• Nenhum resultado encontrado

O II Painel: as finanças solidárias e o financiamento público

3. OS CAMINHOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO: ANÁLISE DE UM EVENTO

3.3. A I Conferência Temática de Finanças Solidárias (2010)

3.3.2 O II Painel: as finanças solidárias e o financiamento público

No último dia da Conferência, as atividades se iniciaram pela manhã, com a formação da mesa com os seguintes integrantes: Idalvo Toscano, representando a frente parlamentar federal de apoio às Finanças Solidárias; Sérgio Paz, representando o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS); Luis Carlos Fabbri, representando o Comitê Temático de Crédito e Finanças Solidárias no Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES); Quintino Severo, integrante da bancada dos trabalhadores (CUT) no Conselho Nacional do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT). Atuando como mediador da mesa, Alisson Oliveira, do Banco do Nordeste do Brasil (BNB)129.

129 Para descrever o referido painel, vou me deter mais detalhadamente nas falas de Luis Fabbri e do economista

Idalvo Toscano, por considerar que os demais integrantes restringiram suas intervenções às apresentações institucionais de metas alcançadas em ações específicas, ou, ainda, a intenções de apoio à economia solidária, principalmente no caso do MDS e FAT. Tais percepções reforçaram os desafios apontados no painel do dia anterior no que se refere ao papel das instituições públicas, que, embora tendo conseguido avanços importantes, ainda precisam ampliar conquistas para gerar políticas de apoio mais consistentes e articuladas, evolvendo os diferentes setores do governo.

Após cumprimentos e formalização da mesa conduzida mais uma vez pelo BNB, como anfitrião da casa, o momento começou com a intervenção do economista Idalvo Toscano, cuja fala versou sobre o Projeto de Lei que cria o Segmento Nacional de Finanças Populares e Solidárias, em tramitação desde 2007.

O palestrante iniciou sua fala mostrando afobação em relação ao tempo destinado (apenas 15 minutos)130 para tratar de um assunto considerado por ele como de extrema relevância ao desenvolvimento das finanças solidárias.

Na ocasião, ele se apresentou como funcionário do Banco Central do Brasil e também como diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do referido banco (SINAL), ressaltando ser “mero escriba” do processo.

À medida que sua irritação pelo tempo escasso dedicado ao tema de sua fala foi sendo dissipada, Toscano afirmou a importância de momentos como aquele, em que pessoas e instituições ligadas ao que denominou de “movimento das finanças solidárias” se encontravam para debater suas formas de organização e os desafios para expandir tais práticas.

Sua intervenção foi a mais ácida entre os integrantes da mesa, iniciando com uma crítica bastante contundente ao funcionamento do sistema financeiro, com ênfase na crise mundial (de 2008), passando pelo Projeto de Lei de autoria da Deputada Luiza Erundina e, por fim, chegando aos desafios à estruturação do que denominou de segmento das finanças populares e solidárias no Brasil.

Pelos seus conhecimentos na área da economia e por atuar diretamente no sistema financeiro, Toscano enriqueceu sua fala ilustrando com exemplos do cotidiano, entre outras coisas, os impactos da inflação sobre os preços e salários e a necessidade de se criar um segmento específico não assentado na lucratividade privada para dar vazão às demandas da sociedade por crédito popular de base local/territorial.

Vocês sabem que o sistema financeiro mundial está em crise. E vem mais crise por aí! Embora tenha muito comentarista dizendo que o pior já passou. Ela está apenas tendo um arrefecimento, como um paciente que está com febre e toma uma ducha de água gelada, aí a febre baixa, mas o que está causando a infecção ainda está lá e depois ela volta com força. Então, essa é uma crise seriíssima! [...] Sei que ela é resultado de um sistema financeiro que brinca com a vida das pessoas, porque um aumento na taxa de juros afeta diretamente a vida de todo cidadão. E o capitalismo é uma coisa tediosa: porque você ajusta uma política macroeconômica coordenada competentemente e, depois de anos sem crescimento, quando o sistema volta a crescer, vem alguém e diz que a economia está superaquecida e que tem que aumentar a taxa Selic porque se não a economia desanda, e a inflação vai crescer e prejudica os pobres. Eu cá fico

130 O tempo das intervenções havia sido reduzido em cinco minutos devido à ampliação do número de palestrantes

de quatro para cinco. Veja-se que, no dia anterior, foram quatro intervenções, com média de vinte minutos cada, fato que acarretou um reduzido tempo para o debate, bem como enfado físico da plenária, que ficou por quase duas horas na posição de espectador.

pensando se isso não tem a ver com o ganho especulativo e tem mais a ver com os interesses do segmento especulativo do capital.

Ele constatou que o crescimento da inflação no último período ocorreu em razão da elevação do consumo das classes C e D131, bem como alguns eventos naturais como enchentes, cheias, quebra de safra etc. Contudo, em sua opinião, outros mecanismos de controle da elevação da inflação poderiam ser utilizados, diferentes daqueles voltados ao controle dos preços da cesta básica, fato que sacrifica a grande massa da população. Nesse sentido, questionou: “Me diga em que medida o aumento da taxa de juros faz com que você reduza o consumo alimentar? A classe média não vai fazer isso. Vai sacrificar é a pobreza, a empregabilidade e uma série de coisas”.

Todo a sua argumentação foi desenvolvida para afirmar categoricamente que o sistema financeiro afeta diretamente a vida de todo cidadão. Por isso, a necessidade de se criar meios de acesso a este, para além da mera bancarização132. Retomou, portanto, a crítica à lógica de acumulação privada e ao excesso de regulação exercida pelo sistema financeiro.

Agora, vá um cara pobre, trabalhador, que ganha salário mínimo, no Banco do Brasil – eu não vou falar do Banco do Nordeste não porque fica chato, tá aqui na mesa [Risos] [...] Bom, mas vá ele ou um pequeno produtor popular pedir um crédito... É sabido que não se consegue isso no sistema financeiro. E aí vem o governo, e eu nunca vi tanta gente solidária, tanta empresa com responsabilidade cidadã como eu tô vendo hoje. E isso de fato me emociona! Na instituição em que eu trabalho [BCB], tem um grupo de trabalho discutindo as microfinanças e as moedas sociais... um encantamento!!!

131A matéria publicada na Revista Exame (edição de setembro de 2010) reforça os dados expostos por Toscano,

conforme trecho a seguir: “A melhoria da renda do brasileiro aumentou o potencial de consumo das classes C e D, que já representam um mercado de R$ 834 bilhões, segundo levantamento feito pelo Instituto Data Popular”. De acordo com o referido Instituto, o critério para a classificação social é baseado na renda domiciliar per capita mensal, da seguinte forma: Classe A (renda domiciliar média de R$ 14.203,00); Classe B (renda domiciliar média de R$ 6.070,00); Classe C (renda domiciliar média de R$ 2.295,00); Classe D (renda domiciliar média de R$ 940,00); Classe E (renda domiciliar média de R$ 273,00). Matéria disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/classes-c-e-d-representam-mercado-de-r-800-bi>. Acesso em 15.jan.2015.

132 De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a bancarização se refere a dois indicadores

específicos: níveis de acesso a serviços financeiros e grau de uso desses serviços, enquanto a inclusão financeira é “[...] a condição essencial para o crescimento econômico sustentável, devendo ser materializada como um processo de bancarização da população de forma adequada às suas necessidades, contribuindo com sua qualidade de vida”. Disponível em: <https://www.febraban.org.br> Acesso em 15.jan.2015. Por outro lado, os sindicatos dos trabalhadores bancários assumem uma postura extremamente crítica ao processo de bancarização, principalmente pela ampliação dos serviços de correspondente bancário, conforme matéria divulgada pelo Sindicato dos Bancários do Distrito Federal: “Os CBs são empresas contratadas pelos bancos para prestação de serviços de atendimento a clientes e usuários dessas instituições. Entre eles, estão as casas lotéricas, redes de supermercados, drogarias, e até as agências dos Correios. No entanto, o processo de bancarização impulsionado pelas instituições financeiras, principalmente com a expansão dos correspondentes bancários, não é visto com bons olhos pelo Sindicato, que acredita que essa prática é uma forma de tirar os usuários de baixa renda de dentro das agências”. Disponível em: <http://www.bancariosdf.com.br/site/noticias-juridicas/os-pobres-e-a-bancarizacao> Acesso em 15.jan.2015.

Embora atenuando a crítica ao BNB (lembremo-nos de que o representante desta instituição estava ao seu lado na mesa), arrancou risos da plateia quando ironizou a posição do Banco Central e dos bancos comerciais, em geral, quanto a incluir financeiramente os pobres pela via das microfinanças e do microcrédito. Naquele momento, ao assumir o papel de sindicalista e dirigente do Sindicato Nacional dos funcionários do Banco Central, mais uma vez criticou o processo de bancarização, que ele denominou como “de cima”, baseado principalmente na figura dos correspondentes bancários, que atingem diretamente, a seu ver, os direitos conquistados pela categoria bancária, em detrimento de um processo de inclusão financeira que deveria ocorrer desde a base (“por baixo”), fundamentado em instituições financeiras de caráter local/territorial. Em suas palavras:

Eu tô dizendo isso não como funcionário do Banco Central, mas como diretor do Sindicato dos funcionários do Bacen e enquanto autor de um artigo na revista do sindicato essa semana, onde eu abordo a questão da inclusão financeira de cima e por baixo. Por baixo, é essa que a gente tá tentando fazer aqui; e de cima é o que se está se tentando fazer com os correspondentes bancários, pra prestar alguns poucos serviços financeiros à população. Só que aí é fazer festa com o chapéu alheio, porque, ao fazer isso, você está pegando o funcionário de lotérica, de posto de gasolina, farmácia, e outros pontos de venda para prestar serviços que são tipicamente de bancários e passar por cima de conquistas históricas do movimento sindical bancário, que instituiu jornada de trabalho, quebra de caixa, seguro contra risco de caixa etc. Então, esse pessoal tá fazendo essa atividade e quem ganha com esse processo são os bancos, que colocam seus correspondentes pra prestar serviços onde eles não interessam chegar, porque a lucratividade é baixa, e alguém paga a conta. E eu não acho que seja justo que a população possa se beneficiar sacrificando conquistas históricas de uma categoria. Tenho me insurgido e continuarei enquanto força tiver. A bancarização foi um passo? Foi sim! O microcrédito é um passo? É sim, senhor! Todavia, é necessário que se entenda o acesso a serviços financeiros como uma questão de direito. Todo cidadão tem direito a acessar serviços do sistema financeiro! Embora reconhecendo os avanços proporcionados pela bancarização e ampliação do microcrédito no que se refere ao acesso da população aos serviços financeiros, Toscano inscreve a discussão no campo dos direitos de cidadania previstos na Constituição Federal (artigo 192) e alerta para os conflitos advindos desse processo, principalmente no ataque aos direitos dos trabalhadores bancários, uma vez que os serviços prestados pelos correspondentes bancários geralmente envolvem trabalhadores do setor do comércio varejista, reduzindo consideravelmente os custos com pessoal.

Aqui mais uma vez sua exaltação é visível tanto na expressão facial avermelhada como na intensidade do tom de voz, ao lançar mais premissas e informações sobre as lógicas conflitantes de funcionamento das finanças convencionais e das finanças populares e solidárias. Citando o Banco Palmas como experiência exemplar, anunciou também os desafios postos à sua consolidação e ao papel desempenhado por instituições dessa natureza, com ênfase na

ausência de um marco regulatório e na criação de instituições regidas por outra lógica que não a de mercado:

E a solução [para a inclusão financeira] via instituições bancárias convencionais não vai se fazer chegar numa cidadezinha com dez mil habitantes lá na Amazônia uma agência bancária [...] E o que é que essa cidade precisa? Como diversos bairros de diversas capitais precisam? Precisa de instituições bancárias de caráter local, não destinadas à lucratividade. O banco Palmas é um exemplo disso. Só que o Palmas, assim como os outros bancos comunitários, não podem captar poupança, não podem vender seguros, não podem fazer empréstimo para comprar um vestido de noiva, não pode socorrer famílias vítimas de desarranjos financeiros momentâneos. Nós ficamos sem um marco normativo específico para os bancos comunitários e bancos populares [...] Eu acho que 70 milhões de brasileiros desbancarizados hoje merecem um tratamento mais respeitoso. Porque essa questão do crédito, do acesso a serviços financeiros, que tá lá na Constituição, que caberia ao sistema financeiro promover o desenvolvimento sustentável no país, inclusive, regional. Isso nunca, nunca foi observado e não será por mecanismos de mercado que fará com que isso aconteça. Fortalecendo a linha de argumentação crítica sobre a inclusão financeira nos moldes do mercado, a qual amplia e aprofunda as desigualdades existentes, o palestrante mais uma vez menciona o direito constitucional que se encontra assegurado apenas no plano abstrato e, para alcançá-la de fato, ou seja, para rotinizá-la (no dizer de Alcântara, 2009), o fortalecimento dos bancos comunitários e demais iniciativas de finanças solidárias é condição sine qua non. Assim, defende o subsídio público dos referidos serviços financeiros de base solidária, pela via das políticas públicas de Estado, enaltecendo o papel desempenhado pela Senaes/MTE, embora reconhecendo as tensões existentes no relacionamento do governo com os movimentos sociais no contexto vivenciado, notadamente desde o governo do Presidente Lula, fenômeno abordado por vários autores, como Singer (2012) e Druck (2006). Nas palavras de Toscano:

A economia popular, os bancos comunitários, os fundos solidários e tal necessitam de recursos para sua carteira de empréstimo, de treinamento, capacitação, aporte, suporte. Precisam, em português muito simples: que o resto da sociedade, via Estado, coloque “grana”; subsidiem essa atividade, porque nesse país todas as atividades econômicas que se consolidaram, que se expandiram, receberam subsídio. Por que não a economia popular? [...] Precisa ter políticas públicas de Estado e não de governo. Nós estamos com oito anos e não temos uma política consolidada nessa direção. E aqui uma nota muito especial de apreço ao pessoal que tá lá Senaes, porque vieram de uma experiência de base local muito grande. Não é porque eles estão lá que a gente vai deixar de bater nas portas. A gente liga pra eles, e eles recebem a gente com a maior alegria possível, mas [...] tem uma distinção muito nítida entre movimento social e governo: a demanda da sociedade é absolutamente distinta da do Estado.

Ao enfatizar a polêmica pela qual atravessam diversos setores do governo, retoma o foco e encaminha sua intervenção para tratar do projeto de lei proposto pela Deputada Luiza Erundina (PSB), que cria o segmento nacional das finanças populares e solidárias, em tramitação desde 2007. Os entraves, em sua opinião, são de ordem política, fato que ameaça a sustentação de um projeto de mudança no país baseado em políticas mais consistentes de

enfrentamento à situação de pobreza, não apenas àquela de corte assistencial, a exemplo do Programa Bolsa Família. Para ele, seria importante pensar nas “portas de saída” dos programas de transferência de renda:

Eu vim aqui a pedido da Deputada Luiza Erundina pra falar desse projeto [...] E esse projeto está desde 2007 – três anos, portanto! Nós vamos terminar o governo, e nós não estamos com isso consolidado [...] Não vamos ter consolidado nenhum mecanismo, nenhum instrumento de combate ou de reversão... não vamos ter nenhum mecanismo de mudança na dinâmica de empobrecimento desse país. Se assumisse um governo maluco que resolvesse acabar com o Bolsa Família (que no meu entendimento é pífio, deveria ser 3 vezes mais de recurso, porque se os banqueiros recebem porque se dá subsídios violentos a outros setores, por que não pode dar à população injustiçada secularmente nesse país? No dia que resolverem acabar isso ou pelo menos congelar... sabem o que vai acontecer? Eu vou deixar vocês pensando nisso e não vou mais falar mais porque eu não quero me alongar. Vocês sabem muito bem! Está mais do que provado que ele é fundamental [...] E tem essa coisa dos intelectuais que falam na porta de saída do Bolsa Família. E o que é a “porta de saída”? Ou seja, o pessoal que tá aí recebendo o Bolsa Família, vai chegar o tempo em que ele vai ter que andar com as próprias pernas. Vamos falar sério! Ou seja, você tem que ter política assistencial e também política estrutural, nas comunidades, nos territórios. E o instrumento poderoso pra isso é a instituição bancária, notadamente se ela for um banco de desenvolvimento.

Sentado à sua direita, encontrava-se Sérgio Paz, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que aparentava concordar com o teor de sua exposição. Os demais componentes da mesa faziam anotações e pareciam um pouco impactados com o teor da argumentação, possivelmente pelas ações que poderiam ser feitas pelos bancos, principalmente os bancos de desenvolvimento, como o BNB e o BNDES.

Ao finalizar sua exposição, menciona o projeto de lei e, mais uma vez se desculpa pelo que considerou de “tom emocionado”, afirmando que: “[...] eu não consigo abraçar o discurso técnico, porque eu acho que fazer política ou discutir política se faz com emoção [...] Eu acho que a gente precisa dar passos decisivos”.

Apenas no debate é que o projeto foi tratado com mais ênfase, a partir de questionamentos colocados pelos participantes. O referido projeto visa regulamentar o setor das finanças populares e solidárias, integrando os bancos comunitários e demais experiências, a fim de criar as institucionalidades necessárias ao seu desenvolvimento. Com base na proposta contida no projeto de lei, os bancos prestariam uma série de serviços financeiros que atualmente lhes são vedados pelo Banco Central. Nesse sentido, o projeto sugere o conceito de “banco de desenvolvimento solidário”, para distingui-lo dos demais tipos de banco, cujo foco não é a lucratividade privada, mas a autossustentação local por meio de várias atividades para além dos serviços financeiros em si. A seguir, apresentou o perfil desses bancos:

de poupança e crédito sem foco na lucratividade privada e que possibilitasse a essas comunidades ter acesso a serviços financeiros diversificados e pegar suas pequenas economias (que os bancos recusam): 10 ou 20 reais que sobra no final do mês (quando sobra) para emprestar para os pequenos comerciantes que tem que descontar os seus “chequinhos” na factoring (que cobra 10%) pra fazer isso, ou capital de giro etc. Ou seja, é um banco de desenvolvimento solidário. Eles fogem aos objetivos de um banco convencional. Primeiro porque quem é dono desses bancos é a própria comunidade e tem uma série de regramentos (eles só podem ter até tanto – em reais). Segundo, eles prestam outros serviços que não aqueles estritamente financeiros. Terceiro, eles não têm finalidade de lucro privado. É lógico que eles têm que ser sustentáveis. É lógico que o governo deverá ter uma política de estímulo ao desenvolvimento desses bancos, e eles vão seguindo metas até eles se consolidarem como toda e qualquer atividade na vida. Eles podem prestar uma série de serviços: captar poupança, vender títulos de capitalização, financiar pequenas atividades domésticas, transacionar moedas sociais, receber contas, fazer pagamentos, atuar junto ao Pronaf, pagar pensões... evitando que pessoas se desloquem até mais de cem quilômetros para receber no outro município. Atuar financiando cadeias produtivas. Enfim, uma gama de serviços. A questão central é a seguinte: quem é que regulamenta a atuação desses bancos. O Palmas não precisa ser um banco popular de desenvolvimento solidário se assim não desejar. O projeto de lei diz o seguinte: na medida em que vocês achem que nossas regras fornecem um marco regulatório para a sua atuação, você pode solicitar. É óbvio que você vai ter que cumprir uma série de regramentos [...]. Aí se você acha que aquilo é interessante pra você, então você adere.

Um dos pontos de inflexão política, ao que parece, está relacionado, dentre outras coisas, à criação de um Conselho próprio, desvinculado do Conselho Nacional de Política Monetária. Esse Conselho (das Finanças Populares e Solidárias) seria composto por entidades da sociedade civil e do governo, a fim de tratar das especificidades do setor e do funcionamento dos “bancos de desenvolvimento solidário”, que, pelo menos a princípio, não se constituiriam numa ameaça ou numa oposição ao funcionamento do sistema financeiro. Ao contrário, seriam “complementares”, como afirmou Joaquim Melo no I Painel do evento, realizado no dia anterior: