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ATIVIDADES AVALIADAS NOS DIÁRIOS

5.4.2 A avaliação do agir da Professora Luci em seu trabalho

Os textos de diários escritos sobre a professora Luci, de espanhol, apresentam, da mesma forma que os anteriores, mais avaliações negativas do que positivas. Entretanto, vamos examinar um trecho que se refere ao início da aula, com avaliação positiva, quando a professora começava a preparar os alunos para uma tarefa de leitura, focalizando, em seguida, o segmento que trata da prática da leitura, propriamente dita, com os alunos.

• Avaliação do agir da professora no quadro da tarefa “preparação” para a leitura

Terminada a tarefa, começamos a unidade 5, com um texto que falava sobre dieta. A aula começou bem legal, bem participativa. A professora começou com perguntas do tipo ¿Alguién aqui hace dieta? ou ¿Cual son sus medidas ideales? (sic) E a turma foi respondendo sem que houvesse a necessidade da

solicitação da professora. A Elaine foi a primeira a falar, depois eu falei. Os alunos

mais reservados foram solicitados pela professora. […] [D8].

As avaliações nesse segmento são representadas pelos adjetivos “legal” e “participativa” precedidos pelo advérbio de modo “bem” e pelo sintagma “sem que houvesse a necessidade de ...”. A avaliação positiva do agir da professora diz respeito às operações com o instrumento simbólico

/perguntas abertas/ realizadas na preparação de seus alunos para a tarefa de leitura. Observamos que a autora do diário destaca a importância da participação dos alunos nas atividades propostas pela professora em sala de aula, avaliando positivamente o modo como essa professora iniciou a preparação dos alunos para a leitura que viria a seguir.

As operações realizadas com o instrumento simbólico /perguntas abertas/ provocaram nos alunos uma reação de entusiasmo e de participação, tanto que a maioria da turma falava/respondia,“sem que houvesse necessidade da solicitação da professora” Assim, a exclusão, pelo sintagma “sem que” da necessidade de se realizar outras operações de linguagem (a solicitação dos alunos, por exemplo), reforça a avaliação positiva do seu agir, nesse caso, na medida em que as operações inicialmente realizadas (perguntas abertas) provocaram nos alunos um agir participativo imediato.

Assim sendo, somente os alunos mais reservados foram solicitados, de acordo com o texto. Nesse caso, as operações de linguagem realizadas pela professora estão em harmonia com as representações que a autora do diário faz em relação ao modelo de implementação do instrumento simbólico leitura. Assim, os modelos para o agir de acordo com as representações da aluna diarista surgem, mais uma vez, como critério de avaliação, ao lado de suas representações sobre os efeitos do agir de uma professora junto aos alunos. Vejamos o próximo segmento:

• Avaliação do agir da professora no quadro da tarefa de leitura

Terminando as perguntas e respostas orais, a professora fez o de sempre: separou os trechos para lermos em voz alta, de novo! Conforme cada um ia lendo a sua parte, a professora pedia para começar os exercícios. Achei tão estranho e

sem lógica. Como posso responder às perguntas de interpretação com apenas a leitura de um parágrafo? Que visão de leitura e de construção do significado é esta? Que horror! Moral da história: fiquei desmotivada para fazer o exercicio e

fiquei esperando as respostas da professora, só para o livro não ficar em branco. Além disso, ela não estava aceitando as respostas do pessoal e não explica o

porquê disso. [D8]

Nesse segmento, as avaliações negativas são representadas por locuções adverbiais que indicam repetição, rotina (de novo/ (de) sempre) em

relação à operação realizada com o instrumento texto e à finalidade dessa operação (separou os trechos para lermos em voz alta); as avaliações são, também, representadas pelo metaverbo (achei) que introduz a opinião negativa da enunciadora (tão estranho e sem lógica) em relação à operação de linguagem (pedia para começar os exercícios); são representadas por perguntas retóricas que avaliam a eficácia do agir da professora em relação aos alunos (como posso responder...?) e que avaliam as representações da professora sobre o modelos de implementação de “leitura” e, ainda, por negações predicativas que representam as operações de linguagem ‘esperadas’, talvez, mas não realizadas pela professora (não explica o porque/ não estava aceitando).

Sendo assim, nessa segunda fase da tarefa de leitura, as operações de linguagem e com instrumentos realizadas pela professora são inadequadas ao propósito da tarefa, segundo avaliação da aluna-diarista. O procedimento “leitura em voz alta”, além de ser um ‘modo de agir, aparentemente, habitual (o de sempre!) e típico, adotado por essa professora, é avaliado negativamente (de novo!). Assim, a rotina, a repetição de um mesmo modo de agir não ofereceriam desafios para os alunos, que perderiam o interesse na atividade. Além disso, como forma de dar continuidade à atividade de leitura, a professora pede que os alunos façam os exercícios, mesmo antes de terminada a leitura do texto. Esse agir é criticado pela aluna-diarista, que contesta a possibilidade de realização de tal exercício antes mesmo de terminada a leitura do texto: (Achei tão estranho e sem lógica! Como posso responder às perguntas de interpretação com apenas a leitura de um parágrafo?). Assim, por meio de perguntas retóricas, o agir da professora é avaliado e suas representações questionadas (Que visão de leitura e construção de significado é essa? Que horror!).

Como verificado nas avaliações negativas do agir da professora Celia, o critério utilizado para a avaliação, aqui também gira em torno dos modelos para o agir segundo as representações da autora do diário e, ainda, de suas representações a respeito dos efeitos esperados sobre os alunos e sobre a aluna diarista, em particular. Nesse caso, estaria configurado um agir que não proporciona desenvolvimento cognitivo e não se conforma às normas ou às representações que a autora do diário faz dos modelos para

implementação de leitura, daí a avaliação negativa global dessa atividade. Será examinado, agora, um outro segmento, sobre a tarefa explicações gramaticais.

Avaliação do agir da professora no quadro da tarefa ‘explicações

gramaticais’.

Antes de darmos continuidade ao livro, a professora explica os CONTENIDOS GRAMATICALES (sic), que já estavam no quadro antes de entrarmos na sala. A professora parece partir do pressuposto de que a gramática é fundamental para se aprender uma língua estrangeira. Em um curso que se autointitula “Comunicativo”, acho isso meio complicado. Havia uma relação enorme de modelos com formas verbais, tudo bem esquematizado, bem

estruturalista e behaviorista. Ela não explica: só lia o que estava no quadro em

voz alta. Falava, falava, falava, e era a mesma coisa que nada, pelo menos para mim ( não estava nem prestando atenção!). E, além disso, tudo o que estava no

quadro tem no livro, de modo idêntico. [D8]

As avaliações são representadas por modalizações (parece/ acho), por comparações a outros modelos de agir (bem estruturalista/ bem behaviorista), por repetição enfática do predicado (falava, falava, falava) que repesenta uma operação de linguagem aparentemente considerada inadequada pela enunciadora, pela negação predicativa (não explica: só lia) que representa a substituição de uma operação de linguagem esperada ou necessária por outra, com instrumento ( só lia) que não se revelava adequada para a finalidade a que se propunha o agir da professora.

Assim, a autora do diário, após descrever o cenário encontrado na sala de aula, mesmo antes de a aula começar, avalia as razões do agir da professora, seus motivos. Através das asserções modalizadas (parece partir do pressuposto/ e /acho isso meio complicado) a autora infere o motivo do agir da professora (parece partir do pressuposto) e faz a avaliação de acordo com sua interpretação (acho isso meio complicado). A autora, ao avaliar o agir da professora, relaciona o seu ‘modo de agir’ às tradições (ou aos modelos) behavoristas e estruturalistas do ensino de línguas, e aponta a contradição com a proposta do curso, que entende ser “comunicativo”. Sua maneira de agir, ou seja, a sua conduta, é, assim, avaliada e questionada pela aluna diarista. A professora é criticada em relação ao uso do instrumento

material ( o quadro ) e em relação às operações de linguagem realizadas ( só lia/ falava, falava, falava) e não realizadas (ela não explica).

A avaliação negativa das operações de linguagem realizadas nos leva a pressupor serem essas operações inadequadas, segundo as representações da autora do diário, para atingir o propósito desta exposição, que é ensinar aos alunos algo desconhecido e que se pressupõe difícil; isto é, o funcionamento da gramática. O efeito desse agir sobre os alunos é negativo, na medida em que não ajuda o desenvolvimento cognitivo e não prende a atenção da aluna diarista. A operação com instrumentos ( escrever no quadro o mesmo conteúdo que havia no livro) também seria ineficiente e inadequada, já que, bastava abrir o livro para explicar a gramática. Além disso, não despertaria o interesse dos alunos e não contribuiria para o seu desenvolvimento cognitivo, e, muito menos, para sua autonomia.

Assim, os critérios empregados para a avaliação do agir da professora se desenvolvem em torno de modelos para o agir, que incluem os efeitos sobre os alunos. A nosso ver, isso diz respeito às representações que a autora do diário faz em relação aos “modelos” existentes para implementação de atividades de leitura e explicações gramaticais.

Examinaremos, agora, as avaliações do agir da Professora Cláudia, em seu trabalho.