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5 SÃO FELIX DO ARAGUAIA E ATORES SOCIAIS EM SINERGIA COM A

5.5 ENTIDADES DA ARTICULAÇÃO XINGU ARAGUAIA (AXA), HISTÓRICO,

5.5.5 A Operação Amazônia Nativa (OPAN)

Esta organização indigenista tem uma história antiga na relação com povos indígenas do Mato Grosso. Desde suas origens manteve uma proximidade grande com a Prelazia de São Felix do Araguaia e com os movimentos sociais que resistiram à ditadura.

É a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Há 49 anos atua pelo fortalecimento do protagonismo indígena no cenário regional, valorizando sua cultura, seus modos de organização social através da qualificação das práticas de gestão de seus territórios e recursos naturais, com autonomia e de forma sustentável [...]. É histórica a contribuição da OPAN na capacitação de indigenistas através de seu curso de formação, oferecido em diferentes modalidades ao longo de toda a sua história. (OPAN, 2020) 220.

O berço da OPAN também foi a Igreja Católica nas décadas de 1960-1970, concretamente, pela iniciativa de alguns jesuítas que questionaram a “missão

218 Confresa é o município com maior número de assentamentos do Baixo Araguaia. Segundo a AXA, a ocupação de 61% do território municipal de Confresa está destinada à Reforma Agrária.

219 http://amazonianativa.org.br. Acesso em: 18 maio de 2018.

tradicional”221. Seu fundador, Egidio Schwade o descreve assim: “[...] A igreja

missionária parada sobre as suas construções, não entendia a aflição desses povos. Doutrinar, europeizar e integrar objetivavam os Estados, tanto o Vaticano, como o Brasileiro” (REBOLLAR, 2016, p. 35). As diversas tentativas feitas por Egydio, dentro da igreja, para modificar o estagnado projeto indigenista não foram levadas a sério, o que lhe fez apostar em jovens leigos recrutados inicialmente nos círculos pastorais, que começaram “[...] a revolucionar a prática indigenista e torná-la radical e animadora” (REBOLLAR, 2016, p. 39). A formação indigenista foi um ponto forte da OPAN, ao longo das primeiras décadas. Havia uma preocupação por estabelecer uma “práxis libertadora”, à luz da Teologia e Pedagogia da Libertação. O diálogo intercultural se tornou um grande desafio e a convivência nas aldeias, o caminho.

É importante dizer que não é entre dependentes que haverá diálogo de igual para igual, tem que ser pessoas livres, independentes, autônomas [...]. Um problema que a gente vislumbra na Igreja, que os embates muitas vezes travados não são capitaneados pelos índios, coordenados pelos próprios índios, mas pela Igreja. E os índios como sempre ... E a OPAN entende que os índios devem, que a luta tem sentido, que haverá um avanço qualitativo se forem os próprios índios que puderem organizadamente lutar pelos seus direitos. (DAL POZ; SCHROEDER; BUSATTO, 1989 apud REBOLLAR, 2016, p. 64).

Para a OPAN a questão da terra se colocou como centro das lutas, até porque para os indígenas este sempre foi o ponto central para preservar suas culturas e formas de vida e, estabelecer seus diálogos e embates com a sociedade envolvente. A OPAN exerceu um papel muito importante para garantir a demarcação de milhões de hectares no Amazonas e no Mato Grosso e, também, para potenciar o protagonismo indígena na sua luta por direitos na esfera regional e nacional. Teve uma aliança quase simbiótica com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) da Igreja Católica, até 1989. A entidade atravessou as décadas de 1990 e 2000 profissionalizando sua estrutura e formas de intervenção. Se nas primeiras décadas a demarcação de terras indígenas e garantir saúde e educação eram pautas centrais, depois a gestão ambiental e territorial das terras indígenas, garantia da segurança e soberania alimentar, capacitação de representantes indígenas para participar do Estado, se transformaram em pautas relevantes. Podemos ver isso em uma de suas ações estratégicas, a elaboração e implementação de Planos de Gestão Territorial e Ambiental em TIs (PGTAs)222. Esses planos promovem reflexões, pactos, formações em

221 As “missões tradicionais” eram internatos organizados e administrados por padres e freiras cujo objetivo era “civilizar e evangelizar” o indígena.

222 Os PGTAs surgem em 2010 motivados pela Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (PNGATI).

relação à vigilância do território, uso e manejo dos recursos naturais, geração de renda, saúde, educação e articulações com os poderes públicos.

No Araguaia, a OPAN tem uma equipe de duas pessoas sediadas na cidade de Nova Xavantina que participam da AXA. Trabalham para aumentar a capacidade de gestão territorial e ambiental dos Xavante, através da implementação de sistemas de vigilância e monitoramento territorial; fortalecimento da participação dos jovens indígenas nos processos de gestão; e implementação de iniciativas de manejo e produção sustentável de produtos agroflorestais. Neste último ponto, merece destaque o trabalho realizado com as mulheres indígenas, que são as coletoras de sementes que participam da RSX.

Na metodologia da OPAN está estudar e conhecer em profundidade a cultura dos povos, sua língua, formas de organização, espiritualidade etc. para estabelecer um diálogo qualificado. Para isso, a convivência nas aldeias tem sido o caminho prioritário. Existe uma casa da OPAN na aldeia central onde a equipe se hospeda, que é lugar de encontros e muitas conversas com os indígenas. Também foi construída uma casa de sementes onde as mulheres se reúnem, realizam pesagem das sementes e organizam outras atividades. As diversas equipes que tem trabalhado acompanham expedições, dão suporte para a incidência política estadual e nacional e tem contribuído especialmente nesses anos para a segurança e soberania alimentar, através principalmente do enriquecimento de roças e quintais.

A OPAN com outras entidades da AXA desempenhou um papel estratégico de apoio e articulação em nível local e nacional, para que se efetivasse a desintrusão da terra indígena Marãiwatsédé. Dentro da articulação é a única que trabalha apenas com um grupo na região, os Xavante da TI Marãiwatsédé, sendo que sua participação na rede de sementes do Xingu e nas atividades promovidas coletivamente possibilitam que dialogue com outros coletivos do entorno.

5.6 ARTICULAÇÃO XINGU ARAGUAIA, POTENCIALIDADES E DESAFIOS