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Scott J Rei d descreve um processo de eleição em dois turnos que permitiria que a maioria das pessoas no Quebec, não todas, perm anecesse no Canadá ou num

No documento DAHL,Robert,Sobre a Democracia.pdf (páginas 89-91)

Que condições subjacentes favorecem a democracia?

6 Scott J Rei d descreve um processo de eleição em dois turnos que permitiria que a maioria das pessoas no Quebec, não todas, perm anecesse no Canadá ou num

Quebec independente. Ele concorda que sua “proposta e outras sem elhantes po­ dem ser práticas ou não" (“The Borders o f an Indcpendent Québec: A Thought Experiment”, G ooclSociely 7 [inverno de 1997]. p. 11-15.

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É um tanto desalentador saber que todas as soluções para os p ssíveis problemas do multiculturalismo em um país dem ocrático —

que descrevi e outras - dependem de condições especiais (mui provavelm ente raras) para darem certo. C om o até agora a m aioria . > países onde vigoram as m ais antigas dem ocracias é apenas ~ deradam ente heterogênea, em boa parte foram poupados de . joflitos culturais graves. Não obstante, neste final do século XX. ' ' eram início m udanças que certam ente encerrarão essa feliz situa­ ção no decorrer do século XXL

Cultura e convicções dem ocráticas

M ais cedo ou mais tarde, todos os países passarão por crises “istanle proíundas - crises políticas, ideológicas, econôm icas, m i­

ja re s, internacionais. Dessa m aneira, se pretende resistir, um sis­ tema político dem ocrático deverá ter a capacidade de sobreviver às «iificuldades e aos turbilhões que essas crises apresentam . A tingir a estabilidade dem ocrática não é sim plesm ente navegar num mar -m i ondas; às vezes, significa enfrentar um clim a enlouquecido e rcrigoso.

Durante uma crise severa e prolongada, aum entam as chances áe que a dem ocracia seja derrubada por líderes autoritários, que prom etem encerrar os problem as com m étodos ditatoriais rigoro­ sos. E claro, esses m étodos exigem que as instituições e os proce­

dimentos essenciais da dem ocracia sejam postos de lado.

D urante o século XX. a queda da dem ocracia foi um evento freqüente, com o atestam “os tantos...” exem plos m encionados no r.ício deste capítulo. No entanto, algum as dem ocracias agüentaram 'c u s ventos e furacões não apenas uma vez. m as inúm eras. Com o .mos, m uitas dem ocracias conseguiram superar os riscos que em ergiam de sérias diferenças culturais. A lgum as em ergiram de ' ja s crises com o navio do estado dem ocrático em m elhores condi- . es do que antes. Os sobreviventes desses períodos tem pestuosos vio justam ente os países que agora cham am os de “m ais antigas dem ocracias” .

Por que as instituições dem ocráticas agüentam as crises em al­ guns países e não em outros? Às condições favoráveis que já des-

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crevi, devem os acrescentar m ais uma. As perspectivas para a d e­ m ocracia estável num país são m elhores quando seus cidadãos e seus líderes apóiam vigorosam ente as práticas, as idéias e os valo­ res dem ocráticos. O apoio m ais confiável surge quando essas con­ vicções e predisposições estão incrustadas na cultura do país e são transm itidas, em boa parte, de um a geração para a outra. Em outras palavras, quando o país possui um a cultura dem ocrática.

Uma cultura política dem ocrática ajudaria a form ar cidadaos que acreditem no seguinte: dem ocracia e igualdade política são objetivos desejáveis; o controle sobre m ilitares e Polícia deve estar inteiram ente nas m ãos dos líderes eleitos; as instituições dem ocrá­ ticas básicas descritas no C apítulo 8 devem ser m antidas; diferen­ ças e desacordos políticos entre os cidadãos devem ser tolerados e protegidos.

Não tenho a intenção de sugerir que todos em um país dem o­ crático devem ser m oldados com o perfeitos cidadaos dem ocráticos. Felizm ente não - ou certam ente jam ais teria existido um a dem o­ cracia! Em todo caso. a não ser que uma considerável m aioria de cidadãos prefira a dem ocracia e suas instituições políticas a qual­ quer possível alternativa não-dem ocrática e apóie líderes políticos que defendam práticas dem ocráticas, é im provável que a dem ocra­ cia consiga sobreviver às inevitáveis crises. Na verdade, até uma razoável m inoria de m ilitantes antidem ocratas violentos pode ser suficiente para destruir a capacidade de um país para a m anutençao de suas instituições dem ocráticas.

Com o as pessoas passam a acreditar nas idéias e nas práticas dem ocráticas? C om o as idéias e as práticas dem ocráticas se tornam parte intrínseca da cultura de um país? Q ualquer tentativa de res­ ponder a essas perguntas exigiria que esm iuçássem os pro fund a­ m ente os fatos históricos, alguns generalizados, outros específicos de um determ inado país - tarefa essa m uito além dos lim ites deste livro. Digo apenas o seguinte: sorte do país cuja história levou a esses felizes resultados!

Nem sem pre a história é tão generosa. Às vezes, ela dota al­ guns países com uma cultura política que. na m elhor das hipóteses, apóia fracam ente as instituições e as idéias dem ocráticas e, na pior das hipóteses, favorece o governo autoritário.

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D esenvolvim ento econôm ico e econom ia de m ercado

H istoricam ente, o desenvolvim ento das convicções dem ocráti­ cas e de um a cultura dem ocrática estava estreitam ente associado ao - je cham aríam os de economia de mercado. M ais especificam ente, :m a condição altam ente favorável às instituições dem ocráticas é _:na econom ia de m ercado em que as em presas econôm icas são principalm ente de propriedade privada e não estatal - ou seja. uma econom ia capitalista, em vez de socialista ou estatal. No entanto, a - atreita associação entre dem ocracia e capitalism o de m ercado es- v. >nde um paradoxo: a econom ia do capitalism o de m ercado, ine­ vitavelm ente, gera desigualdades nos recursos políticos a que os diferentes cidadãos têm acesso. Assim, uma econom ia capitalista -e m ercado prejudica seriam ente a igualdade política - cidadãos economicamente desiguais têm grande probabilidade de ser também p íliticam ente desiguais. Ela aparece num país com uma econom ia capitalista de m ercado: é im possível atingir a plena igualdade polí- :ica. C onseqüentem ente, há um a tensão perm anente entre a d em o­ cracia e a econom ia de m ercado capitalista. Existirá um a opção • :ável ao capitalism o de m ercado que seja m enos prejudicial à igualdade política? Nos próxim os dois capítulos voltarei a esta questão e, de m odo mais geral, à relação entre dem ocracia e cap i­ talism o de m ercado.

Enquanto isso. não podem os fugir da conclusão de que um a economia capitalista de m ercado, a sociedade e o desenvolvim ento econôm ico tipicam ente gerados por ela são condições altam ente íavoráveis ao desenvolvim ento e à m anutenção das instituições dem ocráticas políticas.

l m resum o

E bem provável que tam bém ajudem outras condições - com o 1 dom ínio das leis, a paz prolongada, e assim por diante. A credito que as cinco condições que acabo de descrever sejam as m ais d eci­ sivas.

Podem os resum ir o argum ento deste capítulo em três proposi- - 'es gerais: em prim eiro lugar, um país dotado de todas essas cinco

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principais condições terá praticam ente a certeza de desenvolver e manter as instituições democráticas. Hm segundo lugar, é m uitíssim o im provável que um país onde essas condições estejam ausentes desenvolva as instituições dem ocráticas ou. se o conseguir, que as m antenha. E um país em que as condições são m istas - algum as favoráveis, outras desfavoráveis? Retardarei um pouco a resposta e a terceira pro p o sição geral até pon d erarm o s o estra n h o caso da índia.

índ ia: um a dem ocracia im provável

Você talvez já tenha com eçado a se perguntar sobre a índia. Não lhe faltam todas as condições favoráveis? Se assim é. não esta­ ria contradizendo todo o meu argum ento? Bom, nem tanto...

Parece altam ente im provável que a índia possa m anter por m uito tem po as instituições dem ocráticas. Com um a população que se aproxim a de um bilhão de pessoas neste final do século XX. os indianos se dividem em m ais linhas do que qualquer outro país no m undo. Entre essas divisões estão línguas, castas, classes, religiões e regiões - e infinitas subdivisões dentro de cada uma. Imagine só:

A índia não tem uma língua nacional. A C onstituição indiana reconhece oficialm ente 15 línguas. M esm o essa quantidade sub es­ tima a am plitude do problem a lingüístico: pelo m enos um m ilhão de indianos fala um a das 35 línguas distintas - e. m ais do que isso. os indianos falam cerca de 22 mil dialetos distintos!

Embora 80% das pessoas sejam hindus (o restante é, principal­ mente, muçulmano, e um estado. Kerala. contém muitos cristãos), os efeitos unificadores do hinduísm o estão seriam ente com prom etidos pelo sistem a de castas que o m esm o hinduísm o prescreveu para os indianos desde m ais ou m enos 1500 a.C. A ssim com o as línguas, o sistem a de castas está infinitam ente dividido. Para com eçar, um

7 Os dados que seguem são principalmente da revista Economist de 2 de agosto

No documento DAHL,Robert,Sobre a Democracia.pdf (páginas 89-91)