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ATIVIDADES AVALIADAS NOS DIÁRIOS

5.4.3 A avaliação do agir da Professora Cláudia em seu trabalho

Diferentemente das professoras anteriores, o agir da professora Cláudia é avaliado positivamente em todas as atividades descritas nos diários. Foram escolhidos três segmentos para discussão mais detalhada e melhor compreensão do que levou a autora desses diários a avaliar positivamente esse agir:

• Avaliação do agir da professora no quadro da tarefa de leitura Nesta aula após a correção de alguns exercícios da apostila, a professora introduziu uma leitura. Ela apresentou a leitura de modo interessante. Fez uma transparência da leitura no livro, acompanhada da fotografia. Era uma leitura sobre um hotel para as férias, ao norte da Alemanha. Fez um aquecimento preliminar perguntando sobre praias na Alemanha, sobre nossas férias etc... (usando alemão). Com a transparência colocada no quadro branco, ela pediu que cada aluno lesse um

trecho para a turma. Na medida em que líamos, ela esclarecia dúvidas e/ou negociávamos os significados das palavras. Ao final da leitura fez diversas perguntas de compreensão sobre a leitura e dessa forma ia introduzindo o ponto de gramática, que eram preposições com artigos na forma do Dativo. Os alunos também foram incentivados a construir perguntas, a partir de uns ‘prompts’ que já estavam na transparência. Na medida em que fazíamos as perguntas, a professora ia ajudando e outros alunos também, de modo que todos contruíamos juntos as perguntas. Algum outro aluno também respondia nossas perguntas. Foi uma

atividade interessante e que prendeu a atenção de todos. [D4]

Nesse segmento, observa-se que a autora do diário inicia o texto com uma avaliação, e, em seguida, descreve com detalhes o agir da professora ao implementar essa tarefa de leitura. A realização da tarefa é avaliada globalmente (foi uma atividade interessante e que prendeu a atenção de todos). Assim, ao descrever o agir, ela cita as operações de linguagem e as operações com instrumentos. As operações de linguagem (pediu que cada aluno lesse/ esclarecia dúvidas/ negociava significados) são, assim, consideradas adequadas ao propósito da interação, sendo que as operações com instrumentos, tanto simbólicos (perguntas de compreensão/ aquecimento preliminar) quanto materiais (fazer transparência/ projetar no quadro), dão suporte às operações de linguagem, contribuindo para manter a atenção e o interesse dos alunos durante todo o tempo da atividade. Trata-se de uma forma original de implementar a atividade de leitura, principalmente se for comparada ao modo de implementação privilegiado pelas professoras Celia e Luci (de espanhol).

Essas professoras, como já citado, não lançavam mão de transparências, fotos ou qualquer outro recurso que não fosse o livro didático; assim como não exploravam a negociação de significado, nem a construção de perguntas ou respostas, em conjunto, sobre o texto. As atividades de leitura eram tratadas como se fossem atividades individuais, sendo que aos alunos não eram oferecidas oportunidades para que colocassem suas dúvidas em relação ao texto, e nem mesmo oportunidades que favorecessem o seu desenvolvimento cognitivo.

Já a Professora Cláudia, além de promover a leitura em conjunto, atraindo todos os olhares para a projeção do texto no quadro branco, negociava o significado das palavras com os alunos, de modo que todos

aproveitassem a atividade de maneira produtiva. Em seguida, fazia perguntas de compreensão e “aproveitava” para introduzir um ponto gramatical.

Na segunda parte do segmento acima selecionado, há uma descrição de como a professora envolvia os alunos na atividade de ‘construção de perguntas’, favorecendo, desse modo, o desenvolvimento cognitivo de todos os participantes. Assim, os efeitos sobre os alunos sendo positivos, e as operações de linguagem e com instrumentos considerados adequados, o agir da professora é avaliado positivamente também. Não há conflitos entre as representações dessa professora e as representações da aluna- pesquisadora.

No próximo segmento, será examinado o agir da professora Cláudia no quadro da tarefa de “introdução de matéria nova”, quando o seu agir é descrito passo a passo e em seguida, avaliado. Trata-se de uma atividade de apresentação/introdução de uma nova Unidade do Livro didático, focalizando o vocabulário a ser aprendido pelos alunos:

• Avaliação do agir da professora no quadro da introdução de nova unidade do livro didático

Em 20/8 tivemos a segunda aula, esta, que gravei. A professora introduziu a unidade 5 do livro com uma transparência que mostrava a planta de um apartamento sem os nomes das partes. Aos poucos, ia “eliciting” da turma os nomes dos diferentes cômodos de um apartamento. Colava então no quadro uma foto com o nome do cômodo. Muito agradável, interessante e prendeu a atenção de todos.

Essa professora tem mais técnica para ensinar e mais habilidade para elicitar a participação dos alunos. Ela, como a outra, também designa quem vai falar, quem vai dialogar com quem mas o faz de modo mais sutil, mais rápido e menos cansativo. Acho que é porque ela sabe os nomes de todos de cor e toma a decisão rapidamente sem ficar indecisa quanto a quem chamar. Nessa

aula ela distribuiu uma poesia que ela chamou de poesia concretista e pediu que nós interpretássemos.[ D4]

A avaliação positiva do agir da professora é representada no segmento acima por adjetivos apreciativos (agradável/ interessante), pelos resultados positivos obtidos junto aos alunos (prendeu a atenção de todos) e, ainda, por comparação com o agir e com a capacidade da professora anterior ( a prof. Célia). Uma inferência a respeito das razões do seu agir é feita por

meio da modalização (acho que é porque...) atribuindo à capacidade cognitiva da professora o sucesso de seu agir.

No segmento acima, além de descrever o agir da professora em seus pormenores, isto é, citando as operações de linguagem [elicit] e as operações com ferramentas [colar; fazer transparências, usar fotos] que têm um efeito positivo sobre os alunos, a aluna-diarista, autora do diário, compara a capacidade e a habilidade técnica dessa professora com a professora anterior [Professora Célia, de alemão], afirmando que a Prof. Cláudia teria mais técnica e seria mais hábil. Ela teria, portanto, mais recursos comportamentais e faria melhor uso dos modelos e ferramentas disponíveis no coletivo de trabalho, em benefício de seus alunos.

As suas razões de agir são inferidas e avaliadas. Segundo a autora desse diário, as operações de linguagem da Prof. Cláudia seriam mais eficientes porque ela sabia os nomes de todos os alunos de cor e não hesitava ao designá-los para falar ou responder. Em que pese essa operação de linguagem ser a mesma empregada pela Prof. Célia, no caso da Prof. Cláudia o que faz a diferença, além de saber o nome de seus alunos, é que a eles ela não impunha uma seleção do léxico a ser usado. Isso facilitaria a implementação da atividade, não se tornando repetitiva ou cansativa para eles. Mais uma vez, entendemos que os critérios para a avaliação do modo de agir da professora são os modelos para o agir segundo as representações da aluna diarista, ou seja, o emprego das operações de linguagem “apropriadas”, as operações com instrumentos e os efeitos positivos sobre os alunos. Os resultados obtidos com essa forma de agir da professora são agradáveis e beneficiam os alunos: atenção e interesse. Será examinado, a seguir, mais um segmento que trata de introdução de novas estruturas gramaticais que deverão fazer parte, em seguida, da tarefa de produção oral dos alunos.

A avaliação do agir da professora no quadro da introdução de

matéria nova

Ao final dos exercícios, a prof. começou a introduzir um ponto novo. Hoje era ‘direções’. Como perguntar onde é tal lugar, e ensinar alguém a chegar lá. A prof. fez uso de transparências, primeiro com o desenho de um turista, para contextualizar a

atividade. Depois, usou a transparência do mapa do livro para explicar como perguntar e como responder. Em seguida, distribuiu mapas do centro da cidade do Rio, para trabalharmos em pares, treinando o ponto. Foi uma atividade bem

interessante e deu para usarmos um pouco do que aprendemos.[ D6]

A avaliação é representada nesse segmento pelo emprego do adjetivo interessante, modalizado em relação ao grau de intensidade (bem); é também representada pelo predicado (deu para usarmos um pouco do que aprendemos) fazendo, assim, uma alusão ao uso prático, pelos alunos, da língua sendo ensinada. São avaliadas, então, as operações com instrumento e suas finalidades inferidas. Sendo assim, além de descrever o agir da professora passo a passo na implementação dessa tarefa, ou seja, cada uma das operações realizadas, a autora do diário expõe suas inferências a respeito da finalidade das operações com instrumentos: a professora fez uso de transparências diferentes com finalidades diferentes: /o desenho de um turista para contextualizar a atividade/; ou seja, a “atividade” não era desligada de sua aplicação prática; a professora usou a transparência do mapa do livro para explicar as estruturas de pergunta e resposta a serem estudadas pelos alunos; e distribuiu um mapa do Rio de Janeiro, para a prática efetiva da língua entre os alunos, proporcionando a eles uma oportunidade de desenvolvimento cognitivo e de autonomia no uso da língua.

Concluiu-se, então, que o agir da Professora Cláudia é avaliado sempre positivamente, dado que essa professora, na visão da diarista, e segundo as suas representações, realizava as operações de linguagem adequadas aos propósitos das atividades que implementava, fazendo igualmente uso adequado dos artefatos disponíveis no coletivo de trabalho, psicológicos e materiais, que dão suporte às operações de linguagem. Sobretudo, seu agir linguageiro e seu agir com instrumentos é avaliado face aos efeitos obtidos junto aos alunos, que giram em torno da motivação para a aprendizagem da língua, o incentivo à participação nas atividades realizadas em sala de aula, o interesse, a atenção, o desenvolvimento de sua autonomia e o seu desenvolvimento cognitivo. Esse modo de agir é compatível com as representações da diarista, sendo que esses julgamentos são realizados a partir de uma observação do grupo como um todo, e a partir dos resultados

obtidos pelas alunas, autoras dos diários, individualmente. Fazemos, agora, uma síntese comparativa desses resultados.