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1. INTRODUÇÃO

1.9 Aprendendo nas ranhuras da quebrada

1.9.8 Ações de formação sobre as relações étnico-raciais

A ideia de historicizar as relações sociais sobre o tema étnico-racial no âmbito da rede dialogam com os fundamentos do método dentro do referencial teórico. Entender o que se vem produzindo a respeito dessa questão na formação é de expressiva relevância para significar algumas ações da rede que se vinculam com análises do interacionismo simbólico.

A formação continuada intitulada “Educação para as Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana”, oferecida pela rede municipal de São Paulo, assumiu a diversidade como patrimônio cultural do país e reconheceu esse processo como alvo de política educacional em meados da década de 2001 a 2010. Logo, objetivou oferecer elementos que colaborassem, para a elaboração, o desenvolvimento e o aprimoramento de práticas pedagógicas centradas, tanto na educação para a convivência na diversidade, como no ensino para a aprendizagem e a produção de conhecimento sobre a África, os africanos e os afro-brasileiros.

Com isso, a rede pretendeu contribuir para a superação das desigualdades presentes no ambiente escolar. Para alcançar tais objetivos, os cursos ofertados se valeram das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-

Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e dos

documentos Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem e

Orientações Didáticas para o Ensino Fundamental e Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem de Educação Étnico-racial, estes últimos

organizados pela SME e segundo seus próprios escritos, tem um fecundo diálogo com as novas linguagens e recursos tecnológicos (blogs, redes sociais), proporcionando

ensino e aprendizagens educomunicativas que integram conhecimentos de Educação, Literatura, Artes, História e Comunicação na elaboração, desenvolvimento e aprimoramento de práticas capazes de reconhecer e valorizar a diversidade.

Já a proposta do curso chamado “Artes e Culturas Africanas e Afro-brasileiras para a formação de professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental tinha a finalidade, de proporcionar aos (às) educadores(as) o acesso aos conceitos básicos para o ensino de artes no campo das representações artísticas africanas e afro-brasileiras. A arte é entendida pelo sistema como expressão estética das comunidades, portanto, é inserida no quadro da diversidade cultural que forma a sociedade brasileira e suas manifestações, bem como as apropriações e invenções estéticas das culturas africanas e afro-brasileiras.

Utilizando elementos da linguagem artística, visual e audiovisual, pretende-se envolver os educadores tanto no campo da reflexão conceitual quanto no das práticas do fazer artístico afro-brasileiro, com o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento do trabalho junto com os estudantes.

As contribuições da história e da cultura africanas são dadas, no ensino fundamental, de acordo com as determinações das leis federais nº 10.639/03 e nº 11.645/08. De acordo com essa legislação, o objetivo da inserção de tais conteúdos é introduzir professores e gestores nos estudos concernentes ao continente africano e aos processos históricos, sociológicos e políticos, visando a uma melhor compreensão das questões contemporâneas nas diversas regiões da África, assim como, discutir as intervenções didáticas que contribuem para o avanço dos estudos sobre cultura e história afro-brasileira. Nesse sentido, importa oferecer suporte aos professores para que possam transformar sua prática de sala de aula, conhecendo e sendo multiplicadores da área de conhecimento “histórias e culturas afro-brasileira e africanas.

Além disso, ao fomentar a elaboração de novas práticas pedagógicas, pretende- se que os estudantes possam ter condições para continuar aprendendo e se desenvolvendo, visando à valorização do patrimônio sociocultural e o respeito à diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos, dos indivíduos e como um elemento de fortalecimento da democracia.

Quanto ao curso das relações étnico-raciais para o ensino fundamental, trata-se de uma formação que procura atender à LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, n°. 9394, de 20 de dezembro de 1996, alterada em seu artigo 26-A pelas leis 10.639/03 (Resolução CNE/CP 003/2004) e 11.645/08. Ambas as legislações

introduziram na educação básica nacional a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira, africana e Indígena”, como já visto no texto introdutório.

Esses cursos procuraram oferecer possibilidades para o desenvolvimento de práticas educativas que propiciassem a compreensão da diversidade étnica e cultural do país como elementos fundamentais ao processo de aprendizado dos estudantes. Em módulos específicos, educadores, gestores e equipe técnica tomaram contato com os temas inerentes às Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de

Aprendizagem de Educação Étnico-racial e aos seus eixos conceituais, que explicam e

explicitam a forma como as desigualdades sociais, raciais e de gênero operam no Brasil e no mundo.

Nesse sentido, os cursos priorizaram o currículo e a interligação de saberes, apresentando metodologias que contribuíssem para um Projeto Político Pedagógico baseado nos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-Raciais, Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana.

Igualmente pretenderam se utilizar de práticas educomunicativas e dialogar com as novas linguagens tecnológicas (blogs, redes sociais) como ferramentas atrativas ao aprendizado coletivo.

A Rede Municipal de Educação de São Paulo propôs, como missão, implementar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e

para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana em seus

estabelecimentos de ensino, o que procurou cumprir, por meio da formação continuada de professores e gestores, tendo por base as seguintes vertentes: educação para a convivência; ensino para a aprendizagem e a produção de conhecimento sobre história e cultura afro-brasileira e africana; história e cultura indígena, imigrante e latino- americana.

As ações desenvolvidas pela rede ocorreram, entre 2005 e 2019, na forma da promoção de diferentes eventos, como relacionado abaixo:

Em 2019, as ações realizadas pela SME foram: encontros do Grupo de Trabalho Étnico-Racial (Divisão Pedagógica DIPEDS), relacionados a atualização da prática pedagógica – de fevereiro a dezembro de 2019; Junho Imigrante – em 14/06/19; Seminário Internacional Imigração e Educação – em 29/06/19; IV Seminário da Mostra Cultural; Agosto Indígena – em 30/08/19; IV Seminário da Mostra Cultural; Novembro Negro – em 27/11/19.

Em 2018, as ações da Secretaria foram: III Congresso Municipal de Educação para as Relações Étnico-Raciais – entre 30 e 31/10/2018; Curso “Educação para as Relações Étnico-Raciais: Atualizando a prática Pedagógica”, ministrado pelo Grupo de Trabalho “GT – Núcleo de Educação Étnico-Racial” (NEER/DIPEDS) − de fevereiro a dezembro de 2018; Curso “Refúgios Humanos”, realizado, em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC), nas DREs Campo Limpo, Ipiranga e Penha; II e III Cursos de ”Formação de Professores para o Projeto “Portas Abertas: Português para Imigrantes” − 1º e 2º semestres; Curso “Escravo nem pensar!: Direito do Migrante e Prevenção do Trabalho Escravo e Infantil”. O Curso “Percursos & Diálogos entre Professores: Histórias Afro-Atlânticas” − 2º semestre; participação no Seminário “Cem anos de Nelson Mandela”, realizado em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no TUCA; participação do NEER no Seminário “30 anos de Geledés”, ocorrido no SESC Vila Mariana, em São Paulo participação no Seminário Museu Afro- Brasil, que abordou o tema Feminismos e contou com a presença da acadêmica estadunidense Patrícia Hill Collins, cursos sobre temas específicos: “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”; “História e Cultura Indígena”; “História e Cultura de Povos imigrantes da Cidade de São Paulo”; visita técnica às seguintes Unidades Educacionais, que desenvolviam o Projeto “Portas Abertas: Português para Imigrantes”: EMEF Infante D. Henrique, CIEJA Paulo Vanzolim, EMEF Coelho Neto, EMEF Dr. Fábio da Silva Prado, EMEF Paulo Colombo; formação in loco, organizada pelas técnicas do NEER e realizada, nos horários coletivos de formação (reuniões pedagógicas, Mostras Culturais, entre outros momentos), por meio de agendamento junto às seguintes UEs: CEI Neide Ketehut, EMEI Adoniran Barbosa, CEU Três Pontes, DRE Itaquera (formação realizada no CEU Formosa), CIEJA PERUS II, EMEI Jardim Paulistano e DRE Santo Amaro; lançamento, em parceria com a UNESCO, do livro Migração,

deslocamento e educação: Construir pontes, não muros: Relatório de Monitoramento

Global da Educação/UNESCO, realizado no Auditório do Memorial da América Latina; publicação, em imprensa internacional, da revista The Economist, de matéria da jornalista Lian Li, sobre o Projeto “Portas Abertas: Português para Imigrantes”.

Em 2017, ocorreram as seguintes ações: III Mostra Cultural Agosto Indígena; I Curso de Formação de Professores para o “Projeto Portas Abertas: Português para Imigrantes”, realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania III Seminário da Mostra Cultural Novembro Negro; II Seminário da Mostra Cultural Dezembro Imigrante; participação do NEER na proposta de atualização

curricular, ao longo do ano letivo; formação oferecida pelo GT- NEER/DIPEDS , ocorrida na DRE Butantã, com o tema “Relações Étnico-Raciais” – de abril a dezembro; formação em JEIF ocorrida na EMEF Theresa de Carvalho ; formação para educação Étnico-Racial, ocorrido na UNIPALMARES; visita técnica realizado na EMEF Infante D. Henrique, em referência ao trabalho de acolhimento ao estudante imigrante15.

Em 2016 as ações foram: I Seminário Iberoamericano, intitulado “Práticas Pedagógicas na Educação Infantil: Reflexões sobre o exercício da docência com os bebês e crianças pequenas”. “Migração Como Direito Humano: Rompendo o Vínculo Com o Trabalho Escravo”; “Olhares Cruzados na diversidade em São Paulo – Módulo I. Em 2015: curso “A temática indígena na agenda escolar”; curso “Momentos e lugares da presença indígena em São Paulo; especialistas no campo artístico e arte- educadores desenvolveram atividades formativas por meio de oficinas de hip-hop, arte- afro-brasileira e indígena, jogos, audiovisual, capoeira, danças afro-brasileira e indígena, contação de histórias, música, percussão, teatro e sobre movimentos migratórios; curso “Etnomatemática, uma das implicações em sala de aula − diversidade cultural africana e afro-brasileira”.

Em 2014: elaboração do questionário “Abordagens do Ensino como Pesquisa: Culturas Indígenas”, realizado pelo GT Intersecretarial para a Educação das relações raciais, com o objetivo de subsidiar a formatação das ações voltadas para discussões sobre migrações, cultura latino-americana e história das culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas; “Educação e Relações Raciais: melhores indicadores na qualidade de vida e da educação”, ocorrido na DRE – Freguesia do Ó; realização de 752 encontros formativos para os profissionais da educação; constituição do Grupo de Trabalho Permanente de Educação para as Relações Étnico-Raciais, de acordo com as leis 10.639/03 e 11.645/08 (GTP ERER), formado pela equipe da Coordenadoria Pedagógica COPED/SME/NEER e por representantes das 13 Diretorias Regionais de Ensino (DREs) e suas Divisões de Orientação Técnico-Pedagógica (DIPED) e supervisão de pessoas ligadas aos Programas Especiais/Educação Integral dos CEUS, grupo que, de forma colegiada, formulou, gestou e articulou a implementação de ações relacionadas às temáticas.

Em 2013: Formação Continuada “Coleta de Materiais para oficina com educadores”

15 Cf.:disponível em: https://educacaoeparticipacao.org.br/acontece/diversidade-cultural-na-perspectiva-

Em 2012: capacitação dos gestores da rede municipal, teve o objetivo de formar turma piloto em Educação Infantil, realizada na Freguesia do Ó; capacitação de professores realizada com 14 turmas em todas as regiões do município.

Em 2011: oferta de cursos de formação de gestores para as DREs Capela do Socorro, Santo Amaro, Penha, Freguesia do Ó, Jaçanã/Tremembé, São Miguel Paulista e Itaquera; publicação: “Orientações Curriculares para o Ciclo I”; aplicação de pesquisa sobre a implementação das DCN-ERER.

Em 2010: credenciamento de professores-formadores habilitados para oferecer formação em ERER; contratação de profissionais para os cursos de formação de professores e gestores da Educação Infantil e Ensino Fundamental; realização de atividades de formação de professores (História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, Literatura e Culturas Africanas e Afro-brasileiras, História e Cultura dos Povos Indígenas e História e Cultura dos Povos Latinos).

Em 2009: políticas para a implementação das DCN no município; credenciamento de assessoria para a implementação das DCN-ERER; formação continuada em ERER para as DREs Campo Limpo e Itaquera; instituição do Grupo Educação para as Relações Étnico-Raciais; atendimento à população imigrante: bolivianos e decasséguis; estágios com alunos do curso de História da Universidade de São Paulo.

Em 2008: publicação: “Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem de Educação Étnico-Racial”.

Em 2007: formação do grupo de referência para a elaboração das “Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem de Educação Étnico- Racial”.

Em 2006: Projeto A Cor da Cultura; aquisição e distribuição de material didático voltado à ERER (Educação das Relações Étnico-Raciais); Projeto Trilhas

Negras e Indígenas.

Em 2005: curso “História e Cultura Afro-Brasileira: ensinar e aprender na diversidade Afro-Brasil”; Mostra do Cinema Negro e Indígena, de acordo com a lei nº 9.394 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana; Parecer CNE/CP nº 3 de março de 2004;DECRETO nº 4.886, de 20 de novembro de 2008 – Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PNPIR; Parecer CEB nº 14-2015 – Diretrizes

Operacionais para a Implementação da Cultura Indígena na Educação Básica; promulgação da lei nº 16.478, de 8 de julho de 2016, que institui a Política Municipal para a População Imigrante, dispondo sobre seus objetivos, princípios, diretrizes e ações prioritárias, bem como sobre o Conselho Municipal de Imigrante.

Essas ações foram tomadas pela Secretaria Municipal de Educação, juntamente com algumas Diretorias Regionais de Ensino, movimento que mostra o empenho, no âmbito da rede, em dar conta das demandas vindas do Poder Executivo federal. Por mais que tais realizações tenham trazido um arcabouço importante sobre os povos que contribuíram para concretizar, nos âmbitos materiais e imateriais, a cultura africana e afro-brasileira no país, hoje pouco se sabe ainda, na sociedade mais ampla, como foram esses construtos. O componente de Educação Física é um exemplo, pois atualmente as crianças e jovens desempenham muitas práticas das culturas europeia e estadunidense e desconhecem os laços culturais como a capoeira, o samba, o jongo, entre outras práticas corporais.

A formação, tanto inicial quanto continuada, quase sempre se inclinou para as demandas positivistas que estão ancoradas nas “ciências naturais”, como citaram Neira e Nunes (2009) nos exemplos dos currículos exposto pelos autores no início dessa seção. Esse é um dos motivos que mobilizam os objetivos e objetos desta pesquisa. Ainda que a oferta da formação no campo da cultura étnico- racial tenha sido ampla, até o momento desconhecemos os mecanismos segundo os quais foram organizados os cursos, no que se refere, por exemplo, à carga horária, o que também deve ser colocado em evidência.

Sobre esse assunto, vou me ater apenas nas análises dos textos mimeses3, isso

por entender que essa questão está relacionada, em específico, às formações da professora Dandara e do Professor Zumbi.