Observação participante

A observação participante com registro em um diário de campo constituiu outro procedimento utilizado para a recolha de indicadores. Como outra forma de registro foram realizadas, em seguida, as filmagens. As observações ocorreram no turno da manhã, que se iniciava as 7h:15min e terminava às 11h:15min. Registrei em todas as manhãs, durante dois meses, todos os acontecimentos envolvendo as crianças e a professora, desde que chegavam até a hora em que saíam, no intuito de descrever a rotina proposta para esse grupo de crianças. Assim, há descrições de atividades nos diversos espaços da escola - pátio, parque, sala de aula, cozinha e biblioteca.

Simultaneamente às observações para caracterizar a rotina, coletei também os dados referentes à autonomia com base nas categorias: respeito às regras, cooperação e respeito mútuo descritos no diário de campo. Nessa perspectiva, o diário de campo inclui observações

de episódios em que essas categorias surgiam no decorrer do dia. No total foram realizadas 35 sessões de observações e cinco sessões de filmagens. Vale ressaltar que a principal estratégia para a coleta de dados foi efetivamente a observação participante. Para Laville e Dionne (1999), a observação revela-se como um privilegiado modo de contato com o real: é observando que nos situamos, orientamos nossos deslocamentos, reconhecemos as pessoas.

A observação pode propiciar ampla variedade de descobertas e aprendizagens. Assim, esse procedimento permitiu caracterizar e descrever situações decorrentes da rotina, relacionando-as com atitudes de cooperação, respeito mútuo e respeito às regras. Sobre a cooperação, observei se a professora estimulava o trabalho em grupo e a partilha de ideias e materiais. Acerca do respeito mútuo, observei a participação das crianças nas decisões, e como a professora utilizava sua autoridade, isto é, se ela adotava uma atitude democrática ante os impasses ocorridos na sala. Verifiquei também se ela tratava as crianças com agressividade, se respeitava a individualidade e diferenças de seus alunos e se procurava criar um ambiente cordial e alegre. Já na categoria sobre o respeito às regras, observei a participação da turma na construção das mesmas, tentando diagnosticar se para as crianças as regras resultaram de uma decisão do grupo ou se tinham como fonte uma autoridade suprema.

A observação participante também é denominada de observação etnológica, por dois motivos: por ter tido origem nessa ciência e por constituir atualmente o principal método de trabalho usado por ela. Pratica-se a observação participante, quando de algum modo o observador participa na vida do grupo por ele estudado. Essa observação orienta-se para a observação de fenômenos, tarefas ou situações específicas, nas quais o observador se encontra centrado no problema a avaliar. Assim “a observação participante é fundamentalmente uma técnica de análise qualitativa do real, centrada na interpretação dos fenômenos, a partir das diversas significações que os participantes na ação lhes conferem”. (ESTRELA, 1994 p. 34).

Quanto às filmagens, os registros foram realizados da seguinte forma: duas sessões de quatro horas ininterruptas, ou seja, duas manhãs consecutivas, compreendendo todas as atividades realizadas pelas crianças e adulto no tempo e espaço da classe do Jardim II: das 7h:20min até a hora da saída das crianças, a partir de 10h:50min. As outras três sessões foram feitas com pausas, ou seja, à medida que as atividades aconteciam, filmava-se o que havia sido proposto pela professora e uma amostra do que a turma realizava. Esses registros fílmicos tiveram como objetivo principal subsidiar o registro das observações e a análise dos dados por uma equipe de pesquisadores, e poder expressar detalhes impossíveis de captar pelo diário de campo. Durante as análises dos dados as filmagens foram frequentemente consultadas. A

filmagem também foi essencial, porque registrou de forma sequenciada e fiel as ações das professoras e crianças no decorrer da rotina estabelecida pela instituição.

Por meio desse procedimento, foi possível o registro das ações em uma ficha-síntese que contém informações como: qual a atividade realizada, quanto tempo durou, em que local ocorreu e que materiais foram utilizados. Exemplo:

Quadro 1: Elementos da Rotina do 1º dia de observação

Atividades Tempo inicial Espaço utilizado Material utilizado

Acolhida 07h15min-07h25min Pátio Caixa de som,

microfone e cd com músicas infantis.

Roda de conversa 07h25min Sala de aula -

Escrever a agenda 07h55min Sala de aula Agenda, lápis e

borracha Desenho sobre o

assunto da roda de conversa

08h15min Sala de aula Caderno e lápis de

cor Lavar as mãos para

o lanche

08h55min-09h00min Banheiro situado dentro da sala

Sabonete líquido e toalha

Lanche 09h00min-09h15min Refeitório Prato, copo e colher

Recreio 09h30min-09h50min Parque Brinquedos do

parque

Descanso 09h50min-10h00min Sala de aula Mesa e cadeira

Biblioteca 10h00min Sala da biblioteca Livros e fantoches

Saída 10h55min - -

Fonte: pesquisa direta

Em algumas linhas do quadro, há só o tempo inicial das atividades porque à medida que a primeira criança terminasse a atividade proposta recebia novas instruções da professora e assim não havia como contabilizar o tempo exato das mesmas. Nesta classe, em um mesmo tempo, as crianças podiam fazer diferentes atividades. Os detalhes sobre essa tabela estarão descritos no próximo capítulo. Vale destacar que, no quadro 1 optei pela nomeclatura utilizada pela professora; por exemplo, as atividades do parque foram denominadas recreio e as de pscomotricidade receberam o nome de recreação.

Na primeira parte, registrei os dados em um diário de campo no qual foram descritas as atividades diárias da turma do Jardim II da escola em estudo. No diário de campo, encontram- se também as impressões e reflexões da pesquisadora. Inclui ainda registros de fotografias dos

espaços da escola: “hall”, sala das professoras, corredores, cozinha, pátio, parque e sala do Jardim II que foram apresentadas no decorrer deste trabalho, com o objetivo de ilustrar as descrições dos espaços e materiais observados, elementos da rotina amplamente discutidos nesta pesquisa.