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Mapa 7 – Incidência dos processos minerários de ouro da região de Itaituba em

2 MINERAÇÃO EM PEQUENA ESCALA, UNIDADES DE

2.3 Mineração em pequena escala em unidades de conservação

A expansão verificada nos últmos anos das área ocupadas por UC ao redor do mundo foi direcionada principalmente para locais com baixa potencialidade de usos concorrentes com a conservação, tais como regiões que apresentam altitudes elevadas, encostas íngremes, baixa produtividade primária e/ou baixo valor econômico, com o objetivo de diminuir as pressões contrárias a criação destes espaços protegidos. Contudo, geralmente estas áreas são ricas em depósitos minerários potencialmente exploráveis o que, somados a crescente demanda por recursos minerais e os altos preços de várias commodities verificados nos últimos anos, está fazendo com que a atividade mineral esteja cada vez mais sendo direcionada para as áreas das UC, especialmente em países ricos em biodiversidade, onde a mineração desempenha um papel essencial para a exportação (DURÁN et al., 2013).

Durán et al. (2013) identificaram que das 1.418 minas de grande escala de alumínio, cobre, ferro e zinco existentes em todo o mundo, cerca de 7% estão localizadas no interior e 27% no entorno de UC, sendo 2,9% em um raio de 1 km destas UC; 10,5% em um raio de 1 a 5km; e, 13,8% em um raio de 5 a 10km. A Europa é a região com maior percentual de LSM em UC e seu entorno (62,6%), seguido pela África (43,5%), América do Norte (33,08%), América do Sul (25,3%), Oceania (25,16%) e Ásia (24,62%). Considerando apenas a LSM localizada no interior das UC a Europa também foi o continente que apresentou o maior percentual (16,35%), seguido pela Ásia (7,71%), América do Sul (6,42%), África (3,81%) e América do Norte (3,04%). As categorias de UC menos restritivas (categorias IV, V e VI da IUCN) apresentaram mais minas em seu interior que as UC de categoria mais restritivas (categorias I, II e III da IUCN).

A SSM também tem se intensificado no interior de UC, mas de forma ilegal, uma vez que esta atividade, ao contrário da LSM, não é permitida nas UC da maioria dos países. Villegas et al. (2012), por exemplo, identificaram a existência de SSM em 96 de 147 unidades de conservação analisadas ao redor do mundo, as quais estão distribuídas em 32 países. Nas áreas dessas UC são mineradas ouro, prata, diamantes, rubis, safiras, esmeraldas, quartzo, água-marinha, turmalina, ametista, esmeralda, morganite, quartzo rosa, cobre, fosfato, carvão, minério de ferro, cassiterita e outros minérios, sendo que a SSM de ouro, em uma escala global, é a mais problemática em termos de impactos ambientais negativos.

A SSM tem se intensificado nas UC devido aos seguintes fatores: a) as UC são vistas como áreas intocadas, virgens, que ainda não foram mineradas b) os limites das UC não são definidos e/ou conhecidos pelos moradores locais e garimpeiros; c) as UC são criadas em terrras onde já existia atividade de garimpagem;d) a expansão da LSM dentro e fora das UC está diminuindo as áreas disponíveis para a SSM; e) as UC oferecem uma variedade de opções de subsistência que complementam a ASM tais como madeira, carne de caça, produção de carvão.

Deste modo, ante as baixas alternativas de emprego e opções de subsistência para os moradores rurais que habitam o interior ou o entorno das UC, os rápidos ganhos financeiros associados com a SSM, a existência de minerais acessáveis pela mineração em pequena escala no interior das UC e a fraca proteção dos limites destas áreas, estes espaços protegidos têm se tornado uma escolha lógica para a SSM, motivando vários garimpeiros a se deslocarem ou permanecerem em seu interior para a realização de suas práticas de extração mineral, mesmo ante os fortes riscos de repressão por parte dos Estados nacionais.

Segundo estes autores, os impactos ambientais da SSM em UC estão diretamente associados com as técnicas utilizadas na extração de ouro e diamante, as quais envolvem a utilização de dragas, jatos d’água de alta pressão e bombas de sucção de cascalho para remover a parte superior do solo e sobrecarregar ou desalojar sedimentos do leito e margens de rios. No Parque Nacional Puting Tanjung, da Indonésia, por exemplo, grande parte dos rios são auríferos e cinco grandes rios possuem, cada um, de 100 a 500 dragas operando na extração de ouro. Com isso, essa UC tem experimentado a deterioração da qualidade da água de seus rios, em virtude da erosão e assoreamento, o que trás inúmeras consequências negativas tanto para a biodiversidade aquática como para a comunidade que faz uso destes recursos.

No âmbito da discussão sobre SSM em UC o debate principal gira em torno da possibilidade de conciliar os objetivos de conservação da biodiversidade pretendidos pelas UC com a SSM19. Muito embora as literaturas apontem sempre que a SSM é uma atividade impactante para o ambiente e sua biodiversidade, uma experiência bem sucedida visando conciliar SSM e conservação da biodiversidade vem sendo adotada na região de Chocó (Colômbia), uma área formada por um ecossistema único, considerado um hotspots20 de biodiversidade.

Com o chamado Programa “Oro Verde”, os garimpeiros da região de Chocó realizam a extração do ouro e platina a partir de métodos tradicionais que possibilitam a obtenção de um esquema de certificação, definido com a própria comunidade e que permite a sua comercialização como metais verdes e justos em nichos de mercado especializados. Para a certificação, faz-se necessário o cumprimento de dez critérios, dentre os quais se têm: realização da extração mineral sem uso de produtos químicos tóxicos, como o mercúrio e o cianeto; possibilitar que as áreas garimpadas ganhem estabilidade ecológica dentro de três anos; os rejeitos não podem exceder a capacidade de recuperação do ecossistema local; controle da carga de sedimentos liberados nos cursos d’água, de modo a não interromper o funcionamento dos ecossistemas aquáticos; operações de mineração realizadas com o acordo dos Conselhos Comunitários locais; a origem dos metais deve ser declaradaem benefício ao município onde foi extraído; as atividades de extração em áreas de florestadas não podem exceder 10% de um hectare em períodos de rotação de dois anos; e, os regulamentos locais, regionais e nacionais devem ser seguidos (www.greengold-oroverde.org).

19 Ver autores como Chupezi et al. (2009), UNDP (2011) e Villegas et al. (2012).

20Hotspot étoda área prioritária para conservação, caracterizada por apresentar alta biodiversidade e está

ameaçada no mais alto grau. Considera-se um hotspot uma área que apresente pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original (www.conservation.org.br).

Os garimpeiros e suas famílias que cumprem estas normas recebem um incentivo econômico, além de assistência técnica e diferentes projetos socioambientais que objetivam implantar meios de produção sustentáveis e necessários a melhoraria da qualidade de vida. Neste sentido, o Programa “Oro Verde” apresenta ganhos significativos em relação à conservação da biodiversidade, garantindo, especialmente, uma redução das taxas de desmatamento que estão restritas apenas um hectare por ano por garimpeiro/unidade familiar, enquanto a média de área destruída com o uso de retroescavadeira pode atingir doze hectares de terra por ano. Além de que o uso de práticas responsáveis que possibilita que o ecosssitema seja facilmente restaurado após as intervenções(www.greengold-oroverde.org).

Contudo, a reprodução destas práticas em outras áreas é muito limitada. UNDP (2011), por exemplo, ao analisar a possibilidade de implantação da experiência do Programa “Oro verde” na região transfronteriça da Guiana Francesa, Suriname e Brasil identifica como fatores limitantes desta região os seguintes fatos:

a) A maioria dos garimpeiros é imigrante e normalmente não estão comprometidos com a conservação de um ambiente natural que não é e nunca será deles.

b) Os garimpeiros empregam métodos altamente mecanizados, com altos índices de rendimentos mensais quando comparados com os obtidos no Programa Oro Verde. Segundo o autor, enquanto a produção familiar certificada no Chocó chega a 10 a 20g de ouro por mês, os garimpeiros de pequena escala da região transfronteiriça estudada produzem mensalmente de 1 a 2 kg de ouro.

c) Os atuais métodos de extração mineral empregados na região transfronteriça removem completamente a cobertura florestal e fazem o revolvimento do solo. Com isso, as florestas que se regeneram na área, mesmo com reflorestamento avançado, raramente apresentam a mesma biodiversidade e qualidade de serviços ambientais dos ecossistemas que ocupavam as florestas originais. De forma parecida, é pouco provável que a biodiversidade aquática consiga se regenerar, em curto intervalo de tempo, nos cursos d'água aterrados, desviados e destituídos de sua vegetação natural.

Para UNDP (2011), nas áreas transfronteiriças do Brasil, Guiana Francesa e Suriname, SSM e conservação da biodiversidade só podem coexistir em um mesmo território se forem separadas áreas específicas para cada uma destas atividades e se garimpeiros receberem apoio na obtenção de títulos mineiros legalizados nas áreas situadas fora das UC. Além disso, destaca que a concessão de títulos deve incorporar a obrigação de trabalho segundo as melhores práticas de garimpagem aplicáveis à região e segundo o interesse dos garimpeiros,

cabendo não só ao Estado, mas também as associações de garimpeiros o incentivo e a execução do controle sobre o cumprimento desses requisitos.

Diante destes dados, questiona-se como essa relação está sendo efetivada na Amazônia brasileira e, de modo particular no estado do Pará, o qual se caracteriza por apresentar mais de 30% de seu território convertido em UC federais e estaduais e uma alta dependência da indústria extrativa mineral para a geração de receitas para o Estado. Esse assunto será abordado no capítulo a seguir.

3 EXTRAÇÃO MINERAL E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NAS POLÍTICAS