• Nenhum resultado encontrado

A emergência das experiências em Economia Solidária no Brasil

1. A CRIAÇÃO DA SECRETARIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NO

1.1 A emergência das experiências em Economia Solidária no Brasil

Do mesmo modo como ocorre com outros fatos importantes da história, é difícil demarcar com exatidão quando ocorreu o início das experiências em economia solidária. Por isso, recorro ao termo “emergência”, que, segundo Sousa Santos (2002a), foi elaborado como crítica ao processo de invisibilização de um conjunto de experiências gestadas pela sociedade em busca de novos paradigmas para o desenvolvimento, incluindo diferentes iniciativas que

ensejam novos caminhos para a emancipação social26. Esse fato estaria, segundo o autor, na base de uma sociologia das ausências e das emergências.

Assim, em que pese o fato de a emergência das experiências em Economia Solidária no Brasil remontar a tempos anteriores aos anos 1980, com as diversas práticas comunais de natureza autogestionária, presentes de norte a sul do país, a exemplo de Caldeirão (na região do Cariri cearense) e Canudos (no sertão baiano), tomarei como base a delimitação temporal contida na maioria da bibliografia consultada, que considera o surgimento das iniciativas com maior vigor no decorrer das décadas de 1980 e 1990, pois nesse período vários fatores impulsionaram o florescimento do fenômeno no país. Dentre estes, no plano estrutural, o fenômeno da globalização associado à financeirização da economia, cujos impactos no Brasil resultaram numa ambivalência vivenciada no período pós-redemocratização, quando, de um lado, havia o alcance das conquistas no campo dos direitos, com os avanços democráticos instaurados desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, e, de outro, o acirramento das diversas formas de exclusão social.

Na base dessas contradições, está o modelo de desenvolvimento adotado, com acentuada inspiração neoliberal, cujos efeitos foram sentidos mais fortemente no início dos anos 1990, nos governos de Fernando Collor de Melo (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994) e, ainda mais intensamente, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Tal modelo, conforme Schiochet (2009, p.51), preconiza o “Estado mínimo para o social e o Estado máximo para o capital”. Ou seja, legitima o encolhimento do investimento público nas políticas sociais em detrimento da transferência de recursos da sociedade para a esfera econômica, notadamente, a financeira.

Essa realidade não se restringiu ao Brasil, mas abrangeu um conjunto de países designados pela expressão “países em desenvolvimento”, notadamente na América Latina, cujo papel prescrito pelos países ditos “desenvolvidos” impeliu a adoção de um modelo de desenvolvimento cujas regras foram sistematizadas num documento chamado Consenso de Washington27, que indicou várias medidas de ajuste necessárias à inserção daqueles países na

26 O autor coordenou uma ampla pesquisa envolvendo 69 pesquisadores em seis países – África do Sul, Brasil,

Colômbia, Índia, Moçambique e Portugal, cujo tema foi a globalização alternativa, visando analisar iniciativas e movimentos de resistência e de formulação de alternativas por parte das classes populares e dos grupos sociais subalternos em vários domínios sociais. Os resultados foram apresentados em sete livros, que originaram a série:

Reinventar a emancipação social: para novos manifestos, publicada no Brasil pela editora Civilização Brasileira. 27 O termo Consenso de Washington ficou conhecido como um conjunto de medidas de ajuste macroeconômico

formulado por economistas de instituições financeiras (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial), elaborado em 1989. Entre essas "regras" que deveriam ser adotadas pelos países, estavam os seguintes itens: disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, reforma tributária, juros de mercado, câmbio de mercado, abertura comercial, investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições, privatização das estatais, desregulamentação etc. (ANTUNES, 1995).

globalização. Nesse sentido, muitos foram os intelectuais brasileiros, dentre eles Antunes (1995) e Minella (1997), e estrangeiros, como Chesnais (1996), Bauman (1999) e Sousa Santos (2002a), a se debruçarem sobre os impactos desse receituário de inspiração norte-americana, especialmente sentidos pela massa de trabalhadores, que presenciou o desmoronamento de uma sociedade salarial, como abordado por Castel (2001), fato que empurrou grande contingente de populações que sequer haviam alcançado o trabalho formal para condições de vida extremamente precárias, transformando-se em “refugos humanos”, no dizer de Bauman (1999) – classificação que remete a uma versão contemporânea do "exército industrial de reserva” na segunda revolução industrial, quando o desenvolvimento econômico da segunda metade do século XIX na Europa e nos Estados Unidos teria atingido seu ápice e começava a declinar.

No plano econômico, fazem parte desse contexto os diversos processos de reestruturação na esfera produtiva e no sistema financeiro, orquestrados pelas novas dinâmicas nos fluxos de capital, cuja face rentista apregoa o descolamento da esfera econômica, tomando como referência a noção de mercado autorregulado e a metáfora da mão invisível, próprias da economia neoclássica. A crítica a essa noção utilitarista da economia feita por Polanyi (2000) tem sido revigorada por autores que fazem a releitura de sua obra, vinculados à nova sociologia econômica, dentre os quais se destacam Granovetter, Swendberg, Steiner, Zelizer (MARQUES e PEIXOTO, 2003). Na mesma linha dos estudos críticos, inscrevem-se os estudiosos ligados ao Movimento Antiutilitarista nas Ciências Sociais (MAUSS), baseados no pensamento de Marcel Mauss, principalmente no tocante à reciprocidade e à solidariedade nos tempos contemporâneos (MARTINS, 2005; CAILLÉ, 2002). Em ambos os casos, a noção de economia retomaria o seu sentido real ou substantivo, ligado à palavra grega oikos, ou seja, ao cuidado com a casa, sendo uma das premissas dessa abordagem a dependência do homem em relação à natureza e aos seus semelhantes para conseguir seu sustento. Assim, a economia estaria incrustrada (embededness) nas relações sociais e seria “[...] uma atividade institucionalizada de interação entre o homem e seu entorno que dá lugar a um fornecimento contínuo de meios materiais de satisfação das necessidades (POLANYI, 2000, p. 293)”.

Em relação à financeirização, segundo a periodização proposta por Chesnais (1996), há três grandes fases, sendo a primeira iniciada nos anos 1960 indo até 1979, em que os bancos eram as figuras centrais. O autor classifica esse momento como “Finanças Administradas”, período de intensa circulação dos eurodólares no lastreamento da internacionalização financeira, ainda limitada, pois os sistemas financeiros nacionais ainda eram fechados. A segunda fase compreende o período de 1980-1985, quando ocorre a passagem para as finanças de mercado, momento em que se torna acentuada a liberalização financeira mediante interligação dos

sistemas nacionais. De 1986 a 1995, os países considerados “emergentes” ou do “terceiro mundo” começam a adentrar esse sistema financeiro mais amplo, configurando, na análise do autor, uma engrenagem irreversível cujos efeitos são inelutáveis (CHESNAIS, 1996, p.31). Conforme sua análise, a migração do capital da esfera produtiva para a esfera financeira caracteriza a forma atual do capitalismo, cuja lógica se centra na acumulação financeira, sendo esta entendida como: “[...] a centralização em instituições especializadas de lucros industriais não reinvestidos e de rendas não consumidas, que têm por encargo valorizá-los sob a forma de aplicação em ativos financeiros [...] mantendo-os fora da produção de bens e serviços” (CHESNAIS, 1996, p.37). Este processo assume várias denominações, tais como: “financeirização da economia”, “globalização financeira”, “mundialização financeira” entre outros.

Nessa direção, uma análise do processo de reestruturação do sistema financeiro com ênfase nos impactos no trabalho bancário no Brasil é empreendida por Minella (1997) e Jinkings (2000). Os autores analisam as mudanças advindas da imbricação entre as dimensões produtiva e financeira próprias da mundialização do capital, as quais provocaram processos de reorganização do trabalho em diferentes setores, sendo o setor bancário brasileiro um dos que mais se ressentiu, tendo gerado a flexibilização das leis trabalhistas e o consequente declínio na mobilização do movimento sindical.

No plano político, outro elemento que compõe esse quadro contextual é o descenso dos movimentos sociais pós-1989, quando o Brasil saíra do período ditatorial. Como indica Schiochet (2009), naquele momento o país vivia uma situação de agravamento da crise econômica, com elevados índices de desemprego, precarização das condições de trabalho, baixo crescimento econômico, entre outros. É exatamente nesse período que começaram a emergir iniciativas para geração de trabalho e renda com base no trabalho associado e autogestionário em diferentes segmentos de sociedade, nos ambientes rurais e urbanos. Em razão dessa expansão, alguns governos ligados ao campo democrático-popular, considerados “de esquerda” (SINGER, 1996), começam a incorporar ações de economia solidária nas suas estratégias. Podem ser citados, nessa direção, os governos de Porto Alegre, Recife, Belém e São Paulo.

Nesse cenário, conforme assinala Cunha (2012), os atores principais das práticas socioeconômicas integrantes da economia solidária são:

[...] homens e mulheres da “classe-que-vive-do-trabalho” (ANTUNES, 1995) - a maioria distante da noção clássica de proletariado, estando há muito fora do assalariamento formal ou sequer tendo nele ingressado associaram-se para gerar meios de vida, através da recriação de práticas tradicionais de reciprocidade ou da

invenção de formas inovadoras de solidariedade democrática, de modo a compartilhar decisões e resultados em atividades coletivas de produção de bens ou serviços, distribuição, consumo, crédito, finanças... (CUNHA, 2012, p. 02).

Para compreender o processo de estruturação do campo da economia solidária no Brasil, mais um componente importante é o papel desempenhado pelos intelectuais na formulação teórica sobre as práticas. A esse respeito, Lechat (2004) reconstruiu o mapeamento dos “nomes” da economia solidária identificando, na literatura existente sobre o assunto, os primeiros aparecimentos dos conceitos ligados à economia solidária no Brasil. Esses registros iniciais se deram no livro organizado por Moacir Gadotti (1993), no qual o autor chileno Luis Razeto a concebe como:

[...] uma formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiências econômicas [...] que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas (RAZETO, 1993, p. 40).

Além da nominação contida nas publicações sobre o tema, outros espaços davam conta do anúncio da discussão de fundo vinculada à perspectiva anticapitalista de um outro mundo possível, debatida e difundida em diversos eventos, a exemplo do GT Brasileiro28 nos Fóruns Sociais Mundiais (FSM) e da Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária, esta última aglutinando diferentes experiências em andamento no país. De acordo com informações disponíveis online na página do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, na edição do I FSM, em 2001, foi formado o GT Brasileiro, constituído por organizações e redes de diversos segmentos da economia solidária para articular a participação do Brasil e das redes internacionais da Economia Solidária29.

Ainda no que se refere aos eventos estruturantes do campo30 da economia solidária, Lechat (2004, p. 02) indica alguns que podem ser considerados como momentos de

28As doze Entidades e Redes Nacionais de Fomento que, em momentos e níveis diferentes, participaram do GT Brasileiro foram: Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária (RBSES); Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS); Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (FASE); Associação Nacional dos Trabalhadores de Empresas em Autogestão (ANTEAG); Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas (IBASE); Cáritas Brasileira; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST/Concrab); Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs); Agência de Desenvolvimento Solidário(ADS/CUT); UNITRABALHO; Rede Brasileira de Gestores de Políticas Públicas da Economia Solidária; Associação Brasileira de Instituições de Microcrédito (ABICRED). A partir de 2003, a Rede Brasileira de Economia Solidária passa a se chamar Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), instância orgânica do movimento de economia solidária no Brasil.

29O link para acesso é este: <http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=61&Itemid=57 >.

Acesso em 10.dez.2014.

30A autora desenvolve sua tese com base na noção de “campo”, de Barnes (1987), referindo-se a um conjunto de redes de relações sociais, de práticas e de ideias (LECHAT, 2004, p. 10).

efervescência emblemáticos, entre os quais enumero a seguir: os Projetos Alternativos Comunitários (PACS), existentes desde 1982; projetos apoiados pela Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida (1993), encampada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho; a organização das empresas falidas sob o regime de autogestão dos trabalhadores, pela Anteag (1994); o Seminário sobre Economia Solidária, promovido pela CUT/SP (1996), fato que incentivou a criação da Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT (1999); a formação de um grupo de estudo e pesquisa sobre economia solidária na Unitrabalho (1997).

Percebe-se, portanto, que as décadas de 1980 e 1990 foram de formulação dessa nova categoria, cuja nomeação remete a realidades existentes desde o século XIX, na Europa e nos Estados Unidos. Anos mais tarde, com as sucessivas crises pelas quais passou o sistema capitalista, os trabalhadores, movidos por ideias associativistas e cooperativistas, buscaram novas alternativas de trabalho, cuja singularidade repousa no ideal de emancipação que traz em si a possibilidade de realização dos princípios da democracia.

Desde então muitas práticas, como as de cooperativismo popular – um contraponto às cooperativas fraudulentas, criadas para burlar direitos trabalhistas denominadas por Singer (2003) como “coopergatos” –, foram criadas, juntamente com as organizações de apoio a essas iniciativas, entre as quais se destacam as Incubadoras de cooperativas e empreendimentos solidários, ligadas às universidades, além de organizações não governamentais com forte enraizamento nas lutas sociais.

Embora nascendo com diversas vertentes que apontam a heterogeneidade de sentidos da economia solidária, é relevante a observação de Cunha (2012, p.10) acerca dos cuidados que os pesquisadores devem ter sobre o tema, para não reduzir a análise da economia solidária apenas em função da crise do emprego e aumento da pobreza, pois essas práticas econômicas fundadas na solidariedade têm um intuito mais amplo, pois buscam reinventar o laço social. Ainda de acordo com a autora, “[...] o laço associativo é antes de tudo laço político, uma aposta à democratização econômica e política, como duas dimensões indissociáveis da economia solidária”. Conforme ressalta em sua tese, a economia solidária motivou diversos “olhares”, permeados por vários matizes teórico-ideológicos, ligadas à filantropia, ao altruísmo, à empregabilidade e ao empreendedorismo. Nestes últimos casos, vista como mais uma forma de inserção no mercado de trabalho capitalista, ou ainda, no período mais recente, como “portas de saída” dos programas sociais. É nesse sentido que a ideia de “outra economia” se define em contraposição à lógica utilitária inerente ao capitalismo, baseada na subordinação e alienação do trabalho, tendo sido estas características e seus efeitos sobre a sociedade moderna o centro das reflexões dos pensadores da sociologia clássica.

Aos poucos, em meio à diversidade das experiências, foi sendo construído certo grau de consenso em torno de princípios comuns que orientavam as práticas, criando, segundo Cunha (2012), as bases para o autorreconhecimento e reconhecimento público da economia solidária, abrindo, a meu ver, uma primeira via de institucionalização, ainda incipiente e desarticulada de uma estratégia mais ampla. A esse momento Schiochet (2009) denomina de “fase de experimentalismo”, que contribuiu para a inserção da economia solidária nas agendas governamentais nas diferentes esferas de governo como uma estratégia para geração de trabalho e renda, sendo mais comum a implementação dessas políticas pelas secretarias ligadas às questões do trabalho, empreendedorismo ou assistência social.

Conforme Alcântara (2005) e Cunha (2012), a experiência considerada pioneira é a da Prefeitura de Porto Alegre, na gestão de Olívio Dutra (de 1993 a 1996 e nas que o sucederam); depois, as prefeituras de Belém (PA) (no governo de Edmilson Rodrigues, de 1997 a 2004) e Santo André (na gestão de Celso Daniel, de 1997 a 2000). Nos anos 2000, as prefeituras de Recife (J. P. Lima, de 2001 a 2004 e 2005 a 2008 e de 2009 a 2012; com 2009, J. da Costa), Osasco (na gestão de Emídio de Souza, de 2004 a 2012) e São Paulo (com Marta Suplicy, de 2001 a 2004). Ao que parece, essa periodização menciona aquelas experiências que tiveram maior visibilidade; todavia, é possível que outros municípios tenham adotado políticas de economia solidária sem que essas constem das publicações sobre o tema.

Um desses casos ausentes é o da Prefeitura de Fortaleza (CE), que, embora não constando do registro acima, desenvolveu ações de apoio e fomento à economia solidária nas duas gestões da Prefeita Luizianne Lins (de 2005 a 2012), envolvendo secretarias e outros órgãos da administração pública, a saber: Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), com a criação de uma Célula de Economia Solidária, responsável pela execução de programas e projetos, dentre eles o Projeto Trabalho Comunitário Solidário, implementado com diversas linhas de atuação, entre as quais sublinho o estímulo às finanças solidárias, tendo criado dois Bancos Comunitários, o Rio Sol31, no bairro Granja Portugal, e o Banco Comunitário Pirambu32, ambos inaugurados em 2008, em plena crise financeira mundial. A propósito, no momento da inauguração do banco, em novembro de 2008, o Jornal Diário do Nordeste publicou a seguinte

31 O banco foi criado em 4 de junho de 2008, sendo o segundo Banco Comunitário de Fortaleza. Conforme

informações divulgadas no sítio eletrônico do Instituto Palmas e da entidade gestora do empreendimento, o Instituto Terrazul, o banco Rio Sol atendia a moradores dos bairros do Conjunto Ceará, Granja Portugal e Bom Jardim. Participaram da solenidade de inauguração, além dos representantes da Prefeitura de Fortaleza, o Senador Eduardo Suplicy do PT. Para mais informações, ver o seguinte link: <http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article567> Acesso em 30.dez.2014.

matéria, intitulada: Pirambu ganha banco próprio33, ressaltando o contexto de criação em meio à crise financeira mundial, conforme segue:

Em meio à quebradeira de grandes bancos internacionais e a fusões e aquisições de instituições financeiras nacionais, um novo banco surge em Fortaleza, mais precisamente no bairro Pirambu, no litoral leste da capital cearense [...] a exemplo do Banco Palmas, no Conjunto Palmeiras, irá operar com linhas de crédito específicas para micro e pequenos empreendedores, pessoas físicas e jurídicas formais ou informais (Jornal Diário do Nordeste, 28/11/2008).

Outro órgão que também desenvolveu ações de economia solidária foi a Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), com a criação do Núcleo de Economia Solidária (Nesol) – já mencionado na introdução desta tese. Suas ações, direcionadas, sobretudo, às áreas da formação e comercialização solidária, envolvendo principalmente mulheres, impulsionaram a Coordenadoria de Mulheres e a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), também instituídas na gestão petista, a adotar um conjunto de ações para o fortalecimento das iniciativas de economia solidária, incorporando a noção de economia feminista, cujo resultado concreto foi a criação da Rede de Mulheres Produtoras de Economia Solidária e Feminista Flor de Mandakaru, juntamente com alguns espaços de comercialização nos terminais de ônibus e no Mercado Central. Especificamente em relação às finanças solidárias, destaco, além da criação dos Bancos Rio Sol e Pirambu, o Programa CredJovem Solidário, vinculado à SDE, e a constituição de um fundo rotativo solidário gerido pela Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial (Copir), em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Este fundo foi uma das primeiras experiências de finanças solidárias com recorte racial fomentado por uma prefeitura, com regime de gestão feita por um fórum composto por integrantes da sociedade civil e do governo, o Fórum da Economia do Negro (SANTOS FILHO et al., 2012).

No âmbito do Governo Federal, um marco importante que consta em todas as publicações consultadas sobre o histórico das políticas de incentivo à economia solidária no Brasil foi a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), implantada pela “força do movimento social”. Diante desse fato, o assunto será abordado no próximo item, citando algumas ocasiões emblemáticas de convergência e alianças firmadas entre o governo e a sociedade civil que ora se estabelecia com a instauração do governo do Presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), pontuando os eventos de elaboração e articulação política do

33 A matéria está disponível em:<http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/pirambu- ganha-banco-proprio1.498949> Acesso em 30/12/2014.

nascente movimento de economia solidária34,

1.2 As Plenárias Nacionais de Economia Solidária e os diálogos dos movimentos sociais