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CAPÍTULO 5. OS CICLOS DE APRENDIZAGEM NA RMER: O PONTO

5.4 Ações implementadas pela SEEL para consolidação dos ciclos de

5.4.1 Ações implementadas com foco nos estudantes

No que diz respeito às ações que tiveram como foco os estudantes, uma das primeiras ações implementadas pela equipe gestora da SE no início da gestão foi a universalização e democratização do acesso, realizando matrículas nas escolas e em pátios de feiras públicas, ampliando o formato adotado pela gestão anterior quanto à realização das matrículas, em virtude de as mesmas acontecerem através do telefone.

A partir dessa ação, houve um aumento significativo no número de estudantes no ano de 2001 com o acréscimo de 11.923 novos estudantes nas modalidades do 1º e 2º ciclo e no quadriênio 2001-2004, se comparada aos dados de 2000 foram incluídos 27.477 novos estudantes, de acordo com relatório (2001-2004). Estes dados podem ser melhor compreendidos com o auxílio da Tabela 4.

TABELA 4: Matrícula inicial, por ano e modalidade de ensino – Período 2000/2004 na Rede Municipal do Recife4

Modalidade de Ensino A N O

I. Ensino regular 2000 2001 2002 2003 2004

Educação infantil 15.630 20.688 17.583 15.579 17.376

Creche: grupos I, II e III 3.000 3.205 3.200 5.369 4.251

grupos IV e V 12.630 17.483 14.383 10.210 13.125

Ensino Fundamental 79.000 95.357 101.591 105.633 105.628

1º e 2º ciclo 58.369 70.292 77.038 79.388 78.695

3º e 4º ciclo 20.279 24.712 23.912 25.623 26.453

Educação Especial 352 353 641 622 480

Educação de jovens e adultos 12.274 13.932 13.455 11.151 11.539

Ensino médio 2.006 1.807 1.804 2.113 1.844

Subtotal 108.910 131.784 134.476 134.476 136.387

II. Ensino profissionalizante 10.666 13.338 13.867 21.461 21.481

Subtotal 10.666 13.338 13.867 21.461 21.481 III. Outros Creches conveniadas 4.802 2.952 1.860 1.970 2.010 Escolas conveniadas 11.522 11.657 10.796 9.642 9.540 Subtotal 16.324 14.609 12.656 11.612 11.550 TOTAL 135.900 159.731 160.956 167.549 169.418

Fonte: Dados colhidos no Relatório da equipe gestora período 2001-2004

Com a entrada de novos estudantes na RMER, a equipe gestora conseguiu democratizar o acesso a toda comunidade inserida na circunvizinhança das escolas da Rede. Com isso, em 2002 existia um total de 260 escolas, das quais 64 contavam com anexo5, e funcionando com o turno intermediário, sem falarem abertura de salas de aula em refeitórios, bibliotecas e/ou em qualquer espaço tido como ocioso nas escolas. Em 2002 o percentual de escolas com o turno intermediário chegou a 24,62% e em 2007 este percentual caiu para 1,92%. Com isso constatamos que a meta da segunda gestão 2005-2008 foi extinguir o turno

4

Dados do relatório da equipe gestora do período 2001-2004. 5

Para as escolas que não tinham espaço físico para receber os novos estudantes, a SE alugou espaços que serviram de salas de aulas, os chamados ANEXOS.

intermediário, como veremos na Tabela 5 abaixo.

TABELA 5: Escolas que funcionavam com o turno intermediário

ANOS Escolas/Anexo com intermediários Total de Escolas Percentual 2002 64 260 24,62 % 2003 71 268 26,49 % 2004 74 260 28,46 % 2005 66 262 25,19 % 2006 28 258 10,85 % 2007 13 255 05,10 % 2007 05 260 01,92 %

Fonte: GEAP – Gerência de Estatística, Avaliação e Pesquisa/ Secretaria de Educação do Recife

Para tentar consolidar a proposta de avaliação, o diário de classe foi reformulado, passando a incorporar um modelo descritivo em termos de comportamento do aluno, ao invés do antigo modelo de notas, típico do sistema tradicional até 2001, ficando a discussão e apropriação das mudanças reservada ao âmbito escolar no decorrer do ano letivo.

Visando ampliar a discussão e o entendimento por parte de todos a respeito do processo ensino aprendizagem, a SE distribuiu no segundo semestre de 2002 nas escolas, a versão preliminar da proposta pedagógica6 elaborada pela equipe técnico-pedagógica7 da Rede, que foi fruto de discussão com os professores ao longo dos encontros pedagógicos mensais (EPM)8.

Como parte da proposta, a participação da coordenação pedagógica no cotidiano escolar é fundamental para o acompanhamento nas atividades pedagógicas, pois de acordo com o documento, a equipe gestora compreende a importância fundamental dessa função para contribuir no processo do conhecimento dos estudantes que, nessa direção é necessário observar:

a ótica e a postura com que o professor lida com o conhecimento, o suporte teórico que orienta sua prática e a consistência com que elabora a transposição didática de seu objeto de trabalho e como articula uma relação dialógica entre teoria e prática, conhecimento e aprendizagem. (RECIFE, 2001, p. 35).

6

Ver Caderno Proposta Pedagógica da Rede municipal de ensino do Recife: construindo competências (2002). 7

A equipe técnico-pedagógica da SE era composta por integrantes de cada área de ensino e eleita pelo grupo de professores a cada 02 anos. Sobre a regulamentação e atribuições dessa equipe ver Instrução Normativa. 8

Os Encontros Pedagógicos Mensais (EPM) era uma composição por área de conhecimento, onde os professores de 5ª a 8ª série e Ensino Médio se reuniam mensalmente como parte da política de Capacitação Intensiva da Rede Municipal (Recife, 1993).

Dessa forma, a proposta pedagógica da RMER é organizada em três grandes áreas de conhecimento pela afinidade entre os componentes curriculares, tomando como base as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica em relação ao Ensino Médio, são elas: Linguagens e Códigos; Ciências Humanas; Ciências da Natureza e Matemática. A SE ampliou esta organização do conhecimento para a Educação Infantil e Ensino Fundamental.

A SE caracteriza a área de Linguagens e Códigos “como sendo constituída de componentes curriculares que veiculam as diferentes formas de expressão, dentre eles: Língua Portuguesa, Artes, Educação Física, Língua Estrangeira e a Informática” (RECIFE, 2001. p. 6). A área das Ciências Humanas é organizada nos campos da história, geografia, antropologia, direito entre outros e a área das Ciências da Natureza e Matemática que tem como representantes as ciências físicas, químicas, biológicas e também a Matemática.

Enfatiza, ainda, a tecnologia no processo da interdisciplinaridade com a função de contextualizar as diversas áreas do conhecimento9, quando afirma:

A tecnologia por sua vez, permeia todas as áreas, já que se expressa em toda e qualquer ciência, contribuindo para seu avanço, atuando como ferramenta e permitindo contextualizar os conhecimentos de todas as áreas e componentes curriculares. (RECIFE, 2002, p. 7).

Baseada no conceito de competências de Philippe Perrenoud10 (1999), a SE explicita como desafio rever algumas práticas pedagógicas, que se limitam apenas a uma mera transmissão do conhecimento e defende o trabalho com as competências na escola com “o desejo de superar o modo de aprender fragmentando o conhecimento, o que geralmente ocorre nas chamadas disciplinas”. (PERRENOUD, 1999, p. 7).

Constatamos através dos documentos, que as ações no período 2001-2004 foram caracterizadas pela mudança de princípios e concepções, em que foram definidas diretrizes que nortearam este período. Abaixo discorreremos sobre a visão da nova gestão 2005-2008, bem como as ações que foram implementadas com foco nos estudantes.

Neste segundo mandato da Gestão (2005-2008), no âmbito da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer11 aconteceram as reformas abaixo elencadas:

9

A Tecnologia na Educação foi instituída no Plano Municipal de Educação. Sobre esta proposta ver (Recife, ano).

10

PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola (1999); Dez novas competências para ensinar (2000b); Pedagogia diferenciada (2000c).

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No bojo da reforma administrativa, no segundo mandato do Governo João Paulo, a Prefeitura do Recife em 2005 passou por uma reestruturação e, especificamente, a Secretaria de Educação (ANEXO A), através do Decreto nº 21.210 de 29 de julho de 2005 em regulamentação à Lei nº 17.108/2005, passou a ser considerada

A nossa sorte que estava acontecendo a reforma administrativa, toda a PCR no mesmo momento do nosso planejamento estratégico, na medida em que fomos planejando foi conseguindo colocar no organograma da Secretaria, foi daí que implantamos a DAEC, DGTEC, criamos uma gerencia de formação de leitores ligadas a DGTEC, criamos a Diretoria de Apoio Social e Educação, antes o Bolsa Escola era apenas um programa, e dentro da Diretoria de Ensino criamos a gerencia de formação continuada. Então com isso institucionalizamos uma política. Foi muito positivo isso (EG 1).

Os primeiros passos que foram encaminhados pela nova equipe gestora no reconhecimento da Rede, como uma das primeiras ações balizadoras para a elaboração do planejamento estratégico (PE), foi realizar uma pesquisa junto às escolas para avaliar os ciclos de aprendizagem. Após o retorno das 182 escolas, a equipe teve o respaldo para implementar ações com vistas a consolidação dessa proposta na Rede, de acordo com afirmativa,

E aí eu falei: vamos fazer uma avaliação. Todo mundo ficou com medo das escolas reprovarem os ciclos e eu acatar. [...] quando agente começou a fazer a avaliação, a reação nas escolas não era tão negativa, descobrirmos que as escolas sabiam muito bem refletir sobre quais eram os problemas. Teve a participação de 182 escolas e a partir desta avaliação dos ciclos e nos ciclos agente chegou a proposta de apoio que precisaria ocorrer para que acontecesse a consolidação da política de ciclos na RMER (EG 1).

Em continuidade à política educacional da Rede Municipal de Ensino do Recife (RMER) implantada em 2001, a nova equipe gestora pretendia fortalecer a consolidação com qualidade dos ciclos de aprendizagem (Recife, 2008), tendo como referência o Planejamento Estratégico Setorial (PES) para o período 2005-2008/Programa 1206, intitulado “Organização Eficaz do Ensino e da Aprendizagem”.

Com base nos objetivos estratégicos, a SEEL reafirma os princípios firmados desde a primeira gestão, quais sejam: integralidade, autonomia, inclusão, igualdade e reconhecimento das diferenças; e integra um sexto princípio o da educação integral. Este compreendido como elemento fundamental para garantir a permanência, com aprendizagem, de cada criança e adolescente nesse espaço formal de ensino (RECIFE, 2008). A materialização de tais princípios se traduz através das ações descritas na citação abaixo:

Tal perspectiva se traduz tanto em projetos de ampliação de jornada escolar quanto na vivência curricular mais estrita, e se amplia naquilo que vem sendo designado na RMER como Ações Educativas Complementares à proposta pedagógica. Então neste campo as ações articuladas pela SEEL, como os programas de formação de leitores, de animação cultural, de educação ambiental, de organização estudantil e aqueles desenvolvidos em parceria com outras instituições ou em articulação intersetorial com outras secretarias e órgãos da Prefeitura do Recife (como por exemplo, a educação esportiva, a educação para o trânsito, educação em saúde,

Secretaria de Educação, Esporte e Lazer (SEEL), em co-parceria com o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães (GERALDÃO), conforme organograma da Secretaria (ANEXO B). E a DIRE passou a ser DGBFL.

orientação sexual, formação de platéia e acesso a bens culturais) (RECIFE, 2008, p. 13, grifo do autor).

Para tanto, a SEEL estruturou suas ações de acordo com os Objetivos Estratégicos do referido Planejamento, são eles: ressignificar a proposta pedagógica da RMER de forma contextualizada com parâmetros claros de avaliação da aprendizagem; definir uma política de acesso e permanência dos estudantes nas diversas modalidades de ensino, objetivando a sustentabilidade da inclusão social; implementação de práticas educativas complementares que favoreçam e ampliem as oportunidades de aprendizagem da criança, do jovem e do adulto do Recife.

A SEEL, tendo em vista ressignificar a proposta pedagógica, utiliza como estratégias para a Organização Eficaz do Ensino e da Aprendizagem, as seguintes ações: ampliar o número de coordenadores pedagógicos12; ampliar e ressignificar os espaços de aprendizagem, planejamento e avaliação coletivos; avaliar/ampliar as oportunidades de aprendizagem13; reformulação dos diários de classe/organização curricular; consolidação dos ciclos de aprendizagem/principais estratégias e formação de leitores com foco na alfabetização e no letramento. Além disso, propõe implementar ações com vistas a garantir o acesso e a permanência dos estudantes nas diversas modalidades de ensino, bem como a implementação de práticas educativas que visem favorecer as oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes da RMER. (RECIFE, 2008).

As ações que foram implementadas visando a garantia do acesso e da permanência dos estudantes, estiveram sob a coordenação da Diretoria de Acompanhamento e Avaliação Escolar (DIAE), em articulação com a DIRE, nas diversas linhas de atuação, a saber: ampliação e desenvolvimento da educação infantil; universalização e qualificação do ensino fundamental; desenvolvimento dos projetos como alfaletramento e professor alfabetizado; atendimento de jovens e adultos através de programas de alfabetização e elevação da escolaridade e da expansão e qualificação do atendimento e inclusão escolar dos estudantes com deficiências específicas (Educação Especial), a descrição de cada ação consta no Relatório de Gestão da DIRE.

No que se refere ao último objetivo estratégico com foco nos estudantes, diz respeito ao incremento de práticas educativas através das ações complementares, haja vista que tais

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No início de 2005 a RMER tinha 140 coordenadores. Ao final de 2008 passou a contar com um contingente de 267 coordenadores pedagógicos, regulamentado através da Instrução Normativa nº 05/23.04. 2008, publicada no DOM 045 de 24.04.2008.

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A Instrução Normativa nº 01/05, publicada no DOM, fixa normas e procedimentos de avaliação do desempenho dos estudantes da RMER.

iniciativas tinham sido implementadas desde 2001. Todavia, a partir das discussões conduzidas pelo grupo de trabalho, foram definidas as ações abaixo descritas:

a necessidade de que tais ações fossem reconceitualizadas integrando-as, efetivamente, tanto aos próprios processos de ensino e aprendizagem como aos princípios educativos da educação inclusiva como direito de todos e àqueles relacionados com a responsabilidade social e a cidadania dos estudantes na perspectiva da educação integral. (RECIFE, 2008, p.141).

Nesta perspectiva, a SEEL instala 25 bibliotecas e reestrutura 35 espaços com vistas “[...] a democratizar a oportunidade de acesso às ações propostas, como, sobretudo de atender à motivação e ao interesse dos gestores/professores e às condições físicas do prédio escolar para dispor desse espaço e dinamizá-lo” (RECIFE, 2008, p. 147), bem como no bojo desse projeto, amplia e/ou revisa o quadro da função do professor de biblioteca, renova e amplia os acervos (foram distribuídos cerca de 970 livros, dos quais 17.040 especificamente para professores/as), incentiva a produção autoral de estudantes e professores e implanta as Redes de leitura.

A formação de leitores da RMER “[...] vem sendo dinamizada pela articulação entre bibliotecas e laboratórios de informática, fazendo do espaço virtual mais um recurso [...]” (RECIFE, 2008, p.157). Nesse contexto, foram instalados 117 laboratórios de informática nas escolas da Rede.

Este conjunto de ações que envolvem desde o formato de realização das matrículas com vistas à democratização do acesso, o investimento na ampliação da estrutura física, até a criação de instancias e projetos de qualificação, demonstram um resumo das ações implementadas pela RME, particularmente, direcionadas aos estudantes. No quadro abaixo podemos verificar a situação escolar no período de 2000 a 2006.

TABELA 6:Taxa de rendimento Municipal de 2000 a 2006

Fonte: MEC/ INEP – Censo Escolar

A partir deste quadro, observamos que entre os anos de 2001 e 2006 a taxa de aprovação aumentou e a taxa de abandono diminuiu, haja vista a implantação dos ciclos de aprendizagem na Rede como modelo de avaliação processual.

A seguir discorreremos a respeito das ações implementadas direcionadas aos docentes.