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Mapa 7 – Incidência dos processos minerários de ouro da região de Itaituba em

3 EXTRAÇÃO MINERAL E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NAS

3.2 Políticas de extração mineral e conservação da natureza no Estado do

3.2.1 A política federal de extração mineral no Pará

3.2.1.2 A atividade garimpeira

No que concerne à atividade garimpeira, observa-se que até meados da década de 1970 ela ocorria na Amazônia sem nenhuma intervenção direta do Estado. Os órgãos do governo federal responsáveis pela política mineral (MME e DNPM), assim como hoje, não viam com bons olhos a garimpagem, direcionando todo foco da política mineral do país para os grandes projetos minerários.

Na visão do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Departamento de Produção Mineral (DNPM), a garimpagem na Amazônia era interpretada como uma forma rudimentar de extração de recursos minerais e, somente se justificava na sua função de indicador para ocorrências minerais que, depois de descobertas por garimpeiros, deveriam ser exploradas por empresas de mineração. Desde modo era negado ao garimpeiro o direito explorar legalmente uma jazida descoberta por ele (MATHIS et al., 1997, p. 216).

Contudo, a partir da segunda metade da década de 1970 os seguintes processos fizeram o Estado aumentar suas ações nas áreas de garimpo, especialmente de ouro: 1) o

aumento do preço do ouro; 2) a crise do petróleo da década de 1970; 3) o crescimento da dívida externa brasileira; e, 4) pressão das empresas de mineração pelo crescimento das invasões em suas áreas de exploração de ouro.

O aumento dos conflitos entre garimpeiros e empresas de mineração, provocado pelo crescimento da atividade garimpeira em várias áreas na Amazônia devido a crescente valorização do ouro no mercado internacional, motivou o DNPM a criar em 1978 o chamado Projeto Garimpo, que tinha como objetivo efetuar um melhor controle da garimpagem, a partir da destinação de áreas específicas, e implantação de medidas administrativas para o melhor controle da produção dos garimpos (MATHIS et al., 1997). Com isso, o DNPM atendia as demandas das empresas de mineração, as quais eram diretamente afetadas com o crescimento da extração ilegal.

Os empresários brasileiros envolvidos na extração do minério sonham com quantidades de ouro suficientes para lotar pelo menos o compartimento de carga de navios menores, mas se queixam da omissão do governo diante de sucessivos litígios com garimpeiros. “O governo não pode ficar em cima do muro”, diz Fernando Halfen, 33 anos, vice-presidente da Propará. “Se a lei existe, deve valer para todo mundo”. O projeto da Propará no Rio Paca, a 260 quilômetros de Belém, já foi invadido várias vezes por garimpeiros indiferentes à existência de um alvará de lavra que garante à empresa exclusividade nos trabalhos de extração do ouro (VEJA, 1983, p. 80).

Em segundo lugar, destaca-se a necessidade do governo brasileiro aumentar seu produto interno ante o agravamento da divida externa do país e os crescentes problemas na balança comercial externa, fatos estes provocados pelo aumento do preço do petróleo no mercado internacional. Deste modo, o MME estabeleceu, em março de 1979, a meta de aumento da produção oficial de ouro de 4,5 toneladas em 1979 para 100 toneladas em 1985, gerando uma mudança em sua política de mineração (baseada até em tão apenas em grandes projetos industriais), com uma intervenção direta nos garimpos. Com isso, o governo pretendia tanto diminuir a sonegação no ato da venda e, assim, elevar a parcela da produção oficial, uma vez que a maior parte da produção de ouro dos garimpos era vendida clandestinamente sem geração de impostos para o Estado, bem como aumentar a produção física de ouro (MATHIS; MONTEIRO, 2007).

Em resultado, o governo criou uma série de Reservas Garimpeiras na Amazônia (Quadro 2), com o intuito de tornar a atividade garimpeira uma estratégia importante de geração de divisas para o Estado, e passou a fiscalizar a produção do ouro nos garimpos, tendo como braço forte os órgãos nacionais de segurança.

Quadro 2– Reservas Garimpeiras na Amazônia.

Localização. Ato de Criação. Data. Área (ha).

Rondônia. Portaria Nº 1.345 10/07/1979 18.935

Rondônia. Portaria Nº 1.034 31/07/1980 26.642

Peixoto de Azevedo, Mato Grosso. Portaria Nº 550 10/05/1983 121.000 Itaituba, Pará. Portaria Nº 882 28/07/1983 2.874.500 Cumaru do Norte, Pará. Portaria Nº 25 10/01/1984 95.145

Roraima. Portaria Nº 143 03/02/1984 12.000

Serra Pelada, Pará. Lei Nº 7.194 11/06/1984 100 Fonte: Veiga et al. (2002, p. 272).

Essa nova política foi iniciada no garimpo de Serra Pelada, descoberto em 1980 no Sul do Pará, visando unicamente o aumento da produção oficial do ouro sem buscar uma solução para os problemas sociais e ambientais envolvidos na atividade de garimpagem (MATHIS; MONTEIRO, 2007). Becker (1991) destaca que o governo estabeleceu em Serra Pelada o registro oficial dos garimpeiros e a venda exclusiva do ouro à Caixa Econômica Federal, construindo para isso duas guaritas que tornaram Serra Pelada um território fechado.

Como o governo federal não tinha interesse em manter o garimpo de Serra Pelada ante as fortes pressões da Docegeo, subsidiária da CVRD e que detinha os direitos de pesquisa e lavra na Serra Pelada desde 1974, ele resolve fechá-lo em 1983. Mas, temendo a revolta dos garimpeiros e sua invasão em áreas de concessão de pesquisa mantidas por diversas empresas no sul do Pará e ao redor de Carajás, o governo vislumbra na região do Tapajós no Pará uma alternativa para os garimpeiros que iam perder seu posto de trabalho, voltando-se para a região com um pacote de estratégias visando torná-la mais atraente aos garimpeiros de Serra Pelada (BECKER, 1991; MATHIS; MONTEIRO, 2007).

O capitalismo incorpora o risco, concede Octávio Lacombe, “mas não pode conviver com a aventura”. O governo promete tomar mais seguro o trabalho das empresas e, para tanto, ensaia a criação de “reservas garimpeiras”, a primeira delas no Rio Tapajós. Nessas reservas serão alojadas as multidões compelidas a migrar de outras lavras pela inevitável chegada da mecanização – no dia 15 de novembro, por exemplo, os 48.000 garimpeiros de Serra Pela serão substituídos por modernas máquinas de extração de ouro (VEJA, 1983, p. 80).