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Para promoção de um modelo mais sustentável de desenvolvimento é importante a discussão sobre as alternativas criadas com este intuito, dentre elas a agroecologia e demais formas de agricultura alternativa. A agroecologia, segundo Campanhola e Valarini (2001) considera que as lavouras são ecossistemas nos quais os processos ecológicos encontrados em outros tipos de vegetação, ciclos de nutrientes, interações predador/presa, competição, comensalismo e sucessões ecológicas também ocorrem. Ou seja, para Campanhola e Valarini (2001, p.70):

A agroecologia enfoca as relações ecológicas no campo e o seu objetivo é entender a forma, a dinâmica e a função das relações existentes no meio biótico, no meio abiótico, e entre eles. Além disso, considera a interação com o homem, cujas ações estão pautadas na sua cultura, hábitos e tradições.

Fica implícita, também, a idéia de que por meio da compreensão desses processos e relações, os agroecossistemas podem ser manipulados para produzir melhor, com menos insumos externos, menos impactos negativos ambientais e sociais e mais sustentabilidade, tal como elucida Altieri, (2002). Portanto, a agroecologia incorpora à produção agropecuária, a conservação ambiental, o compromisso social da agricultura em relação aos produtores e consumidores, bem como a sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção (CAMPANHOLA; VALARINE, 2001). Numa perspectiva temporal de longo prazo, segundo Caporal e Costabeber (2004, p.49), “a agroecologia procura incluir tanto a presente como as futuras gerações”.

Todavia, a Agroecologia não é uma ciência fechada. Ela também é um projeto em construção e um processo que remonta as raízes da agricultura. Segundo Hecht (2002, p.21 in Moreira e Carmo, 2004), “o uso contemporâneo do termo agroecologia data dos anos 70, mas a ciência e a prática da agroecologia têm a idade da própria agricultura”. Além disso, Daniel (2007) crê que os princípios da agroecologia são universais, mas as técnicas aplicadas de diversificação, de reciclagem e de integração são específicas para cada local.

Também relacionada à agroecologia, estão a agricultura orgânica e demais correntes, tais como: a agricultura natural, a agricultura biodinâmica, a agricultura

biológica, a agricultura ecológica e a permacultura14. Na realidade, Carvalho (2002) defende que a expressão agricultura orgânica15 é comumente usada como sinônimo de agricultura sustentável e reúne associações de todos os modelos não convencionais de agricultura.

Todas essas correntes, adotam princípios semelhantes, segundo Campanhola e Valarini (2001), tais como: a reciclagem dos recursos naturais presentes, a manutenção da fertilidade do solo pela ação benéfica dos microrganismos (bactérias, actinomicetos e fungos) que decompõem a matéria orgânica e liberam nutrientes para as plantas; a compostagem e transformação de resíduos vegetais em húmus no solo; a preferência ao uso de rochas moídas, semi- solubilizadas ou tratadas termicamente, com baixa concentração de nutrientes prontamente hidrossolúveis, o uso de cobertura vegetal morta e viva do solo; a diversificação e integração de explorações vegetais (incluindo as florestas) e animais. Tais práticas também incentivam o uso de esterco animal; o uso de biofertilizantes; a rotação e consorciação de culturas e adubação verde; o controle biológico de pragas e fitopatógenos e exclusão do uso de agrotóxicos; o uso de métodos mecânicos, físicos e vegetativos e de extratos de plantas no controle de pragas e fitopatógenos, apoiando-se nos princípios do manejo integrado. E propõe a opção por germoplasmas vegetais e animais adequados a cada realidade ecológica, dentre outros princípios.

Os exemplos práticos das transformações que a agroecologia e outras formas de agricultura sustentável promovem ao ambiente como um todo são muitos. Um exemplo é relatado por Hoppe et al (2007), que após analisar individualmente os parâmetros que avaliam a fertilidade dos solos dos pomares de Citrus manejados através de critérios agroecológicos e fertilizados com insumos orgânicos, observaram aumento da fertilidade, incluindo aumento dos valores médios de P, K, M.O.,Ca, Mg, CTC e Saturação de bases e diminuição dos valor médio de Al e Saturação de Al.

14 Para Campanhola e Valarini (2001 p.76), a permaculturapropõe a produção agropecuária de

modo mais integrado e harmonioso possível com o ambiente natural, imitando a composição espacial das plantas encontradas nas matas e florestas naturais, integrando lavouras com espécies florestais, pastagens e espaços para os animais, levando em conta, também, na elaboração e manutenção desses policultivos, os seres humanos, edificações, conservação dos recursos naturais, composição dos elementos da paisagem e conservação de energia e independência de energia externa”.

15 Conforme Khatounian (2001), a IFOAN (International Federation of organic Agriculture Moviment), , fundada em 1972, decidiu pelo termo “agricultura orgânica” para designar o conjunto de propostas alternativas de agricultura

A agricultura baseada em modelos mais naturais, segundo Halken et al (2005), também gera maior eficiência energética e maior dependência de energia renovável. Neste sentido, Quadros e Kakuzka (2007), em um trabalho realizado no Paraná em que compararam dois sistemas de produção (convencional e agroecológico) na cultura de feijão, verificando qual teria uma melhor eficiência energética, identificou que a melhor eficiência foi a do sistema agroecológico. Ele relata que para produzir o feijão, a cada 1J de investimento energético era produzido 0,73J a mais do que entrou, enquanto que no sistema convencional ocorria um déficit de 0,11J, ou seja, gastava mais energia do que produzia.

Em concordância, Halken et al (2005) acreditam que as unidades de produção agrícola baseadas em modelos mais ecológicos oferecem grandes oportunidades para se potencializar a produtividade com o menor gasto possível de energia e materiais, procurando fechar os ciclos através da reutilização dos resíduos gerados no plantio. Além disso, deve-se produzir o mais próximo possível do seu consumo, pois, segundo o mesmo autor, a produção efetuada localmente reduz enormemente as despesas com energia de transporte.

Quanto à dimensão econômica, estudos de Altmann e Oltramari (2004) dos indicadores de desenvolvimento e desempenho da agricultura orgânica e convencional praticada em propriedades de Florianópolis, encontram os melhores desempenhos da agricultura orgânica. Para os autores, a agricultura orgânica proporcionou uma maior capacidade de geração de renda (em média 25% superior à obtida pelos produtores convencionais); maior eficiência econômica (taxas de valor agregado médio 22% superiores às obtidas pelos convencionais e gastos de consumo intermediário 30% menores); maior autonomia financeira, com financiamento externo representando cerca de 33% dos gastos de consumo intermediário; e obtenção de melhores preços por seus produtos.

Na opinião de Assis (2003), o apoio à produção familiar orgânica deve ocorrer, principalmente, mediante mecanismos de crédito agrícola adaptados à realidade da produção agrícola familiar, assistência técnica capacitada em agricultura orgânica, e a viabilização de canais de comercialização para uma produção agrícola diversificada, ao mesmo tempo em que aproxime produtores e consumidores, reduzindo o espaço de atuação de intermediários nesse processo.

Moreira e Carmo (2004) também sugerem que a agroecologia deve procurar a manutenção e o fortalecimento dos circuitos curtos de comercialização, que consiste

na elaboração de estratégias que fortaleçam ao máximo os mercados locais e possibilitem aos agricultores aprenderem e terem controle sobre os seus processos de comercialização.