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A abertura do evento, o lançamento do Edital n.º 03/2010 e o I Painel

3. OS CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO: ANÁLISE DE UM EVENTO

3.3. A I Conferência Temática de Finanças Solidárias (2010)

3.3.1 A abertura do evento, o lançamento do Edital n.º 03/2010 e o I Painel

Conforme mencionado anteriormente, a abertura do evento aconteceu no Auditório do Centro de Treinamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), um lugar bastante formal,

116 As três entidades estiveram diretamente ligadas ao Programa de Apoio aos Projetos Produtivos Solidários

(PAPPS), implementado junto a 50 grupos, mediante parceria com a Senaes, BNB e organizações comunitárias, principalmente na Região Nordeste.

onde, costumeiramente, encontram-se as autoridades do setor financeiro, discutindo os diferentes temas ligados ao crescimento econômico nos moldes tradicionais. No entanto, naquela ocasião, o local abrigou um evento formado por pessoas interessadas em debater os rumos e as possibilidades de experiências de crédito e financiamento numa perspectiva solidária.

Sentei à última fileira do auditório, de onde pude ter uma visão panorâmica do lugar. No centro do auditório, estavam os vários símbolos encontrados na maioria dos espaços públicos de caráter formal. Ao fundo, estavam dispostas as bandeiras do Brasil, do estado do Ceará e do BNB. À minha esquerda, havia um púlpito de madeira (onde depois tomaria lugar a cerimonialista), bem como todo o aparato audiovisual (telões, som, câmeras filmadoras, microfones etc.), e, à esquerda, direcionada ao telão principal, havia uma ampla mesa preparada para as autoridades, ornamentada com flores naturais. À frente da mesa, estavam dispostas as poltronas destinadas aos participantes, organizadas em semicírculo, formando uma espécie de arena, onde cada participante ia, aos poucos, tomando acento, iniciando pelas fileiras de trás, depois as bordas (pela facilidade de acesso para entrar e sair), até que, aos poucos, o auditório foi ficando bem cheio, porém, com cadeiras vagas nas primeiras fileiras, aquelas que ficam mais próximas aos palestrantes.

Já eram quase 15 horas quando esse espaço acarpetado, refrigerado e de aspecto imponente, começou a ser ocupado por jovens integrantes da Companhia Bate Palmas (grupo musical formado por jovens do Conjunto Palmeiras), acompanhados pelo cantor, poeta e compositor popular Parahyba.

A apresentação cultural com maracatus e cirandas, ao som estridente dos tambores, atabaques, berimbaus e outros instrumentos de percussão típicos das músicas de matriz afro- brasileira, levantou o ânimo dos participantes, gerando um clima de alegria e descontração para a maioria dos presentes, que respondiam com aplausos em alguns momentos da apresentação.

Com duas canções, intituladas Raízes da Angola e Mar Azul, os jovens do Conjunto Palmeiras deram o recado da periferia:

Raízes da Angola

Raízes da Angola chegou da risca do mar

Raízes d’Angola virou quilombola, virou capoeira, viveu a lutar E na cultura brasileira raízes d’Angola têm o seu lugar

É lá no Conjunto Palmeira raízes d’Angola ensina a jogar É palma de mão, pandeiro, atabaque, berimbau

É palma de mão, raízes d’Angola é ginga [bis]

O mar se deitou na areia Ouvindo a canção nagô

É a mãe da terra inteira chamando os filhos de toda cor Me leva, meu bem, me leva pra dentro da noite azul Me leva, meu bem, me leva, me leva pro Maracatu Dançam as cores, os sons dos tambores, dançam os orixás Rainha negra, magia e beleza na sombra dos baobás [bis] Maracatu... Maracá... Maracatu.

A intensidade dos ritmos conflitava com a formalidade do lugar, espaço de uma racionalidade voltada aos princípios da economia formal, do crescimento econômico, da financeirização, mas que, naquele momento, era ocupado por outras formas de expressão de caráter artístico-cultural, os jovens da periferia, a música de matriz afro cedendo espaço no plano simbólico a outras linguagens, outros atores e a outras formas de se pensar as práticas econômicas.

Ao final da apresentação, todos os participantes aplaudiram de pé e muito calorosamente e deu-se início à composição da mesa de abertura do evento, formada pelo Diretor de Fomento da Senaes/MTE, representantes do BNB, do Comitê Temático de Finanças Solidárias no Conselho Nacional de Economia Solidária (responsável pela convocatória do evento) e das três expressões de finanças solidárias. Cada um à sua maneira117 fez uma breve saudação aos participantes da Conferência, falando da relevância do evento, principalmente quanto ao reconhecimento das experiências como parte importante de sustentação da política de economia solidária no Brasil, expondo avanços e desafios a serem superados. No caso dos representantes das experiências, estes enfatizaram a necessidade de maior apoio por parte do poder público, queixando-se da ausência de uma política mais consistente para fomentar e consolidar as iniciativas existentes, denunciando que algumas estariam passando por muitas dificuldades.

Aquele foi um momento importante para perceber o posicionamento de cada setor integrante do segmento das finanças solidárias e como as experiências atuaram como “grupos de pressão” (no jargão político) sobre as entidades governamentais ali presentes, notadamente, a Senaes, pois elas tinham clareza de que aquele era o momento mais adequado para somar esforços e obter resultados mais concretos, não apenas “compromissos ou intenções de apoio”. Os participantes mostravam-se desejosos de uma ação palpável, que repercutisse na resolução

117 Em geral, os gestores públicos e representantes de entidades nacionais adotam uma postura mais formal,

enquanto as pessoas que estão mais diretamente relacionadas com as experiências “de base” são menos formais, dirigindo-se mais à plateia do que aos integrantes da mesa.

dos inúmeros problemas discutidos pelos grupos de trabalho em cada setor durante todo aquele dia.

Até então, em razão de uma agenda em Brasília, o Prof. Paul Singer estava ausente. No entanto, o diretor da Senaes, Haroldo Mendonça (ainda visivelmente tenso) assegurou que, no dia seguinte, este estaria presente para encaminhar a abertura formal dos trabalhos e também para anunciar o lançamento de um edital de apoio, em parceria com o Ministério da Justiça (MJ). Na ocasião, não foram dados maiores detalhes do edital, mas houve um “suspiro” coletivo de alívio entre a maioria dos presentes, pois, diante daquela situação de expectativa, estava sendo aberta uma “janela de oportunidade”, conforme afirmou o diretor da Senaes. Durante todo o dia, ele transitou entre os grupos de trabalho, ouvindo as demandas de cada um e também mantendo contatos em Brasília para confirmar informações sobre os trâmites para o lançamento do Edital. Num desses momentos, conversei informalmente com ele e pude perceber o clima de tensão estabelecido mediante a pressão dos GTs formados pelas modalidades de finanças solidárias no sentido do lançamento do edital de chamada pública. Ele chegou a afirmar que, se o edital não fosse lançado, colocaria seu cargo à disposição, tamanho seria o desgaste político e institucional junto ao segmento.

Na manhã do dia 03 de maio, sentei-me numa posição mais ao centro do auditório, visualizando mais uma vez toda a plenária. O I Painel do evento, com o tema Balanço e Desafios das Finanças Solidárias no Brasil, iniciou por volta das 9h30min, conforme o seguinte programa: Prof. Paul Israel Singer (representando a Senaes, órgão do governo federal), Joaquim de Melo Neto Segundo (representando os bancos comunitários, pela entidade da sociedade civil Instituto Palmas, de Fortaleza), José Waldir de Sousa (representando os fundos rotativos solidários, pela entidade da sociedade civil PATAC, da Paraíba), Wanderley Ziger (representando as cooperativas de crédito, pelo Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito com interação solidária, da Região Sul do país) e José Narciso Sobrinho (representante do BNB, entidade anfitriã do evento), sendo este último responsável pela mediação da mesa.

Os palestrantes posicionaram-se à mesa de acordo com o chamamento da cerimonialista: primeiramente, o Prof. Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária (por ser a entidade convocante do evento, foi a instituição que abriu formalmente os trabalhos da Conferência), inicialmente ocupando lugar ao centro da mesa para depois ser direcionado ao púlpito. Em seguida, Joaquim Melo, Coordenador do Instituto Palmas, posicionou-se à direita do Prof. Paul Singer. Na sequência, Vanderley Ziger, Diretor do Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito Solidário da Região Sul do país, sentou-se à direita de Joaquim Melo. Depois, José Waldir de Sousa sentou-se ao lado esquerdo do Prof. Singer. Ao final da mesa, do lado esquerdo

de José Waldir, o diretor do Etene/BNB, José Narciso Sobrinho.

Ao que parece, o critério para a composição da mesa pautou-se nas representações institucionais, tendo sido privilegiados os entes governamentais com uso da fala na abertura dos trabalhos e na condução dos debates, respectivamente, a Senaes e o BNB, fato que está diretamente ligado ao caráter do evento e aos seus entes convocantes. As representações das experiências em finanças solidárias falaram na sequência em que estavam sentados, incorporando a lógica de representação que variou entre aquelas organizações que apresentam maior e menor grau de institucionalização. Ou seja, primeiramente, Vanderley Ziger (Sistema Cresol), seguido de Joaquim Melo (Instituto Palmas) e, por fim, Waldir Sousa (FRS/PATAC). A plateia ouviu a todos atentamente e, ao final de cada pronunciamento, cuja média girou em torno de vinte minutos, apresentaram alguns questionamentos, por escrito. Conforme orientações do cerimonial e da coordenação da mesa, as questões deveriam ser apresentadas somente por escrito, embora algumas pessoas da plenária tenham se manifestado oralmente, a pedido do mediador, a fim de esclarecer alguns questionamentos levantados. Tais orientações revelam as características dos processos participativos excessivamente regrados, provocando certo distanciamento entre palestrantes e os participantes do evento, fato que limita o uso da fala àquelas pessoas com maior eloquência, deixando de fora as pessoas mais tímidas, que estão num ambiente com aquele grau de formalidade pela primeira vez, ou, ainda, aquelas que possuam alguma limitação na linguagem escrita.

Foi possível perceber a solenidade do ritual quebrada apenas em alguns raros momentos de descontração, como na apresentação cultural, quando algumas pessoas ensaiaram passos de dança e cantaram refrães das canções; e durante a fala de Joaquim Melo, pela sua irreverência peculiar ao expor sua vivência à frente do Banco e Instituto Palmas – este último, coordenado por ele há cerca de dez anos, desde a sua criação, em 2003.

A exposição do Prof. Singer foi uma das mais longas, com duração de pouco mais de vinte minutos, tendo sido proferido de pé, no púlpito, sem uso de slides ou datashow.

O Prof. Singer é o secretário responsável pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, desde a sua criação, em 2003. Conforme assinala Lechat (2004), ao traçar a trajetória de três intelectuais para compreender a formação do campo da economia solidária no Brasil, Paul Israel Singer é professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), tendo sido responsável pela coordenação do Programa de Economia Solidária da Unitrabalho, coordenou também a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP, além de ter exercido o cargo de secretário de planejamento na gestão de Luiza Erundina, em São Paulo. De acordo com a autora: “Singer assume neste campo uma postura polêmica quanto à sua análise sobre a

possível transformação da economia solidária num novo modo de produção” (LECHAT, 2004, p. 13).

Ocupando a posição de intelectual engajado (ou intelectual orgânico, no sentido gramsciano), sua fala versou sobre a crise e o modo de funcionamento do sistema financeiro mundial, contextualizando detalhadamente o fenômeno que ficou conhecido como “bolha imobiliária norte-americana”, um dos pontos nevrálgicos da crise recente no sistema capitalista, em 2008. Sua postura durante o discurso assemelhou-se a uma aula de economia, bastante didática, na qual considerou as experiências de finanças solidárias como possibilidades de criação de um sistema financeiro alternativo, baseado na autogestão e na democracia. Nesses termos, asseverou: “[...] não somos só nós que estamos fazendo as finanças solidárias. Está na Europa, na Ásia, na África. Em vários lugares do mundo há experiências de diferentes espécies de bancos comunitários”.

Um ponto importante foi a ênfase na dimensão pública do sistema financeiro, contextualizando o papel dos bancos comerciais e de investimento. Conforme pontuou no seu discurso, é papel desse sistema: “[...] fazer a guarda do dinheiro da sociedade e aplicá-lo de acordo com a sua dimensão pública, em prol das necessidades da sociedade”. No trecho abaixo transcrito, é possível observar a forma e o conteúdo de uma economia política crítica ao modelo de acumulação privada vigente, baseada na financeirização que leva às crises cíclicas, como a de 2008, sacrificando toda a sociedade. Uma vez lançadas as bases contextuais amplas da discussão do formato do sistema econômico mundial (as mesmas que foram também as premissas discutidas no capítulo 1 desta tese), Singer passou a debater o papel das finanças solidárias nesse contexto. Depois, ele prescreveu, como economista marxista, a necessidade de criação de um novo sistema financeiro, baseado nas finanças públicas e solidárias:

O banco comercial é o lugar onde a população coloca o seu dinheiro (as famílias, as empresas e também os governos), colocam o seu dinheiro para que o banco possa com ele gerar meios de pagamento. É o sistema que fornece os meios para pagar as contas (o táxi, a água, o almoço). Esse sistema é um sistema público, que presta um serviço público essencial a qualquer economia de mercado. E ele só pode usar nosso dinheiro depositado nele para esses fins. Ou seja, para emprestar para as atividades econômicas (indústria, comércio, agricultura, construção civil) e eventualmente para consumidores. E criou-se um outro tipo de banco, que alguns economistas chamam de “bancos sombras” – uma réplica de banco, que chama-se de banco, mas de fato não são – que são os bancos de investimento. Esses bancos servem às empresas capitalistas, principalmente para fusões (para uma enorme empresa comprar outra empresa algumas vezes maior do que ela e recompondo as estruturas de poder econômico mais concentrado do capitalismo). Então, os bancos de investimento recolhem o dinheiro não como depósitos, mas como fundos, os fundos de investimento. Então, quem quiser, ao invés de colocar o seu dinheiro no banco, compra cotas de fundos. Mas esses fundos são essencialmente especulativos – e vocês podem achar que especulativo é pejorativo, mas eu não estou usando o termo nessa concepção. Eles preveem o futuro e aplicam o dinheiro naquilo que eles acham que vai gerar valor para o cotista [...]

Essa história tem muito a ver com o que nós estamos falando porque, após a crise de 2008, embora o nosso sistema tenha ficado fora dessa crise, mas os outros países tiveram os seus sistemas financeiros quebrados no mundo inteiro. Foi resgatado à custa de bilhões/trilhões de dólares. E agora há toda uma discussão se vai se reconstituir o sistema do jeito que ele foi – e fatalmente vão surgir novas “bolhas” e, no momento em que elas arrebentam, vem outra crise [...] E essa conferência é tão vital pra fazermos um balanço desse debate – e é isso que estamos fazendo agora: o balanço e os desafios das finanças solidárias. Elas ganham uma missão nova: tem gente que defende, como eu também defendo, que só deve existir banco público e banco comunitário – e aqui eu tô me referindo ao banco comunitário stricto sensu, mas inclui também as cooperativas de crédito, os fundos solidários e as formas econômicas que a população controla pela autogestão.

Em relação à menção feita aos bancos comunitários desde o início de sua intervenção, Singer faz um parêntese para desculpar-se com as demais experiências ali presentes pela ênfase do seu discurso nos bancos comunitários, explicando que essa é a experiência que lhe é mais próxima:

Vocês vão me desculpar, mas eu vou falar mais dos bancos comunitários porque é a experiência que eu conheço mais de perto, porque já li algumas publicações do Banco Palmas, escritas pelos Joaquim e pela Sandra, mas sei que há outras experiências com potencialidades iguais ou até maiores.

Conforme é possível verificar, esse é um forte indício da visibilidade e do reconhecimento do Banco Palmas por parte dos órgãos de governo, fato que lhe proporciona um papel central exercido dentro do segmento das finanças solidárias. Desde o início das movimentações políticas para a criação da Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária e da própria Senaes, o Banco Palmas esteve presente aos debates, principalmente representado por seus coordenadores Joaquim Melo e Sandra Magalhães – tanto que Singer se refere constantemente a ambos.

Mais adiante, ele voltou-se ao contexto latino-americano, pontuando a adesão do governo da Venezuela à proposta dos Bancos Comunitários, comparando-a ao governo brasileiro e afirmando as singularidades de cada país. Ponderou, portanto, o contexto político diferenciado, pois, naquele país, existe uma instância com maior poder de intervenção: o Ministério da Economia Comunal, com estrutura e recursos do orçamento garantidos. Contudo, avaliou que a experiência brasileira oferece um aprendizado fundamental, pois se constitui num instrumento efetivo de combate à miséria, ressaltando a dimensão coletiva do trabalho, porém também lembrando as dificuldades de se instituir como política pública:

Tudo foi construído com muita inteligência coletiva, mas não foi fácil [...] E hoje é instrumento de desenvolvimento local, permitindo que milhares de miseráveis deixem de ser miseráveis pelo seu esforço, pelo seu trabalho. É uma forma nobre de luta contra a miséria.

Aqui é possível perceber o alinhamento político do Secretário às estratégias dos governos petistas de Luis Inácio Lula da Silva e de Dilma Roussef na ênfase ao combate à fome e à miséria, notadamente constituída pelos Programas Fome Zero e, atualmente, pelo Programa Brasil sem Miséria, cuja marca consta no próprio slogan do atual governo: “País rico é país sem pobreza”, em que pesem as diferenças existentes entre um e outro governo, principalmente no tocante ao diálogo com os movimentos sociais118.

Na sequência, ele retomou e enfatizou o papel dos fundos solidários e das cooperativas de crédito como integrantes desse sistema financeiro de base solidária. Conforme sua avaliação, ambas as iniciativas produzem efeitos similares, mas em condições diferentes. Destacou, ainda, que as cooperativas de crédito possuem suas raízes nas experiências vindas da Europa, principalmente da Alemanha e França. Porém, devido ao enorme crescimento, acabaram se descaracterizando à medida que se distanciaram dos princípios da autogestão. A propósito do tamanho e potencial de crescimento das iniciativas para constituírem um sistema financeiro alternativo, Singer indicou a necessidade de ganho de escala sem que seja sacrificada a autogestão. Nesse sentido, apresentou dois pressupostos importantes para a apreensão da singularidade das experiências: o enfretamento ao sistema vigente e o ganho de escala, problematizando, na sequência, os limites que precisariam ser pensados no sentido de não descaracterizar as práticas:

Estamos na direção oposta do sistema financeiro que está aí. E nossas cooperativas de crédito vão crescer porque devem ganhar escala. E isso não é ser capitalista, não, gente! Qual o limite? Com que tamanho ele começa a se transformar numa outra coisa? Vamos pensar juntos.

Este é um ponto importante para reflexão no corpo desta tese, no que se refere à institucionalização das experiências de economia solidária: “como expandir mantendo os princípios preconizados”? Mais uma vez Singer traz à tona a dimensão autogestionária das experiências como princípio orientador das práticas, insistindo no argumento de que esta seria a diferença que julga fundamental com relação às finanças solidárias. Isto posto, o palestrante passou às considerações finais e concluiu sua comunicação conclamando todos à superação do desafio de ampliar o acesso ao crédito com base na interlocução entre as modalidades de finanças solidárias, acrescentando as utopias contidas nas práticas existentes e naquelas que

118 Para uma análise crítica dos últimos doze anos de gestão petista, com ênfase no Governo da Presidenta Dilma

Roussef, ver entrevista do sociólogo Ivo Lesbaupin, disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/535657-melhorias-pontuais-num-emaranhado-de-politicas-controversas- entrevista-especial-com-ivo-lesbaupin->. Acesso em 15.jan.2015.

virão a existir, ressaltando a oportunidade de interação e troca de ideias durante aquele encontro específico:

Quero terminar dizendo que precisamos aproveitar que estamos aqui todos juntos para estabelecer laços de cooperação e de intercâmbio entre essas diferentes modalidades