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As medidas do Governo do Estado de São Paulo para o desenvolvimento da pecuária bovina e da

No início da década de quarenta, foram implantadas Escolas Agrícolas com o objetivo de compor, com a experimentação e o fomento que já aconteciam, os suportes de avanço e promoção da exploração agropecuária paulista. Voltadas para o trabalhador rural, tinham, entre seus campos de ensino, a exploração animal, lançando mão de técnicas que foram chamadas racionais para a nutrição, reprodução e defesa sanitária animal para todas as espécies domésticas (MARTINS, 1991). Em 1942, o Governo do Estado determinou a criação da Divisão de Industrialização de Produtos de Origem Animal, com uma Seção de Tecnologia da Carne, internamente ao Departamento da Produção Animal, pois, para o governo, os aspectos industrial e sanitário estavam intimamente ligados ao desenvolvimento da pecuária, como pode ser visto no trecho do relatório da Secretaria de Agricultura:

O incremento da produção é, hoje, problema de urgente solução para atender às exigências do consumo interno e do comércio exportador [...]. Quanto à espécie animal de maior valor econômico, é conveniente lembrar que, em S. Paulo, prosperam as raças bovinas leiteiras e as raças de corte; podem criar-se reprodutores para venda e é extensíssima a capacidade de engorda dos prados artificiais das regiões norte e noroeste do Estado, estando aqui localizados os grandes frigoríficos e para aqui convergindo as boiadas do Brasil Central. Convém, ainda não esquecer que o maior rendimento em utilidades de origem animal, só será usufruído economicamente mediante a industrialização, para o aproveitamento direto e a exploração dos subprodutos e derivados, e mediante a conservação, necessária em face das contingências de um clima subtropical e das delongas da exportação. E essa industrialização deve, por sua vez, ser devidamente fiscalizada do ponto-de-vista sanitário, porque se trata, sobretudo, de produtos alimentícios de origem animal, a fim de evitar a fraude e salvaguardar a saúde do consumidor. Os problemas da produção, da industrialização e da conservação dos produtos de origem animal estão, como se vê, intimamente ligados, decorrendo dessa circunstância, a necessidade de uma organização mais completa da agricultura, que cuida dos problemas da produção animal (RELATÓRIO DA AGRICULTURA, 1943 apud MARTINS, 1991, p. 283).

Como pôde ser visto na citação acima, São Paulo que possuía o terceiro maior rebanho do país, continuava recebendo gado proveniente dos estados que Brito (1944, p. 11) chamou de “essencialmente criadores”, detentores do primeiro, quarto e sexto maiores rebanhos do Brasil (Tabela 3.6.1), sendo o maior exportador, Minas Gerais, seguido por Goiás e Mato Grosso (Tabela 3.6.2), sem ser considerado o contrabando de animais que, segundo o autor citado, era estimado em cinquenta mil de Goiás, cinquenta mil de Mato Grosso e em cem mil de Minas Gerais, por ano. Em 1945, a carne bovina passou a ser a

terceira atividade mais importante da agricultura paulista, ficando atrás do café e do algodão, sendo que o elemento que chama muito a atenção é o crescimento do rebanho baseado em animais criados em São Paulo (VILLARES et al., 1957, p. 211) (Tabela 3.6.3).

Tabela 3.6.1: Brasil, regiões e estados - Efetivo do rebanho bovino, 1940, 1950 e 1960 (número de cabeças)

Estados, Regiões e Brasil 1940 1950 1960

Acre 23.337 25.020 32.516 Amapá - 31.010 45.476 Amazonas 270.180 87.440 141.424 Pará 705.524 735.529 844.740 Rondônia - 2.052 3.475 Roraima - 139.254 167.251 Norte 999.041 1.020.305 1.234.882 Alagoas 217.813 275.451 411.655 Bahia 2.740.278 3.900.335 4.594.998 Ceará 991.904 1.160.771 1.354.338 Maranhão 803.252 927.807 1.380.511 Paraíba 608.044 680.882 765.839 Pernambuco 606.296 830.346 930.065 Piauí 993.987 1.018.088 1.136.303

Rio Grande do Norte 431.688 462.867 487.403

Sergipe 261.944 375.891 494.645 Nordeste 7.655.206 9.632.438 11.555.757 Espírito Santo 287.557 464.463 653.890 Minas Gerais 7.768.245 9.790.100 11.963.902 Rio de Janeiro 721.515 777.789 1.073.339 São Paulo 3.174.453 5.721.977 7.131.024 Distrito Federal 5.496 10.850 -

Região da Serra dos AimorésI 5.176 38.313 200.029

Guanabara - - 17.646

Sudeste 11.962.442 16.803.492 21.039.830

Paraná 469.053 795.821 1.665.698

Rio Grande do Sul 7.460.705 8.617.587 8.810.312

Santa Catarina 734.389 914.377 1.201.993 Sul 8.664.147 10.327.785 11.678.003 Distrito Federal - - 16.411 Goiás 2.975.305 3.373.540 4.862.782 Mato Grosso 2.136.278 3.442.599 5.653.642 Centro-Oeste 5.111.583 6.816.139 10.532.835 Brasil 34.392.419 44.600.159 56.041.307

Fonte: para 1940, IBGE (1950, p. 83) - Recenseamento Geral do Brasil; para 1950, IBGE (1956, p. 49) – Censo Agrícola; e para 1960, Fundação IBGE (s.d., p. 27) – Censo Agrícola.

Tabela 3.6.2: Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais - bovinos exportados em pé, 1936 a 1940, 1950 a 1951, e 1954 (número de cabeças)

Estado Ano

Mato Grosso Goiás Minas Gerais Total

1936 274.254 189.432 598.117 1.061.803 1937 277.210 253.971 666.419 1.197.600 1938 223.628 243.969 569.400 1.036.997 1939 212.241 259.090 511.175 982.506 1940 231.896 329.767 n.d. 561.663 1950 313.285 282.566 245.918 841.769 1951 346.370 302.741 272.196 921.307 1954 318.059 275.315 249.048 842.422

Fonte: de 1936 a 1940 para Mato Grosso: Boletim do Sindicato dos Invernistas e Criadores de Gado, Barretos, n. 107 – A, de 25 de set. de 1942; para Goiás, Informações Estatísticas, ano III, n. 3, do Departamento Estadual de Estatística de Goiás, 1941. Para Minas Gerais, ano 1936: Pecuária Mineira – exportação de Bovinos (Dep. Geral de Estatística), In: Revista da produção – Minas Gerais – Belo Horizonte, Agosto-Dezembro de 1938, n. 14, p. 14; para 1937 e 1938, informações prestadas pelo Dep. Estadual de Estatística de Minas Gerais; para 1939, informações prestadas pelo Serviço de Estatística da Produção do Ministério da Agricultura. Todos citados em Brito (1944, p. 11-12). n.d.: não disponível. Para os anos 1950, 1951 e 1954 os dados são do Ministério da Agricultura (apud VILLARES et al. 1957, p. 216).

Tabela 3.6.3: São Paulo - bovinos criados, entrados, saídos, abatidos e índice de abates, 1945 a 1954 (número de cabeças)

Ano Número de bovinos em São Paulo Índice de Abates

Criados Entrados Saídos Abatidos

1945 _ 590.440 _ 1.144.488 100 1946 _ 626.943 _ 1.423.002 124 1947 809.439 798.152 42.884 1.564.707 137 1948 973.584 823.793 65.812 1.731.565 151 1949 982.920 837.911 89.266 1.876.561 164 1950 1.067.226 841.769 102.261 1.783.816 156 1951 1.075.404 921.307 88.471 1.806.734 158 1952 981.531 812.933 140.061 1.908.240 167 1953 1.09.2235 749.681 109.713 1.654.403 145 1954 1.129.717 842.422 154.619 1.732.183 151

Fonte: Ministério da Agricultura apud VILLARES et al. (1957, p. 211-212).

Em 1946, foram enviando técnicos de diversas unidades da Secretaria da Agricultura para os Estados Unidos, para especializarem-se nas mais diversas áreas da tecnologia de alimentos, estando entre eles, um técnico com o objetivo de especializar-se na industrialização da carne e derivados (TEIXEIRA & TISSELI, 1991). Em 1948, a Secretaria de Agricultura firmou convênio com o Governo Federal, com objetivo de classificar os produtos pecuários, seus subprodutos e resíduos de valor econômico, e no ano seguinte, começou a realizar Concursos de Bois Gordos, os quais tinham por finalidade, servir de

aporte para a decisão dos pecuaristas na seleção do gado para a produção de carne, o mais precoce possível, quanto o meio permitisse. O contato com os juízes permitia a atualização dos produtores em relação às demandas da indústria da carne e às tendências de mercado (MARTINS, 1991).

A bovinocultura estava entre as principais atividades agropecuárias, em termos de valores gerados, sendo que em 1948, ela estava em quinto lugar em importância econômica, ficando atrás somente do café, algodão em caroço, arroz em casca e do milho, e seguia tendência de forte crescimento (Tabela 3.6.4).

Tabela 3.6.4: São Paulo - Renda bruta da bovinocultura, valor e colocação por ordem de renda gerada entre os produtos agropecuários produzidos no estado, 1948 a 1953

Ano Valor (Cr$ 1.000) Posição

1948 1.295.211 5ª 1949 1.506.878 4ª 1950 1.748.919 3ª 1951 1.931.139 3ª 1952 2.789.328 3ª 1953 3.086.750 4ª

Fonte: Revista de Economia Agrícola (1954, p. 21).

O Fomento à Produção Animal, órgão do Departamento de Produção Animal, recebeu em 1950, um serviço de compra e venda de reprodutores criados no Departamento, vendendo seus produtos através de leilão ou concorrência pública e comprando reprodutores por solicitação de produtores, repassando-os a estes por parcelamento de quatro anos. Recebeu também um auxílio voltado para pecuaristas interessados em investir na construção de estábulos, silos e banheiros carrapaticidas e sarnicidas, ou outro tipo de instalação para pulverização. Em relação à alimentação animal, foi aprovado o Regulamento para a Fiscalização dos Produtos Fabricados ou Importados para Alimentação Animal (MARTINS, 1991).

Em 1951, estavam em operação, em São Paulo, os frigoríficos Anglo, Swift, Wilson, Armour e o Cruzeiro, sendo este último voltado apenas para o mercado nacional. Juntos, eles detinham setenta por cento dos abates inspecionados (REVISTA DE ECONOMIA AGRÍCOLA 1952, p. 19) (Tabela 3.6.5).

Tabela 3.6.5: São Paulo - Bovinos abatidos pelos cinco principais frigoríficos e pelos demais estabelecimentos sob Inspeção Federal, 1950 a 1955 (número de cabeças)

Ano Cinco principais frigoríficos Demais estabelecimentos

Número Percentual 1950 749.576 70 1.068.557 1951 813.007 70 1.163.694 1952 680.982 80 851.516 1953 749.529 75 1.006.051 1954 731.114 75 971.658 1955 728.598 75 970.836

Fonte: Revista de Economia Agrícola (1956b, p. 1 e 5).

Nos anos 1952, 1953 e 1954, esteve em vigor o Plano Quadrienal, o qual aplicou valores acima do orçamento, em torno de, 17, 16 e 12% em cada um desses anos respectivamente, sobre o orçamento normal da Secretaria de Agricultura, destinando-se aos produtos agropecuários de acordo com a importância econômica que eles possuíam na economia paulista (MARTINS, 1991). Os investimentos na área de carne fundamentavam-se no melhoramento genético do rebanho, através do aprimoramento das raças e na difusão da técnica de inseminação artificial, a qual, no Brasil, teve as primeiras pesquisas realizadas em 1950, pelo Departamento de Produção Animal de São Paulo que coletava e distribuía doses de sêmen, obtendo índices de concepção de 66 a 69%. As progênies eram expostas nas exposições animais, em cidades como Sorocaba e Pindamonhangaba, com o objetivo de demonstrar aos pecuaristas, os benefícios da utilização da inseminação artificial (GARCEZ, 1952 apud MARTINS, 1991, p. 369; CAIELLI, 1991 apud MARTINS, 1991, p. 369).

Dentro do Plano Quadrienal, os investimentos em agrostologia visavam aumentar a produção de sementes e mudas de forrageiras, ampliar a investigação de novas fontes de proteína, como a soja, e de formas de conservação do alimento para o gado. O Instituto Biológico ampliou as pesquisas no combate às doenças animais e o Departamento de Produção Animal aumentou a velocidade do processo de implantação do Instituto de Zootecnia (IZ), na Fazenda de Nova Odessa. Também foi instituído o Fundo de Pesquisas do Departamento de Defesa Sanitária da Agricultura, o qual recebeu amparo de produtores rurais e empresários, possibilitando campanhas de combate á diversas doenças e pragas. A base do Plano Quadrienal estava no contato direto com o produtor rural, assim, as ações estavam focadas na distribuição de mudas forrageiras, aumento da produção de doses de vacinas e assistência zootécnica (MARTINS, 1991).

O Plano Quadrienal também tinha, por objetivo, contribuir para sanar o que era considerado o segundo maior problema do estado: a deficiência no abastecimento e a deterioração dos alimentos, assim, surgiram investimentos no armazenamento de produtos de origem animal. Com o mesmo objetivo, o Governo do Estado entrou em acordo com o Governo Federal para ser beneficiado com o Plano de Interiorização dos Frigoríficos, para a construção de unidades na Alta Noroeste e na Alta Sorocabana, possibilitando a instalação de frigoríficos regionais próximos às fontes de matéria-prima, elevando o rendimento animal, reduzindo o custo com frete de animais em pé, o qual dava prejuízos às ferrovias. O Plano Quadrienal também possibilitou o aumento da produtividade do rebanho, através da vacinação em massa (MARTINS, 1991).

Em relação à vacina contra a febre aftosa, em 1952, as instalações para a produção deste imunógeno, já estavam concluídas, permitindo aos produtores rurais o correto recebimento deste produto (GARCEZ, 1952 apud MARTINS, 1991, p. 364). Foram ainda instituídos importantes fundos, dentre eles o de Pesquisa e Fomento Zootécnico e o de Pesquisas do Instituto Biológico, em 1953 (MARTINS, 1991). Vale ressaltar que o primeiro estado do Brasil a entregar seu próprio milho híbrido ao produtor rural, foi São Paulo, sendo a segunda região do mundo a ter essa variedade (WUTKE, 1991 apud MARTINS, 1991, p. 368).

De acordo com dados levantados em 1953 e 1954, em São Paulo, entre as pastagens plantadas, a maior incidência era de Capim Gordura, seguido pelo Colonião e o Jaraguá (Tabela 3.6.6). O Capim Gordura abrangia áreas de exploração mais antigas, pois é menos exigente, adaptando-se bem em solos ácidos decorrentes da exploração prolongada. O Colonião havia sido recentemente implantado no estado, mas pelas características de desenvolver-se rapidamente, produzir grande quantidade de sementes e de massa verde, sendo bem aceito pelo gado e excelente para engorda, estava em plena expansão, e vinha sendo responsável pelas alterações nas áreas paulistas fronteiriças com o Mato Grosso, onde as empreitas derrubavam a mata, utilizavam a área pelo período de dois a três anos, e depois restituía ao proprietário já com a pastagem de Colonião plantada. O Colonião também vinha se espalhando em áreas antes ocupadas pelo algodão como Pereira Barreto, Presidente Wenceslau, General Salgado e outras. Nas áreas de campo e cerrado, os usos eram variados, muitos eram destinados à atividade de cria e recria, mas não para a engorda. Dentre os 8,2 milhões de hectares de pastagem plantada, parte servia de reserva para as culturas vegetais, pois alguns proprietários utilizavam o pasto como cobertura da área enquanto ela descansava,

recuperando alguma fertilidade, e com o passar do tempo, essas áreas poderiam ser novamente voltadas para o cultivo agrícola (REVISTA DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 1955b).

Tabela 3.6.6: São Paulo - Utilização da área rural, exclusive litoral, 1953 a 1954

Tipo de ocupação Hectares Percentual da área do Estado

Pasto Formado 8.211.060 35,90 Gordura 3.097.600 13,54 Colonião 2.565.200 11,22 Jaraguá 2.250.600 9,84 Outros pastos 297.660 0,13 Campo 2.758.800 12,06 Cerrado 2.178.000 9,52 Matas Naturais 3.146.000 13,76 Áreas Reflorestadas 338.800 0,15

Culturas, sedes e terras não especificadas

6.236.340 27,27

Total Rural menos litoral 22.869.000

Fonte: Subdivisão de Economia Rural (apud Revista de Economia Agrícola, 1955b, p. 10).

Segundo a Revista de Economia Agrícola (1956a) comparando-se os dados dos Censos Agropecuários de 1940 com os de 1950, ocorreu aumento de 36% da área destinada à pastagem no Estado de São Paulo.

A concessão de crédito pela Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil também fornecia importante apoio para a pecuária paulista, especialmente para a finalidade de aquisição de animais para a fase de terminação (Tabela 3.6.7).

Tabela 3.6.7: São Paulo - Crédito concedido pela Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil para a pecuária, 1954

Finalidade Valor (Cr$ 1.000)

Aquisição de bovinos para engorda 715.367

Aquisição de bovinos para cria 152.570

Aquisição de bovinos para recria 96.006

Total 963.943

Fonte: Serviço especial de estatística da carteira de crédito agrícola e industrial do Banco do Brasil (apud Revista de Economia Agrícola, 1955b, p. 6).

Em 1955, a capacidade de abate anual disponível em São Paulo, era de 1.680.000 animais, porém, estes estabelecimentos nunca haviam trabalhado em suas capacidades máximas, estando com uma capacidade ociosa de 354.897, dada a falta de matéria-prima (VILLARES et al., 1957, p. 213-215) (Tabela 3.6.8). Três estabelecimentos estavam fechados por motivos diversos, entre eles, pela falta de matéria-prima, e juntos tinham a capacidade de abater 155.000 bovinos por ano, porém, nunca haviam trabalhado em suas capacidades máximas, abatendo ao todo 76.339 bovinos por ano, com uma capacidade ociosa de 78.661 bovinos. Havia em 1955, três novos estabelecimentos em construção, que agregariam a capacidade anual de abate de 790.000 bovinos. No momento em que ficassem concluídos, São Paulo contaria com um parque de abate de bovinos, com capacidade para 2.475.000 cabeças bovinas, enquanto que o Plano de Interiorização da Lei n. 1.168 de 2 de agosto de 1950, estava prevendo para Mato Grosso, uma capacidade para abater 300.000; para Goiás 150.000; e para Minas Gerais 450.000, totalizando 900.000. Assim, a pergunta que se fazia era se São Paulo teria gado suficiente para atender toda a capacidade de abate instalada.

Em 1956, a produção de carne bovina ocupava o segundo lugar na agropecuária de São Paulo, estando atrás somente do café o qual era, em termos mundiais, a principal lavoura (VILLARES et al., 1957, p. 209).

Durante a administração de Jânio Quadros, entre os anos de 1955 a 1959, diversas áreas foram destinadas à experimentação e fomento bovino, sendo determinantes para a história da seleção do gado zebu. Chaves (1952 apud MARTINS, 1991, p. 371) cita o Posto Experimental de Criação, localizado na Estrada São José do Rio Preto - Mirassol, o qual, além de realizar provas do boi gordo e exposições, sediava, em colaboração com a Associação Nacional de Criadores de Nelore do Brasil e Associação Rural de Rio Preto, um núcleo voltado para a o aprimoramento genético da Raça Nelore.43

Em 1957, foram criadas Estações Zootécnicas em Itapetininga e Tatuí, em seguida em Itaberá, Assis e Santo Anastácio. Em Ribeirão Preto, a raça Gir passou a ser o objetivo da Fazenda Experimental, a qual ficaria sob tutela da Associação de Criadores Gir do Brasil. Em 1958, foi fundada a Estação Experimental da Água Funda, localizada na capital, que tinha, entre os seus objetivos, a agrostologia (CHAVES, 1952 apud MARTINS, 1991, p. 371).

43

Em 1970, recebeu o nome de Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto, e realizava estudos com as raças Santa Gertrudes e mestiços Devon-Guzerá, visando a produção de carne, seleção e melhoramento genético no desenvolvimento de reprodutores (MORETI & FONSECA, 2005).

Tabela 3.6.8: São Paulo - Capacidade anual de abate instalada, matança máxima verificada em todo o período de operação do estabelecimento, número de bovinos abatidos e capacidade ociosa dos em

operação, fechados e novos, 1955

Estabelecimentos Capacidade máxima (A) Matança máxima verificada (B) Número de bovinos abatidos em 1955 Capacidade ociosa (A – B) Em operação Armour 350.000a 320.976b 194.957b 126.019 Anglo 300.000 a 249.223b 167.307b 81.916 Wilson 300.000 a 280.850b 204.944b 75.906 Swift 160.000 a 153.660b 132.470b 21.190

Matadouro Municipal Carapicuíba 175.000 a 174.582c 142.622c 32.060

Minerva 120.000d 20.015d 9.936d 10.079

Eder 75.000 d 38.185d 24.082d 14.103

José Bonifácio 45.000 d 10.003d 6.971d 3.032

Rio Claro 20.000 d 5.582d 944d 4.638

Pradimarti & Irmãos 60.000 d 2.027d 2.063d 564

Mouran 75.000e 70.000e 70.000e 5.000

Total dos em operação 1.680.000 1.325.103 956.296 354.897 Fechados

Bandeirantes 70.000f 24.339 1.340 45.661

São Carlos 60.000g 32.000 - 28.000

Prudentina 25.000h 20.000 8.000 5.000

Total dos fechados 155.000 76.339 9.340 78.661

Novos

T. Maia 250.000i

Jundiaí 240.000j

Morandi 150.000k

Total dos Novos 790.000

Total 2.475.000 1.401.442 965.636 433.558

Fonte: a cálculos verbais fornecidos pelos interessados; b dados do Sindicato do Frio no Estado de São Paulo; c dados do Ministério da Agricultura; d inquérito organizado pelo D.P.A. com informações dos próprios interessados; e dados verbais fornecidos pelo proprietário, sendo que a planta se encontrava em expansão e passaria a ter a capacidade de abater 150.000 cabeças previstas para 1957; f estimativa do Ministério da Agricultura; g dados fornecidos pelos interessados; h dados do D.P.A.; i relatório enviado pelo Frigorífico T. Maia à Comissão que formulou o trabalho VILLARES et al. (1957); j informações verbais prestadas pelo contador da firma Sr. Geraldo de Oliveira à Comissão que formulou o trabalho VILLARES et al. (1957); k relatório enviado pela Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto à Comissão que formulou o trabalho VILLARES et al. (1957). Todos os dados estão citados em VILLARES et al. (1957, p. 213-215).

Entre 1959 e 1963, no Governo Carvalho Pinto, foi implantado o Plano de Ação, através de um acordo com a União, o qual direcionou a Secretaria de Agricultura para ações de modernização, buscando substituir os velhos campos de café por novas culturas e de completar a rede de experimentação e fomento técnico, suprindo-as de todas as carestias que limitavam seu desempenho. Assim, foram equipadas adequadamente, oito fazendas

experimentais; cinco postos de criação; nove recintos de exposição; dezoito estações zootécnicas; quinze postos de sementes; e outros, a fim de desenvolver o fomento vegetal e animal. Também foi equipado adequadamente o Instituto Agronômico e suas quatorze fazendas experimentais. Foi completada a construção e equipagem de vinte e cinco Escolas de Iniciação Agrícola. Foram construídas e equipadas trezentos e oito Casas de Lavoura; vinte e nove sedes de Delegacias Agrícolas; e dezesseis sedes de extensão agrícola, afim de melhorar a assistência técnica aos agricultores, instalando e equipando adequadamente a rede de fomento. Foram criadas Estações Zootécnicas em Fartura, Lorena, Rancharia, Olímpia, Fernandópolis, Santo Anastácio e São José do Rio Preto; e expandida a rede de armazéns e silos para melhorar o abastecimento da capital (MARTINS, 1991).

Dentro do Plano de Ação, a tecnologia de alimentos foi eleita como prioridade em 1959. O assunto ainda era incipiente no Brasil, e ajuda internacional foi requerida para auxiliar o Conselho Consultivo de Tecnologia de Alimentos, criado em 1960.44 Naquele momento, a demanda por difusão de informações sobre tecnologia no processamento dos alimentos era muito grande e fazia-se necessária a abertura de linhas de pesquisa no Instituo Agronômico de Campinas, que abordassem tal área e que viessem a criar soluções para os problemas enfrentados. Assim, o Conselho foi criado na Secretaria de Agricultura, com o objetivo de iniciar o processo de desenvolvimento da pesquisa na tecnologia dos produtos agrícolas (MARTINS, 1991).

Em 1961, foi criado o Fundo de Expansão Agropecuária com o objetivo de promover a pecuária entre outras atividades e a industrialização dos seus produtos. O Fundo obteria recursos, através do orçamento e do pagamento das amortizações. Para a pecuária de corte, estava prevista a compra de reprodutores para o aprimoramento racial em rebanhos de raça pura.45 No mesmo ano, o Departamento de Produção Animal realizou acordo com o International Basic Economy Corporation Research Insitute (IBEC-IRI) a fim de aumentar as pesquisas voltadas para a nutrição animal, e em última instância, aumentar a produção de alimentos de origem animal. Uma das metas do acordo, era a implantação do Centro de Nutrição Animal (CNA), inaugurado em 1962, com uma área de mil hectares. Mais tarde, o centro passaria a chamar-se Centro de Nutrição Animal e Pastagens (CNAP), com grande destaque no cenário nacional. O acordo foi durou até 1968 (MORETI & FONSECA, 2005).

44

Decreto n. 37.143, de 24 de agosto de 1960 apud Martins (1991, p. 406).

45

Uma das importantes ações do Conselho Consultivo de Tecnologia de Alimentos foi a criação do Centro Tropical de Pesquisa e Tecnologia de Alimentos - CTPTA em 1963,46 a partir de convênio entre o Fundo Especial das Nações Unidas e o Governo Federal, firmado em 1960. Este último repassou para o Estado de São Paulo, a incumbência de criar o Centro com o objetivo de desenvolver pesquisas e serviços, tanto na preservação quanto no processamento de alimentos de origem vegetal. Em 1966, foi criada a Comissão de Tecnologia Vegetal e Animal na Secretaria da Agricultura, a qual, em 1967, apontou a necessidade de ser dada a pesquisa, na área de alimentos de origem animal, o mesmo tratamento que já vinha sendo dado aos de origem vegetal. Assim, em 1969, o Centro Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos passou a ser o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), o qual tem por objetivo desempenhar atividades referentes à tecnologia de alimentos, incluindo os de origem animal (TEIXEIRA & TISSELI, 1991).47

O ITAL recebeu a função de conduzir pesquisas e aplicação de técnicas de preparo, armazenamento, processamento, embalagem, distribuição e utilização de alimentos, treinamento de pessoal para indústria, formação de especialistas e assessoramento para crédito oficial destinado ao financiamento de projetos relacionados à indústria de alimentos (MARTINS, 1991). Dentre as seções de Processamento de Alimentos, estava a de Carnes e Derivados, a qual possuía as seguintes atribuições:48

Estudar as diversas matérias-primas utilizadas pela indústria de carne e derivados; - desenvolver técnicas mais adequadas para o processamento de carne e derivados; -