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3. ASSENTAMENTOS RURAIS COMO PRODUTORES DE SAÚDE: AS

3.1. HISTÓRICO E CONTEXTO DAS ÁREAS DE ACAMPAMENTO E

3.1.2. O Assentamento Darcy Ribeiro

O Assentamento Darcy Ribeiro conformou-se através da ocupação da fazenda Brejinho/Muquem no dia 29 de outubro de 2005, sendo que as famílias que participaram dessa ação eram oriundas do Acampamento Delson & Ezequias, localizado na Fazenda Norte América, no Município de Capitão Enéas/MG.

Após o insucesso na desapropriação da Fazenda Norte América, as 90 famílias do Acampamento Delson & Ezequias realizaram a ocupação de outras 03 fazendas – Orion, Bom Sucesso (Caçarema) e Brejinho-Muquem -, de onde originaram-se dois Assentamentos: Assentamento Darcy Ribeiro, formado pelas famílias ocupantes das Fazendas Brejinho/Muquem e Bom Sucesso; e Assentamento Orion. É importante ressaltar que, nesse moroso processo, que se estendeu por mais de 10 anos, mais da metade das famílias desistiu da luta e voltou para as periferias das cidades.

O Projeto de Assentamento Darcy Ribeiro (PA Darcy Ribeiro) foi criado em 2007, mas devido a falta de condições para mudar para os lotes, assim como no Assentamento Estrela do instalarem no assentamento, na maioria das vezes, elas acabam assumindo esses custos. O serviço de topografia oficial, contratado pelo INCRA, acaba apenas legitimando o trabalho já realizado anteriormente pelo topógrafo contratado pelas famílias.

Norte, as famílias permaneceram acampadas ao redor da sede até o ano de 2009, sendo que nesse período houve momentos em que o número de famílias reduziu-se a apenas 08 (INCRA, 2013). O aumento do número de famílias se deu com a incorporação das famílias que estavam acampadas na Fazenda Bom Sucesso e com famílias oriundas da Comunidade de Santana da Serra, que fica a 2,7 km do assentamento.

Com a portaria de criação do assentamento, em 2007, as famílias remanescentes iniciaram, junto com o Setor de Produção do MST, os debates sobre o parcelamento da área e a elaboração do anteprojeto de parcelamento do assentamento.

Nessa época, os serviços de assistência técnica contratados pelo INCRA (ATES37), não

estavam ocorrendo, e eles eram condição essencial para o processo de implantação de assentamentos, o que levou a longa paralisia. Ora, primeiramente, as empresas prestadoras de serviços de assistência técnica eram as responsáveis, perante o INCRA, para elaborar o PDA e o anteprojeto de parcelamento dos assentamentos. A existência do anteprojeto de parcelamento é condicionante para o acesso aos serviços de infraestrutura (abastecimento de água, implantação de rede de energia elétrica, construção de estradas); as políticas de agroindústria; e, finalmente, ao crédito para construção das casas (crédito Aquisição de Materiais de construção (AMC)).

Além disso, a falta da assistência técnica oficial também impedia o acesso aos créditos para investir na produção, uma vez que não haveria técnicos capacitados para a elaboração e acompanhamento dos projetos produtivos.

Na ausência dos serviços de assistência técnica oficial, a elaboração do anteprojeto de parcelamento, bem como os projetos de acesso aos créditos podem ser realizados pelo próprio INCRA; ou por qualquer órgão do poder público que possua capacidade técnica, mediante termo de cooperação firmado com o INCRA.

Nesse sentido, havendo a necessidade de garantir a permanência das famílias na terra, após a sua conquista, o Instituto de Ciências Agrárias da UFMG (ICA/UFMG), através de um termo de cooperação com o INCRA/MG, e com a contribuição dos técnicos do MST, assumiu a empreitada de elaborar os anteprojetos de parcelamento dos assentamentos da Região Norte de Minas criados a partir de 2006, deixando o PDA para ser elaborado quando fosse contratado finalmente o serviço oficial de assistência técnica (nesse caso ATER38).

37 Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária, criado em 2003 e extinto no ano de

2010, com a criação da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária (PNATER).

38 Com o fim da ATES os assentamentos passaram a ser atendidos pelos serviços de Assistência Técnica e

Após a aprovação, no ano de 2008, do anteprojeto de parcelamento do Assentamento (FIGURA 06), as famílias contrataram um serviço de topografia, que realizou o parcelamento da área. Com a área parcelada, as famílias iniciaram a ida para seus respectivos lotes.

Figura 06: Anteprojeto de Parcelamento do Assentamento Darcy Ribeiro

Fonte: PDA do Assentamento Darcy Ribeiro – INCRA/MG

Em relação ao parcelamento, diferentemente do que ocorreu no Assentamento Estrela do Norte e no Acampamento Eloy Ferreira, as famílias definiram que os lotes deveriam ter o mesmo tamanho, independente das suas características e localização (terra boa, ou ruim; topografia plana ou ondulada; acesso ou não a fontes de água), e que as famílias que estavam há mais tempo na luta teriam a prioridade na escolha dos mesmos (INCRA, 2013).

Com o parcelamento da área, até o inicio de 2010 todas as famílias já haviam deixado a área da sede (acampamento). Nesse período as moradias, assim como no Assentamento Estrela do Norte, eram construídas de maneira precária, a partir da condição financeira de cada família (alvenaria, lona, taipa e adobe). Essas moradias não possuíam energia elétrica e nem água encanada, os banheiros eram feitos de forma improvisada, e não existia saneamento básico (INCRA, 2013).

A água utilizada por grande parte das famílias vinha de uma nascente e era distribuída

Desenvolvimento Agrário (MDA) podem livremente concorrer; deve ser contratada a que possuir melhor proposta de serviço, melhor infraestrutura (veículos, escritórios, equipamentos) e melhor equipe de trabalho (quantidade e qualificação dos técnicos). Os critérios estabelecidos nas chamadas públicas, como se observa, não levam em conta as necessidades dos trabalhadores rurais e camponeses e, assim, muitos dos assentamentos acabam sendo atendidos por empresas ligadas ao Agronegócio.

por uma antiga canalização utilizada para abastecer os bebedouros dos animais; três famílias, localizadas na extremidade do assentamento, próximo ao rio, não eram atendidas pela rede, uma vez que a canalização não chegava até essa localidade; outras 08 famílias eram abastecidas com água de uma cisterna, sendo a rede construída pelas mesmas (INCRA, 2013).

As estradas internas do assentamento foram abertas, parcialmente pelas próprias famílias. A única estrada então existente era a estrada principal que passa em frente a sede da antiga fazenda e dá acesso a outras comunidades (INCRA, 2013)

A comunicação também era muito difícil, uma vez que no assentamento não havia sinal de telefone celular e nem telefone público. Para utilizar internet ou telefone as famílias tinham que se deslocar até o Distrito de Santana da Serra, que fica a 2,7km do assentamento. Nessa época a Associação do Assentamento lutou sem sucesso para conseguir a instalação de um telefone público para o Assentamento (INCRA, 2013)