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5. CARACTERIZAÇÃO DA ROTINA EM UMA CLASSE DA ESCOLA SONHO E FANTASIA

5.1 AS ATIVIDADES E SEUS RESPECTIVOS TEMPOS:

5.1.1 Tempo da Acolhida 7h15min-7h25min

Foto 6: As crianças no pátio: o momento da acolhida.

Embora a acolhida começasse às 7h15min, no horário em que os portões se abriam, as crianças chegavam mais cedo e ficavam aguardando, sentadas nos bancos da praça situada na parte externa da escola. Assim que estes eram abertos, as crianças corriam para o pátio, onde todos os equipamentos (caixa de som e microfone) já estavam preparados para a acolhida. Alguns pais entravam até o segundo portão para deixar seus filhos e outros nem adentravam a escola e assim, os filhos se direcionavam sozinhos ao lugar onde deveriam estar naquele

momento. A família não tinha contato com a professora de seus filhos nesse momento, até porque ela chegava sempre depois da acolhida que era realizada junto com as outras turmas. Observei por duas vezes a mãe de uma criança do Jardim II, que esperou pela professora para conversar algo com ela. Essa foi à única troca entre família e professora que presenciei na chegada das crianças. Nesse caso, o contato da professora com a família nesse momento quase não existia; não havia uma troca constante entre elas.

Para Lino (1999), seria importante que "no transcurso deste tempo, e enquanto se espera que todas as crianças cheguem à sala de aula, uma das pessoas adultas fica na porta para receber pais e mães” (P. 187). Este é um momento em que as famílias podem comunicar ou querer saber algo sobre a criança e, portanto, nessa ocasião, se torna imprescindível a presença da professora. Ela deveria estar todo o dia disponível para as famílias; no entanto, foi observado na escola que, quando a família sentiu a necessidade de conversar com a professora, teve que esperá-la. Essa espera dificultava a interação entre a família e a professora.

Esse momento com a família não poderia ser desperdiçado, uma vez que a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) anuncia como necessária a parceria com as famílias das crianças da Educação Infantil, na perspectiva do atendimento aos direitos da criança na sua integralidade. No artigo 29 da LDB está escrito: A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Ao afirmar a Educação Infantil como complementar a ação da família, a LDB aponta a necessidade da parceria entre a instituição escola e a instituição família. Para tanto, a instituição deve assegurar a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, para que esta postura resulte no reconhecimento da identidade pessoal da criança e de suas famílias e incentive à participação dos pais nas atividades da instituição.

Assim, a ação educativa deve ser compartilhada com as famílias. A própria Proposta Pedagógica de Educação Infantil da Secretaria de Educação de Fortaleza que a escola Sonho e Fantasia têm como referência inclui um capítulo sobre a família e a instituição. Nesse capítulo, aborda a importância de ambas para atingir um de seus objetivos: o bem-estar, o desenvolvimento e aprendizagem da criança, bem como sua inserção na sociedade. Esta proposta pedagógica ainda ressalta que é fundamental, para alcançar esse objetivo comum, que tanto a instituição escolar como a família busquem uma parceria benéfica e construtiva,

estabelecendo canais de comunicação e compreensão com base no diálogo e na confiança recíproca.

Durante todas as observações, percebi que a acolhida seguia o mesmo padrão: as crianças rezavam o Pai-Nosso e Ave-Maria, em seguida cantavam uma música. (as músicas em alguns dias eram alteradas). No momento da acolhida, todas as turmas e professoras desta instituição participavam, organizando-se em filas. A professora ficava em determinado espaço e as crianças se posicionavam em sua frente. Assim, o pátio ficava completamente ocupado com filas de tamanhos diferentes. Terminada a acolhida, as crianças se direcionavam cada uma para as suas respectivas salas.

As crianças chegam acompanhadas de seus pais ou responsáveis e fazem uma fila. Elas sentam umas atrás das outras no pátio. Em frente a sua fila, fica a professora responsável por cada turma. Neste dia a professora Marta do Jardim I inicia o momento da acolhida rezando para o “papai do céu e depois para a mamãe do céu”. Em seguida a professora Raquel pega o microfone e pede para as crianças levantarem e bater palmas cantando a música do “homenzinho torto”. Terminada a música, a fila de criança se direciona à sala de aula. (Diário de campo 04.01.2010).

A entrada foi igual a do primeiro dia: todas as crianças chegam e sentam enfileiradas no pátio; as professoras ligam o som e se posicionam em frente a sua turma. Uma professora pega o microfone e pede as crianças para cantarem com ela, canta uma música e pede as crianças para ficarem de pé para falar com o “papai do céu”, e rezam o Pai Nosso e Ave Maria, cantam mais uma música e cada turma vai para as suas salas. (Diário de campo 05.01.2010).

Na turma onde estava sendo realizado este trabalho, era raro ver a professora Maria participar deste momento da acolhida, pois ela sempre chegava depois. Mesmo em sua ausência, as crianças chegavam e se posicionavam em fila no mesmo lugar de sempre, perto do bebedouro. Percebi que a turma do Jardim II já não tinha a professora Maria como referência para se organizarem e participarem da acolhida e possuíam como referência o espaço. O fato da fila ser sempre feita no mesmo lugar possibilitou a participação delas durante a acolhida, mesmo na ausência da professora. Somente na hora de se direcionar para a sala, toda a turma ficava esperando por ela, pois o procedimento era que, ao terminar a música, as professoras levassem suas turmas para suas salas. Assim, as crianças do Jardim II eram os últimos a sair do pátio. Na maioria das vezes, elas se direcionavam sozinhas para a sala e esperavam a professora lá.

Num episódio em que as crianças ficaram esperando em fila no pátio pela professora Maria e ela não chegava, a professora encarregada da biblioteca, sabendo que eu estava realizando uma pesquisa na sala do Jardim II, ordenou que as crianças fossem para a sala comigo. Este fato aconteceu, embora tivesse explicado o meu trabalho à diretora da escola e à professora da sala, para que elas não confundissem minha pesquisa com atividades de estágios. É comum nas escolas os profissionais acharem que as pessoas que estão desenvolvendo pesquisa devem de alguma forma assumir as ações da professora. Ainda houve situações em que outras professoras também solicitaram que as crianças me acompanhassem até suas salas.

Considerando que essas professoras não sabiam sobre o projeto que estava desenvolvendo, permiti que as crianças me acompanhassem em alguns dias. Ao chegarmos à sala de aula, as crianças me chamavam de tia e ficaram perguntando onde a professora delas estava. Solicitei que elas aguardassem um pouco, esperando que alguém da instituição viesse até essa sala para dar alguma explicação, mas não apareceu ninguém da escola para informar algo. Então fiquei observando a atuação das crianças na ausência da professora.

Depois da acolhida, as crianças do Jardim II muitas vezes esperavam pela professora na sala sozinhas. Quando ela chegava à sala, pegava uma garrafa de água seca para encher na sala dos professores, onde ficava localizada uma geladeira e, então as crianças ficavam sozinhas sem nenhuma atividade, esperando que ela voltasse. Durante as observações, o procedimento utilizado pela professora para esperar as outras crianças chegarem era ir buscar sua água. (Observem na descrição abaixo do diário de campo). Lino (1999) ressalta que, enquanto todo mundo não chega, se inicia um processo de atividades com as crianças que vão chegando: cantar, contar histórias ou simplesmente falar algo.

Passados alguns minutos a professora chegou, mas logo saiu da sala dizendo: “esperem mais um pouco vou pegar minha água, é bom que a gente espera mais alguém chegar”. (todos os dias a professora pega uma garrafa de água mineral seca que fica dentro do seu armário e vai encher para ficar bebendo durante a manhã). As crianças ficaram só outra vez. Enquanto isso, elas ficaram conversando uma com as outras e pegando os brinquedos que estavam na prateleira. (Diário de campo 06.01.2010).

A professora chega e dá bom dia e vai olhar alguma coisa em seu armário, pega sua garrafa e diz às crianças que vai buscar água para ela, pois é o tempo que pode chegar mais alguém. (Diário de campo 07.01.2010).

As crianças já estavam acostumadas com esse procedimento da professora em ir buscar água para ela beber todos os dias. Quando demorava um pouco

a ir, logo as crianças perguntavam: “professora você não vai buscar sua água?” E ela respondia: “já vou”. (Diário de campo 08.01.2010).