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A ANHANGUERA EDUCACIONAL PARTICIPAÇÕES S.A., A ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES S.A E A KROTON EDUCACIONAL S.A.

Neste capítulo, analisam-se as 3 empresas/companhias116 privadas de ensino superior com fins lucrativos selecionadas, no caso, a Anhanguera Educacional Participações S.A., a Estácio Participações S.A. e a Kroton Educacional S.A.

O período delimitado compreendeu os anos de 2007, quando foi feita a primeira OPA das 3 empresas, até 2012; mas algumas informações, pelas suas relevâncias, podem vir a extrapolar, antes ou depois, o referencial escolhido.

Como primeiro ponto a ser debatido, abordam-se as novas estratégias associadas à profissionalização da administração empresarial; depois são analisados alguns documentos das companhias referentes às suas gestões corporativas; adiante, continua-se o debate do tema por meio das informações e dos documentos disponibilizados nos endereços eletrônicos das relações com os investidores de cada uma delas; em seguida, discutem-se os exercícios sociais, de 2007 a 2012, para cada uma das 3 empresas e; por fim, alguns dados são apresentados de forma comparativa.

4.1 A profissionalização da administração empresarial

A profissionalização da gestão institucional das grandes empresas na área da educação, que se formaram nos últimos anos, tem sido a questão central para as suas administrações. A eficiência, a criação de valor, a consolidação da marca ou a qualidade, etc., constituíram-se como temas que não podem ficar de fora do cardápio dessas novas receitas corporativas.

Mesmo que alguns membros das tradicionais famílias que comandavam os negócios das companhias ainda façam parte da sua administração, a inserção de profissionais especializados nos negócios dos mercados financeiros passou a ser uma necessidade para a ampliação da eficiência na gestão corporativa.

116 Os termos empresa e companhia são usados como sinônimos, ainda que muitos autores possam atribuir definições próprias

Pela alta fragmentação desse nível de ensino no setor privado, em especial no segmento particular, onde a maior parte das instituições é de pequeno porte, prevalece ainda a administração familiar no comando dos negócios.

A reduzida profissionalização empresarial na administração familiar, tendo em conta as estratégias de gestão corporativa, para a grande maioria das IES particulares do setor privado no país seria um dos principais motivos para os seus pequenos desenvolvimentos institucionais.

No entanto, esse desenvolvimento segundo os modelos de mercado, que muitas vezes acaba por estreitar os laços econômicos com o setor financeiro, no intuito de atender a um número maior de indivíduos, parece tender a uma oligopolização da produção, o que tem também ocorrido, nos últimos anos, com o ensino superior no setor privado com fins lucrativos no Brasil.

Assim, com a inserção de novos atores na gestão empresarial do segmento, tais como os fundos de investimentos117, alguns bancos, os executivos do mercado financeiro ou os novos acionistas pelas vias desse setor econômico exigiram a implantação de um modelo associado às grandes corporações, bem como uma mudança cultural, tarefa às vezes bastante difícil nesse contexto, quando confrontadas com as tradicionais características familiares associadas à condução do negócio (POLIZEL; STEINBERG, 2013).

Vejamos inicialmente a Anhanguera Educacional Participações S.A.118. Essa IES foi criada em

1994, na cidade de Leme, Estado de São Paulo, como uma fundação, de faculdades integradas, sob a liderança de Antônio Carbonari Netto e José Luis Poli.

Em 2003, a Anhanguera possuía 4 instituições, com 7 unidades, em 6 cidades do Estado de São Paulo, onde juntas englobavam um total de 8.848 alunos. Nesse mesmo ano, as IES foram incorporadas para formar a Anhanguera Educacional S.A. (AESA), onde a International Society for Concrete

Pavements (ISCP), à época mantenedora da Universidade Anhembi Morumbi, não apenas injetou capital

na AESA, com a subscrição de novas ações, mas também acrescentou importantes conhecimentos sobre a o mercado da educação do setor privado no país.

Os recursos financeiros do ISCP investidos na AESA permitiram a abertura de novos câmpus em 3 cidades interioranas no Estado de São Paulo, os quais já chegavam ao número de 10, 2 anos depois. Em 2005, o ISCP passou a ser sócio acionário do Fundo de Educação para o Brasil (FEBR)/Fundo de Investimento em Participações, cuja administração estava a cargo do Pátria Investimentos e Participações

117 No Brasil, a Instrução nº 391/2003 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dispôs sobre a constituição, o

funcionamento e a administração dos Fundos de Investimento em Participações. A CVM, a Lei nº 6.385/1976, a Lei nº 6.404/1976, o CMN e o BACEN (Banco Central do Brasil) regulam o mercado de valores mobiliários, onde a primeira supervisiona e edita normas gerais sobre o poder disciplinar da BM&FBovespa e das instituições financeiras junto a ela registradas. Já os 2 últimos podem, entre outras atribuições, permitir a constituição e o funcionamento das corretoras de valores mobiliários, bem como regulamentar operações de câmbio e de investimentos estrangeiros.

118 De agora em diante, apenas Anhanguera, a não ser em ocasiões devidamente justificadas. As informações que se seguirão

para a empresa podem ser acessadas em: <http://www.anhanguera.com/ri/>. Consulta em: 26 mai. 2014. Cabe lembrar que os exercícios sociais de cada uma das 3 empresas, de 2007 a 2012, serão analisados individualmente ainda neste capítulo.

Ltda. (Fundo de Equity Private) que, por sua vez, aplicou novos recursos financeiros na AESA e ainda conseguiu um empréstimo junto à IFC de US$ 12,0 milhões, permutados por novas ações na Anhanguera, tornando-se o seu acionista controlador.

Tais recursos financeiros foram direcionados para proporcionar o crescimento orgânico da empresa, bem como as aquisições de outras IES. Segundo Moretti (2013), em consulta à Revista Capital Aberto, também no ano de 2005, o investimento financeiro do Pátria na Anhanguera teria sido da ordem de R$ 800,0 milhões.

No final de 2006, os acionistas da AESA adquiriram a Anhanguera Educacional Participações S.A., na época denominada como Mehir Holdings S.A., uma empresa de capital aberto, desde 2001, registrada na CVM. Em 1º de janeiro de 2007, a Anhanguera controlava a AESA e a companhia já possuía 13 câmpus e mais de 24.500 alunos. Na primeira metade desse ano, a Anhanguera foi a companhia pioneira na área do ensino superior do setor privado, não só do Brasil, mas da América Latina, a realizar a sua primeira OPA.

No caso da Estácio Participações S.A.119, surgiu como uma fundação da faculdade de Direito

Estácio de Sá, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1972, com a criação de novos cursos, a Estácio foi transformada em faculdades integradas, o que perdurou até 1988, quando mudou a sua organização acadêmica e se constituiu como universidade.

O processo de expansão da Estácio recebeu maior força na década de 1990. Em 1992, houve a implantação de um novo campus na cidade do Rio de Janeiro e, em 1996, no Estado de mesmo nome, a criação de unidades nas cidades de Nova Friburgo, Niterói e Resende.

No ano de 1997 foi implantado o Instituto Politécnico Universitário que, segundo a empresa, constituiu-se como o primeiro centro superior de formação para o trabalho no país. No ano seguinte, a instituição passou a atuar também nos Estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo.

Em 2005, a Estácio deu início ao processo para a sua transformação de IES sem fins lucrativos, para com finalidades lucrativas. No ano seguinte foram firmadas duas parcerias com instituições internacionais, no caso, a École Hoteliére de Lausanne, em hotelaria, na Suíça, e a Alain Ducasse

Formation, na área de gastronomia, na França. Em meados do ano de 2007, a Estácio realizou a sua

primeira OPA na BM&FBovespa e a empresa começou a contar com a participação de um fundo de

Private Equity, o GP Investments, em 2008.

119 De agora em diante, apenas Estácio, a não ser em ocasiões justificadas. As informações que se seguem foram retiradas de:

<http://www.estacioparticipacoes.com.br/estacio2010/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&conta=28&tipo=30092>. Acesso em: 26 mai. 2014.

A Kroton Educacional S.A.120 surgiu como um curso pré-vestibular, na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, em 1966. Por mais de 3 décadas, depois de um importante crescimento na área do ensino básico do setor privado, só no começo dos anos 2000 foi criada a primeira faculdade Pitágoras, em parceria com a Apollo Internacional, que durou até 2005.

Em meados de 2007, a Kroton realizou a sua primeira OPA na BM&FBovespa e, apesar da associação inicial com uma grande IES norte-americana, que atua em vários países, foi em 2009 que o

Advent International, um dos maiores fundos de Private Equity do mundo, injetou importante soma

financeira na empresa.

As informações iniciais sobre essas 3 companhias, no ramo do ensino superior do setor privado com fins lucrativos no país fornecem uma primeira ideia sobre o paradigma de gestão empresarial que apresenta características específicas por estar inserido dentro da área educacional, mas também mostra similaridades com as estratégias de negócios de qualquer grande companhia.

Na reflexão de Guttmann (2008, p. 12), a “maximização do valor ao acionista” se tornou o objetivo central das companhias, sobretudo com a ascensão nas últimas décadas dos investidores institucionais, que muitas vezes se estabeleceram como os principais acionistas das empresas, a exemplo dos fundos de pensão, dos fundos mútuos e dos fundos de hedge, “que reúnem investidores menores para obter benefícios de escala (melhor diversificação, mais informações, menores custos de transações etc.)”.

Em meio aos ambientes competitivos de mercado, a gestão corporativa das grandes companhias prioriza principalmente a valorização em curto prazo (PLIHON, 1996), mediante os resultados periódicos trimestrais de desempenho da produtividade e dos preços das ações, subsidiados pelos direitos de propriedade, onde as aquisições e as fusões aparecem como as operações de negócio preferidas para o crescimento orgânico das empresas. Para Garagorry (2007, p. 106), isso significa:

[...] criar mecanismos na empresa que resultem no aumento da rentabilidade. Assim, a empresa interioriza os interesses desses acionistas-proprietários, representados, principalmente, pelos “investidores institucionais” e, secundariamente, pelas famílias abastadas. Redefine-se o papel da “controladoria” das companhias. A preocupação da controladoria passa a ser elevar o fluxo de caixa livre, elevando assim a rentabilidade do ativo da empresa. Para isso, recorre a dois mecanismos básicos: de um lado, reduzir o custo da mão-de-obra e, de outro, barrar qualquer investimento nos diversos setores da empresa cuja rentabilidade não alcance o mínimo esperado pelos acionistas.

Contudo, há também muitas opiniões a respeito do possível favorecimento que a maximização do valor aos acionistas possa vir a trazer não só para esses atores, bem como para outros grupos de interesse e para o desenvolvimento de um país, já que são direcionados parte dos recursos financeiros poupados

120 De agora em diante, apenas Kroton, a não ser em ocasiões justificadas. As informações podem ser consultadas em: