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CAPÍTULO II Avaliação da Aprendizagem: retomando aspectos históricos e as

2.6 A avaliação da aprendizagem na EaD online

Partimos do pressuposto de que por trás de toda ação educativa existe uma concepção de Ensino e de Aprendizagem. Em se tratando especificamente da avaliação da aprendizagem, essa ideia ganha força uma vez que a forma como o processo avaliativo se efetiva na prática docente, varia em suas finalidades e instrumentos de acordo com o que se concebe acerca do ensinar e do aprender. A este respeito, a educação a distância online tem como especificidade o fato de utilizar tecnologias que oferecem diversas formas de interação, seja com conteúdos informativos, seja através da interação entre os sujeitos.

Desse modo, à medida em que se acessa aos ambientes online de aprendizagem, percebe-se que além da informação existe à disposição recursos que possibilitam a interlocução entre os sujeitos, o que favorece a aprendizagem, uma vez que:

Na educação online os textos sobre os conteúdos em estudo podem ser disponibilizados em forma de hiperlinks, que permitem ao aprendiz decidir o rumo da sua navegação pelos diversos links disponíveis, revelando um pensar não-linear, de modo que os conhecimentos se reorganizam conforme os objetivos ou contextos, uma forma de trabalho que geralmente não tem espaço na educação convencional (SANTOS, 2008, p.90).

Nessa perspectiva, qualquer ação educativa comprometida com a real aprendizagem dos sujeitos, baseia-se no diálogo, na troca, na participação e colaboração. Entendemos que estes devem são elementos centrais de qualquer ação didático- pedagógica a distância. Silva (2006) enfatiza que:

a sala de aula como ambiente digital online tem (...) uma especificidade muito própria, em nada semelhante à sala de aula baseada na pedagogia da transmissão. Nesse contexto, felizmente, podemos dizer que as disposições informacionais e comunicacionais do computador online estão em sintonia com os indicadores de qualidade em educação e com os fundamentos da “avaliação mediadora”. Liberdade de autoria, multiplicidade de acessos e de conexões, diálogo, troca de informações e de opiniões, participação, intervenção e autoria colaborativa são princípios essenciais em educação cidadã (2006, p.27).

As possibilidades oferecidas pelas ferramentas tecnológicas viabilizam uma aprendizagem baseada na construção coletiva. A internet oferece diferentes ferramentas de comunicação, como fóruns, salas de bate-papo, mensageiros instantâneos, blogs, listas de discussão, além de tantas outras interfaces que possibilitam o diálogo, o debate e a negociação (SILVA, 2006) e, viabiliza, assim, um efetivo acompanhamento do processo de aprendizagem.

Nesse contexto, convém citar um termo que vem ganhando destaque enquanto referencial para aprendizagem em ambientes virtuais: aprendizagem colaborativa, que embora não seja um termo novo, vem se popularizando bastante no campo da EaD online. Mas o que seria aprendizagem colaborativa? Segundo Alcântara (2003),

A aprendizagem colaborativa é um processo de reaculturação que ajuda os estudantes a se tornarem membros de comunidades de conhecimento cuja propriedade comum é diferente daquelas comunidades a que já pertence. Assume, portanto, que o conhecimento é socialmente construído e que a aprendizagem é um processo sociolingüístico (ALCÂNTARA, 2003, p. 23).

para a aprendizagem colaborativa:

1) a interdependência positiva, que se fundamenta na responsabilidade de todos sobre a produção final que está sendo construído, sendo imprescindível que os sujeitos envolvidos sejam co-responsáveis pela construção do conhecimento do grupo;

2) a interação face-a-face, que se caracteriza pela cooperação entre os sujeitos, indo ao encontro do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), na qual o processo de aprendizagem é favorecido pelas interações sociais que os sujeitos “menos experientes tem com os “mais experientes” ;

3)a contribuição individual fundamentada na idéia de que em toda aprendizagem em grupo, é necessário que o sujeito tenha a compreensão da importância da sua participação no trabalho, sendo este um elemento motivador que tornará a aprendizagem mais rica;

4) desenvolvimento de habilidades interpessoais e de atividade de grupo, este elemento além de possibilitar aos sujeitos a apropriação dos conceitos pertinentes ao trabalho proposto, desenvolve a habilidade de relacionamento em grupo.

Assim, compreendemos que a aprendizagem colaborativa na EAD online potencializa o processo de construção do conhecimento e possibilita a realização de uma avaliação formativa, dialógica. Entretanto, sabemos que a avaliação da aprendizagem na modalidade a distância é um tema polêmico, constantemente evocado nos debates educacionais, sobretudo, em se tratando das concepções e modelos de avaliação que possam ser mais adequados ao contexto educacional online, assim como, a utilização da metodologia pedagógica que esses ambientes virtuais de aprendizagem oferecem, a partir de suas interfaces.

Esta controvérsia é complexa considerando-se, por exemplo, a ZDP, cuja base teórica sustenta a importância da mediação do outro mais competente, assim, a mediação docente na EaD assume um papel relevante, entretanto, o que ocorre em alguns modelos de cursos, é que as atividades se pautam numa perspectiva instrucionista dos processos de ensino e de aprendizagem, e relegam ao último plano o papel do outro mais competente. O processo de aprendizagem na EaD passa a ser, assim, uma tarefa solitária, na qual nem sempre é possível obter sucesso.

Partimos da idéia inicial de que a EaD online, enquanto modalidade que ainda está se firmando quanto aos seus princípios, fundamentos e práticas, tem como base a experiência dos cursos presenciais para estruturar suas concepções e ações. Entretanto, consideramos que a mais vasta experiência com o ensino presencial não é suficiente para

assegurar a qualidade dos ambientes virtuais de aprendizagem, isto porque, a EaD online possui uma lógica própria de concepção e linguagem, não tendo sentido algum a tentativa de transpor os modelos educativos presenciais para os espaços de aprendizagem na modalidade a distância online.

Consideramos que os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) caracterizam-se, tanto quanto a sala de aula presencial, pelo oferecimento de numerosas possibilidades colaborativas e interativas, baseadas na multiplicidade de fontes de dados, informações e recursos disponíveis que podem ser utilizados de diversas formas, através de momentos síncronos e assíncronos, o que pode contribuir para que seja viabilizada uma avaliação formativa, mediadora e dialógica.

Dentre as ferramentas disponíveis nos AVAs, destacamos o fórum de discussão online, enquanto interface que pressupõe uma relação dialógica, processual e colaborativa na construção do conhecimento. Nessa perspectiva, Kratochwill pontua que “os AVAs incorporaram didaticamente essa interface como mais uma possibilidade interativa de aproximação das distâncias, de colaboração, de diálogo, de socialização e de trocas de informação e de reflexão” (2007, p.7), constituindo-se assim, em uma interface que possui uma rica e vasta possibilidade de avaliação na concepção dialógica.

As diversas visões sobre avaliação podem se prestar a variados papéis. O mais comum – evidentemente, não o melhor, nem o ideal – é o de certificação, ligado diretamente à necessidade de provimento de um grau de classificação institucionalmente válido. Em cursos online o modelo predominante está associado ao aspecto somativo da avaliação, através de instrumentos de verificação, cuja função é atribuir uma nota. As próprias determinações oficiais impõem a existência de momentos presenciais, com provas isoladas e descontextualizadas dos demais momentos de ensino e de aprendizagem. Os resultados dessa avaliação devem predominar sobre todos os demais resultados alcançados ao longo do processo (KENSKI, 2006). Em contrapartida ao que se efetiva na prática avaliativa a distância, Silva (2006) destaca que

A avaliação da aprendizagem na sala de aula online requer rupturas com o modelo tradicional de avaliação historicamente cristalizado na sala de aula presencial. Se o professor não quiser subutilizar as potencialidades próprias do digital online, ou se não quiser repetir os mesmos equívocos da avaliação tradicional, terá que buscar novas posturas, novas estratégias de engajamento no contexto mesmo da docência e da aprendizagem e ai redimensionar suas práticas de avaliar a aprendizagem e sua próprias atuação (p.23).

Um estudo recente realizado por Santos (2008) confirma a dificuldade existente na concepção e na prática pedagógica dos docentes quando se trata da avaliação na EaD. Uma dessas dificuldades refere-se à compreensão da função da avaliação, pois existe uma distorção conceitual em relação à concepção avaliativa dos docentes, uma vez que nos relatos apresentados na pesquisa, a avaliação aparece em grande parte associada “a classificação, a preparação de provas de seleção, com vestibulares e concursos.“

Embora as ferramentas de interação disponíveis nos ambientes virtuais ofereçam possibilidades múltiplas para que o professor possa mediar a aprendizagem do aluno e desenvolver um processo de avaliação formativa, a partir do levantamento de informações que o auxiliem na criação de intervenções e estratégias de aprendizagem.

O estudo realizado por Santos (2008) aborda a questão do uso das ferramentas para avaliação oferecidas pelo AVA e a autora afirma que

ferramentas que possibilitem o controle da participação do aluno e da assiduidade na entrega das tarefas pode ser útil para a avaliação da aprendizagem, mas não é suficiente para o professor identificar os avanços e dificuldades dos alunos em termos de aprendizagem dos assuntos (p,146).

Confirma-se, assim, a idéia de que a tecnologia por si só não consegue modificar a prática avaliativa, por mais recursos que ela ofereça, constitui-se em ferramentas para ser utilizada como meio, e não como fim em si mesmas, sendo imprescindível a mediação do professor para que o processo de avaliação ocorra na perspectiva formativa, processual, reguladora das aprendizagens.