• Nenhum resultado encontrado

Além de um engajamento nas redes sociais, HONY também estimula uma solidariedade que busca causar impactos positivos para a sociedade. Em 2015, três ações capturaram a atenção do público. Após compartilhar a história de um menino de 13 anos, morador do Brooklyn, cuja maior inspiração na vida era a diretora da sua escola, Brandon estabeleceu o objetivo de juntar 100 mil dólares em fundos para a instituição. O resultado reuniu mais de 1 milhão de dólares62, ultrapassando as expectativas e permitindo que o sonho da diretora – ter o suficiente para ajudar a enviar alunos sem condições para a universidade – se tornasse realidade.

58

I’m always looking for something that nobody else has told me [...] I start to peel off the layers of answers, to get from these very broad philosophical statements to a story that I’ve never heard before. So if I say “give me one piece of advice”, and they say: “be optimistic”, [I say]: “tell be about a time when you had trouble being optimistic”. Or “take more risks” - “tell me about a time when you didn’t take a risk that you really regretted it”. “Forgive people” – “who in your life you had the hardest time forgiving?”. “What’s your greatest struggle right now?” “Getting over depression” “Tell me about a time when you felt most depressed” [...]. You don’t really reveal anything about yourself saying “seize the day”. But when you’re asked about a time when you didn’t seize the day, then you’re kind of forced to reveal about yourself.

59

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KPxzlGPrM3A&t=803s>. Acesso em: 10 maio 2017.

60

Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=KPxzlGPrM3A>. Acesso em: 20 mar. 2017.

61

“There’s no way I’m the best photographer in the world [...] but I have approached over ten thousand people

on the street of what is stereotypicallyand by reputation one of the coldest cities in the world”.

62

Disponível em: <http://www.nbcnews.com/nightly-news/humans-new-york-raises-1-million-brooklyn-school- n300296>. Acesso em: 2 maio 2017.

Figura 5 - Garoto de 13 anos compartilha a maior inspiração de sua vida

Fonte: Humans of New York (2015).

Quem foi a maior influência na tua vida? Minha diretora Sra. Lopez.

Como ela te influenciou?

Quando nós fazemos algo errado, ela não nos suspende. Ela nos chama em seu escritório e explica como a sociedade foi construída ao nosso redor. E ela nos conta que toda vez que alguém reprova na escola, uma nova cela de prisão é construída. E uma vez ela fez todo mundo ficar de pé, um de cada vez, e ela falou a cada um de nós que nós importamos. (HUMANS OF NEW YORK, 2015, tradução nossa63)

Mas não é apenas nos Estados Unidos que Brandon busca mudar o cenário social. Em agosto de 2015, o fotógrafo viajou ao Paquistão, onde retratou, entre muitos, Syeda Ghulam Fatima, uma ativista engajada em combater o trabalho forçado no país (considerado, pela ONU, uma das práticas mais comuns de escravidão contemporânea). A partir de uma campanha lançada por Brandon, HONY juntou mais de 2 milhões de dólares para ajudar Fatima na sua causa64.

63

Who’s influenced you the most in you life? My principal Ms. Lopez

How has she influenced you?

When we get in trouble, she doesn’t suspend us. She calls us to her office and explain to us how society was built down around us. And she tells us that each time somebody fails out of school, a new jail cell gets built. And one time she made every student stand up, one at a time, and she told each one of us that we matter (tradução nossa).

Figura 6- Homem paquistanês conta a sua história de trabalho forçado

Fonte: Humans of New York (2016).

Eu nasci numa fábrica de tijolos. Eu comecei a trabalhar com 12 anos. O trabalho nunca acabava. Esperam que façamos 1.000 tijolos por dia. Nós trabalhamos das cinco da manhã até o entardecer. Eu tentei organizar os trabalhadores recentemente para reivindicar salários justos. Nós fazíamos reuniões à noite, mas um dos trabalhadores nos denunciou. Os chefes me chamaram no escritório e bateram em mim. Eles fizeram os outros trabalhadores se juntarem a nós. E então eles tiraram toda a minha roupa e me amarraram a uma árvore. Eu implorei para que eles não fizessem aquilo. Eles me deixaram lá por três horas. Eu tentei escapar à noite. Eu tranquei a minha família em casa e corri para a selva. Em fui direto procurar a Fatima. Antes de conseguir retornar para a minha família, a polícia havia auxiliado os chefes a invadir a minha casa. E as minhas filhas foram obrigadas a desfilar sem roupas pelas ruas. (HUMANS OF NEW YORK, 2016, tradução nossa65)

Em dezembro de 2015, Brandon, viajando pelo Oriente Médio, lançou uma campanha durante o Natal para arrecadar fundos para refugiados sírios – mais especificamente, onze famílias que compartilharam as suas histórias em HONY. Em três dias, Brandon reuniu 700 mil dólares – 65 mil dólares para cada família –, sete vezes a mais do que o previsto. Como justificativa, Brandon explicou que essas famílias vão ter de começar do zero em um país novo, após ter escapado uma terrível guerra e, desta forma, o auxílio financeiro vem como um alívio frente aos obstáculos.

65

I was born into the bricks kilns. I started working at the age of 12. The work never ended. We’re expected to make 1,000 bricks per day. We work from 5 AM to dusk. I tried to organize the workers recently to demand fair wages. We held meetings at night, but one of the workers informed on us. The owners called me to the office and beat me. They made the workers join in. Then they took off all my clothes and tied me to a tree. I begged them not to do it. They left me there for hours. I tried to escape at night. I padlocked my family in the house and I ran into the house and I ran into the fields. I came straight to Fatima. Before we could return for my family, the police had helped the owners break into my house. And my daughters were paraded naked in the streets.

Figura 7- Refugiada, mulher síria compartilha angústias

Fonte: Humans of New York (2015).

Porque eu sou uma refugiada, minha vida está em pausa. Meus estudos pararam. Eu não trabalho. Eu não tenho uma carreira. Porque eu sou síria, eu não posso participar na sociedade. Foram anos de não fazer nada. Eu costumava a ser uma pessoa animada. Eu sempre era convidada para festas. Agora eu gosto de ficar sozinha. Eu me tornei mais nervosa e agressiva. Eu grito por coisas pequenas. Eu quero começar a minha vida de novo. Eu fiquei sabendo na última quinta que eu vou para um estado chamado North Carolina. Eu estou muito nervosa. Eu não sei nada a respeito. Mais do que qualquer coisa, eu quero finalizar a minha educação. Mas principalmente eu espero que o que estiver me esperando seja melhor do que aquilo que eu passei. (HUMANS OF NEW YORK, 2015, tradução nossa66)

Mais recentemente, em 2016, Brandon fez uma série de entrevistas com crianças lutando contra o câncer. A causa também foi abraçada pelo público: em menos de três semanas, mais de 100 mil pessoas doaram a quantia de 3.8 milhões de dólares67. O dinheiro vai ser dividido: dois terços do valor da campanha vão para as pesquisas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, que buscam tratamentos pediátricos inovadores contra o câncer. O último terço vai ser usado para apoio psicológico e social dos pacientes jovens e das suas famílias que passam por dificuldades enormes durante a luta contra a doença68.

66

Because I’m a refugee, my life is on pause. My studies have stopped. I’m not working. I don’t have a career. Because I’m Syrian, I’m not allowed to participate in society. It’s been years of doing nothing. I used to be a cheerful person. I was always invited to parties. Now I like to be alone. I’ve become more nervous and aggresive. I yell over silly things. I just want to start my life again. I learned last Thursday that I’m going to a state called North Carolina. I’m very nervous. I know nothing about it. More than anything, I want to finish my education. But mostly, I hope that whatever is waiting for me is better than what I’ve gone through.

67

Disponível em: <http://www.today.com/health/humans-new-york-project-raises-3-8-million-fight-pediatric- t94501>. Acesso em: 19 jan. 2018.

68

Disponível em: <https://www.generosity.com/community-fundraising/let-s-help-dr-o-reilly-fight-pediatric- cancer>. Acesso em: 19 jan. 2018.

Figura 8- Menino fala sobre as dores causadas pelo câncer

Fonte: Humans of New York (2016).

Eu pensei no que eu diria se eu pudesse voltar no tempo, e dizer a mim mesmo antes de ter câncer. Eu diria para se preparar para não ser quem você é no momento. E se prepare para lidar com muitos desapontamentos e dor. E se mantenha forte. E não desista. E não se tranque no quarto se você ficar triste ou bravo. Porque ninguém pode te ajudar se você ficar no quarto trancado e o problema só vai ficar pior. E não brigue com seus irmãos e irmãs. Porque logo você vai precisar deles e eles vão te ajudar muito. E continue assistindo esporte. Porque eles vão te animar. (HUMANS OF NEW YORK, 2016, tradução nossa69)

Em 2017, Brandon viajou pela América Latina. Na Colômbia, retratou a história de Rose. Após perder todas as posses na Venezuela, a jovem deixou a filha para trás ao se mudar para Bogotá, em busca de uma vida melhor, e acabou nas ruas vendendo chaveiros. O objetivo da campanha, modesto em comparação aos anteriores, era juntar 5 mil dólares – a iniciativa contou com o apoio de Juan Laserna, o intérprete de Brandon durante a viagem. O total arrecadado ultrapassou 130 mil dólares, permitindo que Rose se reúna de novo com a família, em uma situação bem mais confortável70.

69I’ve thought abou what I would say if I could go back in time, and talk to myself before I got cancer. I’s say get

ready to not be who you are right now. And get ready to deal with a lot of disappointments and pain. And just keep strong. And never give up. And don’t lock yourself in your room if you get sad or angry. Because nobody can help you if you’re in your room and the problema will get worse. And stop fighting with your brothers and sisters. Because you’re really going to need them soon and they are going to help you so much. And keep watching sports. Because those are really going to cheer you up.

70

Disponível em: <http://www.dailymail.co.uk/news/article-4448226/Strangers-raise-130-000-Venezuelan- woman.html>. Acesso em: 19 jan. 2018.

Figura 9- Mulher divide a sua história de pobreza na Colômbia

Fonte: Humans of New York (2016).

Eu estou começando do zero. Eu perdi tudo na Venezuela. Eu tinha a minha própria fábrica de sabonetes naturais mas a crise tornou impossível conseguir ingredientes. E então o governo começou a pegar 70% dos meus ganhos. Eu tive que fechar a fábrica. As coisas ficaram tão ruins que eu não conseguia encontrar comida para o meu bebê. Eu tinha um pouco de dinheiro, mas não havia lugar para comprar comida. Nós podíamos passar dias sem comer. Quando eu tentava amamentar a minha filha, eu quase desmaiava. Deixar o país era a minha única chance. Eu nunca havia dito “tchau” para a minha filha. Ela estava gritando o meu nome quando eu fui embora. Doeu mais do que parir. Mas eu não tive uma escolha. Eu falei a ela que estava indo para a Colômbia. Eu falei a ela que eu ia fazer um diamante e levar para ela. Agora eu vendo chaveiros na rua. Quando eu junto algum dinheiro, eu envio pacotes de comida para casa. Eu estou tentando me manter otimista. Eu estou indo bem. Eu cresci muito pobre. Eu vim do nada. Então já estive nessa situação antes. (HUMANS OF NEW YORK, 2016, tradução nossa71)

A partir dos exemplos apresentados, vimos que s interação do público de HONY ultrapassa a caixa de comentários da página: também estimula uma série de ações voluntárias que, em conjunto, causam um impacto nas vidas das pessoas.

Para Yochai Benkler (2011), o crescimento da produção na Internet permitiu inúmeras plataformas mais fáceis, baratas e novas para a colaboração: na web, as pessoas estão se engajando em atos voluntários de cooperação todos os dias. Nós buscamos informações de

71I’m starting from nothing. I lost everything back in Venezuela. I had my own natural soap factory but the crisis

made it impossible to get ingredients. Then the government began to take 70% of my earnings. I had to close it down. Things got so bad that I couldn’t even find food for my baby. I had a little money, but there was nowhere to buy food. I’s wait in line all day for one bag of flour. We could go days without eating. When I tried to breastfeed my daughter, I’d almost faint. Leaving the country was my only chance. I’d never said “goodbye” to my daughter before. She was screaming my name when I left. It hurt worse than giving birth. But I didn’t have a choice. I told her that I was going to Colombia. I told her that I was going to make a diamond, and I’d bring it back to her. Now I sell key chains in the street. When I make some money, I send packets of food back home. I’m trying to keep a good spirit. I’m doing OK. I grew up very poor. I came from nothing. So I’ve been here before.

desconhecidos no Google, nós recebemos respostas de pessoas que nós não conhecemos, de graça, por razões que não perguntamos.

O anonimato da web nos faz nos sentirmos seguros o suficiente para integrar grupos de apoio para problemas que, em outro momento, nós teríamos enfrentado sozinhos, encontrar pessoas que dividem interesses que nós temos vergonha de aproveitar

offline [...]. Em outras palavras, nós encontramos pequenas e grandes maneiras de

integrar voluntariamente atividades producentes nos nossos cotidianos – e nós usamos essas contribuições de outros que fazem o mesmo. (BENKLER, 2011, p. 24, tradução nossa72)

Objetivando aprofundar as particularidades do objeto da presente pesquisa, nos próximos subcapítulos vamos contextualizar a página a partir de uma discussão sobre a fotografia – traçando um paralelo entre o conceito de fotógrafo-performer e Brandon Stanton – e sobre o contexto político estadunidense, uma vez que a análise será focada nos imigrantes como Outros, e, portanto é impreterível que tenhamos estabelecido os impactos em uma sociedade após Donald Trump vencer as eleições norte-americanas.