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A LEGISLAÇÃO PARA O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: DO REGIME MILITAR AO GOVERNO DILMA

2.3 Os números para o ensino superior de 1999 a

2.3.4 O ensino superior a distância

A apresentação dos dados para o ensino superior a distância compreenderá os anos de 2000, 2004 e 2009, pois as Sinopses Estatísticas da Educação Superior só iniciaram o trabalho com essa modalidade no primeiro ano.

Na Tabela 29, abordam-se o número de cursos, de vagas oferecidas, de candidatos inscritos, de ingresso por vestibular e outros processos seletivos, de matrículas e de concluintes nos cursos de graduação superior a distância, de 2000 a 2009. Nessa ordenação, o crescimento foi de aproximadamente 8.340,0%, 24.187,9%, 8.220,9%, 6.188,4%, 49.729,1%, e 28.654,1%.

TABELA 29: Número de cursos, vagas oferecidas, candidatos inscritos, ingressos, matrículas e concluintes nos cursos de graduação a distância (2000/2004/2009)

2000 2004 2009 Cursos 10 107 844 Vagas Oferecidas 6.430 113.079 1.561.715 Candidatos Inscritos 8.002 50.706 665.839 Ingressos 5.287 25.006 332.469 Matrículas 1.682 59.611 838.125 Concluintes 460 6.746 132.269

Fonte: Brasil (2000b, 2004a, 2009a).

Boa parte desse expressivo crescimento ocorreu no período de 2004 a 2009, fase essa em que uma legislação específica para o ensino a distância foi aprovada em âmbito federal. Nesse último ano, as matrículas para o ensino superior a distância já abrangiam aproximadamente 14,1% do total no país. Se essa modalidade de ensino passou a receber o estímulo do Poder Público com a LDB/1996, sua regulamentação se deu por legislação posterior76.

Para Carvalho (2011a, p. 301), houve certa dificuldade inicial para a estruturação dessa modalidade de ensino, em virtude do “elevado custo inicial dos pacotes tecnológicos e à necessidade de adaptações físicas exigidas na constituição dos polos presenciais”. Mas passada essa primeira fase, os benefícios posteriores podem compensar largamente os investimentos, como tem ocorrido com a Kroton Educacional S.A., a qual será analisada num dos próximos capítulos.

Já Alonso (2010) mostrou preocupação com o rápido processo de crescimento do ensino superior a distância no país, sobretudo com relação aos aspectos da qualidade. No entanto, no estudo coordenado por Sanchez (2008), aproximadamente 66,9% dos estudantes matriculados nessa modalidade de ensino avaliaram positivamente a integração entre as disciplinas e o currículo, enquanto para o ensino presencial os números foram de 51,1%.

Ainda, a média de estudos acima de 3 horas semanais, para os primeiros, alcançaram maiores índices do que os segundos, ou seja, de 53,9% contra 51,0%. Mesmo assim, com menos de meia hora de estudos diários (para os que mais se esforçam), de forma geral, o hábito de se estudar não é uma prática

entre os discentes no país e, com isso, mesmo que haja melhoras institucionais na oferta do ensino, fica difícil alcançar uma qualidade na educação como um todo, sem essa dedicação.

Ao desmembrar os dados com relação às categorias administrativas nas IES, apenas para o número de cursos, no ano de 2009, de acordo com o Gráfico 40, constatou-se que a maior parte esteve concentrada no setor público, que englobou aproximadamente 47,4%, em relação ao total; já no setor privado particular chegou a 37,1%.

GRÁFICO 40: Cursos no ensino superior a distância, segundo a categoria administrativa nas Instituições de Ensino Superior (2009)

Fonte: Brasil (2009a).

Para as vagas oferecidas e os candidatos inscritos, no ano de 2009, não houve a distinção segundo as categorias administrativas nas IES para o ensino superior a distância. Se as IES do setor público mantiveram o maior número de cursos, o mesmo não se deu para o número de ingressos.

Na data mencionada, conforme os números contidos no Gráfico 41, os índices nas IES particulares do setor privado, para o ensino superior a distância chegaram a aproximadamente 72,1%, em relação ao total.

GRÁFICO 41: Ingressos no ensino superior a distância, segundo a categoria administrativa nas Instituições de Ensino Superior (2009)

Fonte: Brasil (2009a).

As matrículas no ensino superior a distância, segundo a categoria administrativa nas IES, de 2000 a 2009, de acordo com o Gráfico 42, também compuseram a sua maioria no setor privado particular, onde alcançaram aproximadamente 63,0%, em relação ao total.

GRÁFICO 42: Matrículas no ensino superior a distância, segundo a categoria administrativa nas Instituições de Ensino Superior (2009)

Fonte: Brasil (2009a).

Das 838.125 matrículas no ensino superior a distância em 2009, aproximadamente 49,7% (416.692) estiveram concentradas na área de Educação, seguida pelas Ciências Sociais, Negócios e Direito, com 34,5% (289.420).

Não se pode esquecer que na LDB/1996 ficou registrado que a formação de profissionais para a administração, o planejamento, a inspeção, a supervisão e a orientação educacional no ensino básico teria de ser feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação77.

Daí a importante contribuição do ensino superior a distância para esse processo, principalmente para muitos dos profissionais já inseridos no mercado de trabalho, em virtude de algumas de suas características, tais como a baixa frequência dos encontros presenciais; a flexibilização da localização dos polos de apoio, conforme o caso; ou os preços das mensalidades, no setor privado, geralmente mais acessível do que na graduação ou na pós-graduação presencial.

Além disso, pretendeu ajudar no cumprimento de uma das metas do PNE/2001, de prover o acesso ao ensino superior para 30,0% da população na faixa etária de 18 a 24 anos. Como o ingresso e as matrículas para o ensino superior a distância se constituíram como a maioria, em relação ao total, nas IES particulares do setor privado, o mesmo também ocorreu com o número de concluintes, como mostra o Gráfico 43, no ano de 2009 que, em termos percentuais, chegou a aproximadamente 64,4%.

GRÁFICO 43: Concluintes no ensino superior a distância, segundo a categoria administrativa nas Instituições de Ensino Superior (2009)

Fonte: Brasil (2009a).

Neste capítulo, objetivou-se delinear um panorama para a expansão do ensino superior nas últimas décadas, mas principalmente no final do século XX e na primeira década do século XXI. Como foi possível observar, a parte substancial desse crescimento esteve associada às IES particulares do setor privado, tanto para o ensino presencial quanto para o ensino a distância nos cursos de graduação, em

77 Tanto o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF)

quanto o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), também contribuíram para a busca do cumprimento legal, ao destinar parte de seus recursos financeiros para tais finalidades. Para uma análise desses Fundos, ver Costa (2013).

meio a uma maior diversificação da oferta e das modalidades de ensino, além das fortes discrepâncias entre as regiões geográficas brasileiras.

No próximo, apesar de já ter sido tratado alguns aspectos desse tema, será mais bem trabalhada a questão da mercantilização da educação, principalmente para o ensino superior brasileiro nas duas últimas décadas.

CAPÍTULO 3

A MERCANTILIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

A expansão sobre o que tem sido proposto como a mercantilização da educação também se insere como parte do contexto das reformas políticas, econômicas, sociais e culturais, a nível mundial, mas principalmente a partir dos países centrais, desencadeada nas últimas 4 a 5 décadas. Muitas são as questões, de caráter interdisciplinar, que envolvem o debate, onde há a necessidade de análise que leve em consideração as particularidades de cada nação e dos variados temas.

No entanto, restringe-se neste capítulo a abordagem da problemática apenas ao campo da educação, de forma a não explorar detalhadamente os temas que serão em seguida apresentados, já que para as finalidades aqui delineadas, todos eles, muitas vezes foram exaustivamente trabalhados.

O que se pretende é continuar a estender o referencial para a estruturação de uma base teórica que permita o melhor entendimento sobre o objetivo principal deste trabalho, que compreende a análise de 3 empresas educacionais que possuem o seu capital aberto na BM&FBovespa, a ser tratada nos capítulos seguintes.

Assim, nas próximas seções são discutidos certos tópicos, que não esgotam o assunto, como a questão dos organismos internacionais e a educação; a mercantilização no âmbito do ensino superior no Brasil; o FIES e o PROUNI; a qualidade; bem como a financeirização do capital para esse nível de ensino.