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Num primeiro momento, será discutido o que seriam a escrita e a leitura. De acordo com Tfouni (2006), a escrita é entendida como produto cultural por excelência.

4 Esclarece-se que as questões aqui apresentadas evidenciam a necessidade de se refletir sobre estes fatos à luz da história da EJA, na perspectiva de uma compreensão acerca da abordagem assumida neste estudo. Assim, embora não se tenha a pretensão de instituir a descrição dessa modalidade educativa numa linha histórico- cronológica, o fato de os sujeitos destaa pesquisa fazerem parte da Educação de Jovens e Adultos e de o lócus da pesquisa se situar no universo de um programa de Alfabetização e Pós-Alfabetização de Adultos, justifica uma reflexão breve acerca do campo teórico e legal da EJA.

Historicamente, ela data de cerca 5.000 antes de Cristo. A escrita desempenhou um papel fundamental na divisão dos períodos da sociedade. Ela está associada a jogos envolvendo dominação, poder, participação e exclusão. Segundo a autora acima, a escrita surgiu na Mesopotâmia – que hoje faz parte do território do Irã e Iraque – especificamente na Suméria, uma antiga civilização da Mesopotâmia que utilizava a escrita em peças de argila nos templos, com o objetivo de gravar as relações de troca e empréstimo das mercadorias.

Em relação a suas finalidades, a escrita pode ser utilizada para difundir as ideias ou ocultar, bem como para garantir poder àqueles que a ela têm acesso. Para fundamentar o pensamento da escrita relacionada à ocultação de poder, a autora traz alguns exemplos. Num primeiro momento, cita o país da Índia, no qual a escrita tinha uma relação direta com os textos sagrados. Não só os sacerdotes tinham acesso a esses textos, mas também os iniciados, pessoas que passavam por um processo longo de preparação antes de ter acesso aos textos (TFOUNI, 2006). Ou seja, somente um pequeno grupo tinha acesso aos textos sagrados. Cabia ao restante da população acreditar no que era dito por esse pequeno grupo sobre o que liam, caracterizando aqui uma relação de poder dos sacerdotes sobre o povo.

Outro exemplo de poder dado pela escrita é o caso da China; o sistema ideográfico da escrita chinesa, durante muitos anos, era a garantia de poder dos burocratas e religiosos. Isto porque a quantidade de ideogramas e o grau de sofisticação da escrita chinesa constituíam empecilhos para que as pessoas do povo pudessem aprender a ler e a escrever (TFOUNI, 2006). A escrita, historicamente, está ligada ao jogo de dominação, poder, participação e exclusão. Não se deve esquecer que a escrita nas sociedades onde ela foi adotada de forma ampla pode ser apontada como uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento científico, tecnológico e social. Entretanto, não podem ser também esquecidos os fatores como relação de poder e dominação que estão por traz da utilização restrita ou generalizada de um código escrito.

Kleiman (1995a) aponta que estudos recentes envolvendo a linguagem escrita têm questionado algumas concepções, acerca da mesma enquanto objeto na sua constituição social-ontogênese e filogênese, que se apresentam como verdades inabaladas. São correntes valorizadas que correspondem a mitos. A autora apresenta algumas dessas concepções:

a-Aquela que se caracteriza como artefato contraposto a naturalidade da fala; b-Aquela que se caracteriza como transposição (transcodificação, transcrição) da língua oral, posterior e segunda em relação a esta última, i.e., que o caracteriza como re (a) presentação; c-Aquela que se caracteriza como transparente acessível por si mesmo - sem interpretação mediadora - ao reconhecimento, portanto, como reitificado: d-Aquela que se caracteriza

como uma forma simplificada e arbitrária de desenho que teria evoluído do pictograma ao ideograma e, por fim, ao silabário-alfabetário (ROJO, 1995, p. 66).

De acordo com a autora, essas concepções estão presentes na maioria dos trabalhos acadêmicos. Além disso, ela afirma que essas concepções da escrita são mitos. A crítica da autora reside no fato de essas abordagens deixarem de lado a questão da construção social da língua. As concepções parecem apresentar a escrita como desvinculada do seu contexto social e da variedade cultural. Ela é apresentada como uma habilidade neutra e técnica. Essa forma de olhar a escrita se contrapõe com a concepção de letramento social que, a todo momento, está sendo discutida no texto.

Para Di Nucci (2002 apud BARROS, 2011), a escrita pode ser considerada como um dos termômetros de melhoria de vida de uma sociedade. Pensando dessa forma, a escrita passa a ser de grande valor na sociedade, tornando-se um instrumento de inserção social ou de segregação, resultando, daí, uma necessidade cada vez maior de acessar e dominar esses códigos. Percebe-se, no entanto, nas considerações feitas pelos autores, uma visão reducionista da escrita, quando se relaciona a sua função apenas ao aspecto de melhoria de vida.

Para Savielli (2007), a escrita é um instrumento reflexivo do pensamento. Essa perspectiva se contrapõe à função da escrita enquanto processo de transcrição da oralidade, visto anteriormente nas abordagens acima apresentadas por Rojo (1995). Na visão de Savielli (2007), a escrita é um instrumento crítico que ajuda o sujeito a participar e a intervir na sociedade.

Quanto à leitura, Olson (1997, p. 288) entende que ela “consiste em recuperar ou inferir as intenções do autor do texto, mediante o reconhecimento de símbolos gráficos. O reconhecimento só das palavras ou só das intenções não seria uma leitura; e as intenções ou os significados reconhecidos precisam ser aqueles compatíveis com a evidência gráfica”. Segundo o autor, precisaria muito mais do que conhecer os códigos da escrita para realizar uma leitura, visto que necessitaria, além de reconhecer os códigos, compreender o que está escrito. Para um melhor entendimento sobre essa perspectiva crítica da linguagem, recorre-se a Freire:

A compreensão crítica do ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas antecipa e se alonga na inteligência do mundo. [...] Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. [...] A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra

e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele (FREIRE, 1988, p. 22).

Assim, do modo como a escrita e a leitura estão sendo abordadas, passam a ser entendidas não como algo estático, mas como fenômenos dinâmicos e cheio de relações com a vida, deixando de lado a concepção de uma escrita e uma leitura mecânicas que vêm sendo trabalhadas há mais de trinta anos nas escolas do país, fundamentadas apenas na aquisição da codificação e decodificação, tendo como base os fonemas e grafemas.

Orlandi (2008, p. 9), ao discutir a leitura, assevera que ela não é uma questão de tudo ou nada; é uma questão de natureza, de condições, de modos de relação, de trabalho, de produção de sentidos, em uma palavra: historicidade. Assim, para a autora, a leitura não é algo fechado em si; ela traz histórias, E essas, por sua vez, vêm carregadas de relações que o sujeito realiza ao ler.

Dessa maneira, por se viver numa sociedade que a todo instante exige dos sujeitos o domínio do código escrito, em eventos cotidianos, faz-se necessário que a leitura e a escrita sejam elementos que os levem a interagir, a praticar a cidadania e a se apropriar de novos conhecimentos.

Quanto à categoria relações, que, por várias vezes, está sendo abordada neste texto, ela é pensada a partir de Freire (1979), quando diz: “As relações não se dão apenas com os outros, mas se dão no mundo, com o mundo e pelo mundo”. Dessa forma, a leitura e a escrita aqui discutidas têm como objetivo explicar de que forma os sujeitos utilizam a leitura e a escrita nas relações com eles mesmos, com os outros e com o mundo.

No levantamento e identificação de algumas dissertações e teses5 sobre a leitura e a escrita na perspectiva social do letramento, viu-se que a grande maioria utiliza Brian Street como suporte teórico. Diante disso, percebe-se a necessidade, nesse momento inicial de construção, de trazê-lo para o diálogo no presente espaço de estudo. Nesse sentido, Street (2014) chama a atenção para a multiplicidade de letramentos: letramento escolar, letramento digital, letramento social – que é o objeto deste trabalho –, dentre outros que se fazem presentes na sociedade. O autor sugere que, ao discutir sobre que tipo de letramento seria mais apropriado para determinado contexto, compreenda-se que essa escolha é, antes de qualquer coisa, uma escolha política e não uma escolha neutra, marcada, unicamente, pela visão de especialistas e técnicos.

5 Consultas realizadas nos bancos de dados da Pós-Graduação (PPGE) e na Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), no período de 2014.

Essa sua reflexão diz respeito às Campanhas e Programas de alfabetização que circulam na sociedade. Ou seja, qual proposta de letramento está sendo colocada por Campanhas e Programas? Segundo Street (2014, p. 36), “as Campanhas de Alfabetização, no geral têm desprezado esses letramentos locais e partindo do pressuposto de que os públicos-alvos são ‘analfabetos’ que mal começam a rabiscar”. Ainda de acordo com o Street (2014), para aqueles que, até há pouco tempo, tinham pouca experiência com a leitura e a escrita, o impacto do letramento de um grupo dominante vai além da transmissão de algumas habilidades técnicas e superficiais. Essa transmissão pode mexer fundo com crenças culturais e não somente com as habilidades de leitura e de escrita.

As pessoas envolvidas no processo de letramento trazem suas próprias práticas letradas desenvolvidas no dia a dia. O autor convida a atentar para as relações de poder que se encontram dentro da transmissão do letramento. Diante do que foi exposto, vê-se que o autor apresenta um tema importante para a discussão do letramento: o poder. Ou seja, de que forma se poderia perceber e trabalhar a questão do poder presente em algumas propostas sobre o letramento? Poder-se-ia ainda perguntar: A quem serve o letramento?; Que interesses estão por trás das suas propostas?; Que tipo de letramento é importante na nossa sociedade e para quem? Essas são questões que se deixa em aberto, visto que o objeto deste estudo, mais do que sinalizações de respostas, motivou a inquirir novas perguntas e problematizações, considerando o contexto de inserção da presente pesquisa.

Na perspectiva do uso social da leitura e da escrita, objeto do presente estudo, Street (2014) assegura que não se deve desviar a atenção das práticas letradas e de seus significados nas vidas locais. Nos trabalhos que esse autor desenvolveu sobre o letramento sob o ponto de vista social, ele percebeu que as narrativas feitas sobre os relatos de vida dos pesquisados ignoravam ou depreciavam as práticas letradas locais. Para ele, a abordagem desses trabalhos analisados traz, na maioria das vezes, o modelo autônomo de letramento que significa “o letramento como uma variável independente e desvinculada do seu contexto social” (STREET, 2014, p. 91). Tragam-se, mais uma vez, para reflexão, os dois modelos de letramento anteriormente abordados. Destaca-se que esses modelos, muitas vezes discutidos por outros autores, foram criados por Street. Por esse motivo, faz-se relevante recorrer a este autor para discuti-los.

O primeiro modelo é o autônomo, acima definido; o segundo é o letramento ideológico, o qual se contrapõe ao primeiro. Esse modelo considera os aspectos técnicos da leitura e da escrita, como a decodificação, a correspondência entre som, forma e dificuldades de leitura, sendo que esses aspectos do letramento são sustentados em práticas sociais particulares. O

que vê aqui é que, para o autor, todos os aspectos que envolvem a leitura e a escrita fazem parte do letramento. Só que ele defende o modelo ideológico para o desenvolvimento dos trabalhos que envolvem leitura e escrita.

Segundo o autor, a abordagem do letramento na perspectiva ideológica “é sensível à variação local das práticas letradas e é capaz de abranger os usos e significados que as próprias pessoas atribuem à leitura e à escrita” (STREET, 2014, p. 159). A partir dessa perspectiva, a leitura e a escrita teriam como foco principal o olhar dos pesquisadores e dos sujeitos sobre as suas práticas sociais e sobre a forma como eles usam a leitura e a escrita nos seus variados eventos.

Dois conceitos também merecem ser discutidos, pois, a todo momento, fazem-se presentes neste trabalho. São eles: eventos de letramento e práticas de letramento. Eles são apresentados por Street (2014, p. 18), a partir Heath (1982). Os eventos de letramento aludem “a qualquer ocasião em que um trecho da escrita é essencial à natureza das interações dos participantes e de seus processos interpretativos”. Quanto à prática de letramento, ela “tem um nível mais alto de abstração e se refere igualmente ao comportamento e às conceitualizações sociais e culturais que conferem sentido aos usos da leitura e ou da escrita”. Segundo Street (2014), as práticas de letramento incorporam os eventos de letramento. É através das práticas letradas que se percebem as interações e as interpretações que os sujeitos fazem da leitura e da escrita.

Pensando dessa forma, poder-se-ia afirmar que o Programa Escola Zé Peão se constitui numa agência de letramento que propicia, a partir das assembleias sindicais, das reuniões de representantes de turma, que acontecem mensalmente, e da formação continuada com seus professores, eventos e práticas de letramento. Street (2014) diz que uma palestra se configura num clássico evento de letramento, tendo em vista que pode acontecer que o palestrante leia anotações, que um projetor de slides no alto projete diferentes tipos de informações e que as pessoas, de vez em quando, arquivem suas anotações, já que as práticas de letramento incorporam os eventos de letramento e dão sentido ao uso da leitura ou da escrita. Compreende-se que, no exemplo apresentado pelo autor, estão presentes os dois conceitos de eventos e práticas. Infelizmente, ele não exemplifica o segundo conceito. No entanto percebe- se que o exemplo dado abarca o conceito de eventos e de práticas de letramento, estando estas presentes nas anotações e nas reflexões feitas na palestra.

Ao retomar a discussão sobre o uso social do letramento, Street (2014) faz referência a um trabalho interessante – uma pesquisa desenvolvida por Rockhill (1987), na qual este último faz uma descrição dos usos do letramento por mulheres hispânicas para administrar a

casa em Los Angeles, destacando o quanto esse trabalho era invisível para a comunidade, a qual só identificava o letramento no trabalho dos homens e na escolarização. Segundo Street (2014), na análise de Rockhill (1987), enfatiza-se que a invisibilidade do letramento das mulheres está relacionada com a sociedade patriarcal em que se vive e aborda-se, também, que o letramento considerado apropriado e valorizado é aquele associado à escolarização, com as habilidades de leitura e escrita, as quais podem ser testadas por mecanismos formais. Pode-se, então, dizer que o letramento que detém o poder e é considerado importante na sociedade é aquele desenvolvido nas agências formais de letramento, como escolas e universidades. Desconsideram-se, todavia, os letramentos que se fazem presentes nos espaços informais, como aqueles desenvolvidos na família, com os amigos, na reunião do bairro, nas pastorais, nos sindicatos, entre outros.

Em uma publicação de 13/09/2010, divulgada na página de notícias da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), quando da sua visita para ministrar uma palestra, o professor e pesquisador Brian Street fez algumas considerações sobre o letramento na perspectiva social. Sua primeira reflexão foi sobre o distanciamento entre a escola e os letramentos no cotidiano. Segundo o autor, esse distanciamento é um problema que existe não só no Brasil, mas também em outros países. E complementa:

Em Palmares [bairro de Belo Horizonte], você pode ver as pessoas fazendo uso do letramento para comprar e vender mercadorias, mas a gente olha os livros-textos das escolas e as duas coisas não interagem necessariamente. Sei que as pessoas estão trabalhando aqui e na UFMG para fazer essa interação. Esse parece ser o trabalho a ser realizado no próximo estágio [dos estudos] do letramento. Mas se tomarmos os Estados Unidos ou a Inglaterra como exemplos, veremos que a posição dos governos é ainda de adotar o modelo autônomo de letramento como único. O governo dos EUA diz: “nenhuma criança ficará para trás”; o governo do Reino Unido diz: “a estratégia nacional de letramento”. Então, nas escolas, os professores sentam-se na frente das crianças que estão anotando e dizem: “nós vamos ensinar vocês” e filmam tudo isso: a ortografia, os sinais, os sons, a escrita. Um monte de crianças não aprende. Mas, enquanto isso, na casa deles muito frequentemente o letramento acontece.

Dessa forma, Brian Street traz alguns pontos interessantes para a pesquisa em voga. Primeiro, que não é só o Brasil que tem propostas pedagógicas distantes da realidade do aluno, ou seja, propostas que não consideram os letramentos que se fazem presentes no cotidiano dos alunos, o que, para o autor, são os letramentos no cotidiano. Segundo, ele exemplifica o modo como se dá o uso do letramento no cotidiano das pessoas. Terceiro, ele traz a discussão sobre o letramento autônomo, presente nas escolas americanas. Esse conceito

já foi discutido no primeiro capítulo. Quarto: existem vários tipos de letramentos, aspectos esses, também, já refletidos no texto por Kleiman (1995b) e outros autores. O quinto ponto trata do conceito de ensinar a língua adotada em algumas escolas onde as normas, as regras gramaticais etc. se sobrepõem ao fazer cotidiano dos alunos. É o que, a todo momento, se faz nesta pesquisa, ao abordar a questão técnica ou estruturalista da língua.

Ainda sobre o letramento, é perguntado a Brian Street como ele tem percebido os letramentos em suas pesquisas ao redor do mundo. Estas são as palavras do autor:

Os projetos nos quais eu tenho me envolvido têm tentado se construir a partir do conhecimento local. Estamos trabalhando na Etiópia, Índia, Uganda, África do Sul. A gente sai pelo Bairro e pergunta: o que eles estão fazendo em termos de letramento? Na Etiópia, estão escrevendo poemas nas paredes da casa, passando bilhetinhos, mas as agências ainda os chamam de iletrados e dizem: “precisamos colocá-los na sala de aula em fila e ensinar- lhes”. O que acontece é que eles desistem. Aí tentamos o letramento para adultos. Na primeira noite podemos ter uma sala com uns 20 alunos; na segunda noite, aparecem 12; na terceira, nove. Para onde eles foram? Eles são burros, ignorantes, iletrados? Talvez do ponto de vista etnográfico eles estejam dizendo: “isso não tem nada a ver com minha vida, esse professor de pé ali dizendo isso”. Portanto, buscamos programas de letramento baseados no que as pessoas realmente fazem. Em Uganda, os pescadores tomam nota do número de peixes que eles pegam de cada vez, então nós podemos discutir com eles assim: “ok, vocês estão escrevendo usando sinais, layout, números, portanto podemos ajudar a desenvolver um pouquinho mais, para você buscar um emprego com leite de coco, que requer um letramento diferente. Nós vamos te ajudar a conseguir”. A fábrica de leite de coco simplesmente diz que eles são analfabetos, precisam estudar. Nós preferimos começar de onde eles estão com o letramento que possuem e como ele se relaciona com o letramento que a fábrica de leite de coco quer.

Nessa última questão, Street elenca vários elementos a serem discutidos. No entanto serão enfocados apenas alguns, considerados relevantes para esta pesquisa. Um dos itens em destaque se refere à evasão escolar na EJA, tema o qual já vem sendo discutido por vários autores e para o qual, até o presene momento, não foi encontrada uma solução ou caminho que pudesse amenizar a situação. Na sua resposta, o palestrante põe em evidência, como uma das causas dessa evasão, a distância entre o que se trabalha na sala da aula e o que o educando faz no seu cotidiano, ou seja, os letramentos que circulam na sociedade. Mais uma vez, ele coloca em pauta a questão dos vários letramentos, afirmando que a escola, programas ou agências formais da educação têm como papel desenvolver, juntamente com o educando, meios para que ele se aproprie das ferramentas do letramento de que precisa para interagir com o mundo, no caso, citado por ele, o mundo do trabalho.

Diante do que foi apresentado até o momento sobre o letramento, seria interessante que os trabalhos desenvolvidos nos espaços formais da educação trouxessem, para discussão na sala de aula, o que o educando faz nos espaços informais, ou seja, os diversos letramentos que circulam na sociedade, mas sem desconsiderar a questão técnica da nossa língua. Não se pensou aqui em separação, mas em junção dos saberes da escola com os da vida.

No próximo tópico, será feita demonstração a respeito do que vem sendo trabalhado ou