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Mapa 7 – Incidência dos processos minerários de ouro da região de Itaituba em

3 EXTRAÇÃO MINERAL E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NAS

3.1 Concepções de desenvolvimento nos Planos Federais para a

3.1.2 O desenvolvimento para a Amazônia a partir de 1990

Com o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) é retomado o debate sobre o planejamento regional com os chamados Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENID). Estes passaram a caracterizar a noção de desenvolvimento no Programa Brasil em Ação (PPA 1996-1999) e no Programa Avança Brasil (PPA 2000-2003), implantados, respectivamente, no primeiro e segundo mandato deste governo.

O ENID previa a integração e o desenvolvimento nacional a partir da consolidação de infraestrutura física, principalmente de transporte rodoviário e ferroviário, em nove eixos (Arco-Norte, Madeira-Amazonas, Araguaia-Tocantins, Oeste, Sudoeste, Transnordestino, São Francisco, Rede Sudeste e Sul), com o objetivo de gerar maior abertura de áreas que não se encontravam totalmente integradas ao mercado nacional e internacional, bem como reduzir os custos dos transportes que eram responsáveis pelo aumento dos preços dos produtos nacionais e, consequentemente, de sua menor competitividade no mercado internacional, diminuindo assim a entrada de divisas via exportação no país (MONTEIRO; COELHO, 2004; SERRA; FERNANDES, 2004; FREITAS, 2012).

Estes programas previam vários projetos de infraestrutura para a região amazônica, tal como a recuperação das rodovias Brasília-Acre (BR-364) e Cuiabá-Santarém (BR-163), o asfaltamento da rodovia Manaus-Boa Vista (BR-174), a criação das hidrovias do Araguaia- Tocantins e do Madeira, do gasoduto de Urucu e da linha de alta tensão conectando Tucuruí ao Oeste e Sul do Pará, com parte de uma “uma estratégia de integração da Amazônia ao espaço produtivo brasileiro e de consolidação da política de integração regional da América do Sul” (THÉRY, 2005, p. 41).

Em 2003, no início do governo do Presidente Lula (2003-2011), teve início a construção de uma nova proposta de planejamento regional para a Amazônia, a qual pretendia diferenciar-se das propostas anteriores por incorporar a temática ambiental e ser construída de forma coletiva, com o envolvimento dos diferentes ministérios federais, governos estaduais, setores produtivos e segmentos sociais organizados da Amazônia Legal. Essa nova política foi lançado pelo governo federal em definitivo no ano de 2008, com o nome de Plano Amazônia Sustentável (PAS).

O PAS adota o desenvolvimento sustentável, buscando alcançar, de modo integrado, o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região, tal como pode ser observado no objetivo geral deste plano (BRASIL, 2008, p. 55):

O Plano Amazônia Sustentável tem como objetivo principal a promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira, mediante a implantação de um novo modelo pautado na valorização de seu enorme patrimônio natural e no aporte de investimentos em tecnologia e infraestrutura, voltado para a viabilização de atividades econômicas dinâmicas e inovadoras com a geração de emprego e renda, compatível com o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação dos biomas, e visando a elevação do nível de vida da população.

Este plano apresenta uma série de criticas aos demais planos formulados para a Amazônia, destacando que os mesmo não consideraram as variáveis ambientais e sociais em

sua formulação e execução e, com isso, favoreceram os elevados níveis de desmatamento, concentração de renda, o agravamento da exclusão social que caracterizam hoje a região:

A superação do atual modelo de exploração predatória dos recursos naturais por um novo modelo de desenvolvimento assentado nas atividades econômicas dinâmicas e sustentáveis pode garantir a preservação da imensa riqueza representada pela floresta amazônica, resultando, em tempos de forte ameaça de aquecimento do planeta, em enorme benefício para toda a humanidade. Deve ser ressaltado, ainda, que este excepcional ativo, a floresta em pé, deveria ser remunerado por aqueles que dele mais se beneficiam, ou seja, os países ricos do hemisfério norte, sem prejuízo da soberania nacional (BRASIL, 2008, p.7).

Desde os anos 50, a visão que influenciou o planejamento regional no Brasil, que se manteve até a década de 90, acentuou a existência de desigualdades regionais. Sabe- se, porém, que o livre funcionamento das forças de mercado não apenas é incapaz de reverter tal tendência, como inclusive a agrava. Entende-se que cabe essencialmente ao Estado induzir o crescimento econômico das regiões menos dinâmicas, em geral por meio de fomento às atividades econômicas motrizes. Tais políticas, contudo, não previam mecanismos para evitar efeitos negativos como a concentração de renda, o agravamento da exclusão social e um padrão de crescimento econômico predatório de suas próprias bases naturais (BRASIL, 2008, p.57).

Contudo, revestido com o discurso do desenvolvimento sustentável, o PAS também reforça a lógica da Amazônia como “região fronteira”, necessária para o desenvolvimento econômico e a maior inserção do país na dinâmica do sistema capitalista vigente. Neste sentido, ao mesmo tempo em que busca conjuminar a conservação florestal e da biodiversidade com o uso econômico, especialmente por meio de políticas de conservação, mantém as antigas estratégias de inserção da região nas dinâmicas do capitalismo através de várias obras de infraestrutura.

Sobre o último ponto, destaca-se que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê para o estado do Pará, no período de 2011 a 2014, diversos investimentos na área de transporte em rodovias, hidrovias, ferrovias, portos e aeroportos (Figura 1) com recursos previstos da ordem de R$ 5.170,44 milhões; e, na área de energia (incluindo setor mineral) com investimentos que chegam a R$ 83.030,94 milhões para ações de geração e transmissão de energia elétrica23, pesquisa em petróleo e gás, levantamentos geológicos e avaliação de recursos minerais (Figura 2).

23As políticas energéticas passam a ser agora o grande foco da atuação do governo federal na Amazônia, a qual

assume “o papel de fazer do Brasil uma potência na produção de energia renovável no século XXI” (FATHEUER, 2012, p. 88). Para ter ideia, no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2020, cerca de 85% ou 15.500 MW da rede de expansão hidrelétrica planejada para ser executada no Brasil entre 2016 e 2020 está localizada na Amazônia. Apenas na Bacia do rio Tapajós, no Pará, estão previstas a construção de seis hidrelétricas, sendo duas no rio Tapajós (hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá) e três no rio Jamanxim (hidrelétricas Cachoeira dos Patos, Jamanxim e Cachoeira do Caí) (MME/EPE, 2011).

Figura 1 – Ações do PAC para o setor de transporte no estado do Pará.

Fonte: Brasil (2013).

Figura 2 – Ações do PAC para o setor de energia no estado do Pará

Fonte: Brasil (2013).

Deste modo, estas diferentes tentativas de desenvolvimento formuladas e implantadas pelo governo federal repercutiram diretamente sobre o modo como está organizada hoje as políticas e práticas de extração mineral e conservação da natureza estabelecidas no Pará, como será destacado a seguir.