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3 REFLEXOS NO DIREITO E JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIROS DA

3.2 O Princípio da Temporalidade Eletiva, suas Limitações e Inadequações

3.2.3 A Amplitude do Conceito de "Processo Eleitoral"

Para responder a esta pergunta é necessário, por primeiro, superar um entrave importante, uma verdadeira armadilha dogmática que se verifica no ambíguo e confuso conceito de "processo eleitoral".

Uma boa dimensão das dificuldades a serem enfrentadas pelo conceito de "processo eleitoral" podemos ver em Landim319, para quem este conceito abrangeria várias modalidades de "direito processual" eleitoral, dentre eles:

- Direito Processual Eleitoral Estatal ou Direito Processual Eleitoral Público - Direito Processual Eleitoral Público Jurisdicional

- Direito Processual Eleitoral Constitucional - Direito Processual Eleitoral Penal;

- Direito Processual Eleitoral Civil;

- Direito Processual Eleitoral Público não Jurisdicional - Direito Processual Eleitoral Legislativo;

- Direito Processual Eleitoral Político;

- Direito Processual Eleitoral Administrativo; - Direito Processual Eleitoral Privado

- Direito Processual Eleitoral Partidário;

- Direito Processual Eleitoral Empresarial, Associativo ou Fundacional320

319 Em interessante artigo publicado pelo Desembargador Francisco Landim, do Tribunal de Justiça

do estado do Piauí, encontramos incluídos no que chama de " Verificada a existência de vários direitos processuais eleitorais – Direito Processual Eleitoral Constitucional; Direito Processual Eleitoral Penal; Direito Processual Eleitoral Civil; Direito Processual Eleitoral Legislativo; Direito Processual Eleitoral Político; Direito Processual Eleitoral Administrativo; Direito Processual Eleitoral Partidário; Direito Processual Eleitoral Empresarial, Associativo ou Fundacional – que agrupei em duas grandes categorias – Direito Processual Eleitoral Estatal e Direito Processual Eleitoral Não-Estatal, proponho-me a desenvolver, agora, em suas linhas gerais, a temática do Direito Processual Eleitoral Estatal, ou, mais apropriadamente, Direito Processual Eleitoral Público, que existe de par com o Direito Processual Eleitoral Privado, ou Não-Estatal, os quais se complementam, mutuamente, ao invés de se contraporem, na variada enciclopédia jurídica do Direito Processual Eleitoral". LANDIM, Francisco, Sujeitos políticos do processo eleitoral como pólos metodológicos de sistematização de uma teoria geral do processo eleitoral. Revista

Eleições & Cidadania, Teresina, ano 2, n. 2, p. 11, 2010. Segundo o autor, o Direito Processual

Eleitoral Público não seria um ramo do Direito Processual Eleitoral, mas um método de sistematização do Direito Processual Eleitoral. Ibid., p. 14.

320 O autor não faz a sistematização como aqui está representada, revelando-se esta uma tentativa

de reproduzir o pensamento do seu autor. Embora faça referência aos campos que alega que integram o Direito Processual Eleitoral Público, não há manifestação sua onde se encontrariam o Direito Processual Eleitoral Empresarial, Associativo ou Fundacional e o Partidário, aqui inseridos no Direito Processual Eleitoral Privado por dedução.

Para o citado autor, a teoria do Direito Eleitoral, contaminada pela summa

divisio entre público e privado, não dá conta de explicar a natureza dos Direitos

Processuais Eleitorais constitucional, legislativo, administrativo e político, além de "não dar lugar ao sol às modalidades de Direito Processual Privado"321.

Para superar as inadequações desta divisão, Ladim propõe que o Direito Processual Eleitoral Público não seria ramo do Direito Processual Eleitoral, mas um método de sistematização, estudo e trabalho, que tem por escopo descobrir os muitos

[...] ramos e sub-ramos do Direito Processual Eleitoral, identificar- lhes as normas e os seus institutos jurídicos centrais, formular-lhes os princípios, construir-lhes a unidade político-jurídica, e, com este espírito, dar azo ao aparecimento de uma teoria geral do processo eleitoral.322

Interessa observar que o ponto comum entre todos os diferentes ramos do Direito Processual Eleitoral Público não seria a forma, o rito, nem o processo propriamente dito, mas aquilo que o devido processo eleitoral possui em sua dimensão substantiva ou material, significando que a finalidade legitimatória do "processo eleitoral" não seria exclusivamente adjetiva, mas "[...] o modo de ser substantivo do processo eleitoral pela finalidade política, jurídica e ética a que se destina no Estado Democrático de Direito”.323

Por se tratar da reprodução de uma única palestra, infelizmente Landin não explica com maior detalhamento o que considera seja esse "modo de ser substantivo do processo eleitoral", tampouco quais seriam as finalidades jurídicas e éticas a que se destina o Estado Democrático de Direito, caminho que talvez o levaria a constatar o momento de inflexão da atual democracia e os postulados individualistas da autodeterminação política, a saber a liberdade plena e a autocontenção.

Para o autor, no entanto, o fundamento dessa materialidade seria a soberania popular acrescida da cláusula constitucional de vinculação ética ao exercício do mandato, conforme art. 14, 9ª, da CF/88324.

321 LANDIM, Francisco, Sujeitos políticos do processo eleitoral como pólos metodológicos de

sistematização de uma teoria geral do processo eleitoral. Revista Eleições & Cidadania, Teresina, ano 2, n. 2, p. 2, 2010.

322 Ibid., p. 3. 323 Ibid., p. 7.

324 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

[...]

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

A soberania popular será exercida, portanto, não apenas pelo voto conferido no processo eleitoral considerado justo e certificado por sua lisura, mas, pelo devido processo eleitoral compreendido de forma mais ampla, de modo a excluir da competição, candidatos que tenham atentado contra a probidade administrativa e/ou a moralidade para exercício de mandato, considerada a vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das eleições, de maneira a conter a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta325.

A interessante construção teórica de Landim é exemplar do esforço teórico necessário para compreender a função do Direito Eleitoral e do Processo Eleitoral para além do espectro normativo do "processo eleitoral" temporal vigente, exclusivamente vinculado ao modelo de democracia representativa - como o espaço de tempo compreendido entre as convenções partidárias e a diplomação.

Ainda assim, apesar dos méritos da ampliação do campo de estudo do Direito Eleitoral para contemplar o "processo legislativo", o "processo administrativo" e a atuação de associações, fundações e órgãos privados, dentre eles os partidos, parece criticável a tese de Landim em seu atrelamento ao devido processo substantivo como corolário do art. 14 §9º da CF/88, por se tratar de instrumento de orientação teleológica protetiva e garantista ou seja, voltado a controlar os aspectos da representatividade do exercício do mandato e não a estabelecer a formação de uma cultura democrática.