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A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA ESCOLA INCLUSIVA

Em qualquer nível de ensino, a prática da avaliação é, sem dúvida, um componente indispensável dos processos de ensino e aprendizagem. As formas de conceber e praticar a avaliação têm a ver com

[...] a evolução das funções que a instituição educativa cumpre na sociedade e no mercado de trabalho; as posições que se adotem sobre a validade do conhecimento que se transmite; as concepções que se tenham da natureza dos alunos/as e da aprendizagem; a estruturação do sistema escolar, já que serve à sua organização; a despersonalização da relação pedagógica provocada pela massificação, que leva a uma perda de conhecimento direto entre professores/as e alunos/as; a forma de entender a autoridade e a manutenção da disciplina e a emulação dos alunos/as nas escolas e nas aulas (SACRISTÁN, 1998, p. 298).

Em relação ao campo da Educação Especial, durante muito tempo a avaliação esteve associada ao diagnóstico, o qual cumpria a função de identificar a deficiência e rotular o aluno mediante provas psicológicas padronizadas, portanto, descontextualizadas. Essa forma de avaliar partia do pressuposto de que o problema estava no aluno, levando a intervenção educativa a centrar sua atenção no déficit. Além disso, os resultados desse diagnóstico repercutiam negativamente na vida do sujeito, conforme afirma De Miguel (1986, apud TORRES GONZÁLEZ, 2002, p. 189), quando destaca que

[...] o fato de classificar/rotular um sujeito como deficiente – seja qual for a dimensão dessa deficiência – teve tamanhas conseqüências negativas para a sua vida, que qualquer proposição orientada para superar as barreiras da segregação passa necessariamente por uma reconsideração do processo de diagnóstico.

Nessa perspectiva, a avaliação era considerada como ponto de partida de qualquer atendimento, realizada por especialistas externos à escola, portanto, desvinculada da aprendizagem e do ensino. Esse tipo de avaliação não contribuiu, de maneira significativa, para um melhor conhecimento dos alunos para fins educativos e de ensino, pois, segundo Sacristán (1998, p. 322),

[...] a contribuição de informações especializadas aos docentes pode ser interessante no caso de alunos/as problemáticos, em estudantes com dificuldades e sempre que se trate de qualquer aspecto relevante que repercute numa melhora da percepção do aluno/a, de seu contexto pessoal e social, mas sem perder de vista que essas avaliações especializadas podem produzir expectativas positivas e negativas nos professores/as. A informação relevante é aquela que lhes serve para poder intervir no próprio processo de aprendizagem e de auxílio ao aluno/a. Muitas avaliações especializadas feitas por especialistas externos podem carecer desse valor.

Sobre isso, Torres González (2002) afirma ser necessário que, na prática da avaliação, buscássemos um equilíbrio que evitasse tanto o descuido dos processos de avaliação, como a rigidez dos mesmos. Assim, a avaliação deve ser coerente com a heterogeneidade presente nas salas de aula e privilegiar a compreensão dos processos de aprendizagem, a partir das vivências compartilhadas com os alunos e não apenas baseada nas informações reunidas por meio de instrumentos formais.

Não há mais dúvida de que a submissão ao diagnóstico clínico, para direcionar a intervenção educativa, faz parte do passado. A prática da avaliação – antes focada no déficit, cuja orientação centrava-se no aluno considerado individualmente – hoje,

mediante uma educação que considera e valoriza a diversidade, começa a incorporar novos e variados procedimentos, os quais buscam avaliar não só o aluno e suas características pessoais, mas também o próprio processo de aprendizagem e o contexto em que este se desenvolve.

Sendo assim desenvolvida, a avaliação será capaz de oferecer um conhecimento sobre os alunos e sobre seus processos de aprendizagem em contextos determinados, os quais servirão, conforme sublinha Torres González (2002), como guia para o desenvolvimento consciente da prática em sala de aula e para a adaptação do ensino às características do aluno, bem como para orientar a prática docente em relação às suas dificuldades específicas. Dessa maneira, a avaliação dos alunos com necessidades educacionais especiais precisa estar incorporada ao próprio processo ensino-aprendizagem.

Seguindo esse mesmo direcionamento, Stainback e Stainback (1999) pontuam que a avaliação é um elemento indispensável dos processos de ensino e aprendizagem, podendo ser definida como a reunião de informações provenientes de várias fontes com o propósito de se tomar decisões educacionais sobre o aluno. Na opinião desses autores, os professores precisam desenvolver um entendimento inicial de cada aluno e dos alunos enquanto grupo, objetivando conhecer os seus interesses, suas particularidades e as necessidades acadêmicas, as habilidades sociais, de comunicação, funcionais, entre outras, no intuito de identificar as potencialidades e as necessidades educacionais mais críticas dos alunos, seu grau de desempenho atual e possibilidades de participação nas várias atividades oferecidas pela escola.

Depois da avaliação inicial, é importante manter uma avaliação contínua, prática que consiste em atualizar constantes informações sobre o progresso do aluno com a finalidade de fundamentar as decisões do professor quanto ao processo de ensino e orientar a atividade dos alunos. Tal avaliação, portanto, tem um papel fundamental na revisão contínua da prática pedagógica e, conseqüentemente, na melhoria do trabalho docente, uma vez que oferece ao professor dados sobre como usar as metodologias de ensino dinâmicas, para abordar conteúdos curriculares de forma diversificada e acessível a todos os educandos (BRASIL, 2006).

Diante de tais considerações, podemos afirmar que a avaliação, no contexto da escola inclusiva, deverá ser determinada pelas características do aluno, ou seja, não pode ser elaborada a priori. Dessa forma, as adaptações curriculares deverão surgir da avaliação de todo o processo educativo e da reflexão compartilhada dos educadores, sendo que, como afirma Lopes Melero (apud TORRES GONZÁLEZ, 2002, p. 193), “[...] uma das maiores adaptações do currículo está em que os professores tenham claro qual é o sentido, significado e funções da avaliação na escola”.