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1.3 As Políticas do Banco Mundial para redução da pobreza

1.3.1 A Atuação do Banco Mundial para o enfrentamento da pobreza no Brasil

No Brasil, o BM tem atuado há mais de 60 anos, desde 1949 e vem apoiando o governo brasileiro, tanto os estados quanto os municípios, em projetos que visam impulsionar ao mesmo tempo o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Assim, tem atuado como parceiro do país em projetos focalizados em reduzir a pobreza e a desigualdade social. A estratégia proposta pelo Banco inclui crescimento econômico com estabilidade e oportunidades para os pobres; melhorias na educação e na saúde; criar condições para que uma pessoa possa aproveitar melhor as oportunidades que surgem ao longo da vida, proporcionando maior segurança mediante a implementação de uma rede básica de segurança social e maior inclusão social. Em outras palavras, propõe o enfrentamento da pobreza em quatro frentes: oportunidades, capacidade, segurança e inclusão social.

Em 1998, o Brasil possuía uma taxa de pobreza de 22,6%, equivalentes a 34,9 milhões de pessoas que viviam em domicílios com uma renda per capita inferior à linha de pobreza7 (BANCO MUNDIAL, 2001, p.4). No entanto, há controvérsias em relação a esses números, Barros, Henriques e Mendonça (2000), com base na PNAD, revelam que, nesse mesmo ano, cerca de 33% das famílias brasileiras viviam com renda abaixo da linha de pobreza e 14% com renda inferior à linha de indigência, equivalente a 50 milhões e 21 milhões de brasileiros, respectivamente.

Até 2015, o governo brasileiro pretende reduzir em 50% a taxa de extrema pobreza (BANCO MUNDIAL, 2001, p. 10). Isto é, o Brasil se comprometeu em atender as metas do milênio, firmada com a ONU, no que diz respeito a pobreza: reduzir pela metade a proporção de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia e reduzir pela metade o número de pessoas que passam fome. Para alcançar essas metas, é preciso intensificar os investimentos em saúde, educação e

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O BM definiu como indivíduo pobre, aquele que vivia com renda per capita de até R$ 65 mensais. Essa linha de pobreza foi adotada em função do custo de uma cesta básica da região metropolitana de São Paulo (BANCO MUNDIAL, 2001, p. 4). Em 2008, o BM atualizou a linha de pobreza internacional, passou de US$ 1 para US$ 1,25 ao dia, a extrema pobreza e para US$ 2 ao dia, a pobreza (BANCO MUNDIAL, 2008). No Brasil, a PNAD utiliza como parâmetro para dimensionar a pobreza e a extrema pobreza, o critério de renda domiciliar per capita. A pobreza rendimento de até meio salário mínimo mensal e extrema pobreza rendimento de até um quarto de salário mínimo mensal.

igualdade de gênero (BANCO MUNDIAL, 2005, p.19). Nesse sentido, o BM tem apoiado iniciativas, principalmente nas áreas de saúde e educação, uma vez que esses setores estão relacionados com o bem estar de crianças e adolescentes.

Entre 1990 e 2003, observou-se uma redução substancial do número de pessoas muito pobres. Apesar dessa queda, em 2003, a proporção da população que se encontrava em situação de pobreza era de 13,8%, o equivalente a 24 milhões de brasileiros. Já a extrema pobreza, nesse período caiu quase pela metade, passou de 9,9% em 1990 para 5,7% em 2003 (IPEA, 2005, p. 26).

Segundo dados divulgados pelo BM (2012), entre 2003 e 2009 a pobreza no Brasil diminuiu. Passou de 21% em 2003 para 11% em 2009. Já a taxa de extrema pobreza caiu de 10% em 2004 para 2,2% em 2009. Embora tenha ocorrido uma redução da desigualdade da proporção de pobres, a desigualdade ainda é considerada alta para um país rico e cheio de potencial como o Brasil.

Conclusão

Neste capítulo discutiu-se a distribuição pessoal de renda no Brasil, com releitura do debate sobre distribuição de renda na literatura nacional, sob a ótica de diferentes autores, os quais se debruçaram sobre o tema, ajudando-nos a explorar sua evolução ao longo do tempo. Além da retrospectiva, o capítulo também discutiu o Programa de Garantia de Renda Mínima da década de 1990, bem como as políticas do Banco Mundial para erradicação da pobreza e redução da desigualdade da distribuição de renda tanto para a América Latina quanto para Brasil.

Pode-se perceber ao longo deste capítulo que muitos fatores contribuíram para a elevada concentração de renda no Brasil. Na década de 1970, o debate inicial confrontava as ideias de Langoni, Fishlow e Bacha. Langoni conclui que a concentração de renda no Brasil, provém da incapacidade do sistema educacional brasileiro em ofertar trabalhadores qualificados na proporção demandada pelo avanço tecnológico da industrialização. A tese de Fishlow repousa em torno da política de compressão salarial do governo militar, principalmente no período do PAEG, cuja política resultou em perdas significativas do rendimento dos

trabalhadores. Já Bacha afirma que o aumento da concentração de renda é resultante da estrutura hierárquica das firmas e da abertura do leque salarial. Esse debate foi praticamente abandonado nas décadas seguintes, passando por uma fraca discussão na década de 1980.

O debate ressurge com força na década de 1990, influenciado pela abordagem da teoria neoclássica de Langoni, com ênfase na teoria do capital humano. Seus analistas consideram a heterogeneidade educacional o fator determinante do nível geral da desigualdade de renda no Brasil. Mais recentemente, no início dos anos 2000, observa-se uma queda contínua do grau da desigualdade de renda. A partir desse momento, a discussão gira em torno da queda da desigualdade pessoal de renda e a investigação identifica as transferências públicas de renda como determinantes dessa redução.

Ainda nos anos de 1990, foi proposto o Programa de Garantia de Renda Mínima na tentativa de solucionar os problemas da concentração de renda que a economia brasileira vem enfrentando ao longo de sua história, desde os tempos coloniais. O Programa baseia-se na ideia de que a riqueza deve ser partilhada por todos de modo a garantir uma renda básica para a sobrevivência.

A proposta de renda mínima enfatiza os conceitos de cidadania e de direitos individuais. Independente da forma específica adotada funciona como instrumento capaz de reverter o problema da pobreza, e assim, reduzir as desigualdades sociais. Nesse sentido, apontou um caminho para o desenvolvimento do país via distribuição de renda. Ademais, é considerado um projeto inovador e a experiência serviu de base para a implementação de outros programas semelhantes em diversos municípios e estados brasileiros. O programa também serviu de aprendizagem, tornando-se o modelo para a elaboração de um programa mais abrangente, o Programa Bolsa Família.

No campo da pobreza, a solução encontrada pelo Estado, muitas vezes é influenciada por instituições internacionais, como o Banco Mundial, que tem encorajado ações para o enfrentamento da pobreza, principalmente na região da América Latina. O BM apoia programas direcionados à redução da pobreza por meio de empréstimos, conhecimento e ações estratégicas, atuando como um parceiro no combate a pobreza e a desigualdade.

O BM apoia a agenda de desenvolvimento mediante uma ação estratégica em duas frentes: uma se baseia no fortalecimento de investimentos, empregos e crescimentos sustentáveis e a outra, investimentos nas pessoas de baixa renda, capacitando-as para fazer parte do desenvolvimento e receber seus frutos.

No Brasil, o BM tem atuado no desenvolvimento de políticas sociais focalizadas no combate a pobreza. A proposta para o Brasil inclui crescimento econômico, estabilidade, segurança e oportunidades para os pobres. Assim, evidencia a preocupação em fomentar ações focalizadas nas áreas de saúde e educação, já que esses setores são relacionados com o bem estar da criança e do adolescente. Nesse caso, vale destacar que os investimentos em educação constituem uma grande ferramenta que dá oportunidade de mobilidade social aos indivíduos. Quando as pessoas são mais capacitadas, mais qualificadas profissionalmente, aumentam suas possibilidades de escolha, o que possibilita aumentar o seu nível de renda, acrescentando maior bem estar, tanto para elas quanto para seus familiares, ou seja, os investimentos em educação representam uma melhoria da distribuição de renda das pessoas.

Diante disso, cabe analisar a efetividade dos programas de transferência de renda no combate a pobreza. No próximo capítulo, são analisadas as iniciativas realizadas na América Latina, em países como o México, Chile, Peru e Argentina. O caso brasileiro será abordado mais adiante, no último capítulo.

2 OS

PROGRAMAS

DE

TRANSFERÊNCIA

CONDICIONADA

DE

RENDAEM

DETERMINADOS

PAÍSESDAAMÉRICALATINA