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As contribuições do PME para a organização e gestão da escola

4 CONCEPÇÕES DA GESTÃO ESCOLAR E PROCESSOS PARTICIPATIVOS

5 O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO NA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DE ESCOLAS PÚBLICAS DE RECIFE E DE OLINDA

5.4 As contribuições do PME para a organização e gestão da escola

A avaliação é um instrumento relevante para a dinâmica de organização da gestão pública, pois busca analisar sistematicamente as ações e as intervenções que foram planejadas para uma determinada realidade, procurando perceber as nuances e os desafios para a implementação da política pública. Desse modo, a avaliação do PME na concepção dos gestores escolares torna-se necessária para compreendermos qual a importância atribuída a ele pelos seus beneficiários e quais os efeitos para o cotidiano escolar.

Em relação às contribuições do PME para a organização e gestão da escola, RosaG1, destacou: “[...] acho que ele tem muitas contribuições pra eu fazer uma reflexão, mas eu não poderia dizer a luz de uma reflexão com o pessoal da escola porque nós não temos essa avaliação”. Já SimoneV2

, enfatizou que “[...] essas estratégias são maravilhosas, mas seria melhor ainda se a gente tirasse do papel pra colocar em prática”.

Nessa mesma direção, PaulaC2, apresentou:

O plano é um direcionamento pra gente e seria interessante que tivesse recursos, por que nós da escola ficamos numa certa limitação pra atuar em algumas situações, tem coisas que precisa de um ok final porque tem uma hierarquia que a gente segue, né? Mas é importante tirar do papel o que o plano propõe.

De um modo geral, os depoimentos sinalizaram que o PME tem muitas contribuições, inclusive para a prática da reflexão em torno das questões vivenciadas no cotidiano escolar. No entanto, ainda não tinha sido realizada uma avaliação com a comunidade escolar no intuito de refletirem e dialogarem sobre as metas e as estratégias do plano, bem como os benefícios e os aspectos que ele apresenta para a concretização de ações referentes ao atendimento educacional. O relato de RosaG1 nos permite inferir que o PME não está sendo visto como um mecanismo importante para os sujeitos da escola, pois eles não têm conhecimento deste, ou seja, é um documento desconhecido pelos profissionais da educação.

Sobre a importância de se vivenciar e de colocar em prática o que foi planejado no PME foi possível perceber, por meio dos depoimentos, que são estratégias que se forem implementadas contribuirão significativamente para a escola, possibilitando uma educação de boa qualidade. De acordo com os conteúdos da fala, o PME é considerado como um direcionamento das ações da escola. Nesse caso, a contribuição do plano é satisfatória para direcionar o trabalho da instituição, uma vez que tem como norte o planejamento das ações. Considerar o PME como norteador das atividades educacionais é colocar em evidência a política educacional tendo como objetivo formular as ações que serão realizadas na escola para a melhoria do processo ensino aprendizagem, das questões administrativas e da gestão escolar.

Outro aspecto destacado nos depoimentos foi a falta de recursos na escola, pois impossibilita o desenvolvimento das atividades. Sem recursos suficientes para desenvolver as atividades concernentes ao trabalho pedagógico, a escola não conseguirá alcançar os resultados esperados no planejamento. PaulaC2 enfatizou, ainda que, a escola fica limitada para realizar algumas atividades, isso porque existem demandas que a escola sozinha não dá conta, necessitando do apoio da SEMED, da prefeitura, de outras instâncias.

Para Silva (2015) o repasse de recursos para as escolas é um meio de contribuir para a qualidade da educação, como também preconiza o PME na meta 20, na qual trata do financiamento da educação:

Aplicar, no mínimo, o percentual constitucional obrigatório de 25% (vinte e cinco por cento) da receita do município resultante de impostos, compreendida a proveniente das transferências constitucionais, na educação pública municipal, de forma a colaborar com o alcance da Meta do Plano Nacional de Educação para atingir o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no

5º (quinto) ano de vigência da Lei nº 13.005/2014 o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio.

Sem o devido investimento, as atividades nas escolas ficam limitadas, dependendo de outras instâncias, uma vez que “a insuficiência das verbas para as escolas favorece, cada vez mais, para práticas interpretativas de que o governo não investe com qualidade nas atividades e propostas educacionais, assim como não prioriza a educação como mecanismo de mudança social” (SILVA, 2015).

Como vimos, o PME de Recife não contribuiu de modo satisfatório para as escolas, segundo os gestores escolares, pois os depoimentos retrataram que os profissionais da educação não tem conhecimento do plano, falta recursos para a realização das atividades, o que impossibilita a implementação das estratégias que competem às escolas.

Os gestores de Olinda destacaram aspectos positivos do PME. As contribuições foram mais significativas na educação municipal.

[...] pra mim o PME não é uma coisa de um, mas de uma categoria, de outras categorias, né? São várias categorias discutindo. Eu acho que tudo isso fortalece, só o fato de tá ali discutindo, fortalece [...] Mas eu acho que a grande contribuição é a

gente começar a discutir educação pública. A contribuição disso pra escola é

também mudar esse olhar e dizer assim para o companheiro “olhe, você também faz

parte disso” [...] Então a contribuição é pelo menos a promessa de fortalecer

algumas questões sobre educação (LúciaG4) (Grifos nossos).

O plano municipal de educação contribuiu para a reelaboração do nosso projeto

político-pedagógico que foi muito significativo e possibilitou a gente não apenas

pontuar o que a gente precisava fazer naquele momento, mas também sinalizou o que é que a gente deveria cobrar das instâncias maiores, a secretaria de educação, a prefeitura. Foi um documento significativo também para que a gente pudesse se armar, se fundamentar ou fundamentar os nossos argumentos no sentido de

melhorar o processo a partir da cobrança mesmo dessas instâncias [...] Todos

somos responsáveis pelo processo. Então se a gente tem algumas metas que estão postas no plano municipal de educação a gente precisa se fundamentar delas para que “em que instância eu vou cobrar isso pra que possa melhorar o processo?”. Então acho que essa foi a maior contribuição pra organização da escola (VicenteC4) (Grifos nossos).

Um importante destaque que podemos perceber no depoimento de LúciaG4 foi a discussão sobre a educação pública, aspecto relevante para o envolvimento dos diversos segmentos no fortalecimento da gestão democrática. A discussão do PME através de várias categorias, como enfatizou a gestora, é uma das características da gestão democrática, na qual a participação torna-se elemento fundamental para a construção de um projeto pautado no trabalho coletivo em que se assume o compromisso e a responsabilidade de elaborar propostas para que se tenha uma educação de boa qualidade. Dourado (2016) ressalta que a participação dos diversos segmentos e entidades do campo educacional foi fundamental no processo de discussão do PNE que, por sua vez, também está interligado com o PME.

As diferentes vozes dos sujeitos na discussão da política educacional possibilitam o envolvimento destes na construção de um planejamento participativo consolidado em uma perspectiva democrática, como sinaliza Bordenave (1994). Nesse sentido, uma vez que o PME é construído coletivamente, a sua implementação depende, também, de todos os sujeitos, tornando-se corresponsáveis na materialização das estratégias do plano, bem como na cobrança de sua execução aos órgãos competentes.

Para VicenteC4, o PME contribuiu para a reelaboração do projeto político-pedagógico da instituição, uma vez que possibilitou aos sujeitos repensar as práticas educativas e as ações planejadas pela escola. A fala do coordenador nos permite refletir sobre a ação da escola no processo de discussão para reelaborar o PPP da instituição, pois essa iniciativa é uma característica da gestão democrática tendo a autonomia e a participação como princípios norteadores, como previsto no PME na estratégia 19.11:

Garantir a participação dos Conselheiros Escolares na formulação de Projetos Político-pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão e Fóruns de Educação, assegurando a participação dos pais, alunos, professores e funcionários na avaliação de docentes e gestores escolares.

Portanto, destacamos que a autonomia da escola e a participação dos sujeitos em reconstruir o PPP interligando-o com o PME são aspectos interessantes, isso porque “pensar a construção dos Projetos Políticos Pedagógicos é refletir sobre a escola, seu papel, sua função, seus fins e seus desafios no contexto atual” (BARBOSA, 2012).

Nessa perspectiva, podemos compreender que o discurso presente no PPP da instituição no que se refere à discussão e à implementação está articulado com o PME de Olinda, como foi destacado pelo coordenador. Assim, acreditamos que a ação da escola foi favorável para possibilitar um planejamento voltado para as reais necessidades da educação, uma vez que tem o PME como norte do trabalho educativo.

Outro aspecto mencionado pelos gestores diz respeito à discussão das problemáticas, das necessidades, dos dilemas, dos anseios e dos desejos da comunidade escolar e local para a garantia de uma educação pública e gratuita de boa qualidade para todos. Os depoimentos sobre essa discussão expressam que o PME apresentou os avanços no sentido de que reuniu os sujeitos para discutirem sobre a educação. Seguem as falas:

Eu acredito que ele representa avanços. Eu não posso dizer a você se uma coisa não avançou porque tudo vem sendo politizado, tá sendo questionado, tá sendo construído [...]. Eu acredito em todos os planos por mais que ele seja rasteiro, mas enquanto ele se reúne com pessoas para discutirem, eu acho que há crescimento. Eu vejo como melhora (AmandaC1) (Grifos nossos).

Melhorias, né? São as melhorias pra educação de forma geral e pra todas as pessoas que colaboram pra essa melhoria. Porque se o pai, nessa parceria, ele puder contribuir na escola, uma vez a lâmpada quebrou e o pai veio “eu sou eletricista e

posso consertar, professora”. Então isso é importante, essa parceria. A gente também precisa tomar posse, é público, mas é nosso (PaulaC2) (Grifos nossos). De um modo geral, os depoimentos sinalizaram que o fato de inserir os sujeitos no processo de discussão para a elaboração do plano já representa um crescimento no âmbito educacional. Isso porque a Conferência Nacional de Educação conseguiu reunir o maior número de profissionais da educação, da sociedade civil organizada e da sociedade política para discutirem as ideias, os projetos e as definições das metas e das estratégias para a educação nacional.

De acordo com Dourado (2009), a CONAE foi um marco para a elaboração da política educacional, tornando-se um espaço de discussão e deliberação coletiva contando com a participação de diversos atores da sociedade civil organizada. Nessa perspectiva, “a Conferência teve como propósito contribuir com a política nacional de educação, indicando responsabilidades, corresponsabilidades, atribuições concorrentes, complementares e colaborativas entre os entes federados e os sistemas de ensino” (CONAE, 2014, p. 8). Em relação aos municípios, várias discussões também foram contempladas por meio de conferências municipais e intermunicipais, seminários e estudos para a elaboração dos PME. Assim, a participação dos diversos atores na organização e elaboração da política educacional pode contribuir significativamente para a efetivação de políticas de Estado.

Podemos perceber no depoimento de PaulaC2 que o PME representa melhorias para a educação. Porém, notamos que há uma concepção de parceria entre a escola e a família que não representa indícios de uma participação ativa dos sujeitos. Para a coordenadora, a parceria se materializa por meio dos serviços prestados pelos pais na escola. Assim, consertos de lâmpadas, pinturas, arrecadação de dinheiro através de rifas e bingos, como comumente estamos acostumados a ver na realidade das escolas, não se caracteriza como uma melhoria para a educação e, sim, como uma transferência de responsabilidades dos compromissos dos governantes para a escola e os pais. Essa concepção está posta nos princípios da concepção gerencial, a qual atribui as responsabilidades educacionais para os familiares, ficando o Estado eximido de seu papel. Desse modo, “basta de pai na escola para trocar a lâmpada queimada ou arrumar o vazamento do banheiro, da mãe para suprir a falta de uma merendeira ou para ajudar a professora em atividades extracurriculares” (PRADO, 2012, p. 31).

Nesse sentido, a reflexão sobre o papel do Estado na efetivação das políticas públicas é relevante, pois como afirma Prado (2012), ele transfere as responsabilidades para a comunidade escolar e local e se exime de cumprir com suas obrigações. O reconhecimento e o entendimento sobre as funções dos pais e/ou comunidade local na escola, torna-se crucial para

o desenvolvimento das atividades, como aponta Silva (2017, p. 4) “os pais e a comunidade local são atores sociais, eles devem ser vistos pela comunidade escolar como agentes que contribuem no processo de decisão e escolha nos aspectos significativos do cotidiano da escola”.

Em relação aos gestores de Olinda, eles apontaram que o PME representa:

Ele representa o norte que a partir dali você tem que trilhar tudo o que foi pautado enquanto discussão política dentro de um plano e avaliar se realmente tá conseguindo dar conta dessa demanda no prazo de dez anos ou não, porque tem metas de curto, médio e longo prazo (ÁgataG3) (Grifo nosso).

Eu acho que representa avanços, mas também mostra os retrocessos. Representa avanços porque raríssimas vezes a gente tem oportunidade de discutir sobre educação. Quando eu penso, por exemplo, metas para segmentos, isso é avanço. Quando eu escuto as categorias pela implementação de determinadas situações isso é um avanço. O retrocesso é quando ele é aprovado, mas não é implementado. A gente tá sempre dando um passo a frente e dois atrás, mas um dia a gente chega (LúciaG4) (Grifos nossos).

Para ÁgataG3, o PME representa o norte para o desenvolvimento das políticas públicas educacionais que foram pensadas para a garantia de uma educação de boa qualidade. Segunda a gestora, o PME serve como um caminho que precisa ser trilhado para alcançar os objetivos propostos. De acordo com Dourado (2009) o FNE tem a incumbência de acompanhar o processo de implementação do plano, cobrando sempre das instâncias responsáveis por sua efetivação. Isso não impossibilita da sociedade também acompanhar, avaliar e cobrar a concretização das metas do PME, como está previsto na estratégia 19.9:

Instituir o Fórum de Conselheiros Escolares possibilitando a articulação entre a sociedade civil e governo num espaço democrático, que discute, propõe, acompanha e avalia as políticas públicas no âmbito educacional propiciando a estes colegiados condições para atuação junto à gestão escolar.

LúciaG4 destacou que o PME tanto representa avanços quanto retrocessos. A oportunidade de discutir sobre a educação, problematizando as dificuldades, os desafios, os dilemas, as perspectivas para uma educação melhor, a discussão e o diálogo por meio dos diversos segmentos para a elaboração de metas e estratégias que atendam as necessidades da população são aspectos que representam avanços do PME. Assim, “ao gerar maior envolvimento de pessoas, comunidades, grupos e instituições com o desafio educacional, a participação mobiliza compromissos, diversifica as vozes e dinamiza o debate político” (AÇÃO EDUCATIVA, 2013, p. 10).