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A Assistência Técnica enquanto instrumento de resistência ao

3. ASSENTAMENTOS RURAIS COMO PRODUTORES DE SAÚDE: AS

3.3. A LUTA POR UMA ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA ALÉM DE UMA

3.3.2. A Assistência Técnica enquanto instrumento de resistência ao

Atualmente, com o fim do contrato com a COOMAP nenhum dos assentamentos do MST no Norte de Minas estão cobertos pelos serviço oficial de assistência técnica, sendo o acompanhamento das famílias feito pelo Setor de Produção do MST e pela Cooperativa Camponesa – Veredas da Terra.

Na organização do trabalho de acompanhamento, segundo os técnicos do MST, há a divisão entre cooperados e não cooperados. Nessa divisão, os assentados e acampados não cooperados são atendidos apenas pelo setor de produção. Também há uma diferenciação do serviço prestado aos cooperados e não cooperados.

No caso dos cooperados, as visitas técnicas são divididas entre a equipe e cada técnico

57 Relação de todas as pessoas que são beneficiárias do Projeto de Assentamento, sendo que a situação irregular

das famílias é uma questão frequente. Normalmente, quando uma família desiste do assentamento, e é substituída por outra, a Relação dos Beneficiários (RB), fica por muito tempo desatualizada. A nova família fica impossibilitada de acesso às políticas públicas destinadas aos assentados.

é responsável pelo acompanhamento de no mínimo duas áreas. Nessas áreas, tanto de acampamentos, quanto de assentamentos, as famílias são organizadas em núcleos de cooperados e as visitas são agendadas e planejadas com o núcleo, e realizadas atividades coletivas e visitas individuais, ou seja, lote-a-lote.

As visitas lote-a-lote ocorrem no mínimo uma vez por mês e, de acordo com alguma demanda específica, por exemplo, o acompanhamento aos campos de produção de sementes agroecológicas, aumenta-se a frequência, podendo chegar a cada 15 ou 20 dias.

Segundo a equipe técnica, mesmo havendo uma certa priorização - tanto por parte da cooperativa, quanto do Setor de Produção -, para prestar assistência técnica para os cooperados, os não cooperados não são deixados de lado. Nesse caso, o acompanhamento não é realizado de forma individualizada (visita lote-a-lote), e sim, através de atividades coletivas: reuniões para tratar de projetos (PRONAF, fomento, etc.) ou encaminhamentos administrativos perante o INCRA ou qualquer outro órgão; atividades de formação/capacitação (oficinas, cursos, seminários); reuniões com dos grupos produtivos (grupos da farinheira, da cana, do mel, de produção de sementes, de mulheres).

Por priorizar os cooperados, a assistência técnica é voltada, em grande parte - inclusive, gastando maior parte do tempo -, para as linhas produtivas desenvolvidas pela cooperativa, que são: a cultura da cana-de-açúcar; cultura de hortaliças, tanto para semente, quanto para a produção; apicultura; e suinocultura. No caso da assistência técnica para as demais culturas, principalmente as lavouras da época das chuvas, ela é realizada no decorrer do ano, durante a visita aos lotes dos cooperados. Neste caso, os não cooperados não recebem acompanhamento.

Durante as visitas são passadas orientações técnicas referente a todas as culturas desenvolvidas pelas famílias, e informações acerca das atividades produtivas definidas como prioritárias pela cooperativa. Tenta-se, nesse caso, incentivar que as famílias abracem as linhas produtivas prioritárias, definida pelo conjunto das famílias cooperadas, não deixando de lado as linhas produtivas tidas como secundárias.

Além das informações em relação aos cultivos, são repassadas informações em relação ao andamento dos projetos (PRONAF, Agroindústrias); informações sobre a comercialização dos produtos (formação de preços, preço de compra e preço de venda da cooperativa).

E, finalmente, para aproveitar as visitas, são repassados aos cooperados informes sobre as pautas políticas do movimento, tanto do setor de produção, quanto de outros setores.

agroecológica, ou orgânica, nos assentamentos, não havendo orientação para uso de agrotóxicos:

A cooperativa tem seguido a linha política do movimento, que é desenvolver a produção de alimentos livres de agrotóxicos, através da utilização de práticas embasadas na agroecologia. Então, no que diz respeito ao uso de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças na produção agrícola, ele não é orientado pelos técnicos da cooperativa (Técnico U.A.).

Extraoficialmente se dá alguma orientação sobre o uso de agrotóxicos aos assentados. “Mas, fazer um receituário agronômico, indicar para eles, […] levar ele na loja para comprar, isso a gente não faz não. As vezes a gente tira uma dúvida, responde alguma pergunta em relação a ação desses agrotóxicos […] mas a gente sempre pergunta: você vai aplicar isso? (Técnico J.C.)

3.4. A produção nos Assentamentos e Acampamentos: a construção de uma autonomia relativa das famílias frente ao Agronegócio58

A pesquisa sobre a produção desenvolvida nos assentamentos e no acampamento apontou que a maioria das famílias, indo de encontro à lógica produtiva do agronegócio de especialização e o monocultivo -, desenvolve estratégias produtivas diversificadas, que incluem: a produção de lavoura (milho, feijão, mandioca) e hortaliças, a criação de pequenos animais (porco e galinha), a apicultura e a bovinocultura (de corte e leite). Essas estratégias produtivas levam em consideração tanto a subsistência quanto a obtenção de renda.

Segundo o relato, tanto das famílias, quanto dos técnicos que acompanham as áreas, nos últimos 5 anos, mesmo tendo avançado em vários aspectos, principalmente na questão tecnológica, devido à escassez de chuvas, as famílias pouco tem produzido. Isso tem forçado as famílias a investirem na implantação de áreas irrigadas.

Também a partir das estratégias produtivas da Cooperativa Camponesa – Veredas da Terra e do Setor de Produção do MST, está havendo nos assentamentos e acampamentos, mudanças significativas na cultura produtiva das famílias. Elas se devem, primeiramente, à intencionalidade da assistência técnica, que inclui tanto o acompanhamento das lavouras, quanto o encaminhamento de projetos de investimento e a comercialização dos produtos das famílias.

Neste sentido, há uma indução por parte da cooperativa regional e do setor de produção, para que as famílias abracem as linhas produtivas definidas como prioritárias pelo MST. Essas linhas produtivas prioritárias são: a produção de derivados da cana; a produção de mel de aroeira; a suinocultura; a horticultura, tanto para a produção propriamente dita, quanto

para a produção de sementes agroecológicas. Nessa estratégia, seguindo os princípios da agroecologia, as linhas produtivas consideradas secundárias não são deixadas de lado; elas entram como complementares: é o caso da bovinocultura, da criação de galinhas, das lavouras e da produção de doces, conservas e panificação.

Com a manutenção de uma assistência técnica própria, o setor de produção do MST e a cooperativa regional, tem conseguido apresentar às famílias soluções tecnológicas baseadas na agricultura orgânica e na agroecologia, o que têm contribuído, tanto para para a redução no uso de agrotóxicos, quanto para enfrentar as adversidades climáticas.

3.4.1. Sobre o uso de agrotóxicos e os casos de intoxicação nos assentamentos e acampamento

Durante as entrevistas realizadas com os técnicos e as famílias, coletou-se informações sobre o uso de agrotóxico nos assentamentos e no acampamento. Foram levantadas informações sobre os tipos mais usados de agrotóxicos; sobre as culturas que mais utilizam, sobre a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI); sobre como os trabalhadores obtém informações para a aplicação; e sobre a ocorrência de intoxicações agudas.

Segundo o técnico J.C., os agrotóxicos, que os agricultores tratam como “remédios”, tem sido utilizados, principalmente, para controle de plantas espontâneas nas pastagens e capinas químicas (herbicidas), e para o controle de lagartas nas lavouras (inseticidas): os herbicidas usados são os que matam as folhas estreitas (a base de 2,4-D59, principalmente o

DMA®60) e os glifosatos61; “e para lagarta tem vários, piretróides, carbamatos,

organofosforados”.

Confirmando as informações repassadas pelos técnicos, durante as entrevistas com as famílias, constatou-se que 80% dos entrevistados afirmaram que utilizam ou já utilizaram

59 Ácido diclorofenoxiacético. Segundo o Centro de Informações Antiveneno (CIAV) do Governo do Estado da

Bahia, o 2,4-D é bem absorvido por todas as vias e causa lesões degenerativas hepáticas e renais, lesões do sistema nervoso central e nos nervos. Em caso de intoxicação aguda, o 2,4-D causa anorexia, irritação da pele, náuseas, vômitos e diarréia, seguido de dor torácica e abdominal, contração muscular, fraqueza, convulsões e coma.

60 2,4 -D, SAL DIMETILAMINA. Herbicida a base de 2,4 -D produzido pela empresa Dow AgroSciences 61 O glifosato é um herbicida sistêmico não seletivo (mata qualquer tipo de planta). O produto comercial mais

utilizado é o Round-Up®, produzido pela empresa Monsanto e que contém 41% de glifosato, 15% do surfactante polioxietilenoamina e 44% de água. Ele tem absorção oral e dérmica e a toxidade do surfactante é 3 (três) vezes maior que o próprio glifosato. A intoxicação aguda por glifosato causa: inflamação na pele, conjuntivite, queimor na boca e garganta; Disfagia (alteração na deglutição, ou seja, no ato de engolir alimentos ou saliva), epigastralgia (dor no estômago), vômitos, diarréia e melena (fezes negras associadas a hemorragia gastrointestinal); hipotensão, choque, tosse, dispnéia (dificuldade na respiração), oligo-anúria (diminuição e a ausência da produção de urina); Acidose metabólica (acidez excessiva do sangue e fluidos corporais), dor de cabeça e coma (GOVERNO DA BAHIA, s/d)

algum tipo de agrotóxico, sendo que: a maior utilização se dá na formação de pastagens, e o agrotóxico mais utilizado é o herbicida DMA®.

Parte das famílias também afirmaram que utilizam o DMA® para a realização de capinas nas lavouras. É caso, por exemplo, do Assentado G.A., que afirma ter utilizado o herbicida, tanto para a capina do milho, quanto na formação de pastagens.

Também o Assentado S.I. relata que utiliza o herbicida DMA® para as capinas na lavoura. Segundo ele: “ultimamente tem que estar usando agrotóxico, que ninguém consegue... Antigamente você não usava agrotóxico, você não passava, era tudo na mão, na enxada, mas agora não dá para segurar mais”.

Segundo o Técnico U.A., mesmo não sendo orientado pelos técnicos, alguns assentados utilizam agrotóxicos, principalmente os herbicidas (glifosato, 2,4-D); que é a prática da capina química. Sendo assim, com a mesma frequência que o agricultor faria uma capina manual (enxada), ele faz uma capina química. Então, no ciclo de uma lavoura, se ele faria três limpas de enxada, no mínimo ele faz duas limpas com o herbicida.

Parte das famílias também admitiram utilizar utilizar outros agrotóxicos para controle de pragas, principalmente lagartas. É o caso do Assentado R.N., que relatou ter utilizado o inseticida LORSBAN®62 para o controle de uma infestação de lagartas na cultura do sorgo; e

do Assentado N.E., que utilizou inseticida DECIS®63 para o controle de lagartas nas

pastagens.

Também o Assentado J.G., que desenvolve a produção de hortaliças de forma intensiva, relatou que utilizou inseticida para o controle da mosca branca, e que, ultimamente, os agrotóxicos não estão dando conta, sendo necessário realizar a prática da rotação de culturas. Segundo esse assentado,

[…] quando está insustentável … que nem, tem umas pragas muito resistentes, que nem a mosquinha branca, que nem a vaquinha, que ataca demais. Aí o que que faz? Mosquinha branca requer, por exemplo, rotação de culturas, você entra com um inseticida químico, se tiver muito. Quando você controla ela mais ou menos, você destrói os ovos dela, aí você pode vir com um produto orgânico para segurar. […] mas ultimamente nem o químico tá segurando mais. É mais antes, fazer o controle com rotação mesmo. […] Eu fico três anos sem plantar tomate no mesmo lugar (ASSENTADO J.G). 62 Marca comercial do inseticida organofoforado Clorpirifós, produzido pela empresa Dow AgroSciences. Esse

inseticida é altamente tóxico e atua no sistema nervoso central dos insetos e ácaros. Segundo informações contidas no sitio da ANVISA, a intoxicação com Clorpirifós, que já foi proibido em alguns países, pode causar alterações de comportamento de crianças e déficits de função cognitiva – disponível em http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2005/110705.htm – acessado em 18/06/2016.

63 Marca comercial do inseticida piretróide Deltametrina, produzido pela empresa Bayer. A deltametrina ataca o

Na realização das entrevistas com os assentados, constatou-se que a maioria das famílias são de origem rural, sendo que muitas das informações para a utilização de agrotóxico foram adquiridas durante o tempo em que trabalhavam nas fazendas, e que, já desde aquela época, a maioria não utilizava equipamentos de proteção individual.

É o caso, por exemplo, do Assentado I.S., que aprendeu a usar agrotóxico com o pai e que, quando trabalhava para os fazendeiros usava, Tordon®64, Round up®, DMA®, entre

outros. Nessa época, não existia técnico para orientar; lia a bula e a dosagem, preparava e aplicava, sendo que, durante as aplicações, não utilizava equipamentos de proteção individual. A esse respeito, o Assentado G.D., relata que, quando trabalhava na fazenda, aplicava agrotóxico com trator; que não havia orientação técnica e os trabalhadores apenas olhavam dosagem nos rótulos. Segundo o assentado, quando trabalhava na fazenda, aplicava agrotóxico, tanto de trator, quanto manualmente, sendo que, durante as aplicações,

[…] não usava máscara nenhuma […] proteção nenhuma. Eu subia no trator, tomava banho de veneno na hora que vinha um vento. […] lá teve uma época também que eu batia até com essas bombas de jato65 nas costas[…]

porque tinha umas baixadas que o trator não passava […], mas eu batia mais com o trator. Mas com trator […] na hora de vento, o piloto que está em cima do trator se molha todinho (ASSENTADO G.D.).

“Eu bato é na tora. E é de muitos anos”, afirma o Assentado N.E. Segundo esse Assentado:

Minha profissão era bater veneno para os outros. Minha profissão era bater veneno. Toda a época de bater veneno, o profissional para bater veneno aqui na redondeza era eu. Era chamado. Tinha gente que esperava, nem que tardava, mas esperava eu bater para o outro, para ir bater no dele. […] nunca usei nada [proteção]! Nada! Nada! Nada! (ASSENTADO N.E.).

O Assentado V.B., relata que antes de ir para o assentamento

trabalhava aplicando agrotóxico. Nessa época a gente estava desprotegido, a gente era muito jovem, então a gente não tinha essas proteções. […] mas já hoje, a gente está mais preparado, entendeu? Até porque a gente vai se conscientizando, lendo, estudando sobre isso aí, porque é muito importante (ASSENTADO V.B.).

Segundo o Assentado V.B., diferentemente de quando era mais jovem, hoje ele está totalmente protegido dos perigos dos agrotóxicos, pois, além de utilizar EPI, está mais preparado e mais conscientizado para fazer o uso desses produtos.

Mesmo relatando que anteriormente, no trabalho nas fazendas, aplicavam agrotóxico

64 Marca comercial do herbicida Piroclam (a base de 2,4-D), produzindo pela empresa Dow AgroSciences. É

extremamente tóxico (classe toxicológica I).

sem nenhuma proteção, ao ser perguntado sobre a utilização de EPI durante as aplicações no assentamento, a maioria dos assentados afirmaram utilizar uma máscara de pano, bota de borracha, luva, camisa de manga e óculos. Às vezes, além da máscara, os assentados ainda utilizam um pano por cima. É o caso do Assentado S.I., que utiliza a máscara de pano

porque a outra é muito cara e você não tem. Então você usa a máscara e um pano. Na lógica, o certo é usar aquela máscara ... aquela é cara, e ela é exclusiva e você não pode pegá-la emprestado […] cada pessoa é individual e o custo dela é muito alto, e como eu uso é de vez em quando isso ai, as vezes é dois litros de veneno que bate, então eu uso a máscara [de pano] e um pano amarrando (ASSENTADO S.I.).

Das informações coletadas junto às famílias, partes são confirmadas, partes são contrariadas pelos técnicos. Segundo o Técnico J.C.,

esses que aplicam os defensivos, os agrotóxicos, os herbicidas da vida [..] eles nem usam os equipamentos de proteção individual, que mesmo o agronegócio pega pesado em cima que tem que utilizar proteção. Então, neste quesito, nós estamos pior que o agronegócio, porque não se pratica uma agroecologia e quando se vai praticar uma agricultura convencional, para bater um agrotóxico, um defensivo, não usa nem uma proteção individual.

O EPI, às vezes eles [os assentados] utilizam uma máscara de pano, ou um pano na cara, e se for um produto, onde a maior parte da absorção seja dérmica, e não via aérea, então não adiantou nada [...] Basicamente eles não têm treinamento e capacitação nenhuma para utilizar qualquer tipo de agrotóxico nos assentamentos que a gente trabalha. Isso vai ser necessário? Eu falo que mesmo para aplicação de alguns produtos que são prescritos na agricultura orgânica e na agroecologia, tem que ter o equipamento. Talvez não se tenha que ter completo, mas teria que ter. O próprio exemplo é a calda bordalesa, ela têm sulfato de cobre, ela tem cal, isso pode causar uma alergia na pessoa […] um biofertilizante, que às vezes a pessoa não fez ele de maneira correta, fez mas não sabe se ele tem algum contaminante microbiológico, porque às vezes não deixou ele no tempo de cura certo […] isso pode ter alguma contaminação microbiológica. […] Então, mesmo para a agroecologia avançar a utilização do EPI é um gargalo que a cooperativa tem que discutir mais com os cooperados (TÉCNICO J.C.).

O Técnico U.A. descreve que na aplicação de agrotóxico, ninguém se utiliza de equipamento de proteção individual (EPI), que deveria, inclusive, ser utilizado na aplicação de produtos naturais. Os produtos naturais, apesar de serem permitidos pela agricultura orgânica, necessitam do uso de EPI durante a sua aplicação, uma vez que, mesmo não sendo tóxico para o meio ambiente e para a planta, a pessoa, ao fazer a aplicação do produto e receber uma carga a mais do mesmo, pode se intoxicar.

Em relação às informações para a aplicação, segundo o Técnico J.C., a grande maioria vem do vizinho que usa ou, quando o assentado vai à loja, e o vendedor enche a cabeça deles,

exaltando a eficiência no combate a pragas e doenças e omitindo informações sobre a real toxidade dos produtos. Então, as próprias redes de revenda de agrotóxicos, às vezes influenciam no uso desses produtos.

Exemplo disso, é o O Assentado J.L., que relatou que usa agrotóxico nas pastagens, sendo as orientações para aplicação repassadas pelos vendedores da loja agropecuária.

Já o Assentado V.B., relata que possui um manual que lê constantemente, uma vez que,

você não pode mexer com inseticida66, que é perigoso. Aquilo é irreversível,

o inseticida é irreversível. Porque ele é perigoso, ele não mata rápido, [...] o inseticida vai matando aos poucos. Ele vai transmitindo através da via sanguínea […] e o elemento começa a gripar, […] vem pneumonia, vem fraqueza no corpo, vem cansaço nas vistas, dor de cabeça. É o sintoma de inseticida (ASSENTADO V.B.).

Mesmo tendo a consciência dos perigos que envolvem o uso de agrotóxicos e dos danos à saúde causado pelas intoxicações, o Assentado V.B. acredita na ideologia do uso seguro dos Agrotóxicos, que vem com a informação (ele possui um manual, que consulta constantemente) e com o uso do EPI.

Em relação as informações passadas de agricultor para agricultor, o Técnico J.C., relata que,

[…] alguns usam um organofosforado que é utilizado como produto veterinário para matar lagarta. O produto não têm indicação para cultura, e vem da conversa entre os agricultores: “Eu peguei um produto de matar mosca de chifre e pulverizei nas lagartas e matou tudo” […] aí o agricultor fala para seu vizinho, que vai lá e faz também. Aí essa experiência vai passando para frente. Em vez do agricultor, que já se dispôs a utilizar o agrotóxico, ir atrás de uma orientação técnica, que seja na loja agropecuária, e perguntar qual o “remédio” para lagarta indicado para a cultura, ele procura informações com os vizinhos.

A maioria dos agricultores misturam os agrotóxicos para fazer uma única aplicação, e na maioria das vezes essa mistura não é indicada. Às vezes misturam o veneno herbicida, com veneno para lagarta. As misturam nem sempre são só com agrotóxicos: às vezes os agricultores misturam uréia com herbicida para matar o mato.

Às vezes alguém pegou uma orientação, tornou-a tortuosa, igual essa questão da mosca de chifre. Isso foi se difundindo na roça de maneira torta, que chega em algumas coisas que você fica até com medo do que o pessoal faz na lavoura. Mas na maioria das vezes eles não falam com a gente (TÉCNICO J.C.).

Essas trocas de informação entre os agricultores foi relatada pelo Assentado J.G.. Segundo o assentado, durante os 12 anos em que trabalha com a produção de hortaliças

poucas foram as vezes em que recebeu a visita de algum técnico.

isso aqui é eu que faço mesmo. É informação, é televisão, internet […] ajuda dos outros produtores. Porque hoje em dia os produtores estão se ajudando uns aos outros para não gastar tanto com veneno. Um fala para o outro: não vai não, que não deu certo não! O outro vai e fala também. Olha isso aqui deu certo. Aí a gente vai aprendendo. Todo o dia tá aprendendo, todo o dia, todo o dia!” (ASSENTADO J.G.)

Também a informação de que os assentados utilizam produtos veterinários para o controle de lagartas apareceu durante as entrevista com o Assentado V.N., que comprou um veneno para o controle de lagarta, que até o momento não precisou utilizar. Segundo esse assentado:

é agora que nós vamos começar a ver […] graças a deus esse ano não deu lagarta nesse trem meu, não. Eu até comprei para usar, mas não usei não […] na realidade eu comprei foi de bater em gado, “colosso”. […] você bate na lagarta mata na hora. […] esses remédios que você bate em carrapato, se você bater nas formigas elas não saem do lugar. Onde você bater elas ficam!