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A Animação Sociocultural: uma Ferramenta ao Dispor do Educador Social

CAPÍTULO V – O PAPEL DO EDUCADOR SOCIAL NA INTERVENÇÃO EMOCIONAL E EDUCATIVA

5.4. A Animação Sociocultural: uma Ferramenta ao Dispor do Educador Social

Como já referimos nos capítulos I e II, os comportamentos empreendedores e as competências emocionais são susceptíveis de ser desenvolvidos, pelo que neste ponto pretendemos demonstrar de que forma o educador social poderá promover os mesmos comportamentos e competências, através da animação sociocultural.

Também as dinâmicas de grupo, e os jogos embora não sejam “golpes de magia”, poderão contribuir para melhorar o funcionamento do grupo e para modificar comportamentos, constituindo uma ferramenta de apoio ao empreendorismo e às

competências emocionais. Nunca esquecendo que educar não é modelar hábitos, nem regularizar comportamentos ou diminuir diferenças. O ser “sui generis” deve ser respeitado, a alteridade deve ser valorizada, pois só assim a criatividade pode gerar segurança.

O Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar de 2004, preconizado pelos Ministério da Educação e Ministério da Segurança Social e do Trabalho, já defendia a criação e dinamização de um programa de apoio e financiamento a actividades extracurriculares, no entanto, entendemos que estas acções, devem ser orientadas, não só para responder à problemática do abandono escolar como também para contribuir para a minimização de outras problemáticas como o bullying, a gravidez precoce, a preguiça mental, a falta de criatividade, a baixa auto-estima e as dependências.

A animação sociocultural promove a dinamização cultural, social, o associativismo e o autoconhecimento (Trilla et al., 2004), “explora educativamente as

potencialidades estruturantes da cultura e da sociedade” (Carvalho & Baptista, 2004,

p. 56), as actividades em grupo “constituem excelentes espaços para o adolescente

desenvolver valores como o autocontrolo, a resistência, o cumprimento de regras, a solidariedade, a responsabilidade, a socialização, o empenho na busca de objectivos, a auto-estima” (Silva, 2006, p. 52), podendo ser uma valiosa ferramenta para o educador

social, para o psicólogo e para o professor, já que todos devem trabalhar em parceria (conforme referimos no ponto anterior) com o objectivo comum de ouvir, conhecer e intervir junto dos jovens.

No entanto, qualquer projecto de animação sociocultural que se pretenda desenvolver deverá basear-se num ponto de partida, isto é, “não se pode aplicar uma

metodologia sem estudar, em pormenor, o conjunto de situações que motivaram, influíram e, por vezes, inspiraram a concepção de uma intervenção determinada”

(Trilla, 2004, p. 138), e entendemos que ninguém o poderá fazer de forma mais adequada que o educador social.

Porquê a animação sociocultural como ferramenta para a promoção de competências emocionais e comportamentos empreendedores? Como já foi referido no capítulo IV, o adolescente demonstra-se confuso e perdido num turbilhão de mudanças fisiológicas e de pressões dos pares, pais, professores e demais agentes sociais. Na busca desesperada do seu próprio eu, definindo-se por eu a capacidade de executar acções reflexivas, como planear, observar, guiar o próprio comportamento e a ele reagir

(Bandura, 1982, cit. por Michener, DeLamater & Myers, 2005), o jovem vai tentando perceber qual o seu papel no grupo, na sociedade e quais os valores que pretende adoptar como seus. A animação sociocultural proporcionará “acções, estímulos ou

oportunidades terão um importância especial nos anos da adolescência, naqueles que a socialização, a construção da identidade e as dificuldades para a incorporação na sociedade são maiores” (Trilla et al., 2004, p. 219).

Segundo Hargreaves, Earl e Ryan (2001, p.107), “A ausência de desafios é a

terceira falha das escolas secundárias, no que diz respeito à estimulação do interesse nos estudantes”, indo mais longe, Csikzentmihalyi (1990) considera que muito daquilo

que é catalogado como delinquência juvenil, resulta da necessidade que alguns jovens têm de ter experiências de “fluxo” (ibidem). Sendo o “fluxo (…) um estado de auto-

esquecimento (…) desprovido de estática emocional, exceptuando uma sensação altamente motivadora de ligeira euforia (…) concentração intensa (…) impressão de que o difícil é fácil; o desempenho óptimo parece natural e simples” (Goleman, 1997, p.

113), tal estado não poderá ser alcançado se o indivíduo estiver cansado, deprimido ou nervoso. Pelo que nos parece lógico que se desenvolvam acções que permitam aos jovens libertar-se das tensões e experimentar desafios.

A escola ao contratar o educador social para promover acções de animação sociocultural, estará a desenvolver, nos jovens, competências emocionais e comportamentos empreendedores, já que o desenvolvimento social e cultural “promove

a identidade pessoal, o conhecimento, a comunicação, a consciência crítica, a relação comunitária, a capacidade de iniciativa, a abertura à inovação, a criatividade, a emancipação e a compreensão da complexidade do mundo e dos outros” (Carvalho &

Baptista, 2004, p. 56). O elegermos o educador social para a animação sociocultural prende-se com o facto de esta actividade aparecer como uma especialização no âmbito do diploma de Educação Social - embora nalguns países tenha adquirido um estatuto profissional distinto (Trilla, et al., 2004).

Apesar da animação sociocultural se manifestar uma ferramenta essencial, consideramos que só surtirá efeitos mais alargados se forem criadas sinergias entre várias áreas do conhecimento e entre várias instituições, para que seja possível uma “ponte entre o mundo escolar e a vida exterior” (Trilla et al., 2004). Embora não se considere uma tarefa fácil, defendemos que será perfeitamente exequível, desde que o estado português reconheça a necessidade da figura do educador social na escola e disponibilize os meios necessários para a sua integração no processo educativo.

Na Constituição da República Portuguesa, o artigo 43.º garante a liberdade de aprender e ensinar, referindo no artigo 70.º, ponto 2, que a política de juventude “deverá

ter como objectivos prioritários o desenvolvimento da personalidade dos jovens, a criação de condições para a sua efectiva integração na vida activa, o gosto pela criação livre e o sentido de serviço à comunidade”.

Na Convenção sobre os Direitos da Criança, os Estados participantes comprometeram-se a educar no sentido de promover “o desenvolvimento da

personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicos na medida das suas potencialidades” (artigo 29.º, ponto 1, alínea a)), reconhecendo à criança, no artigo

31.º “o direito ao repouso e aos tempos livres, o direito de participar em jogos e

actividades recreativas próprias da sua idade e de participar livremente na vida cultural e artística”.

A animação sociocultural “é um estímulo para a vida mental, física e emocional

das pessoas, com o objectivo de as estimular para a participação numa gama variada de experiências através das quais podem alcançar um grau mais elevado de realização pessoal” (Trilla et al., 2004, p. 323), pelo que coloca na prática as garantias

mencionadas no parágrafo anterior.

O educador social converte-se, nesta perspectiva, num interveniente social basilar, no reforço da complementaridade e da ligação “entre tempos e formas de aprendizagem,

tradicionalmente separados” (Carvalho & Baptista, 2004, p. 61). A escola deverá

adaptar-se à nova realidade social, adoptando um papel mais abrangente com o apoio de “profissionais capacitados para a intervenção socioeducativa” (ibidem). De facto, “as

metas de socialização ligadas ao ideal de uma escola inclusiva só poderão ser realizadas mediante a inclusão social da escola. Problemas como o insucesso escolar, o absentismo ou a violência, reclamam estratégias concentradas entre uma educação escolar e uma educação não escolar” (ibidem).

Conforme se poderá visualizar no quadro seguinte, adaptado de Trilla et al., 2004), existem quatro áreas de actuação da animação sociocultural:

Quadro VI - Áreas de actuação na Animação Sociocultural

DIMENSÃO