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A ATUALIDADE DO AGRONEGÓCIO NA REGIÃO NORTE DE

2. O AGRONEGÓCIO E A REGIÃO NORTE DE MINAS: UMA

2.2. A ATUALIDADE DO AGRONEGÓCIO NA REGIÃO NORTE DE

Esse modelo de produção agropecuária, o modelo do agronegócio, trouxe e traz grandes implicações socioeconômicas, culturais e ambientais para a população camponesa do Norte de Minas.

25 A Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR) foi criada em 1948 com o objetivo de desenvolver os

serviços de extensão rural em Minas Gerais. Foi antecessora da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), instituída em 1976.

Na região, fruto de sua formação sócio-histórica e das condições ambientais, conformou-se diferentes formas de lidar com a terra e de se inter-relacionar com o ambiente adverso; conformou-se diferentes comunidades tradicionais - geraizeiros, caatingueiros, vazanteiros, quilombolas, indígenas, assentados de reforma agrária, camponeses em geral -, que construíram e constroem seus territórios e suas territorialidades.

Mas esses modos diferenciados de construir a existência humana se confronta no dia a dia com as necessidades de reprodução ampliada do capital. Nesse confronto, parte desses territórios e territorialidades, sob o “rolo compressor” do agronegócio, vão sendo homogeneizados e as populações que neles habitam expulsas ou incorporadas a sua lógica produtiva-destrutiva.

Exemplo disso é a expansão da pecuária que atualmente, como resultante do processo histórico e contraditório, de colonização e de desenvolvimento capitalista, mantém o seu predomínio na região. Esse predomínio é retratado nos dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2006, sobre a utilização das terras na Mesorregião do Norte de Minas (QUADRO 1).

Quadro 1: Utilização das Terras na Mesorregião do Norte de Minas Gerais (2006)

Grupos de atividade econômica

Variável Área dos estabelecimentos

agropecuários (Hectares)

Área dos estabelecimentos agropecuários (Percentual)

Total 5.937.500 100

Lavoura temporária 1.240.512 20,89

Horticultura e floricultura 132.941 2,24

Lavoura permanente 227.569 3,83

Sementes, mudas e outras formas de propagação

vegetal 18.131 0,31

Pecuária e criação de outros animais 3.617.380 60,92

Produção florestal - florestas plantadas 464.620 7,83

Produção florestal - florestas nativas 232.591 3,92

Pesca 1.686 0,03

Aquicultura 2.072 0,03

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2006 – Adaptado pelo Autor – Disponível em www.ibge.gov.br

Pelos dados do IBGE, observa-se que a pecuária ocupa 60,90 % das terras; o que corresponde a 3,6 milhões de hectares. Também segundo os dados do IBGE, em 2006, a produção florestal (eucalipto e pinus), que ganhou certa relevância a partir dos anos de 1960, ocupava 7,83% das terras (464.620 hectares); as lavouras temporárias (arroz, milho, feijão,

mandioca, fava, soja, sorgo, etc) 20% (1,24 milhões de hectares); a Horticultura e Fruticultura 2,24% (132.941 hectares); e as lavouras permanentes apenas 3,83% (227.568 hectares).

No tocante a concentração da propriedade da terra - uma das expressões do poder do agronegócio -, na Região Norte de Minas, em 2006, segundo os dados do Censo Agropecuário do IBGE (QUADRO 2), as propriedades com mais de 1000 hectares correspondiam a 0,92% dos estabelecimentos e a 41,81% do total da área dos estabelecimentos; enquanto que as propriedades com menos de 100 hectares, totalizavam 86% dos estabelecimentos e detinham apenas 23% do total da área dos estabelecimentos. Outra informação relevante, expressa nos dados do IBGE, é que 59% dos estabelecimentos possuíam menos de 20 hectares e correspondiam a apenas 5% da área total. Também, segundo os dados do IBGE existe na região cerca de 4 mil produtores rurais que arrendam terras para produzir, portanto, potenciais demandantes de uma política de Reforma Agrária.

Quadro 2: Número de estabelecimentos e Área dos estabelecimentos agropecuários na Mesorregião do Norte de Minas Gerais (ano de 2006)

Grupos de área total

Variável Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades) Número de estabelecimentos agropecuários (Percentual) Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares) Área dos estabelecimentos agropecuários (Percentual) Total 91.163 100 5.937.500 100

Produtor sem área 4.148 4,55 - -

Com menos de 20 hectares 53.588 59 321.718 5

de 20 a menos de 100 hectares 24.887 27 1.054.456 18

de 100 a menos de 500 ha 6.675 7 1.373.547 23

De 500 a menos de 1000 ha 1.028 1,13 705.838 11,89

acima de 1000 ha 837 0,92 2481940 41,81

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário de 2006 – Adaptado pelo Autor – Disponível em www.ibge.gov.br

Em se tratando de poder econômico, de acordo com os dados do IBGE sobre o Produto Interno Bruto da Mesorregião Norte de Minas nos anos de 1999, 2004, 2008, 2010 e 2013 (QUADRO 3), o agronegócio norte-mineiro, representado, nesse caso, pelo setor agropecuário, mesmo perdendo participação na composição do PIB Regional, passando de 15% do Valor Adicionado Bruto26, em 1999, para 11,08%, em 2013, em termos nominais, o

valor gerado por este setor passou de R$ 535 milhões para R$1,94 bilhões, crescimento de 363,17%.

Quadro 3: Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) da Mesorregião Norte de Minas Gerais nos anos de 1999, 2004, 2008, 2010 e 2013 e a participação do Setor Agropecuário na composição do mesmo

Variável Ano

1999 2004 2008 2010 2013

Produto Interno Bruto a preços correntes (Mil

Reais) 3.648.765 6.847.077 11.181.431 13.297.002 19.056.851

Impostos, líquidos de subsídios, sobre

produtos a preços correntes (Mil Reais) 317.725 686.573 990.095 1.217.933 1.513.836 Valor adicionado bruto a preços correntes

total (Mil Reais) 3.331.040 6.160.504 10.191.336 12.079.069 17.543.015 Valor adicionado bruto a preços correntes da

agropecuária (Mil Reais) 535.426 854.857 1.627.323 1.229.879 1.943.478

Participação do valor adicionado bruto a preços correntes da agropecuária no valor adicionado

bruto a preços correntes total (Percentual) 16,07 13,88 15,97 10,18 11,08

Valor adicionado bruto a preços correntes da

indústria (Mil Reais) 773.982 1.647.127 2.332.912 2.547.990 3.152.589

Participação do valor adicionado bruto a preços correntes da indústria no valor adicionado bruto a

preços correntes total (Percentual) 23,24 26,74 22,89 21,09 17,97

Valor adicionado bruto a preços correntes dos

serviços (Mil Reais) 2.021.633 3.658.520 6.231.102 8.301.199 12.446.948

Participação do valor adicionado bruto a preços correntes dos serviços no valor adicionado bruto

a preços correntes total (Percentual) 60,69 59,39 61,14 68,73 70,96

Fonte: Produto Interno Bruto da Mesorregião Norte de Minas nos anos de 1999, 2004, 2008, 2010 e 2014. IBGE em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) – Organização: o Autor – Disponível em www.ibge.gov.br

Outra questão importante, em relação à produção agropecuária no Norte de Minas, são os valores gerados por cada grupo de atividade. Segundo os dados do Censo Agropecuário do IBGE, de 2006 (QUADRO 4), dos R$355,5 milhões gerados na produção, R$315 milhões (88,74%) foram provenientes da lavoura temporária.

Quadro 4: Valor da produção por grupos de atividade econômica na Mesorregião Geográfica do Norte de Minas Gerais (ano de 2006)

Grupos de atividade econômica Valores Gerados (Mil Reais) Valor (%)

Total 355.513 100

Lavoura temporária 315.494 88,74

Horticultura e floricultura 1.491 0,42

Lavoura permanente 5.311 1,49

Sementes, mudas e outras formas de propagação

vegetal 7.513 2,11

Pecuária e criação de outros animais 24.129 6,79

Produção florestal - florestas plantadas 326 0,09

Produção florestal - florestas nativas 1.063 0,30

Pesca 139 0,04

Aquicultura 48 0,01

No caso da pecuária e criação de outros animais, mesmo ocupando cerca de 60% das terras, o valor gerado no ano de 2006 foi de apenas R$5,31 milhões (6,79%).

Quanto à ocupação da força de trabalho, se em 1970, a agropecuária ocupava cerca de 70% da força de trabalho existente na região Norte de Minas (RODRIGUES, 2000), no ano de 2010, de acordo com os dados do Censo do IBGE de 2010, ela passa a ocupar apenas 22% (cerca de 127 mil pessoas)da força de trabalho.

2.3. Aspectos climáticos, as mudanças nos ecossistemas e agroecossistemas e os impactos