer preço em função de compromissos assumidos com notas promissórias e letras e que não conseguiam renegociação independente das condições que estivessem dispostos a aceitar. Assim, em Barretos, havia 150.000 alqueires de terra que, se cotados a 500$000, valeriam 75.000:000$000; e o gado lá criado valia 10.000:000$000, somando tudo daria um total de 85.000:000$000, sendo que o passivo dos boiadeiros era de 9.000:000$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1921).

A pecuária mundial atravessava um período de crise, não apenas a paulista, e o Governo do Estado aguardava um novo equilíbrio de preços. Para o governo paulista, a atividade econômica da indústria frigorífica só era viável e rentável, se realizada em grande escala, a qual, somente seria possível através das exportações, também em grande escala, já que o consumo interno era insuficiente para gerar tal demanda e remunerá-la, merecendo a sua atenção e da população, pois sem ela, a pecuária não seria uma atividade econômica expressiva. Com esse intuito, é que logo nos primeiros dias de 1921, a taxa de expediente por quilo de carne, destinada à estatística de exportação, caiu de 10 réis para 2 réis, consistindo, de acordo com o Governo, em um aumento de lucro para o exportador, de 8$000 por tonelada. O Governo também fixou imposto de exportação de 50$000 sobre vaca ou novilha aptas à reprodução e 20$000 sobre vaca ou touro de raça considerados reprodutores, e 10$000 sobre

boi, garrote ou vaca inapta à reprodução (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922).19

O intuito da lei é destinar os bois aos Frigoríficos, transformando S. Paulo num grande centro de exportação de carne industrializada, mantendo e protegendo, ao mesmo tempo, os grandes consumidores do gado em pé, única forma de fazer prosperar a pecuária em grande vulto, tendo em vista, conseguintemente, o interesse do criador.

Mais ainda. Os Matadouros Frigoríficos, e já temos quatro, exportando a carne, deixam, entre nós, os subprodutos do boi, que são matéria prima de novas indústrias, condição muito boa para se observar no Estado que não quer ficar com a monocultura.

É assim que se acham muito desenvolvidas, entre nós, indústrias que só vivem por terem essa matéria prima à mão e barata. Temos três fabricas de pentes, uma das quais faz diariamente 15.000 pentes, aproveitando os chifres; duas de botões, usando os ossos; diversas de cola, extraída dos tendões; numerosas de calçados e de correias, utilizando os couros, e diversas de adubos, transformando todos os restos. S. Paulo não é, propriamente, um estado criador. Cria em boa escala, mas é principalmente um território de engorda de gado. Dada a absoluta falta de meios de transportes, o Estado de S. Paulo aproveita principalmente as suas grandes e magníficas pastagens, em invernadas para engorda do gado que, a pé, em viagens de meses, nos chega magro dos vizinhos estados criadores de Minas, Goiás e Mato Grosso.

O seu interesse atual está em facilitar a entrada e dificultar a saída do gado em pé, visto que é ele industrializador do boi sob todos os aspectos, nos seus Matadouros Frigoríficos.

Nada perdem os estados criadores com isso; ao contrário, sendo a regra a mesma, só têm a ganhar por encontrar vasto mercado de consumo para as suas criações. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922, p. 88-89).

As exportações de carnes de São Paulo, em 1921, tanto para o mercado interno quanto para o externo, superaram, em valores, as dos produtos têxteis e do feijão, ficando atrás apenas do café, contabilizando o total de 25.810.771 quilos, entre carnes congeladas e em conserva, resultando no valor total de 31.363:141$000; mesmo com um período de interrupção em função da peste bovina, mantendo o equilíbrio dos anos anteriores. A Itália era o principal importador com 15.927:634$000, seguida pela Espanha, com 8.641:543$000; Inglaterra, 3.531:206$000; e França, 2.280:153$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922).

Em 1922, as exportações seguiram caindo em função da crise mundial e do surto de peste bovina. Alguns frigoríficos paralisaram ou reduziram suas operações, já que o preço da tonelada exportada estava baixo e havia forte concorrência com o mercado europeu. Neste

19

Lei n. 1.764, de 31 de dezembro de 1920 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922).

ano, entrou em funcionamento o Armour, na capital, com 1.300 operários e o capital de 12 mil contos, com capacidade para abater 2.000 novilhos e 3.000 suínos dia, mas em decorrência do contexto pouco favorável, suas atividades foram completamente paralisadas, só voltando a funcionar no começo do ano seguinte. Em 1923, ano em que a Anglo adquiriu a Companhia Frigorífica de Barretos, passando a ter a sua primeira planta de abate e processamento no estado de São Paulo, a carne congelada e resfriada voltou a ocupar o segundo lugar em valores das exportações de São Paulo, tanto para o mercado internacional quanto para o nacional. No mesmo ano, o registro dos criadores da Diretoria da Indústria Pastoril tinha registrado 650 criadores, que entre outros animais, possuíam 516.145 alqueires de terra, 266.504 bovinos, sendo 29.914 alqueires somente de pastagem, e o governo continuava dando destaque à pecuária em suas mensagens anuais para o Legislativo (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922, 1923, 1924):

É sensível o progresso da nossa Pecuária e Indústria Pastoril. As diversas exposições levadas a efeito demonstraram o grau de aperfeiçoamento a que chegou o gado e o grandioso futuro que o espera dentro de pouco tempo. O governo nunca deixou de interessar-se francamente por este assunto, que é de grande alcance para o trabalho e riqueza do estado, que se acha aparelhado para a melhor defesa e desenvolvimento da pecuária, com o Serviço de Polícia Sanitária Animal. Este Serviço vem prestando ótimos auxílios aos interessados e fazendo interessantes experiências na prevenção e cura das moléstias do gado em geral. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1924, p. 41).

Em 1924, o Governo de São Paulo transformou seus Comissários em Adidos Comerciais do Estado no Estrangeiro, atuando em 2 escritórios de propaganda (MARTINS, 1991). Somando a produção dos quatro frigoríficos instalados em São Paulo entre carnes, couros, ossos, chifres, sebo, óleo e outros produtos, o total foi de 109.197:100$000 (Tabela 2.2.4). As carnes congeladas ocuparam o segundo lugar entre as exportações paulistas, mas com valores e volume inferior ao ano anterior (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1925).

Em 1925, os quatro frigoríficos trabalharam com menos intensidade. A alta da taxa de câmbio tornou a carne brasileira mais cara em relação à exportada pelos países platinos, e as exportações paulistas para o mercado externo, caíram para 26.301 toneladas, totalizando 32.143 contos, assim o governo paulista estava interessado em escoar a produção para os estados do nordeste, como Pernambuco e Bahia (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1926).

Tabela 2.2.4: São Paulo - valor e volume da produção dos frigoríficos, carnes e outros produtos, 1919 a 1921, 1924 a 1929

Ano Carne (toneladas) Outros produtos

(toneladas)

Produção total (toneladas)

Valor da produção total (contos de réis) Resfriada Congelada Fresca Conserva

1919 4.609 34.748 13.016 2.458 - 54.833 69.780 1920 - - - 57.066 1921 9.469 16.560 8.860 60 2.357 37.307 42.144 1924 - - - 109.197 1925 4.682 25.974 6.109 158 33.333 70.258 79.739 1926 - - - 63.440 86.673 1927 14.561 25.106 29.890 1.894 27.373 98.826 124.688 1928 - 27.549 73.233 250 40.525 141.559 181.732 1929 - 54.441 43.398 308 56.923 155.072 211.551

O governo continuava diretamente preocupado com o desenvolvimento da pecuária, tanto no andamento dos trabalhos da Diretoria da Indústria Pastoril, quanto em promover o melhoramento do rebanho.

Durante o ano de 1925, a Diretoria de Indústria Pastoril tratou de auxiliar o desenvolvimento da pecuária paulista, tendo para isso respondido todas as consultas recebidas, como também prestado aos interessados, verbalmente, todos os esclarecimentos que foram solicitados. Não obstante esse fato, os serviços da Diretoria, em relação ao valor do progresso atingido pela nossa pecuária, precisam ser modificados e devidamente desenvolvidos, de modo a torná-los mais eficientes e em condições de melhor auxiliar os criadores e outros interessados que deles necessitarem. A pecuária paulista, já mais ou menos orientada, necessita do decisivo apoio oficial, principalmente no que diz respeito ao combate sistemático às doenças epizoóticas e enzoóticas que entre nós reinam. Para isso, a Diretoria deverá estar habilitada a fornecer todas as vacinas e soros necessários que a qualquer momento sejam solicitados pelos interessados. Tais soros e vacinas devem ser fabricados e distribuídos pelo governo gratuitamente ou por preços reduzidos aos criadores inscritos em livros especiais mantidos pela Diretoria. Por essa forma além de obter- se a relação dos criadores residentes do estado, poder-se-á observar a relação e eficácia dos soros ou vacinas empregados. A assistência veterinária deve ser também mais rápida; e para isso necessário é que o quadro de profissionais existentes seja convenientemente aumentado, colocando-os permanentemente nos centros de maior criação e nas fronteiras, onde, não somente observarão a entrada e saída de animais, como também executarão, com vigor as medidas de profilaxia contra as doenças contagiosas, impedindo, por essa forma, a sua propagação. Deve-se também, por meio dos veterinários estaduais, melhor cuidar dos transportes ferroviários de animais, exigindo-se completa desinfecção dos vagões e outros materiais para isso usados.

A introdução de animais reprodutores é outro ponto que se deve cuidar com presteza e com o máximo de carinho, a bem de atender ao melhoramento do rebanho nacional, quer pelo cruzamento progressivo, com raças indígenas, quer pela criação

in-loco das raças importadas em pleno estado de pureza. Os criadores paulistas, por

motivos especiais, desde muito tempo nenhum reprodutor tem importado; daí a consanguinidade estreita já observada, do que resulta o definhamento dos rebanhos descendentes das raças exóticas.

Além da introdução desses espécimes, é indispensável que nos estabelecimentos oficiais seja intensificada a criação de bons animais reprodutores, para serem igualmente vendidos aos criadores. Os reprodutores aqui nascidos são mais rústicos que os importados, imunes contra a tristeza e mais adaptados ao nosso sistema de criação em liberdade ou em semiestabulação; daí serem eles preferidos pelos que não estão ainda convenientemente preparados para a manutenção de reprodutores importados. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1926, p. 79-80).

Em 1926, as carnes continuaram sofrendo os efeitos do aumento da oferta mundial, já que os países, anteriormente envolvidos no conflito, estavam em plena produção e estava praticamente impossível competir no mercado estrangeiro com as carnes produzidas na Austrália, Argentina e Uruguai. As exportações de carnes paulistas tiveram um baixíssimo desempenho, com apenas 5.526 toneladas (Tabela 2.2.2) o que levou os frigoríficos à redução