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3.4 O CURRÍCULO NO ÂMBITO DA ATENÇÃO À DIVERSIDADE

3.4.2 Diversificação curricular

A diversificação curricular, de acordo com Torres González (2002), é proposta como alternativa, quando as adaptações curriculares não foram suficientes para responder às necessidades educacionais dos alunos e às exigências do sistema de ensino, sendo definida como

[...] uma medida excepcional que consiste em adaptar globalmente o currículo do ensino secundário obrigatório às necessidades individuais de determinados alunos e alunas, com uma organização distinta da estabelecida em caráter geral, que deve atender às capacidades gerais

reunidas nos objetivos da etapa e nos conteúdos essenciais do conjunto das áreas (TORRES GONZÁLES, 2002, p. 172).

Essa medida só deverá ser requerida, em caráter excepcional, quando os alunos apresentarem dificuldades em acompanhar o ritmo ou as aprendizagens exigidas pelo currículo comum. Para sua realização, é necessária uma ação profissional que reforce os conhecimentos básicos e promova readaptação de conduta e reforço do auto- conceito.

No mesmo sentido, isto é, em uma situação na qual as expectativas acadêmicas para o aluno foram modificadas, Falvey et al. (1999) afirmam ser necessário o uso de estratégias de ensino alternativas, o chamado Ensino em Multiníveis. Este ensino proporciona ao aluno um apoio individualizado e favorece oportunidades para participar nas aulas, ainda que parcialmente.

O ensino em multiníveis é planejado para as necessidades educativas, de forma individual, e pode incluir: 1) o ensino do mesmo currículo, mas em um nível menos complexo; 2) o ensino do mesmo currículo, mas com uma aplicação funcional ou direta às rotinas diárias; 3) o ensino do mesmo currículo, mas com redução dos padrões de desempenho; 4) o ensino do mesmo currículo, mas em um ritmo mais lento; 5) o ensino de um currículo diferente ou substituto. O ensino em multiníveis só deve ser administrado quando for absolutamente necessário para garantir o êxito do aluno, e assim que possível deve ser gradualmente reduzido, para não limitar as suas possibilidades.

Para sua implementação, os programas de diversificação curricular deverão ser individualizados e adaptados às características de cada aluno e a seleção de conteúdos, procedimentos e atividades devem favorecer a funcionalidade das aprendizagens e a máxima integração dos alunos no cotidiano da escola. Dessa forma, o objetivo continua sendo que os alunos desviem-se o menos possível do currículo comum.

No Brasil, as adequações na prática pedagógica têm gerado inúmeras polêmicas e resistências quanto à sua aplicação. Há profissionais que defendem a flexibilização curricular (como as adaptações ou adequações curriculares) e outros que as

consideram como uma forma enganosa de oferecer outro currículo para o alunado com necessidades educacionais especiais. Na opinião de Carvalho (2004), as adequações são necessárias e exigem que os educadores assumam atitude compreensiva, coerente, com a proposta inclusiva e que a aplicação dessas não represente um currículo à parte, ou uma versão empobrecida do currículo adotado, e, muito menos, que se destine tão-somente a pessoas com deficiência.

Nesse contexto, é necessário que se atente para a lógica binária presente no discurso da pedagogia, ou seja, da dicotomia currículo comum versus currículo

especial, dificultando adequações ou acessibilidade curricular para todos os alunos. Como resultado disso, muitos alunos não participam de todas as atividades oferecidas pela escola, assim como não têm experienciado sucesso em sua aprendizagem escolar, uma vez que as aulas podem ser ministradas em nível acadêmico muito alto, dificultando a compreensão do que está sendo requerido deles.

Com base nisso, convém ressaltar que as adequações curriculares são acomodações que podem ser requeridas para qualquer aluno, no decorrer do seu processo de escolarização, quando experimenta algum tipo de dificuldade, sendo, porém, fundamental durante a inclusão, de alunos com deficiência identificada.

A compreensão sobre os educandos com necessidades educacionais, antes focada apenas no aluno com deficiência, agora ampliada, permite supor que algumas dificuldades de aprendizagem podem ser decorrentes de causas orgânicas e que outras não se relacionam à organicidade. Dessa maneira, consideramos oportuno distinguir as dificuldades de aprendizagem e dificuldades inerentes a outros quadros diagnósticos. De acordo com Moojen (2003), consideram-se “dificuldades de aprendizagem” duas categorias de problemas: os naturais (ou de percurso) e os problemas secundários a outras patologias.

As primeiras dificuldades acontecem em qualquer sala de aula, quando, por diferentes motivos, o aluno não acompanha seus pares, independente do nível de complexidade dos conteúdos ou da metodologia utilizada. Os fatores causadores dessas dificuldades podem ser relacionados a aspectos evolutivos ou serem decorrentes – entre outros – de inadequada metodologia, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno e de conflitos familiares eventuais, ou seja, é

preciso considerar que, em grande parte, essas dificuldades dependem do contexto educacional. Nesses casos, é suficiente um trabalho pedagógico complementar para solucionar satisfatoriamente o problema.

Dificuldades secundárias a outros quadros diagnósticos são decorrentes de outros quadros patológicos, que podem ser bem detectados e que atuam, primariamente, sobre o desenvolvimento humano normal e, secundariamente, sobre a aprendizagem. Nessa subcategoria, estão incluídas as pessoas com deficiência mental, sensorial, aquelas com quadros neurológicos mais graves ou com transtornos emocionais significativos.

Destacamos, como respaldo oficial a essa compreensão, o texto da Resolução n° 2 de 11 de setembro de 20018, Art. 5 (BRASIL, 2001), na qual são considerados educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem:

I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos:

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica especifica;

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

II- dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III- altas/habilidades/ superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os levem a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (p. 70).

A partir dessas considerações, fica claro que adaptar a resposta educativa é uma necessidade que beneficia a todos, respeitando não somente aqueles alunos com deficiência, mas também aqueles que apresentam ritmos de aprendizagem diferenciados e, em conseqüência, requerem diferentes processos de ensino. Para

8 Resolução contida no documento Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação

Torres González (2002, p. 149), a adaptação curricular “[...] é a chave para atender à diversidade, mas também o é para melhorar a atenção às necessidades especiais de determinados alunos com desvantagens”. Certamente, diante da realidade das nossas escolas, essa não é uma tarefa fácil, contudo, defendemos a idéia de que a adaptação curricular pode ser considerada como uma das principais vias de acesso à inclusão escolar.