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Mapa 7 – Incidência dos processos minerários de ouro da região de Itaituba em

4 A GARIMPAGEM DE OURO VERSUS A POLÍTICA DE

4.3 Legislação, regulação e política de garimpagem de ouro na região de

4.3.3 Panorama atual da garimpagem na região de Itaituba

4.3.3.2 Emissão de licenças ambientais

4.3.3.2.1 Emissão de licenças ambientais pelo IBAMA

O IBAMA, embora tenha a competência legal para licenciar a atividade garimpeira de empreendimentos localizados nas FLONAs existentes na microrregião de Itaituba, bem como dos empreendimentos cuja área extrapole os limites do estado do Pará, não possui base administrativa em nenhum dos seis municípios que integram essa microrregião. A base do IBAMA mais próxima fica localizada no município de Santarém, onde os processos de licenciamento de lavra pelos garimpeiros ou suas cooperativas são apenas protocolados e posteriormente encaminhados ao IBAMA Brasília, onde os processos são analisados e o parecer final emitido.

Consultando o histórico de licenças ambientais emitidas em todo o Brasil no período de 1988 a outubro de 201367, verificou-se que o IBAMA não emitiu nenhuma licença ambiental na região de Itaituba68. Existem apenas quatro processos de solicitação de licença ambiental para lavra garimpeira, sendo um no município de Itaituba e três em Jacareacanga.

O processo de Itaituba pertence a uma pessoa física, foi protocolado no IBAMA em outubro de 2011, está localizado no interior e na zona de amortecimento da FLONA do Amana, e até outubro de 2013 ainda não tinha tido nenhuma etapa do processo de licenciamento concluído.

Os três processos de Jacareacanga são de responsabilidade de uma Cooperativa de garimpeiro, foram protocolados no IBAMA em agosto de 2009, não estão localizados em UC, mas sua área se estende até o limite do município de Maués, estado do Amazonas, e, até

67 Disponível em <http://www.ibama.gov.br/licenciamento/index.php> Acesso em 18/10/2013.

68 Identificou-se neste período que o IBAMA concedeu licenças ambientais para pesquisa e/ou exploração

mineral em quatro Florestas Nacionais, sendo três delas localizadas no Bioma Amazônia: Flona de Carajás, Flona do Jamari e Flona Saracá-Taquera.

outubro de 2013, ambos os processos já haviam obtido apenas a aprovação do Termo de Referência, constituída na primeira fase da emissão da LP pelo IBAMA.

Ademais, é destaco como problemático para o licenciamento pelo IBAMA as grandes exigências nem sempre acessíveis ao pequeno minerador, maioria na região:

[...] o nível de exigências que o licenciamento do IBAMA faz é complicadíssimo. [...] Além de ser uma equipe multidisciplinar, que sejam assim pessoas com pós- graduação, com conhecimentos muito específicos na área de biologia. Ele quer um especialista em ictiofauna, um especialista em herpetofauna, etc. Eu acho que os caras não estão errados em pedir isso, só que a situação do garimpo não permite isso (Funcionário do ICMBIO, Itaituba, junho/2013). (informação verbal).

4.3.3.2.2 Emissão de licenças ambientais pela SEMA/PA

A SEMA/PA69 emitiu até outubro de 2013, 49 Licenças de Operação na região do Tapajós, 47% delas no ano de 2010 (Gráfico 17). Excluindo as renovações de LO, foram concedidas 11 licenças para pesquisa/pesquisa com lavra experimental e 32 licenças de lavra garimpeira/extração mineral, sendo 58% pertencentes a garimpeiros (pessoas físicas) e 42% às cooperativas de garimpeiros e empresas (pessoas jurídicas).

Gráfico 17 – LO emitidas pela SEMA/PA na microrregião de Itaituba até outubro de 2013.

Fonte: elaboração própria a partir de dados de SEMA/PA (2013).

69 Disponível em <http://monitoramento.sema.pa.gov.br/simlam/> Acesso em: 22 out. 2013.

0 5 10 15 20 25 2008 2009 2010 2011 2012 2013 3 3 23 5 9 1 1 3 1 de L O Ano 1ª LO Renovação LO

Segundo Ronaldo Lima, na época titular da Gerência de Projetos Minerários (GEMINA)70 da SEMA/PA, a morosidade do licenciamento da atividade garimpeira por este órgão estadual se deve ao fato de uma ação adotada entre MME e SEMA/PA para agilização dos Processos ter sido questionada pelo Ministério Público, a partir da provocação do ICMBIO que requereu o cancelamento das licenças já expedidas e estas passaram então a aguardar decisão do Ministério Público.

No total, foram 253.771,8 ha de áreas licenciadas pela SEMA/PA (64% de licença de pesquisa/pesquisa com lavra experimental e 36% de licença de lavra garimpeira), sendo 22% desta área pertencentes a garimpeiros (pessoas físicas) e 78% à cooperativas de garimpeiros e empresas (pessoas jurídicas). O tamanho de cada área licenciada é bastante variável, sendo 9% de até 50ha, 23% de 51 a 1.000ha, 28% de 1.001 a 5.000ha, 33% de 5.001 a 10.000ha e 7% maior de 10.000 ha.

Assim como o IBAMA, a SEMA/PA não está sediada em nenhum dos municípios da microrregião de Itaituba, sendo todo o processo de licenciamento de extração mineral da região resolvido na sede da SEMA/PA localizada em Belém. Essa enorme distância geográfica entre os garimpeiros e o órgão ambiental dificulta ainda mais o processo de legalização por gerar, principalmente, mais custos financeiros, conforme é destacado por um garimpeiro da região:

Hoje, para você ter uma ideia aqui, tudo é muito difícil. Para você conseguir qualquer documento aqui hoje, qualquer licença, qualquer alvará, tudo que você pensar voltado à mineração, você tem que ir para Belém. Daqui para Belém nós estamos a três horas de avião. [...] Acaba que complicando, criando uma barreira imaginária entre o pequeno que tem vontade de se legalizar e o grande que pode se legalizar (Garimpeiro D da região do Tapajós). (informação verbal).

Além disso, verificou também os autos custos necessários para o pagamento de profissionais habilitados localmente para realizar os estudos e emitir os pareceres exigidos no processo de licenciamento, e a demora na emissão das licenças, desestimulam o pequeno garimpeiro a se legalizar:

[...] o governo exige que você tenha, mas não te dá o documento. Então, automaticamente, você está trabalhando, mas se torna como se fosse um mercado clandestino. [...] para eu tirar uma LO eu gastei uns sessenta mil numa licença dessas (Garimpeiro A.J da região do Tapajós).

[...] é muito difícil para você tirar uma licença dessas. Ela vai em todos os órgãos e os órgãos são muitos, o governo é muito lento [...] é muito lento o processo, o

governo cobra, mas não faz a parte dele (Garimpeiro A.J da região do Tapajós). (informação verbal)

4.3.3.2.3 Emissão de licenças ambientais pela SEMMAP.

Até setembro de 2013, apenas os municípios de Itaituba, Novo Progresso e Trairão estavam habilitados na região a realizarem o licenciamento de atividades de impacto local, incluindo o licenciamento para lavra garimpeira de até 50ha (SEMA, 2013)71.

Em julho de 2013 a SEMMAP de Itaituba já havia emitido 26 licenças ambientais para PLG de até 50ha no município, totalizando 1.300 ha de área licenciada. Além de uma licença ambiental para estabelecimento de compra e venda ouro.

A descentralização do licenciamento da atividade de lavra garimpeira para os municípios deve contribuir para um aumento no número de PLG concedidas na região de Itaituba, especialmente porque cerca de 90% do total de processos relativos ao minério de ouro da região de Itaituba registrado no DNPM possuem até 50h de área, conforme dados do SIGMINE/DNPM (2013). Neste sentido, o grande gargalo apontado pelos garimpeiros para a regulação de sua atividade pode ser amenizado nos próximos anos, o que sem sombra de dúvidas vai também contribuir para diminuir a pressão da sociedade civil local sobre o poder público estadual e federal.

Contudo, deve-se questionar sobre a eficácia deste processo de descentralização para o real ordenamento da atividade garimpeira na região, especialmente por considerar que em nível dos municípios a estrutura para a fiscalização é muito mais restrita e fácil de ser cooptada pelos poderes locais. No caso específico do município de Itaituba, onde parte dos políticos e ocupantes de órgãos públicos (inclusive da SEMMAP) é do setor mineral ou de atividades a ele relacionadas, é alta a chance do licenciamento ambiental realiza pelo município ser apenas um processo de emissão de documentos formais, realizado sem a avaliação prévia dos garimpos e o real acompanhamento dos danos socioambientais inerentes à atividade.

71 Em conversa com uma servidora da SEMMAP, fomos informados, em setembro de 2013, que o município de Itaituba receberia da SEMA/PA a competência de licenciar lavra garimpeira de até 300 ha, o que equivale a área de seis PLG.

4.3.3.2.4 Barreiras inerentes à própria atividade garimpeira.

Por outro lado, os funcionários ligados aos órgãos da gestão mineral e ambiental da região de Itaituba defendem a ideia de que a reduzida quantidade de PLG e de licenças ambientais liberadas na região de Itaituba não reflete a falta de vontade do Estado em contribuir com a legalização dos garimpos, mas sim o interesse dos próprios garimpeiros de preferirem a ilegalidade da atividade ante o seu ordenamento. Para eles o Estado é falho quando não cumpre seu papel de fiscalizar as práticas ilegais dos garimpos:

[...] garimpeiro por si só nunca trabalhou legalizado. Não seria agora que iria trabalhar, porque já é da cultura deles não se legalizar e da ausência de fiscalização que gera a ilegalidade (Funcionário do DNPM, jul/2013).

A gente ver muito garimpeiro revoltado, que não tem condição de trabalhar, mas nenhum faz serviço bem feito. Eu rodo os garimpos e nunca vi um garimpeiro falando “fechei o buraco”, “recuperei”, “joguei açaí”, “tá crescendo” [...] O pessoal reclama muito, mas ninguém faz nada (Funcionário do ICMBIO, jul/2013).

Ademais, alega-se que a oportunidade que os garimpeiros buscam não é se adequarem ao que está regulamentado pela legislação, mas de legalizar suas práticas extrativas que, em geral, não insustentáveis:

O que é que tu acha que é oportunidade para o garimpeiro se legalizar? Oportunidade para o garimpeiro é desde que ele não tenha que fazer recuperação ambiental e possa lavrar da forma que ele bem entende. [...] E o garimpeiro diz que se regulariza! Regulariza, mas desde que ninguém cobre nada disso: que ele não tem carteira assinada para o garimpeiro; que ele não tenha ambiente pro cara dormir, nem comer, nem ir ao banheiro; que ele não tenha que fazer a replantagem de toda a floresta; o leito do rio que ele desviou ele não tenha que colocar no lugar novamente. (Funcionário do DNPM, jul/2013). (informação verbal).

Para eles isso é um reflexo do fato de os garimpos da região não possuírem viabilidade econômica para garantir o atendimento dos aspectos ambientais e sociais, o que está diretamente relacionado ao baixo aproveitamento do ouro em função de técnicas rudimentares de extração:

Garimpos, me desculpe, são baixos teores, o método de trabalho rudimentar. A recuperação do ouro é muito baixa. Então, nada disso paga a extração desse minério. A recuperação ambiental e as condições sociais de trabalho (Funcionário do DNPM, jul/2013).

Hoje mesmo nós pegamos um PC lá no Novo Progresso. É R$ 250,00 reais hora, o cidadão dando toda a logística, alguma peça quebrada, tudo só para trabalhar. Então tu vai gastar 50 horas para abrir de depois tu vai gastar 30 horas pra fechar? Trinta

horas quanto é que custa? O cara leva para frente (Funcionário do ICMBIO, jul/2013).

Muito embora estes possam ser considerados discursos isolados, apresar de terem sido proferidos por pessoas que exerciam cargos de chefe da unidade do DNPM e de UC ICMBIO em Itaituba, eles reforça o que foi apontado por Villegas et al. (2012) de que a marginalização da política de garimpagem está vinculada a própria visão do poder público de que é difícil mudar o caráter informal ou ilegal da SSM, o que neste caso está relacionado a ideia de que o garimpeiro não quer se legalizar, até mesmo porque seria mais oneroso para ele, ao passo que a legalização lhe exigiria maiores gastos financeiros.

Com isso, é como se o Estado e os seus representantes dissessem que não precisam se empenhar no ordenamento da atividade garimpeira na região de Itaituba, sendo mais adequado manter o garimpeiro na informalidade.