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Ações da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) na discussão e implementação do PME

4 CONCEPÇÕES DA GESTÃO ESCOLAR E PROCESSOS PARTICIPATIVOS

5 O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO NA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DE ESCOLAS PÚBLICAS DE RECIFE E DE OLINDA

5.2 Ações da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) na discussão e implementação do PME

Conforme previsto no PNE, caberia aos municípios, em colaboração com o estado e a União, a implementação das metas e das estratégias que foram planejadas para a realidade local, promovendo ações que favoreçam a vivência e a execução das questões políticas para uma educação que atenda as necessidades e aos anseios da sociedade civil. Assim, ao se planejar uma política pública a intenção é melhorar as condições de vida no que se referem aos aspectos econômicos, sociais, políticos, educacionais e culturais (SAVIANI, 2008).

No âmbito educacional, as políticas visam à melhoria dos sistemas de educação proporcionando a todos os sujeitos envolvidos uma educação que esteja voltada para cada realidade, procurando alcançar os objetivos definidos em cada política. Diversas ações deveriam ser implementadas pelos órgãos responsáveis - secretaria de educação; câmara de vereadores; prefeituras -, a fim de promover a melhoria da educação, por meio da política educacional. Desse modo, é necessário analisarmos as repercussões do PME de Recife e Olinda na organização e gestão das escolas.

Ao perguntarmos sobre as ações que a SEMED promoveu para a discussão do plano, os gestores de Recife destacaram: “Fez. Eu posso dizer que não foi a contento, mas fez. Ela sugeriu acho que numa primeira reunião após aprovação no início do ano como início de pauta. Mas não teve nenhum aprofundamento e aqui na escola também não teve nada” (RosaG1). Carlos, vice-gestor de Recife, também enfatizou: “Fez. Tem sempre formação em relação a isso. Após a implantação elas chamam pra formação e tem um calendário de formação [...] todo o corpo docente é chamado, convocado e a equipe técnica tá lá habilitada para dar essa formação [...]”.

Conforme os conteúdos dos depoimentos analisados, parece insuficientes as ações do poder municipal no sentido de difundir para as escolas os conteúdos do PME, ou seja, a SEMED fez apenas uma apresentação do plano sem discutir com os profissionais da educação como esse instrumento de planejamento iria ser implementado, quais instâncias seriam responsáveis por cada ação, como as escolas e a secretaria poderiam contribuir para a efetivação dos objetivos e qual a importância do PME para a educação do município.

Outro aspecto a destacar na fala de RosaG1 é em relação ao papel da escola na discussão e implementação do PME, uma vez que algumas ações poderiam ser vivenciadas através de uma equipe de gestão participativa e que tenha conhecimento do plano. O depoimento da gestora “aqui na escola também não teve nada” demonstra que ainda não há uma relação entre o plano e as escolas, através do trabalho da SEMED, impossibilitando aos gestores e demais funcionários conhecerem e cobrarem dos órgãos superiores a efetivação das metas e das estratégias.

Em relação ao município de Olinda, os gestores escolares destacaram o seguinte: Teve a pré-conferência. Veio o material pra escola, teve um momento que parou e discutiu pra poder levar pra lá. Eu acredito que deve ter tirado um delegado por escola. Depois de elaborado, na secretaria tiraram uma pessoa de cada segmento pra montar uma comissão pra acompanhar. Na escola eu imprimi agora, vou encadernar e quando a gente tiver no processo de discussão, a gente vai pautar ele (ÁgataG3). Em 2013 sim, mas foi com a gestão. Com a escola, não. Eu não sei nem se houve essa aprovação. Teve a conferência em 2013, mas foi muito restrita porque não

participou todos os professores, é uma representação de cada segmento. Então não fica todo mundo envolvido no processo. Se fosse pra rede toda seria no início do ano letivo, trabalhar mesmo (EdnaV3).

Não. No início, no momento da construção, sim. Hoje, não. Acho que seria necessário porque no momento que a gente discute a gente pelo menos tá mostrando que tá interessado em fazer. Veja, os planos de educação eles têm dificuldade para serem pensados, eles têm dificuldade para serem discutidos, eles têm dificuldade pra ser votado e tem dificuldade depois que ele é votado. Ele foi votado, isso não quer dizer que ele tá sendo implementado. Então discutir o plano municipal de educação é muito raro depois que ele é votado, entende? Então ele fica ali, engavetado, possivelmente, existem metas que não dar pra engavetar porque elas foram orçadas, então precisa fazer (LúciaG4).

Pouco, pouquíssimo, quase nada. Quando a gente teve a conferência pra discutir isso, deveria ter, na minha concepção, ocorrido uma discussão nas escolas e das escolas sair um documento pra essa conferência [...]. Então é tão gritante isso que quando o plano foi pra conferência pra ser aprovado pelos delegados a gente teve muito conflito porque muito do texto tinha um rebatimento muito forte na realidade das escolas, ou seja, não condizia com o que a gente ia vivenciar nas escolas (VicenteC4).

Como podemos observar nas falas dos gestores, a SEMED de Olinda não fez nenhuma ação depois que o PME foi implantado no município a fim de discutir e estudar as metas e as estratégias do plano. Isso pode demonstrar a falta de interesse dos representantes nas políticas de planejamento da educação, haja vista que é no cotidiano da escola que a política acontece (AZEVEDO, 2004). Outro fator importante a destacar é que o plano é a referência para a vivência da política educacional, caso isso não aconteça, as diretrizes da educação não terão fundamentação propícia, visto que não está seguindo o epicentro do planejamento concebido.

Em meio a essas questões, se faz necessário apresentar que os recursos que seriam destinados à educação foram cortados, mediante a crise e os desmandos políticos do governo Temer aliado ao PSDB. Dessa forma, os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) que estavam aprovados na meta 20 do PNE, “ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio”, possivelmente estão comprometidos, anulando as demais metas, bem como outras políticas planejadas e já em processo de desenvolvimento como o Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil (ProInfância), a expansão da educação infantil, a educação em tempo integral, a aprovação do Custo-Aluno-Qualidade-Inicial (CAQi).

Os depoimentos apresentados destacaram que a SEMED formou um grupo de acompanhamento da implementação do plano, mas na escola ainda não teve nenhum momento de discussão, destacando que o PME seria inserido na pauta das discussões da

escola. A iniciativa da escola em discutir o plano é favorável, demonstrando interesse em conhecer a política educacional local e perceber as contribuições que a escola pode desenvolver para alcançar algumas metas e estratégias.

Ficou evidente, por meio dos depoimentos que o PME não é uma política de conhecimento de todos os gestores e que as ações da SEMED para a discussão e estudo do PME foram poucas, isso porque o plano deveria ter sido construído a partir das demandas das escolas, ouvindo os profissionais para melhor atender a população. Para VicenteC4, coordenador de Olinda, antes de realizar a conferência para discutir o plano, seria necessário haver discussões nas escolas, apontando as problemáticas, os desafios, as expectativas e os anseios da comunidade escolar e local para depois serem discutidos na conferência esses aspectos.

Para LúciaG4, a discussão do PME só ocorreu no momento de construção e, após a aprovação do plano a SEMED não realizou nenhuma estratégia para que os profissionais da educação tomassem conhecimento do plano, tendo em vista que é um aspecto importante para a efetivação da lei, pois a sua divulgação possibilita aos sujeitos participarem na implementação, acompanhamento e monitoramento do plano. Para ela, ter construído e implantado o PME não significa que este está sendo colocado em prática, pois, muitas vezes, os planos ficam “engavetados”, como ela sinalizou em seu depoimento “discutir o plano municipal de educação é muito raro depois que ele é votado”.

O depoimento da gestora nos chama atenção por considerarmos que, uma vez criada a política, deveria haver um processo de monitoramento e acompanhamento. Porém, vários são os desafios apontados por estudiosos (DOURADO, 2007; SAVIANI, 2008) para a vivência das políticas públicas, a saber: a) políticas locais; b) o financiamento para a execução das metas e das estratégias; c) ter a educação como uma prioridade; d) controle social; e e) a participação da sociedade civil na avaliação e cobrança da execução das metas e das estratégias. Assim, o desafio para a política educacional é evidenciar que plano não pode se tornar uma “letra morta”, mas deve ser um instrumento político, mesmo com os desafios que lhe concerne (DOURADO, 2007; SAVIANI, 2008).