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Mapa 7 – Incidência dos processos minerários de ouro da região de Itaituba em

1 INTRODUÇÃO

1.2 Concepções teórico-metodológicas

1.2.2 Desenvolvimento Sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável emergiu na década de 80 do século XX e, desde então, tem influenciado significativamente políticas nacionais e internacionais, a exemplo das políticas de mineração e de UC, tornando-se elemento central de documentos e discursos de governos, agências internacionais, organizações empresariais, movimentos sociais e outros.

Muito embora, o discurso sobre desenvolvimento sustentável tenha sido ampliado ao longo do tempo, o que resultou em uma grande variedade de definições e interpretações (ver MEBRATU, 1998), o mais amplamente utilizado ainda é o conceito do relatório Brundtland para o qual o desenvolvimento sustentável “é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991).

Na perspectiva do relatório de Brundtland o desenvolvimento sustentável está assentado sobre duas questões: 1) o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; e, 2) a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. Assim, o que se busca com o desenvolvimento sustentável, segundo o relatório Brundtland, é harmonizar o crescimento econômico com prudência ecológica e justiça social.

Contudo, embora seja amplamente propagada como alternativa para conciliar no processo de desenvolvimento as dimensões econômica, ambiental e social, a ideia do

desenvolvimento sustentável apresenta muitas controvérsias, o que o torna alvo de criticas por diferentes autores.

Para Rediclift (2000), ao abordar o termo necessidade, a definição de desenvolvimento sustentável não considera que as próprias 'necessidades' se modificam, neste caso o próprio desenvolvimento contribui para as ‘necessidades’, ajudando a defini-las diferentemente para cada geração e para diferentes culturas. Além disso, este autor ressalta que o termo sustentabilidade é empregado de modo bastante reducionista, desconsiderando a existência de diferentes dimensões para a sustentabilidade: 1) temporal: refere-se ao contexto histórico no qual as comunidades mantêm, ou defendem, a sua integridade cultural e econômica; e, 2) subsistência: observada em países em desenvolvimento, onde a sustentabilidade não é uma defesa de “valores verdes alternativos”, mas uma defesa de valores existentes, amarrados por formas específicas de reprodução e comportamento, abaixo da ameaça de forças econômicas externas, ou do colapso de um equilíbrio delicado de recurso natural. Enquanto no mundo desenvolvido está relacionado com a economização da sociedade (atividades humanas são traduzidas em termos econômicos, e removidas tanto para o contexto ambiental como cultural) e a socialização da natureza (natureza é transformada em algo que pode ser gerenciada e controlada, que pode ser avaliado por meio de índices quantitativos) (REDICLIFT, 2000).

Para Banerjee (2006) a definição de desenvolvimento sustentável emprega perspectivas globais sob a definição monocultural de “global”, a qual é elaborada de acordo com a percepção do mundo partilhado pelos países desenvolvidos. Deste modo, o ambientalismo “global” permanece firmemente fundamentado na tradição do pensamento econômico ocidental, deshistoricizando e marginalizando as tradições ambientalistas de culturas não ocidentais.

Com isso, sob a égide dos ideais de desenvolvimento sustentável, os países desenvolvidos impõem suas normas de conservação da natureza para o restante do mundo, instituindo novas formas de colonialismo (BANERJEE, 2006; CASANOVA, 2006) que limitam os países do Terceiro Mundo de atingir o “desenvolvimento”, mas continuam fazendo-os produzir matérias primas que mantêm seus altos níveis de consumo:

As regiões mais pobres do mundo destroem ou exportam seus recursos naturais para satisfazer as necessidades das nações mais ricas ou pagar as dívidas decorrentes dos programas de “austeridade” impostos pelo Banco Mundial. É absurdamente irônico que os países mais pobres do mundo devam ser “austeros” em seu desenvolvimento, enquanto as nações mais ricas continuam a aproveitar padrões de vida que dependem das medidas de “austeridade” das nações pobres (BANERJEE, 2006, p. 90).

Conforme destacado por Brito (1999) no debate sobre desenvolvimento, as diferentes propostas teóricas envolvidas possuem apenas uma discordância aparente, pois prevalecem nelas um discurso unificado na questão do crescimento, sendo que neste discurso é possível identificar duas vertentes distintas de concepção de desenvolvimento, uma não sustentável, onde o desenvolvimento reconhece apenas o crescimento econômico, e outra sustentável, onde o desenvolvimento inclui preocupações com o meio ambiente e a justiça social.

Neste sentido, Brito (1999, p. 189) deixa evidente que mesmo nas concepções sustentáveis de desenvolvimento, onde a natureza é considerada, o problema do crescimento está no centro da questão:

[...] o dilema do desenvolvimento ganhou apenas uma complexidade na sua exequibilidade, mas o pano de fundo que domina essa questão continua unida pelo problema do crescimento.

Deste modo, o Desenvolvimento Sustentável ao invés de constituir uma estratégia diferencial de desenvolvimento, reforça a lógica do capital e do mercado propostos pelo sistema capitalismo, sem questionar que as noções de progresso e de racionalidade econômica que privilegiam o consumismo industrial são as causas da degradação ambiental.

Partindo desta mesma linha de raciocínio Foladori (2008) destaca que as discussões sobre desenvolvimento sustentável estão alicerçadas em duas concepções de mundo que mascaram a ação negativa do capitalismo sobre a natureza e a sociedade humana. A primeira, chamada de concepção consumista das crises ambientais, parte do pressuposto de que a crise ambiental será resolvida com a redução do consumo, em especial, nos países ricos. Ela defende que o comportamento consumista esgota os recursos e produzem resíduos, sendo a educação e o convencimento pessoal, as principais estratégias de mudança desse tipo de comportamento. Para o autor, esta concepção é limitada, ao passo que não considera as profundas forças econômicas do capital, as quais selecionam o quê produzir, onde produzir, com quais tecnologias e a que custo ambiental e social. A outra, chamada de concepção

técnica das crises ambientais, por sua vez, já parte do pressuposto de que as tecnologias ineficientes e sujas são as causas da degradação ambiental, sendo necessárias tecnologias eficientes e processos limpos para resolvê-los. Para o autor o problema desta concepção está no fato de que as tecnologias não existem fora de um contexto social que as desenvolva e promova, mas estão totalmente sobre a influência do interesse de investidores e da pressão do mercado, os quais orientam a pesquisa e fazem prevalecer trajetórias tecnológicas e produtos que tendem a beneficiar as classes e países mais ricos, marginalizando, portanto, a

investigação e o desenvolvimento de tecnologias, tanto de processos como de produtos, que não estejam respaldadas por setores com forte poder de compra.

Ademais; Foladori (2008) destaca que a poluição oriunda do processo de crescimento econômico desordenado tipo do capitalismo não se trata apenas de um problema de tecnologias sujas ou de falta de regulamentação, mas também uma questão de ritmos, pois a velocidade do crescimento econômico pode passar por cima de todas as proteções legais e tecnológicas de sustentabilidade.

2 MINERAÇÃO EM PEQUENA ESCALA, UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E