4.6. O Planejamento anual dos docentes e as práticas docentes
4.6.2. O Planejamento anual do docente – Colégio Posyn
4.6.2.1. O planejamento anual do colégio Posyn x a prática docente
5 Constatamos, pelas aulas assistidas no último bimestre letivo, que a professora tende a utilizar a aula
expositiva dialogada tendo em vista que a docente interage com os estudantes por meio do diálogo estimulando a participação na aquisição do conteúdo. Segundo Lopes (2012) essa estratégia de ensino “pode ser descrita como uma exposição de conceitos, com a participação ativa dos alunos, onde o conhecimento prévio é extremamente importante, devendo ser considerado este o ponto de partida.”
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Nas aulas a que assistimos, a professora P2, do colégio Posyn, desenvolveu um trabalho com as palavras homônimas, parônimas. É importante destacar que esse conteúdo não estava previsto no planejamento anual da professora. Portanto, foi uma atividade isolada, descontextualizada e não relacionada com o trabalho em desenvolvimento.
Por estarmos no 4º bimestre no momento da pesquisa e observação das aulas, atribuímos ao conteúdo o objetivo apresentado no último bimestre letivo, assim, conforme apresentado no planejamento anual da professora P2, ao se trabalhar o conteúdo desse bimestre, objetivava-se a sensibilização do aluno para a observação das variantes linguísticas, bem como para o “valor” social atribuído a elas e a compreensão que a análise linguística pode ser um instrumento que contribui para uma melhor compreensão e produção de texto.
Inicialmente, a professora passou o conteúdo das parônimas, homônimas na lousa de forma tradicional e mecânica; em seguida, iniciou a explicação. Para isso, contextualizou o uso das palavras nas mais diversas situações que envolviam seus alunos no dia a dia, dando exemplos e solicitando a participação individual e coletiva da turma para pensar nos questionamentos e se posicionar nas respostas.
Exemplo de algumas palavras e a forma com a qual o conteúdo foi explicitado aos alunos:
Acender - pôr fogo a
Ascender - elevar-se, subir
Acento - inflexão de voz, tom de voz, acento Assento - base, lugar de sentar-se
Acessório - pertences de qualquer instrumento ou máquina; que não é principal
Assessório - diz respeito a assistente, adjunto ou assessor Cela - aposento de religiosos; pequeno quarto de dormir Sela - arreio de cavalgadura
Censo - recenseamento Senso - juízo
Cessão - ato de ceder
Sessão - tempo que dura uma assembleia Secção ou seção - corte, divisão
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Coser - costurar Cozer – cozinhar
Descrição - ato de descrever Discrição - qualidade de discreto Infligir - aplicar castigo ou pena Infringir - transgredir
Tráfego - trânsito Tráfico - negócio ilícito
Após a explicitação do conteúdo e da realização de exercícios em sala, em aulas posteriores, a professora solicitou um trabalho para nota, com consulta ao caderno, para verificação do índice de aprendizagem dos estudantes em relação ao preenchimento correto das palavras.
Como exemplo, tem-se alguns dos itens do trabalho:
1. A Mayra decidiu ... uma fogueira para comemorar a festa de São João. (acender/ascender).
2. Juliana fez ... do seu jeito de ser. (descrição/discrição).
3. A Karol precisa ... (consertar/concertar) a sua moto, a coitada não conseguiu fugir do guarda que a ... em excesso de velocidade e lhe ... com a multa. (flagrou/fragrou/infligiu/infrigiu).
4. Rita precisa ...os legumes e ...os vestidos das meninas. (cozer/coser ; cozer/coser)
5. Em 1992 foi realizado um outro ...escolar. (senso/censo)
6. A Luana, a Gaby, a Bia, a Heloisa tiveram o bom ...na hora de decidirem a seguinte questão: namorar ou estudar? É claro que escolheram a 2ª opção. (senso/censo)
Por meio das atividades solicitadas e da metodologia utilizada para a apresentação do conteúdo aos alunos, constatamos que a professora P2 tentou aproximar os exemplos dos exercícios da realidade dos alunos, mas não desenvolveu um trabalho voltado para os gêneros textuais, para a materialidade linguística para que os estudantes pudessem perceber a realização concreta, intenção e sentido pretendidos no contexto e uso de
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determinadas palavras. A atuação da professora caminhou na direção apontada por Neves:
O ponto central que se oferece a reflexão, na observação do tratamento da gramática nas escolas, é que esse tratamento se tem feito como se gramática fosse alguma entidade postiça a que só teremos acesso se sairmos dos textos, isto é, se abstrairmos os usos, que é exatamente o que não pode ocorrer. (NEVES, 2008:125)
Embora não tenha sido contemplado o texto, o trabalho com esse conteúdo, por meio de um método tradicional de ensino, objetivou direcionar o conhecimento dos alunos em relação à norma culta, aspecto que consideramos ser função essencial da escola, sendo uma atitude recomendada por Possenti:
Não vale a pena recolocar a discussão pró ou contra a gramática, mas é preciso distinguir seu papel do papel da escola – que é ensinar língua padrão, isto é, criar condições para seu uso efetivo. É perfeitamente possível aprender uma língua sem conhecer os termos técnicos com as quais ela é analisada. (POSSENTI, 1996:54)
Considerando que o objetivo da professora, no planejamento anual, no 4º bimestre era sensibilizar o aluno para a observação das variantes linguísticas e direcionar a análise linguística em prol da melhoria da compreensão e produção de texto, faz-se necessário o desenvolvimento de um trabalho que contemple não somente a norma culta mas também as variações no uso da língua com foco no texto para que os estudantes possam adequar a linguagem às mais diversas situações de comunicação e também aprimorar a leitura e escrita de textos.
Dessa forma, constatamos que, por meio do ensino desse conteúdo, a professora P2 não direcionou seus alunos à competência comunicativa, às formas concretas de comunicação, mas focou seu trabalho em frases desconexas do texto, apenas dando exemplos de situações vivenciadas pelos estudantes, ficando evidente a contradição entre o proposto em seu planejamento e a prática efetiva em sala de aula.
Após a análise dos Projetos Políticos Pedagógicos, dos planejamentos anuais das docentes com vistas às suas práticas de ensino, passamos à análise do questionário respondido pelas professoras a fim de verificar seus
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posicionamentos teóricos em relação ao ensino de língua portuguesa e à prática em sala de aula.
Dessa forma, buscamos, para a análise, considerar não somente a teoria que embasa o trabalho com a língua materna como também as aulas práticas a que assistimos das docentes participantes de nossa pesquisa.