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4.4 Análise de documentos oficiais e dos dados

4.4.2. A análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais em relação ao ensino de

Os Parâmetros Curriculares Nacionais auxiliam os profissionais da educação na execução do ensino de língua portuguesa a falantes nativos na educação básica. Diante do que foi apresentado pela LDB n.9394/96 em relação à finalidade da educação básica e seus componentes curriculares, percebemos uma convergência de discursos, em ambos os documentos oficiais, que visam à formação de cidadãos atuantes e conscientes na sociedade.

Como objetivos gerais do ensino fundamental, estima-se que os alunos sejam capazes de, segundo os PCNs (BRASIL,1997),

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• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País;

• conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;

• perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

• desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;

• conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;

• utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;

• saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;

• questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

Em relação ao ensino de Língua Portuguesa, os PCNs apontam a necessidade de desenvolvimento de competências no ensino fundamental e

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destacam que as condições atuais de ensino permitem considerar não só o conhecimento didático acumulado, mas também as contribuições de outras áreas. (BRASIL, 1997: 20)

Esse documento oficial aponta a necessidade da aprendizagem de elementos linguísticos necessários ao exercício da cidadania. Considera a importância da ampliação do conhecimento prévio auxiliar do aluno para um melhor desempenho tanto na interpretação de textos que circulam socialmente quanto na produção de textos eficazes nas mais variadas situações de comunicação. (BRASIL, 1997:21)

Para Kleiman (2008:31), a concepção de leitura como atividade a ser ensinada na escola está embasada em modelos já bem definidos sobre como processamos a informação. Esses modelos lidam com aspectos cognitivos, relação entre sujeito leitor e o texto enquanto objeto, entre linguagem escrita e compreensão, assim como memória, inferência e pensamento. Eles tentam incorporar aspectos socioculturais de leitura que vão da percepção das letras ao conhecimento armazenado na memória. A leitura exige a ativação de conhecimentos linguísticos, textuais e enciclopédicos.

Em relação à concepção de língua e linguagem apresentada nos PCNs, tem-se a linguagem como

uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. (BRASIL, 1997:22)

A concepção de linguagem, apresentada pelos PCNs, coincide com a terceira possibilidade de concepção de linguagem apresentada por Travaglia (2006:23) em que destaca sua dinamicidade concebendo-a como processo de interação dos indivíduos em situações comunicativas.

Em relação à língua, os PCNs consideram ser

um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. (BRASIL, 1997:22)

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Nesse sentido, elencam que produzir linguagem significa produzir discursos, na interação dos interlocutores. Ainda conforme esses documentos oficiais,

o discurso possui um significado amplo: refere-se à atividade comunicativa que é realizada numa determinada situação, abrangendo tanto o conjunto de enunciados que lhe deu origem quanto as condições nas quais foi produzido.(BRASIL, 1997:23)

No que se refere ao ensino de língua portuguesa que envolve a inserção do estudante na sociedade como atuante e crítico, Almeida (2006:14) afirma que

A língua é produzida socialmente. Sua produção e reprodução é fato cotidiano, localizado no tempo e no espaço da vida dos homens: uma questão dentro da vida e da morte, do prazer e do sofrer. Numa sociedade como a brasileira – que, por sua dinâmica econômica e política, divide e individualiza as pessoas, isola-as em grupos, distribui a miséria entre a maioria e concentra os privilégios nas mãos de poucos-, a língua não poderia deixar de ser, entre outras coisas, também a expressão dessa mesma situação.”

Em relação ao texto, os PCNs destacam que todo texto resultante de uma atividade discursiva está em relação com outros textos e que todo texto se organiza em gêneros. Nesse sentido, faz-se necessário o trabalho com o texto em sala de aula tendo em vista a sua função social, a intencionalidade e as circunstâncias de sua produção, a linguagem utilizada para que haja compreensão da função social da linguagem.

Os gêneros discursivos, segundo Bakhtin (2010), são formas de comunicação que caracterizam os processos interativos. Conforme o teórico, o emprego da língua se dá por meio de enunciados (orais e escritos), que refletem as condições específicas e as finalidades de cada campo não só por seu conteúdo (temático), pelo estilo da linguagem, mas também por sua construção composicional.

No que se refere à sala de aula, os PCNs destacam não somente a importância do trabalho com os vários textos que circulam socialmente, ou seja, de um trabalho que foca a diversidade de textos de circulação social para assim ter o texto como unidade básica do ensino, mas também destacam a importância de um processo de reflexão sobre a aprendizagem.

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Nesse cenário, tem-se a importância do desenvolvimento da competência comunicativa do falante que, segundo Lomas (2003:18-19), é alcançada quando se possui não somente uma competência linguística, mas também no que se refere à competência sociolinguística, à textual, à estratégica além das competências literária e semiológica.

O texto, assim, possibilita o aperfeiçoamento da competência comunicativa do estudante tendo em vista a possibilidade de um trabalho com a gramática da língua, com a adequação da linguagem a partir das situações comunicativas, com a utilização dos recursos que a língua oferece nas situações de interação.

Desse modo, Alarcão afirma que

O grande desafio para os professores vai ser ajudar a desenvolver nos alunos, futuros cidadãos, a capacidade de trabalho autônomo e colaborativo, mas também o espírito crítico. Mas cuidado! O espírito crítico não se desenvolve através de monólogos expositivos. O desenvolvimento do espírito crítico faz-se no diálogo, no confronto de ideias e de práticas, na capacidade de se ouvir o outro, mas também de se ouvir a si próprio e de se autocriticiar. (ALARCÃO, 2011:34)

Conforme os PCNs (BRASIL,1997:33), no decorrer dos oito anos do ensino fundamental, espera-se que os estudantes adquiram competência em relação à linguagem. Assim, o ensino de Língua Portuguesa deverá organizar- se de modo que os alunos sejam capazes de:

• expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos — tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados;

• utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de que participam;

• conhecer e respeitar as diferentes variedades linguísticas do português falado;

• compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de quem os produz;

• valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética,

100 sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos;

• utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.;

• valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opiniões, bem como de acolher, interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário;

• usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise crítica;

• conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. (BRASIL, 1997:33)

É importante ressaltar que o exposto nos PCNs expressa a noção de competência comunicativa como proposto por Lomas (2003) que direciona o falante para a apropriação e para o uso da linguagem conforme as características do contexto comunicativo em que os falantes estão inseridos.

Os conteúdos do ensino fundamental estão relacionados às habilidades linguísticas dos atos de falar, escutar, ler e escrever. E, nesse sentido, a seleção de conteúdos deve contemplar o desenvolvimento dessas habilidades e também ser organizados em torno de dois eixos: “O uso da língua oral e escrita e a análise e reflexão sobre a língua” (BRASIL, 1997:35).

A organização dos conteúdos em função do eixo USO REFLEXÃO USO considera o tratamento cíclico e o aprofundamento de conhecimentos ao longo dos anos escolares. Desse modo, apresentam que é preciso sequenciar os conteúdos conforme critérios que possibilitem a continuidade da aprendizagem. São eles:

• considerar os conhecimentos anteriores dos alunos em relação ao que se pretende ensinar, identificando até que ponto os conteúdos ensinados foram realmente aprendidos;

• considerar o nível de complexidade dos diferentes conteúdos como definidor do grau de autonomia possível aos alunos, na realização das atividades, nos diferentes ciclos;

101 • considerar o nível de aprofundamento possível de cada conteúdo, em função das possibilidades de compreensão dos alunos nos diferentes momentos do seu processo de aprendizagem.(BRASIL, 1997:36)

Assim, destacam a importância desses critérios serem organizados de forma articulada e da realização, por parte de cada escola, da organização de conteúdos que favoreça a aprendizagem.

Diante do exposto, contatamos que os PCNs podem embasar o trabalho com a Educação Linguística tendo em vista apresentar princípios semelhantes aos da EL no que se refere ao trabalho com a língua materna.