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Tiepolo (2009) discute a leitura enquanto política de Estado e cita o artigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9.394/96), que coloca o Estado como responsável pelo desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais e profissionais.

Segundo essa autora, a década de 1960 foi um período significativo para a promoção da leitura e da literatura. De forma específica, ela cita a Fundação do Livro Escolar criado em 1996, a Fundação do Livro Infantil e Juvenil, em 1968, o Centro dos Estudos da Literatura Infantil e Juvenil, em 1973, e as várias Associações de Professores de Língua e Literatura.

Em 1992 e 1994, temos o seminário nacional de “Formação do leitor: o papel das instituições de formação do professor para a educação fundamental”. Além disso, houve o “Simpósio Internacional sobre Leitura e Escrita na Sociedade e na Escola”. Em 1997, é criado pelo MEC o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). Este programa desenvolveu, de 2001 a 2003, o Programa de Literatura em Minha Casa. Segundo Custódio (2000, p. 161), ao fazer uma leitura sobre formação do leitor até 1994, “tanto nos governos autocráticos, quanto democráticos, configurou-se como a política do livro, uma vez que o MEC tem se ocupado apenas da distribuição de materiais de leitura, em sua maior parte livros didáticos. Isso equivale dizer que se trata de uma política antes centrada no objeto, o livro, do que no sujeito leitor”. A partir dessa fala, podemos colocar que a formação de leitores na perspectiva do letramento social não se configurava como uma preocupação do governo para com a população que não tinha o domínio da leitura e da escrita.

Com a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD)6, em 2004, o Departamento de Educação de Jovens e Adultos (DEJA-SECADI) teve como uma das suas ações para a redução do analfabetismo adulto a retomada do Projeto de Agentes de Leitura, tendo como parceira a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO). Além disso, a UNESCO lançou o Projeto Ler também é uma Paixão.

De acordo com Tiepolo (2009), todas essas ações tinham como objetivo implantar uma política de acesso à leitura para o público jovem e adulto advindo do Programa Brasil Alfabetizado, já que muitos desses alunos não continuavam seus estudos na EJA e, consequentemente, ao longo do tempo acabavam deixando de desenvolver suas habilidades na leitura e escrita.

Em relação ao público jovem e adulto, a autora destaca um importante evento para uma política de leitura desse público que foi X Seminário de Educação de Jovens e Adultos, realizado durante o 16º Congresso de Leitura do Brasil (COLE), em julho de 2007. Esse seminário teve como eixo central de discussão os Direitos Educativos de Jovens e Adultos, apontando aqui a necessidade do acesso à leitura e escrita como condição da cidadania. Consideramos esse evento importante para a modalidade EJA e, principalmente, para a reflexão sobre a leitura e a escrita. Diferentemente das outras propostas analisadas por Custódio, foi definido nesse evento “reafirmação da escola como espaço fundamental para a leitura, a escrita e seus usos” (TIEPOLO, 2009, p. 129).

Como se percebe, a leitura e a escrita aqui discutidas tem uma função social. Mesmo não falando de letramento, o texto de Tiepolo (2009) traz alguns elementos os quais se identificam com a proposta de leitura e escrita na perspectiva do letramento social.

Em 2008, a Resolução do Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Resolução/CD/FNDE) nº 44, de 16 de outubro, estabelece alguns critérios e procedimentos adotados na execução de projetos de leitura voltados para os neoleitores, termo utilizado por Tiepolo, ao se referir ao público jovem, adulto e idoso. Segundo ele, os neoleitores

são leitores que iniciam a sua caminhada na leitura de textos escritos, mas que podem ser considerados letrados, porque possuem referências da leitura oral e experiências de leitura compartilhadas com outras pessoas

6 Atualmente, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) é responsável por vários temas como alfabetização e educação de jovens e adultos, educação do campo, educação ambiental, educação escolar indígena e diversidade étnico-racial.

escolarizadas, dominam linguagens não verbais, transitam em uma sociedade letrada, etc. (TIEPOLO, 2009, p. 121).

A partir dessa afirmativa, percebe-se que, para ser um neoleitor, não precisa estar diretamente ligado à escolarização e à capacidade de ler, visto que, mesmo aqueles que apresentam pouco domínio de leitura e escrita, podem ser neoleitores.

No que se refere à Resolução/CD/FNDE n.44, supracitada, essa tinha como objetivo a

Promoção de ações que contribuam para o desenvolvimento da capacidade crítica e para a consolidação da subjetividade, assim como para diminuir o descompasso existente entre escolaridade e acesso a bens culturais e o impacto que a política de fomento à leitura pode ter sobre o desenvolvimento de suas habilidades de leitura e escrita ao longo do tempo e da garantia do processo de letramento.

O que se vê como algo interessante é que a Resolução/CD/FNDE nº 44, de 2008, traz o conceito de uma leitura crítica na perspectiva do letramento. Ou seja, conhecimento adquirido e construído e reconstruído através da escrita, com o objetivo de fazer com que o sujeito tenha uma atitude ativa sobre o mundo.

Pensando dessa forma, apropria-se do conceito de Silva (2005, p. 45), que afirma: “Ler é, em última instância, não só uma ponte para tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo”.

A autora amplia o conceito de leitura, pensado apenas como reconhecimento de símbolos gráficos, relacionando-a com a escrita, a partir do momento em que declara que o ato de ler consiste, também, em compreender e interpretar os códigos, tornando-se um dos caminhos para se conhecer e se perceber no mundo.

Nesse sentido, os estudos que envolvem a leitura e a escrita, na Educação de Jovens e Adultos, têm suma importância, uma vez que ampliam as possibilidades de inserção desses sujeitos no mundo da cultura, bem como indicam caminhos que reafirmam o direito de aprendizagem, condição de cidadania e garantia de uma existência plena.

3 PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi desenvolvida com base na abordagem qualitativa de pesquisa, do tipo estudo de caso.

A pesquisa qualitativa, especialmente dentro das ciências humanas, surge com objetivo de superar a visão de conhecimento como um fenômeno parado e isolado.

Para Minayo (1993), as pesquisas qualitativas trabalham com significados, motivações, valores e crenças, ou seja, aspectos que não são passíveis de serem qualificados. Enquanto Chizzoti (2011), ao discutir a pesquisa, aborda que o seu desenvolvimento foi resultado de uma busca metódica para explicar os fenômenos e compreender a realidade. Assim, ao conceituar de forma genérica a pesquisa, esse mesmo autor evidencia que ela corresponde a um esforço durável de observações, reflexões, análises e sínteses, para descobrir as forças e as possibilidades da natureza e da vida e transformá-la em proveito da humanidade.

Os estudos fazem perceber que a pesquisa qualitativa ajudará a compreender a dinâmica que envolve os fenômenos que estão sendo estudados. No que refere ao campo educacional, Ludke e André (1986, p. 3) criticam a maneira como esse fenômeno foi pesquisado há muito tempo, isolado do seu contexto.

O fenômeno educacional foi estudado por muito tempo como se pudesse ser isolado, como se faz com um fenômeno físico, para uma análise acurada se possível feita em um laboratório, onde as variáveis que o compõem pudessem também ser isoladas, a fim de se constatar a influência que cada uma delas exercia sobre o fenômeno em questão.

Assim, Bogdan e Biklen (1994 apud BARROS, 2001), ao discutirem conceitualmente a pesquisa qualitativa, apresentam alguns elementos básicos para quem a utiliza como metodologia para seus estudos. São eles: ambiente natural como fonte de dados, dados descritivos detalhados; preocupação com o processo; tentativa de capturar a perspectiva dos participantes etc. Alguns desses elementos se fazem presentes neste estudo, a exemplo do ambiente natural como fonte de dados, da descrição detalhada dos dados e da apreensão dos dados a partir do olhar dos sujeitos da pesquisa.

A pesquisa qualitativa é discutida por vários autores, dentre eles Bortoni-Ricardo (2008, p. 34), para quem “a pesquisa qualitativa procura entender, interpretar fenômenos sociais inseridos em um contexto”. Essa perspectiva da pesquisa qualitativa é denominada, pela autora, como pertencente ao modelo interpretativista. “Esse modelo entende que a observação do mundo só pode se dar através das práticas sociais e significados vigentes” (BORTONI-

RICARDO, 2008, p. 32). A partir dessa linha de pensamento, o letramento enquanto práticas sociais é um fenômeno que pode ser interpretado e realizado através da pesquisa qualitativa.