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CAPÍTULO III – O PODER DAS EMOÇÕES

3.3. As Emoções Negativas

Embora algumas emoções negativas, como o medo, a aversão ou a ira, tenham sido desenvolvidos pelo organismo para garantir a sobrevivência, o ser Humano evoluiu muito desde há milhões de anos a esta parte.

No portal de psiquiatria “Psiqweb”, refere-se que, existem actualmente, dados suficientes para se poder afirmar que as emoções positivas estimulam a saúde, enquanto as emoções negativas a comprometem, mencionando que “as emoções negativas podem

(…) determinar não apenas uma repercussão orgânica (…) mas, sobretudo, uma repercussão psico-emocional”, defendendo ainda que períodos longos de emoções

negativas debilitam o sistema imunológico. A ansiedade crónica não só afecta os “recursos cognitivos” - como a memória e a atenção, como também afecta os “recursos

fisiológicos” - como a actividade glandular e o sistema nervoso autónomo. Se o

indivíduo cultivar estados de espírito como a ansiedade crónica e a depressão, serão desencadeadas alterações na harmonia interior, desenvolvendo “sentimentos e

comportamentos predadores do desenvolvimento intra e interpessoal” (Branco, 2004,

p.57). A raiva quando se transforma num estado de espírito poderá causar transtornos cardiovasculares.

Sendo um facto que “aparecem maiores dificuldades cognitivas, afectivas e

emocionais, em indivíduos pertencentes às faixas sociais mais pobres” (Bautista, et.al.,

1997, p. 185), defendemos que a consciência emocional é crucial para os jovens serem capazes de se libertarem de estados de espírito negativos. Não se trata de suprimir as emoções negativas, pois toda e qualquer emoção é válida, mas sim aprender a lidar com elas e expressar os sentimentos apropriados à circunstância. O objectivo será atingir o equilíbrio, não oprimindo as emoções, mas acalmando-as. Controlar as emoções

perturbadoras poderá ser a chave para o bem-estar emocional dos jovens, que certamente se irá reflectir nos seus comportamentos mais assertivos.

Sendo o nosso objecto jovens socioculturalmente desfavorecidos, parece-nos lógico falar em emoções como o medo, a ira, a aversão, a tristeza e a inveja. Não podemos, no entanto, desprezar os casos clínicos de ansiedade crónica, depressões, ou comportamentos agressivos incontroláveis, em que será imprescindível o apoio da psicoterapia.

a) Medo

O medo é uma emoção básica e mais do que qualquer outra emoção, é essencial para a sobrevivência, uma vez que ajuda o indivíduo a sair do perigo. No entanto considera-se uma emoção negativa uma vez que está intimamente ligado à ansiedade, ao nervosismo, à precaução e à desconfiança.

Os medos poderão ser inatos, isto é, aqueles que pertencem ao reservatório genético da espécie humana, incidindo sobre objectos ou situações que representaram perigo desde os primórdios da humanidade, como por exemplo, os medos das alturas, do escuro, de animais, da água, do vazio ou do estar fechado. Ou poderão ser aprendidos, quando resultam de experiências traumáticas, como um acidente, ou da inépcia educativa, como o caso dos medos que são transmitidos dos pais para os filhos, ou ainda, aqueles que resultam do desenvolvimento do indivíduo e da evolução tecnológica, dependendo do contexto cultural em que se vive, como será o caso dos medos ligados à religião, ao sobrenatural, às doenças infecciosas, à poluição, à novidade tecnológica, etc. (Lelord &André, 2002).

Os neurobiólogos descobriram que o lóbulo temporal, zona lateral do córtex cerebral, constitui uma das etapas elementares nas reacções de medo (Lelord & André, 2002). Sobre a neurobiologia do medo encontram-se várias pesquisas realizadas, nomeadamente a de Joseph LeDoux, em que se verifica o papel importantíssimo da amígdala como sistema de alarme (cit. por Salovey & Sluyter, 1999).

Goleman, descreve da seguinte maneira os circuitos neuronais do medo:

“um feixe mais pequeno de projecções dirige-se à amígdala e ao hipocampo (…) o outro, maior, segue para o córtex auditivo no lóbulo temporal, onde os sons são identificados e compreendidos. (…) Se a conclusão é tranquilizadora (…) o alarme geral não passa ao nível seguinte. Mas se (…) continua inseguro, outro circuito que reverbera entre a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal amplia esta incerteza e fixa a sua atenção (…)

Se nenhuma resposta satisfatória resulta desta nova análise, a amígdala acciona o alarme; a sua área central activa o hipotálamo, o tronco cerebral e o sistema nervoso autónomo. (…) Cada um dos feixes de neurónios da amígdala possui um conjunto distinto de projecções dotadas de receptores sintonizados com diferentes neurotransmissores (…) Diferentes partes da amígdala recebem diferentes informações. Ao núcleo lateral da amígdala chegam projecções vindas do tálamo e dos córtices visual e auditivo. (…). Todos estes sinais fazem da amígdala uma sentinela permanente, que escrutina todas as experiências sensoriais. Da amígdala partem projecções em direcção a todas as principais partes do cérebro. Das áreas central e média parte um ramo para as áreas do hipotálamo que segregam a substância que prepara o corpo para as respostas de emergência (…) luta-ou-fuga (…) A área basal da amígdala envia ramificações para o corpo estriado, ligando-se ao sistema motor do cérebro. E, através do núcleo central (…) envia sinais ao sistema nervoso autónomo, activando uma vasta gama de respostas no sistema cardiovascular, nos músculos e no estômago.

Uma outra projecção da amígdala liga-a ao locus ceruleus, no tronco cerebral, que por sua vez produz norepinefrina (…) A norepinefrina derrama-se pelo córtex, o tronco cerebral e o próprio sistema límbico, essencialmente colocando o cérebro em estado de alerta. (…) A maior parte destas mudanças ocorre fora do consciente (…) porém (…) quando a ansiedade que era inconsciente se torna consciente – a amígdala dispara imediatamente uma série de respostas. (…) expressão de medo (…) alerta e sobressalto (…) acelera-lhe o ritmo cardíaco (…) subir a pressão arterial”. (1997, pp.319-320)

A ansiedade está intimamente ligada ao medo e apresenta-se sob duas formas: a cognitiva ou pensamentos preocupados e a somática que são os sintomas fisiológicos como a aceleração do ritmo cardíaco, a sudação e a tensão muscular. No que respeita aos jovens, nomeadamente, o receio de não ter positiva nos testes, de não agradar aos pares, de ter uma figura que não agrade ao sexo oposto, tratam-se mais de sintomas de ansiedade, do que propriamente de medo. Já os jovens vítimas de maus-tratos físicos e psicológicos, não só sofrem de ansiedade como terão medo do agressor.

Quadro V – Medo versus Ansiedade