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4. O PERCURSO METODOLÓGICO DE INVESTIGAÇÃO

4.4 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS

4.4.1 A análise documental:

A coleta de dados iniciou-se no 2º semestre de 2009, mas devido à greve neste semestre o trabalho continuou em janeiro de 2010 e seguiu o que estava proposto no projeto de pesquisa, isto é, o trabalho foi dividido em três etapas para uma melhor compreensão da realidade estudada. Dessa maneira pude analisar a contribuição da rotina no desenvolvimento da autonomia da criança de maneira mais delineada.

Em primeiro lugar, fui até a escola Municipal Sonho e Fantasia apresentar-me e mostrar o projeto de pesquisa. Nos primeiros dias, realizei um diagnóstico do funcionamento da escola e tive acesso à Proposta Pedagógica de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza. Numa conversa com a diretora, ela revelou que a escola ainda estava tentando elaborar a própria proposta pedagógica com a participação da comunidade escolar: as professoras, as crianças e as famílias. Portanto, o eixo orientador da escola era a referida proposta.

A professora Maria da sala onde coletei os dados prontamente me emprestou um exemplar da Proposta, pois a escola teria recebido da Secretaria de Educação do Município e distribuído exemplares em número suficiente para todas as professoras.

Com a proposta pedagógica em mão, considerei que esse documento poderia me subsidiar na primeira etapa. A análise documental como instrumento de coleta de dados se fez necessário, pois o acesso à proposta pedagógica da escola foi imprescindível para conhecer seus objetivos, orientações didáticas e diretrizes metodológicas que norteiam o trabalho em sala de aula no que diz respeito à dinâmica da rotina estabelecida.

Para Gil (1999) as fontes de dados escritas (no caso desta pesquisa, a Proposta Pedagógica da Secretaria Municipal de Fortaleza) muitas vezes são capazes de proporcionar dados suficientes e ricos, ressaltando que em alguns casos a pesquisa só é possível com documentos. Nesta pesquisa, a proposta pedagógica possibilitou obter informações e analisar os dados coletados mediante observação participante.

O referido documento que deve nortear as atividades da instituição em estudo foi publicado em março de 2009 e é referência para todas as instituições de Educação Infantil do Município de Fortaleza. Como bem ressaltou a diretora da escola Sonho e Fantasia sua própria proposta ainda vai ser elaborada com todas as pessoas que fazem parte desta

instituição – professores, pais e crianças - para que sejam traçados objetivos relacionados com as reais necessidades locais desta população.

Essa proposta está em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), que estabelece a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica e também atende às determinações expressas na Resolução nº 01/199, de abril de 1999, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, referentes às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Seu objetivo principal é:

Contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento nas instituições que atendem crianças até seis anos de idade em Fortaleza, oferecendo subsídios para que todas as instituições de Educação Infantil elaborem as próprias propostas. (FORTALEZA, 2009 p.5)

Vale destacar ainda que o referido documento é o resultado de um conjunto de ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação - SME em parceria com a Universidade Federal do Ceará. Assim a SME assegura que está assumindo com esta Proposta Pedagógica um currículo que abrange o desenvolvimento da autonomia, da capacidade de cooperação e de inserção crítica da criança na sociedade e a formulação de conhecimentos pela criança.

A Proposta Pedagógica apresenta os seguintes itens e capítulos: “introdução, objetivos, referenciais teóricos, áreas do conhecimento, diretrizes educativas e relações entre a família e a instituição de Educação Infantil” (FORTALEZA, p.5). O capítulo mais importante para esta pesquisa é o item sobre diretrizes educacionais, no qual encontramos o tópico sobre a organização do espaço e do tempo que vai subsidiar as discussões sobre a rotina da sala de aula observada.

Discutindo sobre o assunto rotina, esse documento ressalta que,

Embora as características dos espaços e materiais (quantidade, variedade e qualidade) das instituições de Educação Infantil vinculadas à Prefeitura de Fortaleza sejam semelhantes, não se pode pensar em uma mesma rotina para todas elas. [...] É preciso lembrar que cada instituição atende crianças de idades e ritmos diferenciados. Sendo assim, não podemos falar também em uma única rotina para toda a instituição, onde todas as crianças têm que fazer tudo no mesmo horário, no mesmo espaço e com os mesmos materiais. Mesmo as crianças de igual idade, portanto, aquelas que ficam agrupadas numa mesma turma têm características peculiares e ritmos também diferentes. Cada criança, como ser concreto, contextualizado, age de forma diferente na mesma situação que outra da mesma idade e cada uma precisa

de um tempo diferente para compreender e realizar uma atividade. (FORTALEZA, 2009, p. 74 e 75)

Essas observações devem ser lembradas no planejamento das rotinas. A rotina ainda precisa respeitar, sobretudo, os direitos, características e necessidades infantis, especialmente aquelas relacionadas à brincadeira, à expressão e à atenção individualizada. Segundo a Proposta, a criança precisa de um ambiente aconchegante, seguro e estimulante, com espaços amplos para se movimentar e oportunidades para desenvolver a curiosidade e a imaginação. Entende-se por ambiente estimulante para a criança, aquele em que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde ela sinta o prazer de pertencer aquele ambiente e se identifique com o mesmo, principalmente um ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares.

Destaca-se ainda a relevância da análise documental, porque é a fonte de dados escrita que revela as informações diretamente, ou seja, os dados estão lá, restando fazer sua triagem, criticá-los ou não, codificá-los ou categorizá-los em função da necessidade da pesquisa. Em suma, é possível uma ordenação das informações para selecionar aquelas que parecem pertinentes (LAVILLE E DIONNE, 1999). Esse documento constituiu uma fonte natural de informações de onde pude retirar subsídios que fundamentaram a análise dos dados observados no contexto estudado.