• Nenhum resultado encontrado

A acomodação política nos países étnica ou culturalmente divididos

No documento DAHL,Robert,Sobre a Democracia.pdf (páginas 109-111)

Os arranjos criados em países dem ocráticos para assegurar 11111

grau satisfatório de acom odação política entre diferentes subcultu- ras caem m ais ou m enos em dois tipos - “dem ocracia de associa­ ção" e arranjos eleitorais.

As dem ocracias consociacionais resultam na form ação de

grandiosas coalisões de líderes políticos depois de eleições sob sistem as de representação proporcional que assegurem a cada sub- cultura uma parcela de assentos 110 Legislativo mais 011 m enos p ro ­ porcional ao relativo tam anho de seu voto. A principal autoridade nessa qu estão é A rend L ijph art, que nos dá uma b oa visão p a n o ­ râm ica em seu Democracy in Plural Socieíies: A Comparafire Exploration (N ew Ilaven e Londres, Yale U niversity Press, 1977, Cap. 3, p. 53-103).

Existiram sistem as de dem ocracia consociacional na Suíça, na Bélgica, na Holanda de mais ou m enos 1917 aos anos 1970 e na Á ustria, de 1945 a 1966. Os tipos de subculturas e os arranjos polí­ ticos para a obtenção do consenso eram diferentes em cada país. Os

suiços diferem entre si na língua m aterna (alem ão, francês, italiano e rom anche), 11a religião (protestante, católica) e no cantão. As di­ ferenças em língua e religião até certo ponto se entrelaçam : alguns alem ães são protestantes e alguns católicos, ao passo que alguns franceses são católicos e outros protestantes. Esse entrelaçam ento das diferenças atenuou os conflitos de língua e religião, que p rati­ cam ente não existem 11a Suíça m oderna. Os cantões m enores são

214 R obert A. Dahl

caracteristicam ente bastante hom ogêneos em relação à língua e à religião, um resultado da história e do planejam ento. Os arranjos políticos consensuais do país estão recom endados pela C onstitui­ ção da C onfederação Suíça, mas têm grande apoio nas atitudes e na cultura política do povo suíço.

Os belgas diferem em língua (francês e flam engo), religião (protestantes, agnósticos, católicos) e região. Duas províncias são bastante hom ogêneas. Um a, vizinha da França, é p redom inante­ mente de fala francesa e protestante ou agnóstica: a outra, vizinha da H olanda, é flam enga e católica: no cen tro, B ru x elas é m ista. O sistem a político consensual consiste de gabinetes m ultipartidários e governos de coalisão que norm alm ente incluem representantes do segm ento protestante francófono e do segm ento católico e flamengo.

D urante m uitas gerações, os holandeses estiveram seriam ente divididos em quatro “pilares” distintos: católico, protestante, socia­ lista e liberal. Essas diferenças interpenetravam praticam ente todos os relacionam entos e atividades, da política ao casam ento, vizi­ nhança, clubes, sindicatos, jo rnais e outros. Um conflito sobre a educação religiosa que irrom pia em escolas apoiadas pelo Estado, em que representantes dos dois pilares religiosos eram lançados contra os defensores dos dois grupos leigos, m ostrava-se tão am ea­ çador para a estabilidade da dem ocracia holandesa que depois de 1917 foi criado um sistem a “consociacional” em que todos os q ua­ tro grupos estavam representados no gabinete e as decisões exieiam o consentimento de todos os quatro. (Veja Arend Lijphart, The Politics of Accoinodation: Plurafisni and Democracy in lhe NelheiTands

[B erkeley, U niv ersity o f C alifó rn ia P ress. 1968].) A solução dos holandeses para o conflito relativo às escolas foi providenciar o apoio do Estado para as escolas separadas de cada um dos quatro "pilares” . Q uando a intensidade das diferenças religiosas dim inuiu nos anos 1970. tam bém dim inuiu a necessidade de coalisões para um governo dos quatro partidos. E ntretanto, o sistem a m ultiparli- dário e a representação proporcional garantiram que os governos na H olanda continuassem a ser coalisões de diversos partidos.

Sem dúvida, dem ocracias consociacionais bem -sucedidas são raras porque as condições que ajudam a torná-las viáveis são raras (em Democracy in Plural Societies, Lipjhart descreve nove dessas condições favoráveis). A conveniência da solução consociacional

Sobre a dem ocracia 215

para sociedades divididas tem sido contestada com essas funda­ m entações: (1) em m uitos países culturalm ente divididos, as con di­ ções favoráveis (e talvez necessárias) são frágeis dem ais ou nao existem ; (2) os arranjos consociacionais reduzem im ensam ente o importante papel da oposição no governo democrático (para esta críti­ ca, veja “South Africa's Negotiated Transition: Democracy, Opposition, and the New Constitutional Order”. de Courtney Y oung e Ian Shapiro,

Democracÿs Place, Shapiro, ed. | Ithaca, C ornell U niversity Press. 1996]. p. 175-219); e (3) alguns críticos preocupam -se com a pos­ sibilidade de vetos m útuos e com a necessidade de consenso que levassem a exagerado im passe. Por exem plo, em diversos m eses, a Holanda era obrigada a criar um gabinete m ultipartidário aceitável para todos os “ pilares” . Uma vez aprovada a coalizão do gabinete, o im passe não chegava a ser um problem a.

A lguns cientistas políticos argum entam que um a alternativa possível seria a elaboração de arranjos eleitorais que proporcionas­ sem bons incentivos para os líderes políticos form arem coalisões

eleitorais antes e durante as eleições parlamentares ou presidenciais (veja, por exem plo, Donald L. H orow itz, Ethnie Groups in C onflict

(Berkeley, University o f C alifornia Press, 1985] e A Democratic South Africa? Constitutional Engineering in a Divided Society

[Berkeley, University o f C alifornia Press. 1991]). A inda se desco­ nhece a m elhor m aneira de chegar a isto. É evidente que o FPTP é o menos desejável dos sistemas, porque poderia permitir a um grupo adquirir uma esm agadora m aioria de assentos, tornando d esneces­ sárias a negociação, as soluções conciliatórias e as coalizões. A lguns observadores encontram m éritos no sistem a do voto alternativo descrito no A pêndice A. A s exigências de distribuição poderiam obrigar os candidatos à presidência a obter um a porcentagem m í­ nima de votos de m ais de uma das principais subculturas ou grupos étnicos. (Não obstante, no Q uênia, apesar da exigência de que

para ser eleito presidente o candidato deve receber p elo m en os 25% d o s vo to s em pelo m enos cin co das oito p ro v ín cia s.... em 1992. uma oposição dividida permitiu a Daniel Arap M oi tornar-se presidente com apenas 35% da votação [The Internationa! IDEA Handbook o f Electoral System Design, editado por A ndrew R eynolds e B en R eillv - E stocolm o, Instituto Internacional para a D em ocracia e A ssistên cia Eleitoral. 1997. p. 1 .0 9 0 ].)

216 R obert A. Dahl

Ou então os principais postos poderiam ser distribuídos entre os principais grupos étnicos segundo um a fórm ula fixa com a qual todos concordaram . Entretanto, nenhum desses garante um fim perm anente a conflitos culturais divisivos. Sob a tensão do conflito étnico, todos os arranjos criativos que levaram a estabilidade por algum tem po ao Líbano, a N igéria e ao Sri Lanka irrom peram em guerra civil ou governo autoritário.

Há uma conclusão aparentem ente inevitável: não existe ne­ nhum a solução geral para os problem as dos países culturalm ente divididos. Q ualquer solução deverá ser feita sob m edida em relação à configuração apresentada por cada país.

Apêndice C

No documento DAHL,Robert,Sobre a Democracia.pdf (páginas 109-111)