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A base industrial nascente entre meados do século XIX e início da década de

2 A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA UNIVERSITÁRIA E DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO NSI

3.2 Constituição e Organização da Base Industrial Brasileira

3.2.1 A base industrial nascente entre meados do século XIX e início da década de

O sistema produtivo brasileiro teve início com atividades extrativas e agrícolas, nestas últimas com destaque para a produção de cana-de-açúcar e de café. As lavouras eram primitivas, intensivas em mão-de-obra e utilizavam máquinas simples56. Ao retratar a atividade econômica no Brasil em meados do século XIX, Foot e Leonardi (1982, p. 40) destacam que “na agricultura, as técnicas eram primitivas e a produtividade baixa. Nem a mecanização, nem os fertilizantes eram conhecidos”. A indústria, por sua vez, era pouco desenvolvida.

No início do século XIX surgiram empresas industriais de pequeno porte que não resistiram por muito tempo. A economia era baseada na exportação de bens primários como açúcar e café e a pouca indústria existente servia como atividade de apoio e complemento à atividade agrícola57. Foot e Leonardi (1982, p. 23) afirmam que “durante os três primeiros séculos de nossa história, as atividades industriais (aqui entendidas no sentido genérico do termo) reduziram-se, praticamente, à fabricação do açúcar nos engenhos e à mineração”. Os autores afirmam que as atividades desenvolvidas além das atividades ligadas à mineração e à lavoura eram atividades “acessórias” e exerciam papel secundário na economia.

55 Um quadro será apresentado no final desta seção (quadro 3.2), a fim de destacar os elementos mais importantes

desse processo.

56 É importante ressaltar que até 1888 era utilizada predominantemente a mão-de-obra escrava.

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De acordo com Furtado (1964, p. 118), na década de 1830 o café torna-se o principal produto da exportação brasileira.

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A acumulação de capital no Brasil, no entanto, acelerou-se na década de 1880 em que a mão-de- obra escrava foi gradualmente substituída pela mão-de-obra assalariada. Nesse período ocorreu a modernização da lavoura cafeeira com a introdução de máquinas de beneficiar café e a construção de um sistema de transporte ferroviário (Suzigan, 2000). Foram estas mudanças (melhoria da qualidade do café e redução de custo de transporte) que propiciaram as condições para o acúmulo do capital que foi investido no setor industrial, pois até meados do século XIX o investimento na indústria de transformação era muito limitado (Suzigan, 2000). De acordo com o autor (p. 36), “tais condições [melhoria da qualidade do café e redução de custo de transporte] compreendem a prévia acumulação de capital para investimento no setor industrial, a formação de um mercado de trabalho livre, a criação de um mercado interno para produtos industrializados e a capacidade de importar bens de salário, matérias-primas e maquinaria”. Destaca-se nesse período o investimento de empresas inglesas na indústria ligada ao setor cafeeiro (Curado; Cruz, 2008). Os autores destacam que nesse período ainda não se observava um alto número de multinacionais, a maior parte do investimento externo estava concentrado no setor de serviços.

O crescimento das exportações de café e algodão no final do século XIX é que impulsionou o investimento industrial brasileiro. Surgem, nesse período, novas fábricas no país dando início a uma primeira tentativa de iniciar um processo de industrialização. É importante destacar que esse processo foi complexo e é possível encontrar na literatura especializada diferentes abordagens sobre esse tema58.

Suzigan (2000) adverte que a falta de dados sistemáticos referentes a investimentos industriais no século XIX dificulta a avaliação do início do processo de industrialização no Brasil. Para avaliar as tendências do investimento na indústria de transformação no período de 1869 a 1939, o autor (2000, p; 80) utiliza uma estimativa elaborada a partir dos “dados de exportação de máquinas e equipamentos industriais para o Brasil, agregando-se os dados dos principais supridores, a saber, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha e França”.

Os resultados apresentados pelo autor mostram que os setores que desenvolveram no final do século XIX no Brasil concentravam-se em indústrias existentes em outros países desde o século

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É importante ressaltar que o foco deste capítulo é mostrar que o setor produtivo no Brasil, desde seus primórdios, foi um baixo demandante de tecnologia utilizando processos simples de produção e maquinaria importada.

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XVIII e que, portanto, utilizavam tecnologias mais conhecidas e mais simples. Essas empresas estavam concentradas em sua maioria, mas não apenas, em setores de bens de consumo (têxtil, vestuário, alimentos) e de metal mecânica – ferramentas, implementos agrícolas, pregos e parafusos; canos de chumbo; peças e acessórios para vagões ferroviários e bondes. Não foi observado, no entanto, o desenvolvimento de indústrias mais sofisticadas tecnologicamente, como as de bens de capital, por exemplo. Suzigan (2000, p.38) explica que “a procura de bens de capital era dirigida aos países do centro, e a indústria interna de bens de capital não se desenvolveu, impedindo assim a autonomia da acumulação do capital industrial”.

Foot e Leonardi (1982) enfatizam o atraso brasileiro no seu processo de industrialização ao mostrarem que ao mesmo tempo em que surgiam os estabelecimentos fabris no Brasil (final do século XIX), países como Inglaterra, Alemanha e outros já sofriam os efeitos da Revolução Industrial há mais de um século. “Tratava-se, porém, de uma ‘industrialização’ que possuía características bem diferentes daquelas assumidas pelo mesmo processo na Inglaterra, na Alemanha e outros países da Europa, nos Estados Unidos e Japão” (Foot; Leonardi, 1982: p.23). Essas informações levam à conclusão de que a origem da indústria brasileira foi marcada por um movimento retardatário frente ao desenvolvimento observado em outros países, em especial nos mais avançados59.

Até 1913, percebe-se no Brasil que a indústria nascente se concentrava nas atividades de suporte à agricultura (em especial à produção de café). Os setores que se desenvolviam no Brasil (têxtil, vestuário, alimentos, metal mecânica, por exemplo) utilizavam tecnologia simples e não demandavam produção de conhecimento para seu desenvolvimento ou para criar competitividade dos produtos. As empresas instaladas no Brasil limitavam-se em importar a tecnologia dos países que já estavam em um estágio mais avançado de desenvolvimento desses setores. Curado e Cruz (2008) destacam que o capital entrante no país nesse período também se concentrava no apoio à atividade de exportação cafeeira, portanto, os setores que estavam à frente do conhecimento tecnológico desse período (indústria química básica, indústria mecânica e de material elétrico) não integraram a base industrial brasileira até o início da I Guerra Mundial.

59 Além de destacar o atraso no desenvolvimento da indústria no Brasil, é importante lembrar que nesse período

começavam a surgir, como mostrado no capítulo 2, institutos de pesquisa com foco na produção agrícola e áreas da saúde. Entretanto, esses institutos limitavam suas ações no entendimento de conhecimentos externos ou centravam suas pesquisas em temas que não colaboravam com a base industrial nascente nesse período.

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A partir de 1913 a economia mundial enfrentou uma crise que foi agravada com a I Guerra Mundial (1914-1918) e influenciou o comércio exterior. Na literatura especializada é encontrada uma corrente de autores que afirmam que no período da Primeira Grande Guerra observou-se uma intensificação no processo de industrialização brasileiro60. Entretanto, essa perspectiva se baseia nos dados de produção industrial. Villela e Suzigan (2001), por sua vez, ao relatarem os efeitos da crise do comércio exterior de 1913, afirmam que essa crise provocou dois efeitos na base industrial brasileira: ao mesmo tempo em que aconteceu um aumento na produção industrial, o mesmo não é percebido na capacidade produtiva devido à dificuldade de importações dos insumos industriais (que ainda não eram produzidos no Brasil).

Por outro lado, nos dados apresentados em Silva (1976) percebe-se um expressivo crescimento em número de indústrias manufatureiras em 1920 se comparado a 1907. Esse movimento parte de uma iniciativa privada como forma de diversificação de investimentos que resulta em crescimento e diversificação do parque industrial brasileiro. Suzigan e Szmrecsányi (1996) afirmam que nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial e durante a década de 1920 é possível observar maiores e mais freqüentes entradas de investimentos estrangeiros diretos (IDE) na indústria de transformação, que segundo os autores, caracteriza um segundo impulso no desenvolvimento industrial do país.

Entretanto, Versiani e Suzigan (1990) destacam que na década de 1920, os setores de bens de consumo não-duráveis (Têxtil, Alimentos, Vestuário, Calçados e Bebidas) respondem por cerca de 70% do valor adicionado na indústria de transformação, conforme mostra a tabela 3.5 mais adiante. Os autores (1990, p. 9) mostram que essas indústrias, exceto a têxtil, eram “constituídas principalmente de estabelecimentos de pequena escala, utilizando métodos de produção semi- artesanais”. Assim sendo, ainda que nesse período o número de indústrias manufatureiras tenha aumentado essa expansão não se traduziu em empresas mais modernas, ao contrário, eram empresas que utilizavam técnicas de produção mais simples e atrasadas, não estavam na fronteira do conhecimento.

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Villela e Suzigan (2001) mostram que essa perspectiva é defendida por autores como Roberto Simonsen, Caio Prado Junior, dentre outros.

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O Quadro 3.1 abaixo, extraído de Suzigan (2000, p.120), apresenta as indústrias existentes no Brasil antes e depois da Primeira Guerra Mundial. Os setores apresentados no quadro evidenciam que antes da Primeira Grande Guerra os setores existentes eram complementares ou subsidiários do setor exportador de bens primários (em especial à exportação de café) e não contavam com tecnologias avançadas. “Essas indústrias produziam, na maior parte, bens de consumo para alimentar e vestir a força de trabalho, sacaria para enfardar produtos agrícolas para exportação, máquinas leves e implementos para a agricultura, máquinas para beneficiamento de produtos agrícolas, ferramentas e utensílios, equipamentos leves de transporte (carroças, vagões, barcos a vela), etc” (Suzigan, 2000: p. 120). Ainda que o setor industrial começa a ganhar maior espaço a partir da I Guerra Mundial, ele ainda não estava voltado para a exportação, deste modo, a busca pela competitividade dessas empresas através do investimento em modernização do seu processo ou produtos era fraca, podendo afirmar que o investimento nesse tipo de atividade era quase nulo. O quadro abaixo sugere que o Brasil continuava dependente da importação de bens de capital.

No período posterior à guerra, contudo, observa-se que houve uma diversificação e sofisticação dos ramos industriais. É a partir desse período que a economia brasileira gradativamente deixa de ser predominantemente agrícola e a produção industrial ganha destaque, em especial depois da Grande Depressão e da crise do café. A indústria se torna líder do crescimento econômico quando o processo de industrialização brasileiro intensifica-se voltado para o mercado interno. Em Villela e Suzigan (2001) é destacado que no período de 1929-1939 a agricultura cresceu em média 2,2% ao ano e a indústria, por outro lado, apresentou uma taxa de crescimento anual média de 8,4%. Esses dados sugerem que nesse período a atividade agrícola foi em grande medida substituída pela produção industrial.

Apesar da contínua dependência da economia brasileira ao setor exportador e à importação de máquinas e insumos industriais, a partir dos anos 20 aumentou o investimento nas indústrias de produção de insumos básicos como: cimento, ferro, aço, etc. “No entanto, os investimentos na indústria de transformação já não eram simplesmente complementares ou subsidiários à economia exportadora de produtos agrícolas, mas estavam crescentemente relacionados com o crescimento da demanda interna por matérias-primas industriais (cimento, ferro e aço, produtos químicos, papel e pasta, etc.) e maquinaria em geral (para agricultura, indústria, construção, etc.)” (Suzigan, 2000: p. 121).

69 QUADRO 3.1

Principais setores industriais desenvolvidos no Brasil no período anterior e no posterior à Primeira Guerra Mundial

Período anterior à Primeira Guerra Período posterior à Primeira Guerra

Têxteis: algodão, juta e lã Cimento

Chapéus Ferro e aço

Calçados Moinhos de trigo

Fabricação e Refino de Açúcar

Metalmecânicas II (máquinas agrícolas pesadas, máquinas industriais, aparelhos elétricos, equipamentos de construção e de transporte, etc.)

Cervejarias Papel e Celulose

Produtos de Borracha Química e Farmacêutica Óleo de caroço de algodão Metalmecânicas I (moendas e peças para engenhos de

açúcar, moinhos para cereais, máquinas para beneficiar café e arroz, máquinas leves para

agricultura, ferramentas e utensílios, etc.) Têxteis: seda e raiom

Fósforos Carnes: congeladas e industrializadas

Outras indústrias (vestuário, sabões e velas, artigos de vidro, mobiliário, produtos alimentícios, cigarros,

editorial e gráfica)

Fonte: Suzigan (2000, p. 120).

3.2.2 O período de aceleração da industrialização – década de 1930 a 1979

A partir da década de 30, o processo de diversificação do parque industrial intensifica-se e aumenta a entrada de empresas estrangeiras no país, porém ainda não existia uma política específica e coordenada de incentivo ao desenvolvimento da indústria nacional. Tavares (1981, p. 59) afirma que o “largo período que transcorreu até a recuperação mundial seguido da Segunda Guerra Mundial obrigou a economia do país a voltar-se sobre si mesma desenvolvendo novas atividades produtivas, com apoio em faixas de demanda interna até então atendidas pelas importações”.

A crise que se estabelece a partir de 1929 levou a uma supressão do setor exportador, colocando a economia cafeeira em apuros. A partir desse cenário, pela primeira vez a economia brasileira volta-se para o seu mercado interno e impulsiona o investimento em atividades produtivas que atendesse a demanda interna, em especial atividades ligadas ao setor industrial (Furtado, 1964; Suzigan, 2000). Mas ainda que a depressão de 1929 estimule o desenvolvimento da indústria no Brasil, esse crescimento não veio acompanhado por uma política específica de incentivo à produção industrial.

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Esse período, deste modo, é caracterizado por uma maior participação da atividade industrial no resultado da economia. Furtado (1964) ressalta que a crise de 1929 estimulou o desenvolvimento da indústria baseada no mercado interno, mas ele atenta para o fato que esse crescimento não significou o aumento da capacidade produtiva e sim da produção. A alta nos preços de bens de capital (setor ainda não existente no parque industrial brasileiro) inibiu a expansão da capacidade produtiva. E muitas das empresas fundadas nesse período foram construídas com equipamentos usados de fábricas que fecharam nos países desenvolvidos61, pois eles custavam mais barato que os equipamentos novos e de tecnologia de ponta.

A partir desse cenário, observa-se a expansão do parque industrial brasileiro. Villela e Suzigan (2001) também afirmam que o crescimento e diversificação industrial observados a partir da década de 1930 é resultado dos investimentos realizados na década de 1920 em indústrias básicas (como cimento e metalúrgica) e da proteção à indústria nacional decorrente da política cambial, na década de 1920. Assim, estimulada na década de 30, a industrialização brasileira foi incentivada pela substituição de importações. Esse processo de substituição de importações, conforme já ressaltado, resultou em uma diversificação do parque industrial nacional e em elevadas taxas de crescimento do setor (Tavares, 1981).

Malan et al. (1977) analisam os efeitos da política de substituição de importações da década de 1930 e relatam que o sucesso do modelo de desenvolvimento via substituição de importações está ligado a três fatores principais: a elevação do preço relativo dos produtos importados em relação aos produtos nacionais; depreciação cambial; e altas tarifas alfandegárias como meio de proteção às indústrias instaladas no Brasil e barreiras quantitativas à entrada de produtos importados. Os autores (1977, p.281) utilizam dados censitários de 1919 e 1939 para mostrar o processo de diversificação industrial e ressaltam que a falta de dados referentes à década de 1920 dificulta a análise dos dados e requer cautela nas interpretações. Entretanto, os resultados servem de estimativa da mudança na estrutura industrial e do portfólio de exportações. Os dados estão apresentados de forma agregada na tabela 3.1 abaixo – as indústrias estão classificadas por categoria de uso – e na tabela 3.1A, que está no apêndice, eles aparecem de forma desagregada, por setor de atividade.

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Ao destacar a despreocupação em equipar as fábricas com tecnologias ultrapassadas, Furtado ressalta a falta de interesse do empresariado brasileiro em investir em tecnologias de ponta.

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A tabela 3.1 enfatiza que houve significativa diferença na composição industrial, principalmente nos Bens de Consumo Não-Duráveis e Bens Intermediários. Malan et al. (1977, p. 282) ressaltam que “os maiores ganhos relativos na estrutura industrial estariam localizados na categoria dos bens intermediários”. Esses dados mostram que nesse período instalam-se no Brasil novos setores e alguns com maior intensidade tecnológica, com o setor de Bens de Capital e de Bens Intermediários, ainda que a produção industrial ainda seja predominantemente de Bens de Consumo Não-Duráveis.

A tabela 3.1 e 3.1A mostram ainda o início da instalação de um setor de bens de capital. Ainda que tímida, a implantação dessa indústria foi resultado da necessidade de produzir alguns tipos de máquinas e equipamentos para suprir o mercado interno devido à dificuldade de importação já citada anteriormente (Furtado, 1964).

A partir da década de 1920, inicia a discussão no ambiente científico sobre a necessidade de constituir uma universidade que tivesse em sua missão a união do ensino e da atividade de pesquisa, para assim servir de suporte para a formação da indústria nascente (seja através da formação de recursos humanos competentes para encontrar soluções para a indústria ou como cientistas para desenvolver conhecimento que auxiliasse a indústria nacional a se integrar com as empresas líderes de tecnologia dos países desenvolvidos. Esse debate acentua-se na década de 1930 e culmina com a criação da USP em 1934. Entretanto, a composição industrial mostrada na tabela 3.1A evidencia que o parque industrial brasileiro ainda estava concentrado em setores de tecnologia difundida, setores de bens de consumo não-duráveis (como a têxtil e a de alimentos, por exemplo) e que, deste modo, não demandavam conhecimento ou necessidade de investimento para a procura de novas tecnologias.

A tabela anexa 3.2A, extraída de Villela e Suzigan (2001, p. 236 – tabela VII.5), apresenta a taxa de crescimento da produção industrial dividida por setor de atividades no período de 1933 a 1939, tendo como base a produção de 1929. Os dados reafirmam o movimento de diversificação do parque industrial a partir da taxa de crescimento da produção industrial. Entretanto, os autores chamam atenção para a limitação da importação de máquinas para algumas indústrias no período de 1931 a 1937. Essa imposição fez com que a indústria crescesse nesse período sem o “necessário aperfeiçoamento técnico e à custa da sobre utilização da capacidade instalada”, como

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destacado acima, pois a produção de máquinas e equipamentos no país ainda era baixa (Villela; Suzigan, 2001, p. 216)62.

TABELA 3.1

Estrutura Industrial (a) Segundo Categorias de Uso (b) - 1919 e 1939

% Categorias e Gêneros

Industriais 1919 1939

Bens de Consumo Não-Duráveis 80,2 69,7

Bens de Consumo Duráveis 1,8 2,5

Bens Intermediários 16,5 22,9

Bens de Capital 1,5 4,9

Total 100,0 100,0

Fonte: Malan et al. (1977, p. 281) a Distribuição do Valor Adicionado

b Quando determinado gênero se enquadra em mais de uma categoria de uso, a participação das importações na oferta é repetida. Isto se deve a que o nível de agregação das importações utilizado no trabalho original é o de gênero industrial (dois dígitos). Ver também as notas das tabelas no trabalho original.

A utilização da capacidade ociosa da indústria nacional a partir da dificuldade de investimento na expansão da capacidade produtiva permitiu a acumulação de capital que impulsionou o crescimento da indústria nacional a partir da década de 1940 (Furtado, 1964; Malan et al., 1977). Malan et al. (1977) também atribui o crescimento industrial na década de 40 ao crescimento

demográfico e à formação do mercado interno para bens manufaturados63.

As indústrias básicas foram as que mais se desenvolveram também durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conforme é mostrado na tabela 3.2 abaixo, extraída de Villela e Suzigan (2001, p. 236). Os autores destacam nesse período a iniciativa do governo em fundar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda (no estado do Rio de Janeiro) como “uma das decisões mais importantes para a industrialização do País”, ainda que só tenha começado a produzir depois da guerra.

Acompanhando o ritmo da década de 30, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o crescimento industrial foi baseado na utilização da capacidade máxima das instalações industriais

62 Os autores citam o exemplo da indústria têxtil, que operava em três turnos na década de 30 para suprir a demanda

interna, apesar de seu atraso tecnológico. Estima-se que em 1939 as máquinas do setor possuíam mais de 10 anos.

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existentes e foi marcada pela limitação de importação de máquinas e equipamentos, que prejudicava a qualidade e comprometia o desenvolvimento tecnológico das indústrias. A partir do impulso inicial do início da década de 1930, percebeu-se que para manter o crescimento da indústria seriam necessárias políticas protecionistas que não permitissem que a recuperação da economia mundial alterasse a demanda por produtos nacionais em favor dos produtos importados. Furtado (1964, p.235) afirma que “a possibilidade de perdas de grandes proporções, ocasionadas pelo brusco barateamento das mercadorias concorrentes importadas, desencorajaria as inversões no setor ligado ao mercado interno”.

Malan et al. (1977) alegam que a redução na importação nas décadas de 30 e 40 levou a uma redução no ritmo de crescimento da atividade industrial, reafirmando a dependência da indústria brasileira à importação de bens de capital e intermediários. Os autores explicam que ainda que a redução nas importações seja um fator de impulso à industrialização nacional, ela também pode