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A Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

5 SÃO FELIX DO ARAGUAIA E ATORES SOCIAIS EM SINERGIA COM A

5.5 ENTIDADES DA ARTICULAÇÃO XINGU ARAGUAIA (AXA), HISTÓRICO,

5.5.3 A Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção

Criada por pessoas vinculadas à Prelazia de São Felix do Araguaia, em 1974, a Irma Irene Franceschini (Tia Irene) 211 é considerada a fundadora. No contexto extremamente violento daquela época, descrito em capítulos anteriores, a igreja que tinha optado por lutar contra o latifúndio e a exclusão social, promoveu “[...] um braço social, local e concreto” para trabalhar com pequenos agricultores, ribeirinhos e povos indígenas da região. Num relatório de 2015, se encontra a afirmação de que deve continuar sendo o latifúndio, “travestido de agronegócio, o nosso inimigo número um” (ANSA, 2016)212.

O objetivo maior da ANSA é promover alternativas de vida solidária, que diminuam as desigualdades sociais fortalecendo o que eles chamam de cultura da paz e da justiça social.

As ações e frentes de trabalho da ANSA que priorizaram, nas primeiras décadas, a saúde básica, alimentação e alfabetização vão se reestruturar e profissionalizar a partir de 2004. Na atualidade, a entidade declara trabalhar diretamente com 500 famílias de

209 Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/rede-de-sementes- do-xingu-vence-o-ashden-awards-premio-internacional-para-solucoes-climaticas. Acesso em: 2 jul. de 2020.

210 Disponível em: http://www.ansaraguaia.org.br/. Acesso em: 14 de jun. de 2019.

211 Irene Maria Paula Franceschini, nascida em São Paulo, em 1919, foi filha de um músico ítalo- brasileiro que chegou ocupar a 28ª cadeira da Academia Brasileira de Música. Neta do Conde José Vicente de Azevedo. Tão frágil e delicada, quanto obstinada e perseverante. Pianista, professora de música e religiosa da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry. Depois de passar a metade da vida dedicada a ensinar música na escola da Congregação em São Paulo, Irene sentiu o impulso de ser “missionária” e, ao ficar sabendo que pediam voluntários para ir à recém-criada Prelazia de São Félix do Araguaia, decidiu se apresentar. Chegou ao Araguaia em 1971 e passou mais de 30 anos ao lado do bispo Casaldáliga. 212 Relatório impresso emprestado pela coordenação da ANSA

assentados. Na linha do tempo podemos ver a ligação estreita com a igreja de Pedro Casaldáliga e as linhas de ação (Figura 11).

Figura 11- Linha do Tempo da ANSA Fonte: ANSA, 2020.

Suas ações, na atualidade, se dividem em várias frentes. No campo da economia solidária, desenvolvem, desde o ano 2000, um projeto de Crédito Popular Solidário que empresta pequenas quantidades de dinheiro para iniciativas de geração de renda de particulares. Por exemplo, produção de artesanatos, produção de hortaliças, revenda de roupas e perfumes, sendo que existe um compromisso das comunidades onde estas

pessoas estão inseridas para garantir a devolução do empréstimo. Até 2015, tinham sido emprestados mais de 5 milhões de reais a mais de 400 pessoas/ano.

Outra iniciativa inovadora na região dentro do campo econômico é Araguaia Polpa de Frutas, uma pequena fábrica que, desde 2005, produz polpas naturais congeladas de 20 frutas nativas cultivadas na região. Buscam abrir caminho para os produtos da sociobiodiversidade gerando renda e fortalecendo as culturas locais, para conseguir tornar a fruticultura agroecológica e o extrativismo possibilidades reais de trabalhar a terra, para os agricultores familiares da região. Os produtores são os próprios assentados, aproximadamente 100 famílias. Os resíduos dos frutos são aproveitados para compostagem no viveiro que a ANSA também administra e as sementes vendidas para a RSX. A comercialização depende de programas do governo213.

No campo socioambiental as preocupações e intervenções da ANSA estão no combate ao fogo e à recuperação de áreas desmatadas. Parcerias com entidades especializadas, principalmente da sociedade civil, são realizadas para formações e mutirões.

Em três hectares próximos da cidade de São Felix, a ANSA construiu um Viveiro, que produz anualmente seis mil mudas de vinte espécies do Cerrado e da Amazônia, além de plantas frutíferas. Também serve como espaço de experimentação científica e, por isso, muito utilizado para educação ambiental de adultos e crianças do município.

O projeto Saúde na Horta é outra frente de trabalho local que busca valorizar este conhecimento tradicional, oferecendo complemento alimentar e remédios naturais à população. A troca de conhecimentos se dá através de intercâmbios, oficinas e visitas guiadas à horta.

Outra iniciativa da ANSA, abraçada como ação estratégica da AXA, é a Mostra Socioambiental, um evento de três dias que cada ano traz para a cidade de São Felix do Araguaia os produtores que vendem, expõem e trocam seus produtos, dando visibilidade ao trabalho socioambiental de assentados e indígenas. As mostras também são espaços de formação política. Trabalham-se temáticas para denunciar e mobilizar à população local em torno das pautas socioambientais. Em 2017, a mostra foi apoiada pela AXA tendo a temática da valorização do modelo produtivo agroecológico frente ao agronegócio, lançando o slogan “Nós Somos Terra” junto com uma imagem de união dos diferentes (Figura 12).

213 Um exemplo é o Programa de Aquisição de Alimento (PAA), que foi constituído pelo Governo Federal, em 2003, como uma das ações estruturantes do Programa Fome Zero. Através do PAA o governo compra e distribui alimentos produzidos pela agricultura familiar para escolas e creches.

No ano de 2018, a temática foi a defesa das águas do rio Araguaia, que tem sido ameaçado pela contaminação com agrotóxicos e desvios ilegais do curso das águas para beneficiar fazendas. Esta Campanha foi puxada pela Comissão Pastoral da Terra com apoio da AXA.

Figura 12 - V Mostra Socioambiental da ANSA, 2017 Fonte: Site AXA, 2019.

A Igreja Católica continua sendo um dos principais parceiros através, principalmente, da Congregação Agostiniana. Uma caraterística a diferencia de outras organizações da AXA: seus trabalhadores e trabalhadoras são todos moradores da cidade de SFA com raízes na agricultura familiar.

Nós percebemos que, como somos um grupo que se articula muito, é fácil a gente se conhecer e falar de cada um de nós. A maioria somos filhos de SFA. Nossos pais têm relação com fazenda, a maioria eram peões e as mães ficavam em casa. Nossa formação foi em SFA. Para outras oportunidades tem que sair para fora. Aqui também temos condições de estudar. Somo trabalhadores da ANSA e essa base que a gente encontrou é humilde. Porque somos de famílias tradicionais humildes. As conquistas foram através do trabalho e vivemos em comunidade. (REBOLLAR, 2018) 214.

Desta forma vemos que ANSA é uma entidade totalmente inserida na sociedade local, portanto, as pessoas que participam da organização possuem uma rede de parentes e amigos na região, com visões sobre agronegócio, terra, indígenas, meio ambiente e etc. muito diversas, inclusive, que diferem das que defende a organização.

214 Esse depoimento foi registrado por mim, no curso “Educação Popular: do senso comum à conscientização”, que aconteceu nos dias 30, 31 de julho e 1 de agosto de 2018, no Centro Comunitário Tia Irene em SFA, em parceria com o NUFIPE-UFF.