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A abertura econômica e reestruturação da base industrial – década de 1990

2 A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA UNIVERSITÁRIA E DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO NSI

3.2 Constituição e Organização da Base Industrial Brasileira

3.2.4 A abertura econômica e reestruturação da base industrial – década de 1990

Na década de 1990, houve uma tentativa fracassada de implementação de uma política de incentivo à indústria, a Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE). As únicas diretrizes implantadas dessa política foram a desregulamentação das importações e a redução das tarifas, que juntas promoveram a abertura econômica do país e com isso a indústria localizada no país perde a proteção que gozava dentro do mercado interno e passa a enfrentar a concorrência de produtos estrangeiros de melhor qualidade, modernos e mais baratos. Suzigan e Furtado (2006, p. 172-173) mostram que com o Plano Real em 1994, com a abertura ao investimento estrangeiro e com as sucessivas privatizações70:

“mudou radicalmente o ambiente econômico, submetendo a indústria, enfraquecida por muitos anos de estagnação, à concorrência predatória de importações e investimentos estrangeiros, resultando em fortes processos de desnacionalização, conflitos entre Estado e entidades representativas das empresas, fortes pressões setoriais por proteção (e. g. automobilística), crise do federalismo devido às políticas estaduais de atração de investimentos que ocupavam o espaço vazio da PI, baixo dinamismo da indústria que lutava para se ajustar ao novo quadro, desemprego crescente e enfraquecimento dos sindicatos trabalhistas”.

A abertura da economia na década de 1990 sem um planejamento e preparação prévia não favoreceu o desenvolvimento da indústria, por ela não estar capacitada para enfrentar a forte concorrência global. No entanto, esse processo alertou o empresariado da importância de investir em novas tecnologias e novos produtos, mas essa consciência, até o momento, atingiu uma pequena parcela. A indústria começa então aos poucos se reestruturar para enfrentar essa nova

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Os autores afirmam que com essas medidas o Estado abandona o papel de “agente do desenvolvimento industrial” e conseqüentemente o sistema de fomento à indústria.

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realidade, redefinindo suas estratégias e incorporando em suas metas a aquisição de novas tecnologias e aumento da eficiência da produção. É possível afirmar que apenas recentemente é que parte das empresas industriais (ainda que uma pequena parcela) efetivamente incorpora a atividade inovativa em sua estratégia.

O protecionismo exacerbado observado nas primeiras décadas do processo de industrialização, ao mesmo tempo em que impulsionou o crescimento e o surgimento da atividade industrial, também prejudicou o seu desenvolvimento, em especial o tecnológico. Nelson (2006b, p. 446) afirma que o protecionismo à indústria instalada no país nem sempre impulsiona o desenvolvimento, pois “se as empresas não competem no mercado mundial nunca chegam a competir fortemente”. O protecionismo à indústria nascente precisa ser acompanhado de uma estrutura de educação e treinamento que prepare mão-de-obra qualificada para trabalhar nessas indústrias e ajudar no desenvolvimento da produção; e também são necessárias políticas governamentais de incentivo para que essas indústrias comecem a competir no mercado externo. Nelson (2006b) cita a Coréia e o Japão como casos de sucesso no desenvolvimento de sua base industrial através de mecanismos protecionistas, como apresentado na seção 3.1 deste capítulo. Entretanto, as empresas instaladas nesses países, principalmente as coreanas, investiram em produção de conhecimento através da engenharia reversa, por exemplo71.

Diferentemente no Brasil, o protecionismo serviu como enclave da produção industrial nacional. As empresas não se preocuparam em se preparar para competir no mercado mundial e não tiveram uma estrutura de treinamento e produção de conhecimento compatível com o seu desenvolvimento. Esses fatores contribuíram para que o empresariado nacional tenha surgido e se desenvolvido desinteressado e sem entender a importância do investimento em produção de tecnologias internas. O maior esforço observado tinha como foco adquirir conhecimento de como utilizar os equipamentos importados. De acordo com Silveira (2001, p. 157):

“Nesse sentido é que se pode dizer que o progresso técnico nesse período foi incorporado principalmente a partir da aquisição de bens de capital e que o esforço tecnológico deteve-se nos aspectos mais simples, como as engenharias de processo e

71 Kim (2005, p. 288) aponta que a partir da década de 1960, “com base em sua mão-de-obra barata, mas bem-

educada e dedicada ao trabalho, as empresas coreanas utilizaram a engenharia reversa para imitar tecnologias estrangeiras maduras e intensivas em mão-de-obra. A maioria dos produtos desse período resultou de produtos estrangeiros”.

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produto, a adaptação dos equipamentos a características locais e a realização de alguns poucos serviços de tecnologia industrial básica”.

O interesse dos empresários limitava-se em saber produzir, o investimento em conhecimento se restringia a entender o processo de produção e não em criar novos conhecimentos, ou mesmo em aprimorar a tecnologia existente, até mesmo porque em alguns momentos era mais barato e seguro importar a tecnologia do que arriscar o investimento na produção própria.

A partir da abertura econômica do país, ficou mais evidente a necessidade das empresas nacionais investirem em criação e desenvolvimento de novas tecnologias como forma de aumentar a competitividade frente aos produtos estrangeiros. O governo percebeu que um ator importante para impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias era aproximar as empresas das universidades e das pesquisas científicas realizadas nesse ambiente72. Assim, o MCT, ministério recém-criado, com o intuito de aproximar os dois atores e estimular o gasto das empresas em C&T, lança em 1992 o Programa para apoiar a Capacitação Tecnológica Industrial (PACTI), com o objetivo de “estruturar os programas já existentes e dispersos, além de conceber novos esquemas” (Velho et al., 2004: p. 105).

A abertura sem políticas prévias de consolidação e aumento da competitividade da indústria instalada no país teve um efeito imediato nocivo à base industrial. Seguindo o proposto no início dessa seção, abaixo se encontra o quadro 3.2 que destaca os principais elementos do processo de origem e consolidação da indústria brasileira.

72 Velho et al. (2004) destacam que o investimento em C&T no Brasil em 1990-1992 estava muito abaixo dos países

desenvolvidos. Enquanto esses gastavam em torno de 3% do PIB em atividades de Ciência e Tecnologia, o Brasil gastava algo em torno de 1,23% do PIB. Sendo que nos países desenvolvidos entre 40% a 60% do gasto era despendido por empresas, no Brasil o governo era responsável por 75% desse gasto.

QUADRO 3.2

Principais etapas do processo de industrialização brasileiro

Período Participação da indústria na

economia Apoio à atividade industrial Setores relevantes

Proteção ao mercado

interno Tecnologia

Meados do século XIX até 1930

A atividade industrial era acessória e complementar à economia agro-exportadora.

A atividade industrial não tinha relevância na economia e as poucas indústrias que existiam tinham como função dar suporte à produção de bens

primários.

Nesse período há a predominância dos Bens

de Consumo Não- Duráveis

O mecanismo de proteção ao mercado interno se dava

principalmente via tarifas aduaneiras. Predominava a

importação de bens de consumo e, principalmente,

máquinas e insumos para a indústria nascente.

Até a década de 1930, não existia a produção de tecnologia no Brasil, mesmo porque a atividade industrial

ainda era acessória.

De 1930 até 1989

A atividade industrial passa a ser a atividade produtiva mais

importante da economia brasileira. A partir da década de

1980, a economia enfrentava uma desaceleração devido à uma crise que se iniciou com a

segunda crise do petróleo em 1979.

A partir da década de 30, percebe-se um incentivo, ainda que descoordenado, à atividade industrial.

O apoio efetivo à indústria inicia em meados da década de 50 com o Plano

de Metas de Juscelino Kubitschek. Com a crise da década de 1980, as políticas estavam voltadas para as

questões macroeconômicas e negligenciavam o desenvolvimento

industrial. Todo o apoio que vinha sendo observado nos últimos 50 anos é

interrompido com essa crise.

A partir da década de 30 os setores de insumos básico e bens de capital ganham importância na produção industrial.

Devido às desvalorizações cambiais e restrições

impostas por tarifas aduaneiras, a importação de

diversos produtos estava proibida ou impossibilitada.

Essa ação colaborou para o atraso tecnológico do país.

A tecnologia encontrada no país provinha de importações de máquinas e equipamentos. Mas a partir da década de 1970 já é possível detectar políticas de incentivo à produção de

tecnologias próprias em alguns setores, ainda que

esse estímulo fosse primário. A crise da década

de 1980 agrava o já baixo investimento em tecnologia

interna.

De 1990 até o período atual

A atividade industrial volta a apresentar sinais de aceleração,

com a abertura econômica as empresas tentam se reestruturar

e aos poucos a produção de tecnologia e conhecimento é incorporada ao seu cotidiano.

Voltam a surgir políticas de incentivo à indústria e, principalmente, ao desenvolvimento tecnológico dessas

empresas. Surgem políticas como a PITCE (2003) e PDP (2008). Base industrial diversificada com setores importantes no cenário internacional: Petróleo, Aeronáutica e Biotecnologia.

Nessa época inicia o processo de abertura econômica que consolida-

se com a implantação do Plano Real em 1994. A importação não enfrentava

problemas a não ser por oscilações do câmbio.

Com o processo de abertura econômica, a indústria

nacional alerta para a importância de investir em conhecimento e tecnologia. No mesmo período são estabelecidas políticas de

incentivo à interação universidade-indústria e às

atividades de P&D nas empresas industriais. Fonte: Elaboração própria.

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4 O PANORAMA ATUAL DA INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-