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O erro nos processos de ensino e de aprendizagem

CAPÍTULO II Avaliação da Aprendizagem: retomando aspectos históricos e as

2.7 O erro nos processos de ensino e de aprendizagem

Ao longo de muito anos no âmbito educacional o erro esteve associado ao fracasso e a inexatidão, cabendo à escola “punir” todo e qualquer erro do aluno, considerando-o como incapacidade dos sujeitos. Assim, o sistema escolar conservador tem como pressuposto inicial a inaceitabilidade do erro nos processos de ensino e aprendizagem. A preocupação existe nesse paradigma é focada nos resultados obtidos pelos sujeitos, a

partir de um padrão único, considerado “correto”. Esteban (2001, p.16) destaca que nesse sistema o:

O aluno deve seguir uma lógica única, de um só saber, reconhecendo um conjunto de conhecimentos como único e legítimo. Neste sentido têm-se por „verdade‟ o que a escola ensina como sendo o „certo‟.” Divergir deste contexto é considerar “errado” o conjunto de pensamentos ou ações do aluno.

Entretanto, a despeito da cultura escolar acerca do erro, as teorias sócio- interacionistas da aprendizagem emergiram trazendo um novo olhar sobre esse elemento, enfatizando a sua função construtiva nos processos de ensino e de aprendizagem, desde os clássicos teóricos, até as discussões mais atuais.

Para La Taille (1997), a teoria piagetiana da inteligência humana redimensionou o enfoque sobre o erro, considerando vários aspectos, “de pecado capital da aprendizagem, o erro ganhou certa nobreza, foram demonstradas sua função e utilidade” (p.25).

Através do avanço da investigação científica acercada temática – pode-se afirmar que o erro construtivo diz respeito às hipóteses elaboradas pelo sujeito, sustentadas por uma lógica interna de quem “ainda não sabe”, mas que está no processo de construção desse saber, possuindo esse erro um sentido fundamental para a compreensão do saber que está sendo construindo.

Assim, o erro é visto como parte inerente aos processos de ensino e aprendizagem, possuindo uma multiplicidade de sentidos associados à construção do conhecimento, além de ser um elemento significativo e impulsionador da aprendizagem.

Na verdade, o erro visto como construtivo, caracteriza-se como uma tentativa de acertar. Quando o sujeito erra, é porque, efetivamente, buscou realizar uma tarefa, para a qual ainda não obteve êxito.

Ocorre, porém, que de um lado, tradicionalmente, a escola não tem estabelecido diferença entre o erro integrante do processo de aprendizagem e aquele classificado como simples engano ou mesmo desconhecimento. Por outro lado, há, em certas realidades, uma distorção do entendimento sobre o erro, na qual a constatação do erro é simplesmente diagnóstica e não vem acompanhada de uma intervenção didático- pedagógica, que possibilite ao aluno acertar. Ou seja, os professores, muitas vezes, adotam posições radicais, ou “punem“ o erro do aluno, na tentativa de “bani-lo nos processos de ensino e aprendizagem, ou simplesmente constatam o erro, mas não

intervém reflexivamente sobre aquele erro, esperando que o aluno acerte espontaneamente.

Prevalece, assim, a interpretação equivocada de que a ausência de erros nas atividades escolares apresenta-se como legítima manifestação da aprendizagem. Essas interpretações comprometem a idéia do erro como algo ligado ao processo de aprendizagem e que carece da intervenção pedagógica.

Na perspectiva piagetiana o aprendiz passa por fases de equilíbrio e desequilíbrio em sua trajetória de aprendizagem. Esse processo é natural quando se interage com o novo objeto de conhecimento. Assim, o erro nos processos de aprendizagem é indicador da lógica do sujeito que aprende e essa lógica se expressa nas contradições entre os esquemas de assimilação e a realidade. (PIAGET, 1997)

Os estudos de Vygotsky também ofereceram elementos indicativos para se repensar o erro nos processos de ensino e de aprendizagem, ao conceituar a Zona de Desenvolvimento Proximal, este autor nos indica a existência da distância entre o desenvolvimento real e próxima, conseqüentemente, ao percorrer essa trajetória, na sua construção do conhecimento, o sujeito erra, e daí surge a importância da mediação do sujeito mais experiente.

Nesse sentido, o erro não ocorre por acaso, mas contém hipóteses implícitas (teorias em ação) no processo de conhecimento. E dessa forma, o erro passa a ser colocado no centro do conhecimento, tendo um lugar nobre no processo de conhecer.

Considerando-se as discussões teóricas sobre a função do erro nos processos de ensino e aprendizagem, convém, ressaltar que tais debates ainda não foram incorporados às práticas avaliativas da maioria das nossas escolas e sistemas educacionais. A despeito de todos os debates, a cultura avaliativa predominante, ainda não atribui ao erro uma função construtiva na aprendizagem dos sujeitos. O que se tem, de fato são posturas opostas em relação à esse componente da aprendizagem. De um lado encontram-se as práticas avaliativas conservadoras que punem radicalmente o erro, tornando a avaliação uma mera verificação da quantidade de acertos e erros dos sujeitos. E por outro lado, encontram-se os pseudo-interacionistas, que tomam frente ao erro uma postura espontaneísta por entenderem, equivocadamente, que ao ser o erro um elemento natural do processo de aprender, também deve ser natural a transição do erro para o acerto.

Desse modo, entende-se que o erro precisa ser objeto de reflexão cuidadosa por parte dos docentes, pois em ambas posturas descritas acima, os equívocos frente ao erro estão presentes e são igualmente prejudiciais à aprendizagem.

Cabe a avaliação da aprendizagem, a função de reflexão e intervenção sobre os processos de ensinar e de aprender, e nestes se incluem a mediação, e a forma de lidar com os erros dos sujeitos, intervindo de modo a promover situações didáticas que possam ajudar o aluno na construção de suas aprendizagens.

E em se tratando dos processos de ensino e de aprendizagem à distância, a visão que se tem do erro do aluno, bem como a postura que é assumida diante dele, terão papel relevante nas opções teórico-pedagógicas que são feitas. Há que se considerar que ainda mais relevante o papel docente na mediação pedagógica, que envolve entre outros fatores, a forma de lidar com o “erro” e o “acerto”, e disso discorrerá o feedback para o aluno.

2.8 Procedimentos e Instrumentos avaliativos nos processos de ensino e de