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5 SÃO FELIX DO ARAGUAIA E ATORES SOCIAIS EM SINERGIA COM A

5.5 ENTIDADES DA ARTICULAÇÃO XINGU ARAGUAIA (AXA), HISTÓRICO,

5.5.1 Instituto Sócio Ambiental (ISA)

Foi fundado em 1994 para propor soluções de forma integrada a questões sociais e ambientais com foco central na defesa de bens e direitos sociais coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. Definem-se como aliados dos povos indígenas e das populações tradicionais, como quilombolas e extrativistas atuando com pesquisa de campo e advocacy (ações na Justiça, articulação política, jornalismo e produção e disseminação de informação qualificada) em nível global, nacional e local. A equipe em Brasília atua junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário com informações qualificadas para contribuir com o debate público e tomadas de decisão sobre as políticas económicas, ambientais e sociais.

É a organização de maior tamanho e complexidade da AXA. Tem sede em São Paulo (SP) e subsedes em Brasília (DF), Manaus (AM), Boa Vista (RR), São Gabriel da Cachoeira (AM), Canarana (MT), Eldorado (SP) e Altamira (PA).

Suas linhas de ação são a defesa dos direitos socioambientais, o monitoramento e proposição de alternativas às políticas públicas, a pesquisa, difusão, documentação de

200 Informações tiradas do site oficial do ISA, disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/o- isa. Acesso em: 05 set. de 2018.

informações socioambientais, o desenvolvimento de modelos participativos de sustentabilidade socioambiental e o fortalecimento institucional dos parceiros locais.

Dos seis programas que o ISA executa201, um deles se desenvolve na região na Bacia do Rio Xingu, com projetos voltados para a proteção e sustentabilidade dos 26 povos indígenas e das populações ribeirinhas que habitam a região, viabilizando a agricultura familiar, buscando adequar ambientalmente a produção agropecuária e a proteção dos recursos hídricos. Concretamente na AXA participa um representante da equipe local de Canarana.

Nas décadas de 1990 e 2000, a Amazônia brasileira registrou índices de desmatamento elevadíssimos. Segundo o monitoramento realizado pelo ISA202, entre 1995 e 2005 foram desmatados 225 mil km2, lançando à atmosfera quase 20 bilhões de toneladas de CO2 colocando o Brasil nos primeiros lugares em emissões de gases de efeito

estufa. O Mato Grosso foi o estado que mais desmatou e a região nordeste do estado, uma das mais afetadas. Deram-se várias condições para isso acontecer, entre elas a abertura de rodovias federais, como a BR 158 e 163, que atravessam a região Araguaia, junto à expansão da soja que foi empurrando a pecuária extensiva em direção à floresta amazônica203. Como os povos indígenas do Xingu se manifestavam sobre a crescente perda de qualidade da água, o ISA embarcou, em 2004, na promoção da Campanha Y’IkatuXingu204.

A proposta não era de simples denúncia ou discussão sobre o desmatamento na região, mas de juntar as forças dos seus atores sociais e institucionais para promover a recuperação de matas ciliares nas propriedades rurais, nos lotes dos assentamentos e em terras públicas, visando reverter a tendência de perda de qualidade e de disponibilidade de água. Além de reunir os sujeitos de direito sobre essas áreas, a articulação da campanha buscou apoio das escolas municipais, da Escola Família Agrícola de Querência e da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), em Nova Xavantina, e Sinop. Foram mobilizadas instituições com relevante presença na região como a Eubiose, os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e a Associação dos Fazendeiros do

201 Os seis programas: Xingu, Vale do Ribeira, Rio Negro, Povos Indígenas do Brasil, Política e Direito Socioambiental, Monitoramento de áreas protegidas. Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt- br/o-isa/programas. Acesso em: 12 fev. de 2017.

202 Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-xingu-blog-do-ppds/o-encontro- de-canarana. Acesso em: 10 dez. de 2017.

203 O Araguaia é uma região de transição entre 2 biomas, o Cerrado, onde se concentra a grande produção de monoculturas e pecuária, e a Floresta Amazônica.

204 A bacia do rio Xingu se localiza nos Estados do Mato Grosso e do Pará, na região Hidrográfica do Amazonas, abrangendo total ou parcialmente 21 municípios. Na Bacia se encontra o Território Indígena do Xingu (TIX), que engloba o Parque Indígena do Xingu onde trabalham duas entidades da AXA (ISA, RSX). Dezesseis povos habitam a região. O Nome da Campanha submetido a votação é dos índios Kamaiurá: “Y Ikatu Xingu” – significa "Água Boa no Xingu".

Araguaia-Xingu (Asfax). Prefeituras e organizações de mais de 20 municípios foram visitadas, independentemente da filiação partidária ou da orientação ideológica. A disposição em proteger e recuperar as matas ciliares foi a única condição para se aderir à campanha. (ISA, 2017)205.

O ponto de partida foi um grande encontro na cidade de Canarana (Araguaia-MT). Pela primeira vez pecuaristas, indígenas, membros da academia, do governo, de organizações não governamentais, sindicatos, escolas, Centros de Tradição Gaúcha, entre outros, foram convidados para fazer um pacto em prol das nascentes e das matas de beira de rio da Bacia do Xingu. É importante sinalizar que a água é um ativo fundamental para a produtividade agrícola que também sofre os impactos do desmatamento. Apesar disto, os representantes do agronegócio não se envolveram na campanha.

Durante 3 dias, cerca de 340 pessoas se reuniram para discutir o impacto do desmatamento sobre as águas. O primeiro resultado foi a Carta de Canarana, que somou quatro expectativas dos grupos ali presentes: o respeito às terras indígenas e aos seus limites; geração de renda para os assentados da reforma agrária; redução dos custos de restauração florestal nas propriedades rurais; e provimento de serviços de saneamento básico nos municípios da região. A campanha tinha desenvolvido diversas iniciativas em três eixos temáticos: restauração florestal, educação agroflorestal e planejamento, gestão e ordenamento florestal. Entretanto, no estudo nos interessa destacar dois desdobramentos: a criação da Rede de Sementes do Xingu (RSX) e da Articulação Xingu Araguaia (AXA), frutos desse processo.