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A LEGISLAÇÃO PARA O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: DO REGIME MILITAR AO GOVERNO DILMA

2.2 Dos anos de 1980 até a primeira metade da década de

A escolha da repartição cronológica como proposta para essa fase da discussão ocorreu pelo fato da publicação do maior número de dados66, tendo em conta os documentos, de 1996, do Ministério da Educação e do Desporto, intitulados Evolução das Estatísticas do Ensino Superior no Brasil (1980-1996)

66 Apesar disso, também não se pretende esmiuçar as possibilidades de análises para os mesmos, tarefa dedicada à próxima

e Sinopse Estatística da Educação Superior, ambos para os cursos de graduação. Assim, os números foram agrupados num intervalo de 5 anos, no período de 1980 a 1995.

De forma geral, em relação ao número total de IES, o contexto abordado pode ser considerado como de estagnação, tanto no setor público quanto no setor privado, pois no período de 15 anos, ou seja, de 1980 a 1995, cresceu aproximadamente 1,4%. Segundo o Gráfico 3, para o setor privado, houve a ampliação de 0,3%; já no setor público, aumentou 5,0%.

GRÁFICO 3: Instituições de Ensino Superior conforme a categoria administrativa (1980-1995) Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Para as IES do setor privado, de 1980 a 1985, ocorreu uma redução de aproximadamente 8,2%. Fora a crise econômica, bem como as críticas de entidades profissionais e de associações representativas da sociedade civil ligadas à educação, sobre a qualidade desse nível de ensino que apareceram no período, cabe também recordar que o Decreto nº 86.000/1981 suspendeu temporariamente, pelo prazo de 19 meses, quando revogado pelo Decreto nº 87.911/1982, a criação de novos cursos de graduação nas universidades e nos estabelecimentos isolados.

Em termo percentuais, com relação ao total, o Gráfico 4 apresenta as IES, segundo a categoria administrativa. Ainda que tenha havido pouca modificação nos números, entre 1980 e 1995, a presença do setor privado sempre foi maior do que 70,0%, em todo o período.

GRÁFICO 4: Instituições de Ensino Superior conforme a categoria administrativa (1980-1995) – (%) Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Com a Tabela 3 é possível observar, de 1980 a 1995, o crescimento no número de federações de escolas e de faculdades integradas no setor privado, que em termos percentuais chegou a aproximadamente 431,6%, quando passou de 19, no primeiro ano, para 101, no último. Outro destaque correspondeu à ampliação das universidades no setor privado, de 1985 a 1995, que foi de 215,0%, mas também no setor público, de 50,0%.

TABELA 3: Instituições de Ensino Superior segundo a organização acadêmica e a categoria administrativa (1980-1995)

Ano

Universidade Federações de Escolas e Faculdades Integradas

Estabelecimentos Isolados Total Privado Público Privado Público Privado Público

1980 20 45 19 1 643 154 882

1985 20 48 58 1 548 184 859

1990 40 49 74 0 582 167 918

1995 63 72 101 10 520 128 894

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

O forte impulso ao aumento no número de estabelecimentos isolados no ensino superior, da década de 1970, não foi verificado na de 1980 e na primeira metade de 1990, principalmente pela crise econômica vivida pelo país nesse período.

Se essas IES tiveram redução de aproximadamente 19,1%, no setor privado, e de 16,9%, no setor público, de 1980 a 1995 (no entanto, ver as oscilações na Tabela 3, conforme a organização cronológica, tanto no setor público quanto no setor privado), isso ocorreu, em parte, pelas suas transformações em universidades, mas também por vários processos de aquisições ou de fusões entre elas.

De acordo com Martins (2009, p. 23), “a expansão das universidades privadas foi orientada pela percepção de seus proprietários de que a existência de estabelecimentos maiores, oferecendo cursos mais diversificados, teria vantagens competitivas no interior do mercado do ensino superior”.

Ainda segundo o autor, também se destacou o fato da CF/1988 reforçar o princípio da autonomia para as universidades, principalmente quanto à maior flexibilidade para a criação e a extinção de cursos em suas sedes, ou o remanejamento de vagas, que não precisariam ser submetidos ao controle burocrático de nenhum órgão oficial, bem como poderiam se adequar de forma mais ágil às demandas de mercado.

Além disso, o status de uma suposta garantia da qualidade educacional que sempre gozaram as universidades - raciocínio de caráter duvidoso, independente da categoria administrativa, e que merece a análise individual para cada caso -, poderia se constituir num atrativo para elevar o número de matrículas nessas IES do setor privado.

Mas a prerrogativa constitucional da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão para as universidades, sobretudo para aquelas que acabaram por se estabelecer como laicas e com finalidades lucrativas (mesmo sem o amparo legal para tanto, nesse período), muitas vezes não foi cumprida por essas IES, ou pelo menos como deveria ter sido, em virtude dos custos para esses trabalhos, os quais exigem maior e melhor infraestrutura, além de qualificação do corpo docente, que necessariamente poderiam comprometer as suas margens de lucro.

Para as matrículas nas IES, de 1980 a 1995, o Gráfico 5 apresenta a movimentação dos números. Em relação ao total, o aumento foi de aproximadamente 27,8%. Ao desmembrar os dados segundo a categoria administrativa, o crescimento chegou a 19,7%, no setor privado67, além de 42,3%, no setor público.

67 Em 1991, aproximadamente 67,8% das matrículas nas IES do setor privado estiveram concentradas no período noturno,

principalmente em virtude das características de seus estudantes, quase sempre já inseridos nos mercados de trabalho, e muitas vezes fora da idade de 18 a 24 anos de idade. Ainda, se em 1990, aproximadamente 50,4% das matrículas estiveram concentradas nas capitais, quando comparadas ao interior, no ano de 1994, o índice caiu para 49,8% (BRASIL, 1996d).

GRÁFICO 5: Matrículas nas Instituições de Ensino Superior conforme a categoria administrativa (1980- 1995)

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Como foi destacado anteriormente, tem sido possível encontrar divergências na apresentação dos dados, ou mesmo erros em suas análises. Por exemplo, de acordo com Sampaio (2011, p. 30), ao estruturar a reflexão em outro texto seu publicado no ano de 2000, colocou que, de 1980 a 1985, “a taxa de crescimento das matrículas privadas não chegou a 1%”, principalmente pelo “estrangulamento do número de concluintes do ensino médio68”.

Ao consultar a obra da autora do ano 2000, que também se constitui numa das referências para este trabalho, verificou-se que os dados analisados são os mesmos que aqui são abordados, ou seja, do documento disponibilizado pelo Ministério da Educação e do Desporto. Com isso, ao invés da taxa de crescimento de 1,0% nas matrículas para o setor privado, de 1980 a 1985, o que ocorreu foi uma queda de aproximadamente 8,4%. Na década seguinte, de 1985 a 1995, as matrículas voltaram a crescer em 30,6%.

O tratamento para as matrículas nas IES, de acordo com a categoria administrativa, de 1980 a 1995, segundo o Gráfico 6, também apresentou a supremacia do setor privado, que se manteve sempre acima de 60,0%, em relação ao total, mesmo com a queda de 4,1 p.p., no período observado.

68 De 1980 a 1994, a relação entre a quantidade de concluintes no ensino médio e de vagas no ensino superior se manteve em

1,3 (DURHAM, 2003). Quanto ao percentual de vagas não preenchidas, saiu de aproximadamente 11,9%, em 1980, para 16,4%, em 1995 (BRASIL, 1996d), cujo aumento ocorreu, em parte, graças à crise econômica e ao “estrangulamento” nos índices de conclusão do ensino médio no período, o que levaria a uma tendência de maior competição entre as IES, principalmente no setor privado.

GRÁFICO 6: Matrículas nas Instituições de Ensino Superior conforme a categoria administrativa (1980- 1995) – (%)

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Na Tabela 4, destacam-se alguns números, como aqueles associados às matrículas nas universidades do setor privado que, de 1980 a 1995 cresceram aproximadamente 113,1%, enquanto no setor público, 48,2%. Para as federações de escolas e as faculdades integradas, no primeiro setor, o aumento foi de 99,9%, e para os estabelecimentos isolados, ocorreu uma queda de 37,1%.

TABELA 4: Matrículas nas Instituições de Ensino Superior segundo a organização acadêmica e a categoria administrativa (1980-1995)

Ano

Universidade Federações de Escolas e Faculdades Integradas

Estabelecimentos Isolados Total Privado Público Privado Público Privado Público

1980 248.359 403.841 94.270 2.622 542.425 85.769 1.377.286

1985 238.020 433.957 179.964 4.052 392.945 118.671 1.367.609

1990 370.245 454.382 202.079 0 389.131 124.243 1.540.080

1995 529.353 598.579 188.485 5.329 341.325 96.632 1.759.703

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Quanto às matrículas nas IES do setor privado, conforme as regiões geográficas brasileiras, de 1980 a 1994 ocorreram aumentos para a região Norte e para a região Centro-Oeste, em termos percentuais com relação ao total, em cada uma delas, ou seja, passou de aproximadamente 18,1%, para 23,6%, na primeira, e de 52,3%, para 56,6%, na segunda. As demais regiões registraram quedas percentuais, ou seja, de 34,6% para 30,0%, na região Nordeste; 75,6% para 72,7%, na região Sudeste; e 58,5% para 48,2%, na região Sul (BRASIL, 1996c, 1996d).

A Tabela 5 mostra uma série de dados, de 1980 a 1995, associada ao número de vagas, de inscrições, de ingressantes pelo vestibular, e de concluintes nas IES, de acordo com a categoria administrativa. O principal destaque a ser considerado corresponde à diminuição, em relação ao total, no

número de inscrições (de aproximadamente 16,0%) e de ingressantes (2,9%), de 1980 a 1985, além dos concluintes (1,7%), de 1985 a 1990.

TABELA 5: Vagas, inscrições, ingressantes pelo vestibular, e concluintes nas Instituições de Ensino Superior, segundo a categoria administrativa (1980-1995)

1980 1985 1990 1995 Total Vagas 404.814 430.482 502.784 610.355 Inscrições 1.803.567 1.514.341 1.905.498 2.653.853 Ingressantes 356.667 346.380 407.148 510.377 Concluintes 226.423 234.173 230.206 254.401 Público Vagas 126.940 141.274 155.009 178.145 Inscrições 851.714 779.887 881.561 1.399.092 Ingressantes 117.414 123.744 126.139 158.012 Concluintes 80.948 82.444 77.854 94.951 Privado Vagas 277.874 289.208 347.775 432.210 Inscrições 951.853 734.454 1.023.937 1.254.761 Ingressantes 239.253 222.636 281.009 352.365 Concluintes 145.475 151.729 152.352 159.450 Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Em seguida, os dados que serão tratados correspondem aos cursos nas IES. Para o ano de 1980, os documentos que trazem as estatísticas não apresentaram os números para essa data. Assim, de 1985 até 1995, conforme o Gráfico 7, os cursos aumentaram aproximadamente 59,4%, em relação ao total. No setor privado, o crescimento correspondeu a 62,3%, e no setor público, a 55,9%.

GRÁFICO 7: Cursos nas Instituições de Ensino Superior conforme a categoria administrativa (1985- 1995)

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Da mesma forma que ocorreu para o número de IES, pelo Gráfico 8, a quantidade de cursos - mesmo com o crescimento de sua diversificação no que tange às carreira oferecidas -, em termos

percentuais, manteve-se praticamente constante, de 1985 a 1995, mas com a predominância do setor privado, que no último ano abrangeu aproximadamente 56,5% do total.

GRÁFICO 8: Cursos nas Instituições de Ensino Superior conforme a categoria administrativa (1985- 1995) – (%)

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

Quando são analisados os dados para os cursos nas IES, de acordo com a organização acadêmica e a categoria administrativa, como pode ser observado na Tabela 6, os maiores destaques verificados consistem na sua ampliação associada às universidades, em aproximadamente 259,8%, no setor privado, e em 82,4%, no setor público.

TABELA 6: Cursos nas Instituições de Ensino Superior segundo a organização acadêmica e a categoria administrativa (1985-1995)

Ano

Universidade Federações de Escolas e Faculdades Integradas

Estabelecimentos Isolados Total Privado Público Privado Público Privado Público

1985 440 1.285 474 11 1.224 489 3.923

1990 874 1.519 546 0 1.291 482 4.712

1995 1.583 2.344 634 47 1.253 391 6.252

Fonte: BRASIL (1996c, 1996d).

O panorama geral dos dados estatísticos sobre o ensino superior no país, até aqui delineados, que abarcam um período de aproximadamente 3 décadas, nas 2 últimas seções, forneceram uma base para que se possa então trabalhar com os números para esse nível de ensino, de forma mais detalhada - principalmente para o setor privado -, no final da segunda metade dos anos de 1990, até o ano de 2009, o que será feito no próximo tópico.