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2.2 Os Programas de Transferência Condicionada de Renda na América

2.2.2 O Programa Chile Solidario

O Programa de Transferência Condicionada de Renda (PTCR) chileno foi criado em maio de 2002 como um sistema de proteção social que visa eliminar a pobreza e a extrema pobreza. O Chile Solidario tinha como foco atender 225 mil famílias consideradas extremamente pobres numa população estimada em 16 milhões de habitantes. Segundo Soares (2007), o programa conta com três vertentes principais: 1) um assistente social dá apoio às famílias; 2) vários subsídios monetários; 3) as famílias tem acesso prioritário a outros programas de proteção social.

O ingresso no programa se dá por meio do Programa Puente. As famílias em situação de pobreza preenchem um formulário padrão, a ficha CAS, que as pontuam conforme suas necessidades sociais. Esta ficha é o principal instrumento para a focalização das políticas sociais, uma vez que armazena e processa as informações dos beneficiários. O Programa Puente é composto por quatro indicadores sociais, como renda, educação, condições de moradia e inserção no mercado de trabalho. Após ingressarem no programa, as famílias passam a receber a visita de um assistente social que as auxiliam a preparar um plano para facilitar o acesso a

serviços públicos, aliviando assim, a situação de extrema pobreza. Dessa forma, esse plano ajuda as famílias a apontarem os principais problemas em relação ao acesso aos serviços públicos, sendo que tais problemas são relacionados a noções básicas de higiene e saúde, emprego e violência doméstica. O Fondo de Solidaridad

e Inversión Social (FOSIS), em parceria com os municípios, financia a

implementação do Puente.

As famílias, além de receber a visita do assistente social, recebem também, o

Aporte solidário ou o Bono de Protección a la Familia que é uma transferência

monetária paga às mulheres chefe de famílias com duração máxima de dois anos, o mesmo período de duração do suporte psicossocial. É feito um contrato social entre a família e o assistente social, no qual as famílias se comprometem em atender as contrapartidas. Assim, o Bono de Proteción visa fornecer condições para as famílias adquirirem bens e serviços que não seria possível sem a proteção social.

O Bono de Protección é decrescente, o benefício é pago a cada seis meses durante os dois anos de acompanhamento, seu valor varia entre US$ 12 dólares e US$ 24 dólares, sendo ajustados com base na variação real do IPC anual. De acordo com Soares (2007), o valor decrescente é uma peculiaridade do Bono

Chileno, diferentemente dos outros programas de transferência de renda da América

Latina. No final da intervenção, as famílias recebem por um período de três anos um bônus de saída, o Subsídio único Familiar, no valor de US$ 13,8. Além do bônus, as famílias mantém o acesso preferencial a oferta de serviços públicos. No entanto, se nesse período a família conseguir sair da condição de pobreza, ela é automaticamente excluída do programa pelo assistente social que faz seu acompanhamento.

No ano de 2003, o valor do benefício era de $ 10.500 pesos mensais chilenos nos primeiros seis meses e, decrescendo nos meses seguintes até alcançar o valor de $ 3.716 pesos mensais chilenos nos últimos meses (SOARES, 2007, p. 11). Para ter uma noção melhor do que este valor representa, segundo a Caracterización

Socioeconómica Nacional (CASEN), o valor da cesta básica no Chile em agosto de

2012, era de US$ 146, equivalentes a $ 70.250 pesos chilenos.

Diferentemente dos demais PTCRs que operam com base na demanda de potenciais beneficiários, o Chile Solidario convida as famílias em situação de

pobreza a ingressarem no programa, sendo que a identificação de tais beneficiários é feita através dos registros das fichas CAS. Em 2006, a ficha CAS deu lugar a

Ficha de Protección Social (FPS), a qual passou a considerar variáveis relativas à

dinâmica familiar, riscos locais específicos, a vulnerabilidade do trabalho e capital humano, cobrindo 65% da população, proporcionando dessa maneira, uma margem mais ampla para implementação de vários programas sociais.

O Programa Chile Solidario também exige contrapartidas das famílias beneficiárias. No entanto, essas contrapartidas ocorrem de maneira diferente das exigências de outros países da América Latina. As famílias devem participar de atividades monitoradas conforme o cumprimento de 53 condições mínimas de qualidade de vida com base nas áreas de educação, saúde, dinâmica familiar, habitação, emprego, renda e identificação, sendo que estas atividades são monitoradas pelo assistente social que as acompanha. Assim, como nos demais países, a família beneficiária é penalizada se não cumprir tais compromissos. Dessa maneira, as famílias devem alcançar as 53 exigências mínimas para garantir condições dignas de vida mediante um trabalho intensivo durante dois anos. Porém, para garantir a manutenção dos mínimos, o Ministerio de Planificación (MIDEPLAN) estima um período de pelo menos cinco anos de permanência das famílias no programa.

Segundo Cavalcante (2011), entre junho de 2002 e junho de 2008, o número de famílias beneficiárias do programa girava em torno de 278.000; já em 2009, esse número passou para mais de 300.000 famílias equivalentes a 6% da população do país. Conforme Farías (2013), em 2005, o programa atendia 126.271 famílias em situação de extrema pobreza; já em 2008, participaram do programa 332.995 famílias, o equivalente a 6,8% da população total do país e 51,7% da população que vive em situação de pobreza, superando a meta inicialmente estabelecida de atender 225.000 famílias.

De acordo com Boyadijan (2009), os indicadores de pobreza do Chile são considerados relativamente baixos em comparação com os demais países da América Latina. Em 2004, nos centros urbanos, somente 16% das famílias se encontravam em situação de pobreza. Segundo a autora, entre 1990 e 2000 houve uma redução significativa na proporção de pessoas que se encontravam abaixo da

linha de pobreza, a proporção caiu de 38,6% para 20,6%. O número de indigentes também reduziu nesse período, passando de 1.659.300 em 1990 para 849.000 em 2000. Uma mudança bastante significativa nos indicadores sociais com melhoria na qualidade de vida das pessoas.

Dados mais recentes mostram um desempenho satisfatório na redução da pobreza e da extrema pobreza no Chile desde a década de 1990. De acordo com Farías (2013), a taxa de pobreza caiu de 38,6% em 1990 para 11,5% em 2009 (ver Gráfico 1).

Gráfico 1- População em situação de pobreza e extrema pobreza, Chile 1990 a 2009

13 7,6 5,7 5,6 5,6 4,7 3,2 3,6 38,6 27,6 23,2 21,7 20,2 18,7 13,7 11,5 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 1990 1994 1996 1998 2000 2003 2006 2009

Extrema Pobreza Pobreza

Fonte: Farías (2013). Elaboração própria

Nota-se no gráfico que, a partir de 1990, tanto a taxa de pobreza quanto a de extrema pobreza vem caindo gradualmente. No entanto, entre 2006 e 2009, observa-se um ligeiro crescimento na taxa de extrema pobreza, como resultado da mais recente crise econômica. Nesse período, a extrema pobreza passou de 3,2% para 3,6%. Contudo, as transferências sociais têm impedido um aumento mais significativo dessa desigualdade.

Na última década, as estratégias de transferência de renda no Chile tornou-se o pilar central dos esforços de redução da pobreza. Em 2011, criou-se o Ministerio

de Desarrollo Social em substituição ao Ministerio de Planificación (MIDEPLAN) para

aprimorar as políticas de desenvolvimento social e combate a pobreza. Ainda em 2011, foi implementado um novo programa de transferência monetária, o Bono de

Apoyo a la Familia na tentativa de erradicar a pobreza extrema do país (FARÍAS,

2013, p.8).

O Programa Chile Solidario, além de garantir os benefícios já mencionados, tem convênios com órgãos públicos para garantir melhor acesso aos programas de habitação, emprego, educação e saúde. Esses convênios se aplicam ao Servicio

Nacional de Capacitación y Empleo (SENCE), o qual possui dois programas, o Bonificación a la Contratación de Mano de Obra y Subsidio a la Contratación de Jóvenes Chile Solidario, que dá apoio à entrada de jovens no mercado de trabalho.

O Chile Solidario também proporciona acesso a outros três programas de intervenção: 1) o Programa Vínculos destinados a adultos maiores que vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade, coordenado pelo Servicio Nacional del Adulto

Mayor (SENAMA); 2) o Programa Calle implementado por organizações não

governamentais que trabalha com moradores de rua; 3) o Programa Caminos que apoia crianças com alguns dos pais na prisão sob a responsabilidade de organizações não governamentais.

Segundo Soares (2007), a ampliação da cobertura dos PTCRs entre os mais pobres tem contribuído para a redução da desigualdade de renda. Portanto, pode-se afirmar que o Chile Solidario cumpre com seus objetivos primordiais, a superação da pobreza e a erradicação da extrema pobreza.