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4 O PANORAMA ATUAL DA INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-INDÚSTRIA NO BRASIL

4.2 A estratégia de cooperação na visão das universidades a partir do Censo 2004 do Diretório dos

4.2.1 Metodologia

O levantamento dos dados dos grupos de pesquisa cadastrados no Diretório do CNPq foi realizado pela internet através do site do CNPq na Plataforma Lattes. Para a extração dos dados, foram realizadas, primeiramente, consultas ao “Plano Tabular” do Diretório. O Censo de 2004 refere-se às informações dos grupos na base corrente no dia 21/10/04. O trabalho de busca foi composto por duas etapas: a primeira no Censo 2004 do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq e a segunda na Base Corrente do Diretório.

A primeira etapa consistiu no levantamento dos grupos de pesquisa vinculados às universidades que se relacionaram com empresas e/ ou instituições. De acordo com o Censo 2004, 2.151 grupos de pesquisa declararam interagir com organizações do setor

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produtivo86. Esses grupos foram listados em uma base de dados com o nome da

instituição, seu estado, nome do grupo e nome dos líderes desses grupos.

As consultas realizadas no Censo 2004 disponibilizam os dados apenas de forma agregada, não permitindo o acesso ao nome das empresas com a qual cada grupo se relaciona e o tipo de relacionamento estabelecido. Assim, para que fosse possível investigar os micro-dados, a segunda etapa consistiu em consultas individuais na base corrente do Diretório para captar essas informações através do nome dos líderes de cada grupo de pesquisa.

Dado que o questionário é preenchido pelo pesquisador, as informações como o CNPJ das empresas podem estar erradas. Assim, para corrigir esse problema foi realizada uma busca no site de Receita Federal dos CNPJs encontrados na base de dados para confirmar as informações e assim acrescentar informações sobre o setor de atividade dessas instituições (Classificação CNAE 2.0). Foram encontrados 3.067 CNPJs de empresas, instituições de pesquisa, órgãos públicos, associações, etc. Após essa etapa foi possível montar um banco de dados com os grupos de pesquisa do país que declararam em 2004 possuir relacionamento com o setor empresarial e outros tipos de instituições.

A partir dos 2.151 grupos de pesquisa encontrados, foram identificados 8.817 relacionamentos com 3.067 instituições (CNPJs) no Censo 2004 do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Esses grupos de pesquisa estão distribuídos em 217 instituições localizadas em 24 estados e no Distrito Federal (Amapá e Rondônia não apresentam grupos de pesquisa com relacionamento com o setor produtivo no censo 2004).

Alguns problemas referentes à consulta à Base Corrente surgiram ao longo do processo de busca. Dos 2.151 grupos de pesquisa que constam na base, existem grupos de pesquisa que declararam possuir relacionamento com o setor empresarial no Censo 2004, mas não apresentam relacionamento na Base Corrente (o líder retirou a informação, seja porque o projeto já terminou, ou por outro motivo qualquer); durante a

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A expressão “setor produtivo” é utilizada pelo Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, entretanto os grupos de pesquisa declaram relacionamento com diversos tipos de instituições: prefeituras,

universidades, indústrias, ONGs, dentre outras. Como será explicado mais adiante para a análise dos dados foi realizada uma seleção que incluísse apenas empresas de setores industriais.

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busca, alguns grupos não estavam disponíveis para a consulta, não sendo possível a coleta de informações; o site do CNPq apresenta algumas empresas com problemas na consulta dos dados, não sendo possível acessar as informações referentes a esse tópico. Portanto, para as informações não disponíveis ou não existentes foi inserida a sigla “NA” (not available) no campo respectivo.

É importante lembrar ao analisar os dados que o questionário apresenta alguns problemas. Em primeiro lugar, por ser um questionário preenchido pelo pesquisador voluntariamente, ele pode ocultar relacionamentos existentes. Em trabalho realizado por Rapini et al. (2006), foram identificados grupos de pesquisa em Minas Gerais que possuíam relacionamento com empresas que por diversos motivos não disponibilizaram essa informação no questionário do CNPq. Portanto, pode-se afirmar que os dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa estão subestimados em relação ao universo de grupos de pesquisa que efetivamente interagem com empresas. Outro ponto importante a ser ressaltado é que as respostas dos questionários não sofrem qualquer tipo de certificação do CNPq, sendo de total responsabilidade do líder do grupo de pesquisa.

O formato do questionário também permite que sejam incluídas instituições não caracterizadas como uma empresa privada ou empresa pública e de economia mista, como destacado anteriormente. Foram incluídas instituições como universidades, associações, sindicatos, prefeituras, cooperativas e institutos. Para cumprir o propósito deste estudo de entender o relacionamento entre universidades e a indústria de transformação, foi realizada uma seleção nos dados de modo a excluir instituições que estivessem classificadas fora desse perfil87.

No questionário do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq existem 14 tipos de relacionamentos que podem ser escolhidos pelo líder para caracterizar o relacionamento com as empresas. O Quadro 1 apresenta os tipos de relacionamento disponíveis na base do CNPq. O diretório não disponibiliza o significado de cada um dos relacionamentos, ficando a critério dos líderes e de seus analistas a sua interpretação. Para este estudo os relacionamentos estão divididos em duas categorias. A primeira é a dos relacionamentos

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É importante lembrar que de acordo com a CNAE 2.0 a indústria de transformação se encontra classificada entre as divisões 10 e 33.

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originados dos Grupos de Pesquisa que beneficiam diretamente as empresas. Dentro

dessa categoria encontram-se nove tipos de relacionamento88:

• A atividade de consultoria técnica pode ser entendida como a contratação de um

grupo de pesquisa para a simples atividade de consultoria, como a solução de um problema prático, ou diagnóstico de problemas e gargalos que entravem o crescimento da empresa. Esse tipo de relacionamento não é marcado por produção ou troca direta de conhecimento. Mas a partir dessas atividades é possível que surja uma nova linha de pesquisa ou até mesmo um projeto de pesquisa em conjunto com a empresa;

• As atividades de engenharia não-rotineira consistem no desenvolvimento de

produtos e equipamentos em conjunto entre o grupo de pesquisa e a empresa. Essa atividade envolve a troca e produção de conhecimento em conjunto;

• O desenvolvimento de software para o parceiro envolve um acordo entre o grupo

de pesquisa e a empresa em que é desenvolvido em conjunto um software que atenda aos interesses da empresa. Nesse relacionamento é possível identificar movimentos de troca e produção de novos conhecimentos entre os parceiros;

• O fornecimento de insumos materiais pelo grupo de pesquisa pode ser visto

como um relacionamento de compra de produtos apenas, sem a troca ou produção de conhecimento. Até mesmo o aprendizado é um fator ausente nesse tipo de relacionamento;

• Outros tipos predominantes de relacionamento envolvem relacionamentos que

não estão citados nessa relação, como ensaios, testes, etc.;

• A pesquisa científica com consideração de uso imediato dos resultados pode ser

entendida como a contratação do grupo de pesquisa para solucionar um problema da empresa em conjunto com seus pesquisadores, ou para desenvolver um produto específico. Nesse tipo de relacionamento a troca e produção de conhecimento são mútuas e intensas;

• A pesquisa científica sem considerações de uso imediato é aquela em que os

grupos e empresas juntos desenvolvem novas linhas de pesquisa com o intuito de implantar inovações no mercado ou no processo de produção. Esse tipo de projeto tem como fundamento utilizar os conceitos da ciência básica e, se

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Ressalta-se que a interpretação desses relacionamentos é de responsabilidade da autora deste trabalho e não é pré-definido pelo CNPq.

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possível, contribuir para o avanço dessa área. Não tem como objetivo a solução de um problema prático e nem o desenvolvimento de produtos pré- determinados. Pode-se afirmar que é o tipo de relacionamento em que mais se observa a produção e troca de conhecimento entre os parceiros;

• A transferência de tecnologia desenvolvida pelo grupo pode ser caracterizada

pela compra de um pacote tecnológico desenvolvido no grupo (como o licenciamento de patentes) ou pela simples compra de produtos desenvolvidos no grupo de pesquisa. Apesar de ser caracterizado pela troca de conhecimento entre o grupo e a empresa, esse relacionamento pode apenas ser resultado de compra e venda de produtos, não influenciando nas atividades do grupo;

• O treinamento de pessoal do parceiro pelo grupo envolve o desenvolvimento de

dissertações de mestrado e teses de doutorado das empresas. Nesse caso é observada a troca e produção de conhecimentos úteis tanto para o grupo quanto para a empresa.

A outra categoria de relacionamentos abrange cinco tipos de relacionamentos em que as atividades fluem das empresas para os grupos de pesquisa. São eles:

• As atividades de engenharia não-rotineira podem ser entendidas como aquelas

em que a empresa desenvolve ou fabrica um determinado equipamento que será utilizado pelo grupo de pesquisa. Esse relacionamento envolve pouca troca e produção de conhecimento, mas a questão do aprendizado dos parceiros é importante;

• O desenvolvimento de software para o grupo de pesquisa envolve um acordo

entre ambos para o desenvolvimento de um software que atenda ao grupo de pesquisa. Percebe-se nesse tipo de relacionamento que existem troca e produção de novos conhecimentos entre os parceiros;

• O fornecimento de insumos materiais pela empresa é caracterizado por um

contrato de compra de produtos em que não há troca ou produção de conhecimento;

• A transferência de tecnologia desenvolvida pela empresa é entendida como a

compra de um pacote tecnológico pelo grupo ou pela compra de produtos desenvolvidos na empresa. Este relacionamento é caracterizado pela troca de

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conhecimento entre o grupo e a empresa, mas, por outro lado, pode ser entendido como um acordo de compra e venda de produtos;

• O treinamento de pessoal do grupo pelo parceiro pode ser visto como o

desenvolvimento de projetos de mestrado e doutorado dentro da empresa, ou mesmo um estágio para os pesquisadores do grupo. Isto é, existe a troca e produção de conhecimentos para o grupo e para a empresa.

O Quadro 4.1 abaixo resume os tipos de relacionamentos considerados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq.

QUADRO 4.1

Tipos de Relacionamentos entre empresas e universidades de acordo com o CNPq Originados dos Grupos de Pesquisa para Empresas

1 - Atividades de consultoria técnica não englobadas em qualquer das categorias anteriores

2 - Atividades de engenharia não-rotineira inclusive o desenvolvimento de protótipo, cabeça de série ou planta-piloto para o parceiro

3 - Desenvolvimento de software para o parceiro pelo grupo

4 - Fornecimento, pelo grupo, de insumos materiais para as atividades do parceiro sem vinculação a um projeto específico de interesse mútuo

5 - Outros tipos predominantes de relacionamento que não se enquadrem em nenhum dos anteriores 6 - Pesquisa científica com considerações de uso imediato dos resultados

7 - Pesquisa científica sem considerações de uso imediato dos resultados 8 - Transferência de tecnologia desenvolvida pelo grupo para o parceiro

9 - Treinamento de pessoal do parceiro pelo grupo, incluindo cursos e treinamento "em serviço" Originados das Empresas para os Grupos de Pesquisa

10 - Atividades de engenharia não-rotineira inclusive o desenvolvimento/fabricação de equipamentos para o grupo 11 - Desenvolvimento de software não-rotineiro para o grupo pelo parceiro

12 - Fornecimento, pelo parceiro, de insumos materiais para as atividades de pesquisa do grupo sem vinculação a um projeto específico de interesse mútuo

13 - Transferência de tecnologia desenvolvida pelo parceiro para o grupo

14 - Treinamento de pessoal do grupo pelo parceiro, incluindo cursos e treinamento "em serviço"

Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 2006 (elaboração própria)

Ressalta-se que o Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq não apresenta data de início e prazo de execução dos projetos, não sendo possível afirmar que os projetos declarados e as interações deles decorrentes ainda estão em andamento ou não, ou quanto tempo elas duram. Enfim, a base de dados utilizada nesta dissertação, depois da limpeza e correção de erros, é composta por 699 grupos de pesquisa, 1.094 empresas industriais e 2.766 relacionamentos.

No entanto, reitera-se que apesar dos problemas descritos, essa base apresenta um cenário detalhado sobre a situação do relacionamento entre empresas e universidades no

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Brasil em 2004, constituindo-se em um importante instrumento de análise da interação universidade-empresa. A base de dados construída contém as seguintes informações: instituição, Unidade Federativa do Grupo, nome do grupo de pesquisa, nome do líder, grande área do grupo de pesquisa, área de conhecimento, Nome da empresa, Unidade Federativa da empresa, cidade da empresa, CNPJ, Tipo de Relacionamento, Classe CNAE e Divisão CNAE.