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Para apresentar o Programa Escola Zé Peão (PEZP), optou-se por contextualizá-lo, de modo sucinto, tendo como cenário histórico o período que influenciou sua origem. Além disso, percebe-se a necessidade de trazer para este trabalho, mesmo que de forma abreviada, uma vez que esse não é o foco principal desta dissertação, o responsável pelo surgimento do PEZP: o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Pesada, Montagem e do Mobiliário de João Pessoa e Região (SINTRICOM-PB).

O Projeto Escola Zé Peão foi criado em 1990. Como o nome já anunciava, seu surgimento se deu, em um primeiro momento, em forma de projeto. Em 2012, deixou de ser projeto para se tornar programa. Neste primeiro momento, porém, será abordado como projeto.

O surgimento do Projeto Escola Zé Peão foi fortemente influenciado pelo contexto histórico-social e econômico do país, especialmente quando o setor da construção civil enfrenta desafios que exigem a qualificação da mão de obra empregada em sua atividade laboral. A exigência de qualificação passava e ainda passa pela formação de profissionais que dominem a dimensão técnica do trabalho, mas, sobretudo, que possuam qualificações voltadas para um mercado de trabalho seletivo e excludente.

Assim, com o término da superinflação e o retorno de uma economia estabilizada, acentua-se a necessidade de novas maneiras de construir. Essa fase inaugura um novo momento na construção civil, em que a preocupação central tem como foco o produto final que é o trabalho, e não o trabalhador. Nesse contexto, a crescente precarização das condições de trabalho, aliada à negação dos direitos do trabalhador como, por exemplo, o de ter seu registro formal de trabalho, resultam no enfraquecimento da categoria.

Tem-se também, nesse período, em todo o país, o enfraquecimento de um dos instrumentos de luta do trabalhador, que é a greve, com uma redução significativa dos movimentos grevistas. Esses fatos estão diretamente relacionados à debilitação do movimento sindical nessa época. No final da década de oitenta, a categoria dos trabalhadores da Construção Civil conseguiu mobilizar-se em todo o território nacional, realizando 1.962 greves. No entanto, em 1992, houve apenas 556 greves. De acordo com REVISTA SINTRICOM 80 ANOS (2014), essa redução, em parte, é justificada por algumas conquistas na Consolidação das Leis do Trabalho.

Na década de 1990, estava à frente da direção do SINTRICOM-JP o grupo Zé Peão. Formado por trabalhadores da construção civil que conseguiram tomar o poder concentrado

nas mãos de uma diretoria que não se identificava com a classe operária, o referido grupo assumiu, tendo como uma de suas bandeiras de luta a melhoria do salário e das condições de trabalho da categoria. Para que essas bandeiras de luta fossem efetivadas, o grupo teve que enfrentar o sindicato patronal, através de movimentos grevistas que ocorreram nos anos de 1987, 1988 e 1999, constituindo este último ano o foco da reflexão empreendida no presente estudo. Esta opção se justifica pelo fato de o ano de 1999 representar o marco de criação do Projeto Zé Peão, posteriormente denominado Programa Escola Zé Peão.

Durante esses três anos de intenso trabalho grevista, o SINTRICOM-JP conseguiu mobilizar mais de 5.000 (cinco mil) trabalhadores. Com isso, obteve conquistas importantes. Dentre elas, pode-se citar o direito ao vale transporte, à acomodação dos operários em alojamentos com melhor infraestrutura, ao recebimento de cesta-básica e às melhorias no salário.

A partir da necessidade da categoria, outro objetivo passa a integrar a pauta de luta do grupo Zé Peão: a educação básica. Os operários da construção civil enfrentavam, no seu dia a dia, um grande desafio, que era a baixa escolaridade. Os índices de “analfabetismo” adulto na categoria eram expressivos. De acordo com Ireland et al. (1998), os índices de analfabetismo no Estado da Paraíba, especialmente entre os trabalhadores rurais apontados pelo Censo Demográfico do IBGE, em 1991, correspondiam a 1.987.410 adultos com 15 ou mais anos de idade, dos quais eram 829.226 analfabetos (41,7%). Em termos geográficos, do total de analfabetos, 425.471 (32,3%) moravam na zona urbana, e 403.766 (60,3%) na zona rural.

Por isso, o grupo Zé Peão, buscando solucionar esse problema, por considerar a educação básica um direito humano e também um dos instrumentos de qualificação profissional, e visando ainda ao fortalecimento da categoria, cria o Projeto Escola Zé Peão. Na busca da superação da elevada taxa de “analfabetismo” entre os trabalhadores da Construção Civil, a direção do Sindicato convidou um grupo de professores do Centro de Educação da Universidade da Paraíba (UFPB), para elaborar e executar um programa de alfabetização e educação básica para os trabalhadores da indústria da Construção Civil.

Porém conhecendo e sendo categoria, o sindicato sabia que qualquer escola não atenderia aos anseios dos trabalhadores. Assim, foi detectado, pelo próprio sindicato, em visitas regulares aos canteiros de obras, que “Frequentemente, 60% – ou mais – da força de trabalho em qualquer obra é constituída por operários migrantes, temporários ou sazonais, e a população analfabeta de operários se concentra particularmente entre os serventes migrantes do campo” (IRELAND et al., 1998, p. 7). Além disso, conforme esclarece Ireland (1998), o analfabetismo também se expressava na pouca participação dos trabalhadores nas atividades

sindicais, ocasionando obstáculos para a constituição de um sindicato participativo e democrático.

Desse contexto, em 1990, nasce o Projeto Escola Zé Peão, resultado de uma parceria entre o SINTRICOM-JP e a Universidade Federal da Paraíba. Era estruturado a partir de três programas: “Alfabetização na Primeira Laje” (APL), voltado para os trabalhadores que tinham pouco ou nenhum domínio do código escrito; “Tijolo sobre Tijolo” (TST), para aqueles que já tinham algum conhecimento básico da leitura, escrita e matemática; e o terceiro, o programa “Varanda Vídeo” (VV), responsável pela formação cultural mais ampla dos operários. As aulas eram ministradas nos canteiros de obra no período de segunda a quinta-feira, à noite, com duração de duas horas.

Essa parceria vem se efetivando com êxito, completando, no ano em curso, 25 anos de existência. De acordo com o depoimento de uma das coordenadoras pedagógicas do Programa, no decorrer desse período de atuação, o Zé Peão passou por várias dificuldades, principalmente no que tange à questão econômica, incidindo na oferta e na manutenção de salas de aula.

No período da realização da pesquisa, no ano de 2014, o Programa Escola Zé Peão era composto por dois coordenadores gerais, um representando a UFPB e outro o SINTRICOM- JP, respectivamente, o Prof. Dr. Lindemberg Medeiros e José Laurentino da Silva, presidente do SINTRICOM. Contava, também, com o trabalho de três coordenadoras pedagógicas que atuaram no Programa como professoras e que estão na coordenação pedagógica a convite da coordenação geral. Um dos critérios para atuar na coordenação pedagógica é o de ter exercido a função de docente no programa em questão.

O Programa, além de contribuir para a elevação dos níveis de escolaridade dos operários, oportuniza espaços e momentos formativos para educadores na área da Educação de Jovens e Adultos7, na perspectiva da Educação Popular (EP), bem como no desenvolvimento de ações acadêmicas voltadas para o ensino, a pesquisa e a extensão. No período da pesquisa, em 2014, o Programa estava vinculado a sete projetos de extensão: Projeto de Alfabetização e Pós-Alfabetização (CE/SINTRICOM-PB) – sendo este a base de sustentação do Programa e o que o caracteriza como uma ação escolar e que tem como objetivo contribuir para a escolarização fundamental do operário da construção civil, utilizando o próprio local de trabalho como espaço para o desenvolvimento das atividades pedagógicas (ensino-aprendizagem). O mesmo proporciona aos estudantes das licenciaturas

7 No banco de dados do PPGE da Universidade Federal da Paraíba, em Joao Pessoa, identificaram-se alguns trabalhos constatando a contribuição do PEZP na formação de educadores na modalidade da EJA.

da UFPB, educadores do Programa, os elementos teórico-metodológicos básicos para a atuação na Educação de Jovens e Adultos numa perspectiva popular.

O Projeto de Educação Matemática (Departamento de Matemática–CCEN) – tem como objetivo proporcionar aos operários-educandos a possibilidade de uma alfabetização mais ampla que corresponda a uma iniciação nos conceitos e procedimentos da educação matemática, potencializando a sua inserção cidadã na sociedade. Além disso, o Projeto de Educação Matemática habilita os educadores do Programa, estudantes da UFPB, na área da educação matemática de Jovens e Adultos, numa perspectiva ampla e integrada às demais ciências.

O Projeto Biblioteca Volante (Departamento de Ciências de Informação–CCSA) – atua a partir de dois objetivos: desenvolver, nos operários-educandos e familiares, o gosto pela leitura e pelo uso das informações escritas, através das fontes informacionais como livros, jornais, revistas, almanaques, livretos, panfletos e outras formas da produção escrita. Nos educadores, ele busca capacitar teórica e pedagogicamente os estudantes da UFPB, educadores do Programa, para promoverem, nas suas salas de aula, a inserção da leitura como adjuvante da alfabetização e pós-alfabetização dos operários-alunos.

No que refere ao Projeto Ação Cultural (Departamento de Ciências de Informação – CCSA), ele atua a partir de três finalidades, que são: Proporcionar aos operários-alunos o acesso a produtos culturais através de fontes informacionais como: vídeos, documentários, rodas de diálogo e visitas dirigidas; trabalhar com os educandos do Programa, estudantes da UFPB, a cultura e a ação cultural como elemento pedagógico capaz de aprofundar o processo educativo e diversificar as estratégias didáticas do ensino-aprendizagem e, por fim, promover visitas aos equipamentos sociais da cidade, sempre em articulação com as temáticas e os conteúdos curriculares da Escola Zé Peão.

O Projeto Varanda Vídeo (CCHLA) busca ampliar o interesse e o acesso dos operários- alunos a outras formas de linguagem que ultrapassem a oralidade e discutam a diversidade de meios e formas de expressão (mídias) que podem ser utilizadas na convivência comunitária. Procura também apresentar, aos educandos do Programa, estudantes da UFPB, o audiovisual (cinema e vídeo) como ferramenta pedagógica capaz de aprofundar o processo ensino- aprendizagem.

O Projeto de Educação Nutricional e Saúde (Departamento de Nutrição–CCS) – por sua vez, foi, muitas vezes, avaliado positivamente pelos alunos nas entrevistas. Ele tem como propósito influir na educação nutricional e na visão sobre saúde-doença-cuidado dos operários-alunos, a partir da problematização da realidade sanitária, hábitos alimentares e

questões evidenciadas pela escolarização e pelo processo de trabalho da construção civil. Procura também capacitar os estudantes da UFPB, educadores do Programa, para atuarem nas questões relativas à educação nutricional e à saúde dos operários-alunos.

Por fim, mais recentemente, o AMCO – Aprendizagem Móvel no Canteiro de Obras (Cátedra de Educação de Jovens e Adultos da Unesco), projeto que utilizava um aplicativo para smarphone, denominado de Programa de Alfabetização na Língua Materna (PALMA) e que possui como objetivo desenvolver, por meio digital, habilidades de leitura e escrita e compreensão de pequenos textos através do uso de aplicativos para dispositivos móveis.

O Programa Escola Zé Peão originalmente era desenvolvido por meio de três programas. No início, eles eram chamados de Programas, e a escola era vista como um projeto. São eles: Alfabetização na Primeira Lage (APL), ligado ao processode alfabetização. Teve como público-alvo os operários sem nenhum domínio dos códigos da leitura e da escrita e nem da sistematização dos códigos matemáticos ou que estavam iniciando esse processo; o Tijolo Sobre Tijolo (TST), objetivava a continuidade do processo de escolarização que tivera início no APL e o TST, e o aprofundamento dos conhecimentos referentes à Língua Portuguesa e a Matemática; o Programa Varanda Video (VV), tinha como objetivo fornecer aos educandos a oportunidade de manter contato com obras cinematográficas e documentários, de forma a contextualizar as temáticas e conteúdos discutidos em sala de aula. É interessante esclarecer que os nomes dados aos programas como APL e TST são analogias relacionadas à obra na Construção Civil. APL (Alfabetização na Primeira Laje) quer dizer a base do processo de aquisição da leitura e da escrita. TST (Tijolo sobre Tijolo), é uma analogia ao crescimento. A pessoa cresce depois que coloca tijolo sobre tijolo; e isso está relacionado ao crescimento no processo de leitura e escrita, assim como ao assentamento de tijolo sobre tijolo, atividade que os operários-educandos exercem na obra. No período da pesquisa, dez era o número de salas de aula do PEZP. Seis eram mistas. Significa dizer que haviaa alunos que eram alfabetizados e alunos que ainda não tinham domínio dos códigos da leitura e da escrita. Quatro eram divididas em os programas APL e TST. O canteiro de obras é o espaço das aulas, que acontecem de segunda a quinta-feira, das 19 às 21 horas. Normalmente, esses educandos-trabalhadores voltam para suas cidades nos finais de semana. Na sexta-feira, os professores participam dos encontros de formação continuada. Formação continuada é o momento de tirar dúvidas que surgem na prática pedagógica das salas de aula e, também, o momento do planejamento das ações que serão trabalhadas em sala de aula no decorrer da semana, ou seja, a construção do plano de aula. Nessa formação, em alguns

momentos, os educadores discutem os seus planos coletivamente e depois individualmente com a coordenação pedagógica.

As práticas pedagógicas do PEZP são fundamentadas em três princípios: princípio da contextualização; princípio da significação operativa e princípio da especificidade escolar. De acordo com Ireland et al. (1998, p. 15), o primeiro princípio considera o “contexto em que a experiência se realizaria”. Os autores referidos apresentam alguns exemplos para clarear o conceito. Esse princípio leva em consideração

as condições de vida, em geral, dos alunos e, em particular, as condições em que se dá a sua inserção no mundo do trabalho, principalmente no mundo da indústria da construção; as lutas do sindicato dos trabalhadores dessa indústria, o qual desencadeou a elaboração/execução desse projeto escolar, como parte de seu programa de formação de base dos operários que representa; a localização da equipe responsável pelo Projeto no atual espectro de teorização sobre educação, de um modo geral, e sobre alfabetização de um modo particular.

O segundo princípio é o da “significação operativa” e constitui-se na busca cotidiana de sentido para “o que se faz” e “por que se faz”, refletindo sobre o desejado e o possível, nas circunstâncias dadas”. O último princípio é o da “especificidade escolar”, ou seja, os autores defendem esse princípio-guia, o qual tem como característica o

compromisso com o ensino da lecto-escrita stricto sensu. Por mais elástico que o conceito de “alfabetizado” possa ser, reforçamos a explicitação de nosso entendimento de que os trabalhadores-alunos aprendam ler/escrever textos, subordinando outras competências à realização, pelo menos concomitante, desse aprendizado específico. (IRELAND et al., 1998, p. 15).

Na percepção apresentada nesta pesquisa, os princípios assumidos pelo Programa Zé Peão interage com as características do letramento social e escolar. Especificamente, identificam-se o Princípio da Significação Operativa e o Princípio da Especificidade Escolar. Esses dois conceitos – “o de letramento social” e o de “letramento escolar” – abordados no capítulo anterior, são definidos, por Mollica e Leal (2009), como a ação de ensinar-aprender. A partir do momento em que esse processo deixa de ser algo mecânico, passa a ter uma função social. Dessa forma, pode-se considerar que, nos princípios do PEZP, está presente o conceito de letramento na perspectiva do uso social.

Como já se afirmou anteriormente, os educadores8 do PEZP são estudantes dos cursos de licenciatura da UFPB. Silva (2011, p. 212) faz a seguinte descrição sobre a equipe de professores alfabetizadores do PEZP:

Em sua maioria, são mulheres jovens, discentes do Curso de Pedagogia e das demais licenciaturas, tais como: Letras, História, Geografia, Psicologia, Matemática etc. […] a idade média destes é 24 (vinte e quatro) anos. Alguns possuem experiência anterior na educação formal, especialmente na educação infantil, e outros na educação não formal. Outros ainda não tiveram experiência na área de educação, sobretudo, em sala de aula, procurando o projeto para este fim. A maioria procura uma oportunidade de estágio remunerado para poder adquirir experiência na condição de professor(a) desde a graduação. Outros vêm de experiências ligadas ao movimento social estudantil da época do Ensino Médio. A curiosidade pela docência e questões financeiras também motivam alguns licenciados a se inscrever no curso inicial de formação do PEZP.

Nesta dissertação, parte-se do pressuposto de que o Programa Escola Zé Peão se caracteriza por uma ação pedagógica escolar alicerçada em princípios que orientam a Educação Popular numa perspectiva libertadora. Concepções essas que podem ser encontradas na proposta pedagógica do Programa, nas pautas da formação inicial e continuada com seus professores. Dentre os princípios percebidos na proposta do Programa, destaca-se o diálogo, que concede o poder da palavra aos educandos e a formação de sujeitos críticos da sua realidade. Verifica-se, também, que a Educação Popular (EP) e o PEZP trazem elementos que convergem com a proposta do letramento na perspectiva social como a reflexão da língua escrita e falada relacionada a um contexto e ao uso em práticas cotidianas.

A Educação Popular é entendida, em vários períodos, com diferentes terminologias. Segundo Silva (2011), conceitualmente, a EP tem sido identificada como metodologias ou dinâmicas, Educação de Jovens e Adultos, entre outras. Nas várias leituras sobre o tema, o que se encontra como ponto em comum acerca dessa discussão do que seja Educação Popular é a dificuldade em conceituá-la, devido à polivalência na diversidade de concepções e conceitos.

Nas mais variadas discussões acerca da diversidade de concepções, Calado (2012) debate com maior clareza as várias perspectivas e finalidades com que a EP vem sendo compreendida e trabalhada. De acordo com o referido autor, a educação popular tem sido

8 A título de informação, registramos que, em fevereiro de 2014, segundo a fala de uma das coordenadoras pedagógicas do referido programa, foram inscritos para a formação do PEZP trinta estudantes dos mais variados cursos de licenciatura da UFPB como, por exemplo, Letras, Artes, História e Pedagogia. Dos inscritos, continuaram participando 25, dentre os quais, 08 foram selecionados no final da formação inicial para atuar no Programa.

utilizada nas mais diversas formas. Existe a EP “feita PARA o povo, há EP feita COM o povo, há EP feita APESAR do povo, e há até EP feita CONTRA o povo” (CALADO, 2012, p. 2).

Mediante essas questões, percebe-se que as preposições são locuções prepositivas que nos permitem entender as várias finalidades da EP. Ainda segundo o autor acima citado, o conceito de EP é tão amplo que se aproxima de uma panaceia. Logo, assevera Calado (2012), um dos conceitos de EP que aparecem com maior frequência é aquele relativo ao processo formativo direcionado às camadas populares. Ele envolve os mais diferentes atores, parceiros estimulados por diferentes motivações. Nessa perspectiva, os componentes populares são tratados, principalmente, como alvo. Muitas das vezes, a experiência, sob esse ponto de vista, é tida como “freiriana”, como elemento de legitimação. E é utilizada por pessoas que, de fato, não têm nenhum compromisso com os setores populares.

Sob essa ótica conceitual, a EP pode se tornar perigosa para os seus protagonistas, que são as camadas populares, porque os sujeitos envolvidos nessa experiência acabam sendo excluídos da ação de pensar junto a proposta e de participar de todo o processo de elaboração da mesma. Desse modo, dificulta-se a realização de um trabalho crítico, podendo ela ser utilizada para a submissão do povo.

Quanto ao entendimento de Calado (2012, s/p) sobre o que seja EP, ele a define como um processo formativo permanente, onde a classe trabalhadora e seus aliados são os personagens principais, tendo como Utopia a construção de uma sociedade economicamente justa, socialmente solidária, politicamente igualitária, culturalmente diversa, dentro de um processo coerente marcado por práticas, procedimentos, dinâmicas e posturas correspondentes ao mesmo horizonte.

O Autor acima defende uma educação popular humanizadora fundamentada em princípios teóricos que tenham, dentre outros, o legado de Paulo Freire. Nessa perspectiva, a Educação Popular deixa de ser PARA as camadas populares. Ela sai da verticalidade e passa a ser construída na perspectiva do COM, na horizontalidade.

Algumas características são assinaladas pelo autor, como principais para o entendimento do seja EP por ele defendida. A experiência com EP tem que despertar, nos seus protagonistas, a sua condição de seres incompletos, seres relacionais, que estimule e recupere a memória histórica, que traga os desafios do dia a dia para serem discutidos pelos seus protagonistas, que promova o recurso de várias linguagens, entre outras ações.