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E quanto aos educandos, pergunta-se: quem são eles? São trabalhadores advindos de várias regiões do interior do Estado da Paraíba, para trabalhar na construção civil em João Pessoa. Em sua maioria, são instalados nos canteiros de obras da capital. Normalmente, esses educandos-trabalhadores voltam para as suas cidades nos fins de semana, quinzenal ou mensalmente, bem como nos feriados prolongados.

Esses jovens e adultos trazem consigo uma gama de experiências que podem e devem ser utilizadas no processo do letramento escolar. É de suma importância que os conteúdos trabalhados em sala de aula estejam vinculados às vivências dos educandos.

A esse respeito, Galvão e Soares (2004) argumentam:

O adulto é produtor de saber e cultura e que, mesmo não sabendo ler e escrever, está inserido – principalmente quando moram nos núcleos urbanos – em práticas efetivas de letramento […]. O adulto não é mero portador de “conhecimentos prévios”, que precisam ser resgatados pelo alfabetizador para ensinar aquilo que quer, mas um sujeito que já construiu uma história de vida, uma identidade e cotidianamente produz cultura.

Na entrevista realizada pela pesquisadora junto aos trabalhadores-educandos do PEZP, outro elemento importante foi percebido. Embora tenham participado da escola regular, há muito anos, saíram de lá sem os conhecimentos mínimos de leitura e escrita. E se culpam por isso.

Segundo Oliveira (1999, p. 19),

O primeiro traço cultural relevante para esses jovens e adultos, no contexto da escolarização, é sua condição de excluído da escola regular. O tema exclusão escolar é bastante proeminente na literatura sobre educação, especialmente no que diz respeito a aspectos sociológicos – relações entre escola e sociedade, direito à educação, educação e cidadania, escola, trabalho e classe social – e aspectos pedagógicos e psicopedagógicos – fracasso escolar, evasão e repetência, práticas de avaliação.

O educando da EJA, na sua maioria, tem uma autoestima baixa. Esse processo de culpabilização por não ter aprendido a dominar os códigos da leitura e da escrita foram,

muitas vezes, percebidos no discurso dos educandos entrevistados. Eles não conseguem perceber que foram excluídos do sistema de ensino. Primeiro, a exclusão se deu na infância, quando não tiveram a oportunidade de estudar na idade própria, pois, muitas vezes, eles precisavam trabalhar. Deu-se, ainda, em razão de a escola situar-se muito distante da casa deles. Ou seja, vários motivos fizeram com que eles não concluíssem a educação básica. Segundo, quando se tornam adultos, a escola, na maioria das vezes, não está preparada para esse grupo com demandas específicas, resultando, na maioria vezes, na evasão, sendo esta uma das características marcantes da Educação de Jovens e Adultos.

A pesquisa foi realizada em seis salas de aula do Programa Escola Zé Peão. Elas estavam inseridas em quatro canteiros de obras na cidade de Joao Pessoa – PB, cujas empresas responsáveis eram HEMA, localizada no Bairro do Bessa; Mediterrane e Albrás, localizadas no Cabo Branco; e Vertical, no Altiplano.

O requisito para a escolha das salas de aula foi que essas já fizessem parte do Programa, há mais de um ano. Em um primeiro momento, respeitando-se a hierarquia, realizou-se um contato inicial com a coordenação pedagógica do Programa, apresentando o Projeto e os objetivos da pesquisa. Como passo seguinte, entregou-se um pedido de autorização para a realização das observações e das entrevistas nas salas de aula do PEZP.

É válido registrar que a coordenação forneceu as condições de desenvolvimento da pesquisa. Após algum tempo de conversa, expondo o objetivo do presente estudo, uma das coordenadoras pedagógicas indicou as salas que seriam as mais apropriadas para a realização da pesquisa. Assim, após a autorização da coordenação, foram realizadas as observações. Esse trabalho de observação durou, aproximadamente, três meses. Intencionou-se, nessa etapa, identificar quais as práticas de leitura e de escrita eram trabalhadas nas salas de aula do Programa Escola Zé Peão e se estas favoreciam o educando enquanto leitor e escritor no seu uso social.

Fizeram parte desta pesquisa, 11 educandos; todos do sexo masculino, por se tratar de uma pesquisa num canteiro de obras, onde 90% da categoria de trabalhadores é formada por homens. Destes 11, apenas 1 nasceu na capital João Pessoa – PB. Os outros 10 são oriundos das cidades interioranas do Estado da Paraíba, conforme observado na Tabela 1. As idades diversificam entre 28 e 54 anos.

Quanto ao estado civil, cinco são casados, quatro solteiros e dois divorciados. Suas atividades profissionais são: pedreiros (5 educandos), betoneiro (1 educando), serventes (2 educandos), cozinheiro (1 educando) e assentador de tijolos e lajotas (1 educando).

Tabela 2: Caracterização dos operários-educandos

Educandos Idade Estado Civil Natural Profissão Tempo de estudo no PEZP Data da entrevista E1 41 Casado Alagoa Grande Pedreiro 03 anos 13.11.2014

E2 43 Casado Alagoinha Betoneiro 02 anos 13.11.2014

E3 51 Solteiro Mari Pedreiro 02 anos 25.11.2014

E4 36 Solteiro Lucena Guincheiro 02 anos 25.11.2014

E5 40 Solteiro Juazeirinho Servente +/- 03 anos 25.11.2014

E6 54 Casado Juarez

Távora

Servente 10 anos 13.11.2014

E7 28 Solteiro Mogeiro Pedreiro 02 anos 18.11.2014

E8 54 Divorciado Sapé Cozinheiro 03 anos 18.11.2014

E9 54 Divorciado Mogeiro Pedreiro 04 anos 05.11.2014 E10 41 Casado João Pessoa Pedreiro 03 anos 05.11.2014

E11 40 Casado Alagoa

Grande

Pedreiro 03 anos 05.11.2014

Objetivando facilitar a localização e a análise das falas, assim como a garantia de que seus verdadeiros nomes fossem mantidos em sigilo, os educandos entrevistados foram nomeados de E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9, E10 e E11.

De acordo com os relatos obtidos nas entrevistas, a passagem deles pela escola foi curta e irregular durante a infância, considerando que a maioria teve de trabalhar, desde muito cedo, para ajudar os pais na roça, com vistas ao sustento da família.

No momento da entrevista, a pesquisadora descrevia cuidadosamente o objeto da pesquisa, sendo solicitado aos educandos que expressassem suas opiniões sobre o estudo. Em seguida, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), permitndo a gravação e a utilização das informações obtidas nas entrevistas. Foi elaborado um roteiro (ver Apêndice A) para as entrevistas, objetivando caracterizar esses educandos quanto à idade, ao estado civil, à naturalidade e à profissão. Além disso, buscou-se obter informações sobre as suas práticas sociais ou usos da leitura e da escrita no seu cotidiano, assim como saber da importância social que os educandos atribuíam à leitura e à escrita.

No momento da entrevista, a pesquisadora perguntava, separadamente, questão por questão do roteiro. Algumas vezes, fez-se necessário exemplificar algumas perguntas para

alguns educandos. Cada entrevista foi gravada e, posteriormente, transcrita para a análise dos dados.

A maioria dos alunos entrevistados fazia parte do canteiro onde a sala de aula do PEZP estava inserida. Ou seja, mais ou menos 90% dos alunos pesquisados. O ponto comum nas falas dos educandos foi a vontade de ler e de escrever com desenvoltura, visto que todos que fizeram parte da entrevista conseguiram ler e escrever, mesmo apresentando muitas dificuldades.

No entanto, mesmo demonstrando interesse em aprender, a maioria, ao chegar à sala de aula, demonstrava muito cansaço, devido à jornada de trabalho, resultando, na maioria das vezes, num baixo rendimento em relação à aprendizagem.